zumbi filosófico escreveu:Apo escreveu:zumbi filosófico escreveu:Apo escreveu:Darkside escreveu:Apo escreveu:Darkside escreveu:A minha intenção não é piorar o quadro da autora do tópico, seja ele qual for, mas não posso deixar de expressar o quanto eu considero revoltante e imoral alguém achar que não possui responsabilidade nenhuma na vida, podendo se livrar dela sem remorso algum, tendo filhos que ainda não chegaram na fase adulta.
NUNCA, NUNCA julgue a dor ( estupidamente excruciante) de um suicida. Ele decide que é imensamente - indiscutivelmente- melhor para os que o amam e que ele ama, que a vida consciente dele tenha fim imediato. Simplesmente porque ele pode acabar por "matar" a vida dos demais se continuar vivendo.
Mas é muito difícil enteder isto...
Nada do que ele decida ou sinta torna essa idéia menos revoltante e imoral.
Quem tem filhos pequenos tem responsabilidades enormes, e não mais apenas sobre si mesmo.
Desculpe Dark. Enquanto não estiver na pele de alguém que se excluiu desta realidade aqui em que você e a maioria dos mortais banais passam os seus diazinhos um após o outro ( todos nós), nem tente traçar paralelo algum. O suicida "vive" outra realidade, outro pavor, outro revoltante e outro imoral. Não tem jeito.
É inútil como tentar se revoltar com um tetraplégico porque ( pra você) ele não quer andar, ou com um cego porque ( pra você) ele não quer enxergar. Ele não pode. Simples.
Em primeiro lugar, independentemente da pessoa que sofre de depressão acabar saindo da realidade, não sei se é necessariamente inútil ou mesmo nocivo, suspeitaria que é positivo, tentar puxar os pés de volta ao chão com uma dose de realidade, como por exemplo, lembrando de que têm responsabilidades para com outras pessoas - além do fato de que a tendência é que esteja exagerando na dramatização de seus problemas pessoais, geralmente comuns a milhões de pessoas, sem falar de outros tantos que tiveram e vivem diariamente problemas muito mais graves, que invejariam poder viver a vida dele(a).
Isto seria inútil e por outro lado, desumano. Já expliquei por quê.
Ok, talvez devêssemos partir para o modo "corrobore com literatura científica em vez de achismo", já que o que eu falo tão certamente pode ser descartado.
EU sou uma paciente há décadas. E pertenço a uma família com este perfil. O que me fez conhecer centenas de casos e viver este metier na pele. Acho que isto não pode ser considerado uma mera falácia.
E também acho que não pode ser considerado como achismo. Há um pouco de ciência no paciente.
O que já leu que sugere que a mente de uma pessoa depressiva é totalmente fechada e impossível de influências externas por aconselhamento? Que eu saiba, em casos de depressão não extrema, mesmo terapia comportamental pode ajudar, sem a necessidade de antidepressivos. Em casos mais graves, eles ainda são necessários. Podem em alguns casos ainda não serem suficientes, mas não é algo tão fatalista como você parece estar sugerindo -- ainda mais levando em consideração que em parte do tempo parece estar falando de gente que nem teria depressão, embora pareça na verdade ser um romantismo sobre a mesma.
Vamos por partes, quem sabe a gente se entende no meio do caminho.
Suicidas não representam uma classe homogênea, tampouco a mente humana obedece sempre a um mesmo padrão, nem mesmo dentro dos mesmos grupos de tentativas de diagnosticar feitos pelo que os especialistas da área fazem. Pode-se ter tendências suicidas inatas, hereditárias, genéticas, ocasionais, causadas por bipolaridade, denotanadas por alguma crise existencial que causa dissociação, ou causa desestruturação do Eu. Pode-se ser depressivo ocasional ou maníaco depressivo por vários motivos ou como doença secundária a outro mal neurológico. Pode-se ter desejo de acabar com a vida porque não se vê saída para nada diante de um panorama sombrio. Pode-se ter consciência ou não do que se está sentindo ou vivendo, a ponto de pedir socorro externo. Pode-se manter um grande segredo e ao cabo de algum acontecimento severo ou subconsciente, vir a ter pulsões suicidas quase que imediatas ( não há tempo para demonstrar ou compartilhar com o mundo externo). Pode-se ser o mais feliz e tranquilo dos sujeitos, e, de repente, um desequilíbrio neuronal, acordar você numa linda manhã de domingo com a sensação de a morte o espera no próximo segundo e é tudo o que você tem de mais adequado a fazer, algo totalmente oposto ao senso comum.
Seja como for, as pessoas não têm sempre controle sobre a mente, sobre as reações químicas, sobre o dia seguinte. Pessoas que sofrem surtos psicóticos não são como a maioria de nós que reflete o tempo todo sobre tudo ( eles refletem sobre outra realidade, a deles, que desconhecemos).
Muitos medicamentos causam efeitos colaterais, inclusive ímpetos ao suicididio, portanto aconselha-se que o paciente seja monitorado. Mas nem todo mundo que toma remédio, toma como deve ou sabe o que está fazendo quando deixa de tomar ou toma errado.
