E quem comemora lançando bravatas e tomando para si a responsabilidade pelo sucesso esperado (ainda não plenamente atingido), tendo aproveitado o céu de brigadeiro proporcionado por boas codições meteorológicas ao longo do trajeto é o Lula, que logo passará o manche ao seu sucessor, que estará à mercê de chuvas e trovoadas (e consequentes apagões), dada a leniência do governo em diversas áreas, apontadas pela reportagem do The Economist.
Trechos do Editorial:
“Diferente da China, é uma democracia. Diferente da Índia, não tem conflitos religiosos ou étnicos e vizinhos hostis. Diferente da Rússia, exporta mais do que petróleo e armas (…)”.
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“Os gastos do governo estão crescendo mais do que a economia como um todo, e os investimentos públicos e privados ainda são pequenos, o que lança dúvidas sobre as previsões mais róseas para a economia. Muito dinheiro público está indo para coisas erradas. A folha de pagamento do governo federal cresceu 13% desde setembro de 2008 (…) Apesar de avanços, a educação e a infra-estrutura ainda estão muito atrás das China e Coréia do Sul (como o apagão desta semana lembrou aos brasileiros). Em algumas áreas do país, a criminalidade é alarmante”.
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“O governo nada está fazendo para eliminar os obstáculos que existem para os negócios, especialmente a antiquada legislação que taxa a contratação de trabalhadores. Dilma Rousseff, candidata de Lula nas eleições de outubro próximo, insiste em que a reforma da arcaica legislação trabalhista é desnecessária.”
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“E, talvez, este seja o maior perigo que o Brasil enfrenta: a húbris. Lula está certo ao dizer que seu país merece respeito, como ele merece muito da adulação que tanto o agrada. Mas ele é também um presidente de sorte, colhendo o resultado do boom das commodities e governando numa plataforma de crescimento construída por seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Manter essa boa perfomance num mundo que enfrenta tempos difíceis significa que o sucessor de Lula terá de tentar resolver alguns problemas que ele fez questão de ignorar. O resultado da eleição pode determinar a velocidade com que o Brasil avança na era pós-Lula. O caminho do Brasil, no entanto, parece definido. Seu salto é ainda mais admirável porque foi dado por meio da reforma e da construção de um consenso democrático. Quem dera a China pudesse dizer o mesmo”.
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Trecho da reportagem:
“(…)
Então começou o real milagre. Em 1994, um time de economistas, sob a liderança de FHC, à época ministro da Fazenda, criou uma nova moeda, o real, que obteve êxito onde outras tentativas [de estabilização] haviam fracassado. Em um ano, o Plano Real havia posto os preços sob controle. Em 1999, o câmbio fixo foi abandonado em favor do flutuante, e o Banco Central adotou as metas de inflação. No aniversário de 10 anos da adoção dessa medida, ainda que continue o debate sobre como tornar o real mais estável, nenhum dos grandes partidos defende que se volte ao câmbio fixo.
Mais do que isso: as reformas trouxeram disciplina às contas do governo. Agora, tanto o governo federal como os governos estaduais têm de se virar com os recursos que existem. O superávit primário (resultado das contas antes do pagamento dos juros) foi criado em 1999, e o governo federal tem de alcançar uma meta todo ano — apesar de haver uma boa chance de que isso se perca neste ano. Isso fez com que o Brasil equacionasse suas contas externas. Agora, os credores internacionais acreditam que o Brasil pode honrar seus compromissos. (…)”
Fonte: Blog do Reinaldo.