SEMPRE haverá pessoas armadas tentando impor suas vontades na base da violência. E nessa situação, as pessoas "de bem" (entenda-se aqui como "pessoas que se dedicam a atividades produtivas próprias, e não ao uso da violência ofensiva conta outras") quase sempre se dão mal. Inevitavelmente o local onde elas moram será dominado por algum grupo armado, que lhe imporá taxações (na mais doce das hipóteses).
As pessoas de bem podem até se armarem; mas se não houver uma instituição FORTE para proteger o rabo delas (como o estado que temos hoje), serão dilaceradas na primeira horda armada de pessoas "de mal" que lhe atacarem.
Essa instituição forte você pode dar o nome que quiser, Pode até chamá-la de "firma" se soar melhor aos seus ouvidos. Mas ela também será e se comportará como estado (com todas as consequências e caraterísticas disso), EXCETO se estiver subordinada a alguma outra instituição mais forte (como o estado que temos atualmente), o que a faria se comportar como firma mesmo.
Você começa certo, mas continua errado e termina errado.
Duas obviedades: sempre haverá quem deseje viver às custas dos outros. E pessoas de bem farão algo a respeito quando aquelas derem as caras.
Ocorre que desde que as pessoas de bem sejam a maioria e a elas não seja impedido o direito à autodefesa - e este último é muito importante -, "pessoas de mal" não triunfarão. Seu catastrófico "inevitavelmente", assim, não tem qualquer cabimento. Se não impedidas do exercício do seu direito à autodefesa, companhias de seguros e segurança privada surgem como forma de atender à demanda das pessoas por segurança contra o crime.
Em seguida, sua definição de estado está completamente errada. Ou tão abrangente que acaba se tornando inútil. Uma companhia que preste serviços de segurança não será equivalente a um estado se não cobrar de quem não solicitou seus serviços. Não estou reduzindo o conceito de estado a essa condição, mas a compulsoriedade é, sem dúvida, uma das que o definem. É certo que as companhias não estariam submetidas a nenhuma órgão superior, mas tais companhias, que carregam a
confiança das "pessoas de bem" - presumivelmente por ser constituída por outras "pessoas de bem" - estão subordinadas aos seus clientes, a seus valores, e, no final das contas, a toda a ordem emanante das relações sociais. Violando esta ordem, estará ela sujeita a penalidades impostas pelos seus próprios clientes e pelas demais companhias de segurança e de arbitragem. Os estados de atualmente também não estão subordinados a autoridade maior. Apesar disso, o estado brasileiro ou qualquer outro, não pode fazer o que lhe der na telha. Está subordinado a toda a ordem emanante das relações que guarda com outros países. Se violar esta ordem, sofre sanções.
Aqui chegamos a um ponto bem esclarecedor: se quiser, você pode considerar que há aí um "anarquismo internacional", "intergovernos" - os governos não estão subordinados oficilamente a uma autoridade global, mas subordinados a uma ordem que emana de suas relações. Procure confrontar o cenário político internacional com as mesmas questões com que confronta os cenários hipotéticos dos anarquistas: e se o México resolvesse atacar, do nada, a Guatemala? O México é mais forte que a Guatemala. Por que não o faz? O Brasil é mais forte que o Uruguai, e toda a América Hispânica junta é mais forte que o Brasil - há uma miríade de combinações de mais fortes e mais fracos que poderiam gerar guerra atrás de guerra. Seria sensato invocar um grande estado global para evitar esse tipo de coisa? Cadê, afinal, toda a violência e opressão constantes e onipresentes entre os governos que seria de se esperar caso houvesse algum fundamento na ideia de que o poder concentrado do estado - no caso, um meta-estado global fiscalizador de estados nacionais - é fundamental à vida civilizada?