Etc etc etc.
Tudo isto e muito mais que não vou descrever aqui são 30 anos de leitura, pesquisa, conversas em grupos de apoio à pessoas com transtornos de humor e experiência pessoal variada ( que não vem ao caso aqui eu expor).
Terapia só funciona para algumas pessoas. Depende ainda do tipo e da escola do profissional. Depende ainda da profundidade do distúrbio, depende ainda da disponibilidade psicológica em aceitar o tratamento ( não a vontade esta passível de julgamento bobo, mas outra que até o profissional não percebe que não tem acesso). Casos mais graves ou especiais podem se acirrar com terapia, pois ela vasculha o inconsciente e traumas de forma a aprofundar os sintomas, o que é temerário. Nem toda escolha medicamentosa funciona em seguida. Ex: o cloridrato de fluoxedina ( Prozac) pode funcionar para uns e não para outros, que reagem melhor aos antidepressivos tricíclicos.
O caso do Prozac é exemplar. Excelente descoberta, só que apresenta uma característica peculiar: durante os primeiros dias, ele não efeito imediato perceptível algum. Depois de 1 a 2 semanas, os sintomas, de repente, pioram sensorialemente e visivelmente ao paciente e aos seus observadores. É desesperador, pois o que já estava insuportável se torna arrasador, podendo levar o paciente ao suicídio repentino. É preciso muita, muita coragem para continuar aceitando tomar algo que parece que vai matá-lo a qualquer momento. Depois de suportar este período excepcionalmente intolerável por dias e noites sem descanso algum, aos poucos as sombras e o terror vão de dissipando. Até que os níveis de serotonina se estabilizam. isto é só uma palhinha sutil de um remedinho bem conhecido.

Você consideraria este paciente como um covarde irresponsável?
Bem, associações entre medicamentos podem funcionar para uns e aumentar os sintomas para outros. Muitas pessoas e profissionais erram na descrição dos sintomas, porque não conseguem descrevê-los ou interpretá-los. O motivo é simples: sintomas psiquiátricos não são como dor de barriga ou espinha. São tão oscilantes e abstratos que é impossível encontrar na literatura algo que se aproxime do que o paciente experimenta. Muitas vezes, tentativas de medicação acabam por não fazer efeito algum. O paciente cansa e desiste.
Muitos suicidas não são nem depressivos, nem bipolares, nem psicóticos. Apenas vivem de tal forma sua existência que constatam inexoravelmente que nada disto aqui faz sentido. Alguns insights bastante dolorosos o perseguem por toda a vida, mas ele nem consegue imaginar que as demais pessoas sofrem existencialmente mais ou menos do que ele. Um dia, ele descobre que não quer mais aquilo e decide acabar com tudo.
Alguns são pessoas muito responsáveis, amorosas, mas introvertidas, recolhidas, não dividem esta sensação porque ela não é bem vista e a pessoa seria julgada porque não quer, não tem força, não faz por onde sair daquilo. Acontece que o "sair daquilo" para ele, não é um caminho cognitivamente reconhecível pela psiqué natural dele. Ele reage à vida ( sabe-se lá porque conformação natural da mente) de forma diferenciada. Não necessariamente "doente", mas destoante do senso comum humano que faz as pessoas seguirem em frente, fazerem planos, sentirem a vida como algo positivo.
Alguns seres humanos são muito estranhos a nós não externamente, como alguns variantes genéticos externos. Mas são estranhos internamente. Pode ser que finjam o tempo todo, mas de repente, ficamos sabendo que alguém "surtou" do nada e fez algo inconcebível, como matar ou se suicidar. E o rotulamos.
A Ciência descreve estas e outras diferenças, basta ler a literatura especializada.
Mas olhamos praquele colega esquisito ou o gênio do rock que se mata de repente e achamos que podemos julgar com um simples adjetivo o ato tresloucado dele. Para ele, não foi tresloucado e nem julgamente algum ten relevância. Por mais que ele sofra de deixar uma família, por mais que ele tenha se questionado ou se segurado antes de agir, um dia, mesmo fazendo terapia ou tomando remédio, a coisa desanda. Uns deixam explicações, outros não conseguem, outros acham que palavras não descrevem o abstrato vazio absoluto e outros nem sabem porque aquela faca acabou na própria garganta.
Infelizmente, a mente humana não tem um padrão.
Creia, não há romantismo ou byronismo algum no que eu falo. Mas acho sinceramente que o padrão deste forum jamais será suficiente para o assunto. Melhor discutir isto noutro tipo de estabelecimento.
Uma coisa interessante acontece comigo e algumas pessoas que conheci: psicólogos em geral são limitadíssimos para chegar neste patamar. Psiquiatras, uns poucos, escolhidos a dedo. Pode-se levar 20, 30 anos ou a vida toda batendo nas mesmas centenas de teclas, e o caminho de saído do caos e do labirinto nunca acontecer. A pessoa apenas contorna os sintomas que surgem de alguma disfunção neuroquímica com medicação o mais adequada possível ( nem sempre este é acertado porque a anamnese não comtempla o que seria o X da questão, que talvez não seja um X, mas X, Y, Z e mais...).
