Luis Dantas escreveu:Apo escreveu:Existem muitos "nós" na sociedade, que são as diferenças notórias, naturais e necessárias entre as pessoas e grupos. Primário.
O que muda é a liberdade que eu tenho em aceitar ou não desfazer determinados "nós". Assim como o outro tem a liberdade e não querer ser igual a mim.
Sempre haverá dificuldades políticas e administrativas porque organizações são complexas e devem prever a heterogeneidade dos indivíduos.
Você defende uma mudança nisto, Dantas? Em que termos mais especificamente?
O que seria um "trabalho de base no nível da convivência em comunidade"? Pra mim, é só um lugar comum muito usado por políticos, pedagogos, psicólogos, assistentes sociais e vermelhos em geral. Mas não faz sentido algum entre pessoas livres.
Eu acho essa liberdade no mínimo relativa, se não ilusória. Nós não podemos escolher tantas coisas, a começar pela nossa língua materna...
Toda a liberdade é relativa, mas comporta determinados limites a serem reconhecidos e respeitados entre as partes, de preferência com pouca interferência do Estado e com negociação dinâmica, salvo nos casos em que interfiram no bem estar comum. Tal bem estar comum seria mesmo os ítens de interesse comum. Há coisas minha que não são de interesse de ninguém, como a escola em que eu acho que tem que colocar meus filhos ou as pessoas com quem eu ache que deva conviver mais intimamente, tratar de negócios de meu interesse e outros afins. Isto não é ilusão. Deixo entrar no meu estabelecimento ou não quem eu achar e de acordo com as minhas regras. Cuida da minha filha quem eu considerar apto e não qualquer um. O resto é lei ou concessão minha.
Dentro do leque do que eu posso escolher, há uma infinidade de opções e vou sempre usá-las.
Acho que todo mundo age assim. Como as pessoas pensam diferente, é normal que haja "nós".
Do jeio que a sociedade fica cada vez mais ambiciosa e complexa, vejo como uma necessidade prioritária a busca de amplo entendimento entre os grupos. Do contrário acabamos com essas ladainhas intermináveis e rivalidades vazias.
A complexidade pode ser vista como boa, assim como o oposto - a simplificação - pode ser visto como medíocre ou negligente. Grupos podem ou não se entender, se assim for do interesse destes. Se não, cada um no seu quadrado, pelo menos naquilo que podem e gostem de manter exclusivo.
Em um primeiro momento, eu penso que se deve buscar modelos familiares mais amplos.
Não se deve buscar. Os modelos familiares por si só já se ampliaram. Processos têm seu tempo e circunstância. Não podem ser forçados ou incentivados. Apenas não se deve obrigar as pessoas a seguirem modelos rígidos ou opostamente liberais, se elas não estiverem preparadas para tal.
A família nuclear está definitivamente ultrapassada.
Mais ou menos. Antes o núcleo girava em torno do chefe mais velho, patriarca ( ou matriarca em algumas culturas) e tudo acontecia em torno da vontade dele. Mesmo que hipocritamente.
Agora os núcleos só permanecem assim grandes, quando as pessoas se agradam deste modelo. Até porque o diálogo entre as gerações tomou via dupla e há menos índios por cacique.
O núcleo é aberto, mas ainda é um tipo de núcleo, onde não é qualquer um que entra sem bater. As pessoas ainda protegem os pares e assim será enquanto houver laços e interesses de vários tipos ligando pessoas com interesses em comum - consanguíneo, filosófico ou econômico.
Mais adiante, comunidades mais amplas, talvez. Depois a divisão de nacões em comunidades com maior autonomia política, e eventualmente a dissolução das fronteiras políticas.
Nem a União Européia ( mais democrática do que a União Soviética) é assim aberta. Na verdade, é só a moeda e algumas combinações de interesse comum, porque cruza-se a fronteira e troca-se de disjuntor tribal. Sem contar separações internas, como a Catalunha do resto da Espanha ( onde até a língua é diferente).
É um desafio e tanto, mas no meu entender é também um desafio que não se pode evitar.
Não vejo muito objetivo prático nisto. Pra mim, havendo respeito e paz, o que interessa mesmo é a manutenção das liberdades.