Quando ao "desumano", bem, simplesmente considero que não. É melhor uma pessoa se tratar do que deixar ser vítima de um mal funcionamento do seu organismo, tal como com diabetes ou outra coisa não mental. Aceitar o mau funcionamento como algo "certo" apenas porque existe, mesmo que isso leve à morte da pessoa, é que me parece mais desumano. A distinção apenas é que como um desses maus funcionalments se dá no cérebro, afetando a psicologia da pessoa, isso é interpretado como "vontade" como "visão particular" ou algo assim, quase como que se existisse uma alma independente do funcionamento do cérebro.
É desumano se não for fruto da falta de entendimento mais profundo sobre a complexidade da coisa. Quando se pensa: talvez eu nem saiba mesmo o que rola na cabeça ( leia-se mente ou química ) destes seres humanos, talvez eu deva não emitir julgamento sobre coisas que nem a Medicina ainda saiba extamente como funciona, estamos sendo mais humanos.
O pior tipo de médico é aquele que julga um caso de transtorno como loucura. Loucos já foram muito castigados, queimados, torturados ou exorcizados. A ignorância é desumana. Embora se julgue sábia dentro de seus limites.
Não esqueça: tem gente que acha que pode curar homossexuais. Acho que isto diz tudo.
Em segundo lugar, a analogia com outras condições funciona melhor para o lado "anti" do que "pró" suicídio. Ninguém argumenta sobre que deve se "entender" o estado fisiológico das diabetes, que não pode falar nada até ter estado na pele de alguém que se vê sem a capacidade de produzir insulina. Para ambas as coisas, a resposta é o tratamento, não meramente uma coisa natural que se tem que "entender" e "aceitar".
Eu já disse que nem sempre o suicida está doente. Ele NÃO QUER MAIS VIVER PORQUE CANSOU DE TUDO. NÃO INTERESSA O QUE O MUNDO PENSA E NEM COMO O JULGA. MANTÊ-LO AQUI É COMO PRENDER ALGUÉM PORQUE JULGAMOS QUE A DECISÃO DELE É ERRADA PERANTE OS NOSSOS VALORES.
Você já disse, ok. Mas eu não sei se isso é fato, ou se é só algo que você está dizendo. Imagino ser extremamente raro que uma pessoa racionalmente "decida morrer". Tudo uma maravilha, tudo correndo bem, feliz da vida, alegria todos os dias, e então tem a perspectiva de que daí por diante as coisas só tendem a piorar, e que já curitiu a vida o bastante, decidindo então ir fazer bungee jump sem corda e acabar com tudo na maior adrenalina e curtição, depois de uma festaça, para encerrar com chave de ouro.
Defina uma pessoa "racional" dentro de algum critério irrevogável cientificamente falando.
Defina o que é uma pessoa feliz dentro de algum critério que sirva para avaliação sem controvésia alguma.
Veja que, quando alguém comete um ato extremo, e se pergunta às pessoas que conviviam intima ou profissionalmente com o autor, as respostas são totalmente relativas:
- Ele era muito normal e tranquilo (?).
- Ele era alegre e comunicativo, mas não falava de alguns assuntos (?).
- Ele era meio triste (?), mas gostava do trabalho que fazia.
- Eu sei lá, mas achava mesmo ele meio esquisito (?)...
- Ultimamente ele andava estranho (?), mas até topou beber com a gente no buteco da esquina.
- Nunca vi ele agir de forma inapropriada (?).
- Ele andava brigando com o vizinho, mas aqui se dava bem(?) com todos.
- Sempre foi um bom pai (?), um bom filho (?), mas nunca ficou casado por muito tempo (?).
- Ele estava com dívidas(?), mas todo mundo têm dívidas (?), logo dívidas não deve ser o motivo.
As avaliações pessoais que temos acerca das razões fisiológicas, químicas ou psíquicas dos demais seres como nós, não passa de projeção de nossos limites ou consenso raso. É preciso, no mínimo, uma boa escola e experiência clínica na área ou estar inserido dentro do problema para tangenciar esta questão. O resto é raso demais.
E pessoas "normais" talvez ( e felizmente) jamais sequer imaginem do que se trata.
Pode ter certeza de que coisas que viraram moda se chamar de depressão, síndrome do pânico, bipolaridade e outras que tais, na verdade não são a coisa de fato. Quando o bicho pega mesmo, não sobra muito da criatura pra fazer fofoquinha em revista Caras.
Acho que a maior parte de hipotéticos suicídios sem depressão clínica ou abalo emocional seriam de motivação religiosa fanática, e mesmo nesses casos, acho que não seria possível descartar completamente, invariavelmente, um papel de desequilíbrio de neurotransmissores.
Você acha? Tá bom.