A conclusão lógica do seu argumento é um grande estado global. Se todos os estados nacionais fossem subordinados a um meta-estado global, o que seria da ordem gerada pela divisão de poderes que atualmente existe no mundo? Não mais existiria. Alguns estados seriam mais habilidosos politicamente e acabariam por obter uma posição privilegiada neste meta-estado. Poderiam surrupiar qualquer outro
pela via legal e os demais nada poderiam fazer, a não ser procurarem ser tão ou mais habilidosos politicamente em vista de obterem a sua fatia do roubo legalizado. Nada que já não aconteça nos estados nacionais e nas instâncias infra-nacionais dos estados, diga-se. Pessoas e grupos mais habilidosas politicamente espoliam toda a população pela via legal.
Está claro que quanto mais dividido for o poder, melhor. Está aí a razão pela qual o estado, em qualquer nível, é danoso.
Essa questão de benefícios concentrados X custos dispersos está presente em várias situações, não apenas nas ações estatais.
Por exemplo: Os benefícios de uma fábrica poluente, ou de uma madeireira, são patentes (riqueza, empregos, bens de qualidade para consumo, etc). Mas os custos ambientais são tão dispersos e de longo prazo que NINGUÉM toma iniciativa de evitá-los sem a ação coerciva estatal.
Quer outro exemplo? Uma pessoa paga 5 reais numa Tele-Sena, ou numa loteria. Os benefícios são concentrados (os ganhadores podem embolsar até milhões!), mas quantos pães deixaram de ser comprados pelo Brasil devido a isso?
Isso não tem a ver com externalidades. Tem a ver com a impossibilidade de se fazer o cálculo econômico: o que deve ser produzido e onde alocado em vista da demanda?
É claro que gastar em Tele-Sena implica não gastar em qualquer outra coisa também demandada. Ocorre que todo mundo demanda muito mais coisas do que pode dispor, e por isso deve escolher em qual dessas incontáveis necessidades empregar seus recursos. A questão, portanto, é determinar quais as necessidades mais urgentes das pessoas para, então, empregar seus recursos adequadamente. Se há demanda por jogos, por que deveria ser o dinheiro usado em pães? Podendo o jogador gastar seu dinheiro em jogos, a indústria dos jogos observará um crescimento, em detrimento de todo o resto. Tudo de acordo com a demanda.
Quando o estado capta para construir qualquer coisa, o faz na pretensa intenção de atender às demandas da população. É certo que todos
querem um estádio na sua cidade, mas quem disse que a necessidade mais urgente de todos os cidadãos, no que se refere ao uso da fração de dinheiro que caberá a cada um, é o estádio? Ainda que todos
queiram um estádio, "uma fração do estádio" não necessariamente é a demanda que representa a melhor aplicação da quantia a que cada um coube arcar com impostos. Muitos - seguramente todos - ainda prefeririam gastar o seu $1,00 de "imposto do estádio" em outras coisas. As indústrias de "outras coisas", embora mais produtivas do ponto de vista dos cidadãos, foram todas levemente privadas de recursos. Menos coisas mais demandadas foram produzidas por causa de uma grande coisa não tão demandada (estádio). Nenhuma riqeuza foi criada e tampouco alocada adequadamente aquela que já existia.
Mas quantos atentam para o crescimento econômico maior que seria gerado por esses milhões de $1,00 andando separadamente por aí? É muito mais fácil enxergar o grande empreendimento estatal e o crescimento muito menor por ele gerado, pois está concentrado.
O que isso tem a ver com a questão das forças armadas, leis e justiça: é muito fácil se deixar levar pela ideia de que o estado é eficiente em combater o crime - e que, por isso, deve ter o monopólio da força armada - ao observar uma ação positiva de uma força armada. Mas quanto isso custa a cada pagador de impostos? As coisas aqui não são diferentes. A aplicação individual dos recursos em segurança geraria resultados mais adequados à demanda.
Quanto de
que tipo de segurança deve ser alocado em
quais lugares? Os burocratas, por não operarem pelo sistema de preços, não têm como sabê-lo.
Por que as pessoas estão mais dispostas e sentirão menos em contribuir com 10 reais para a construção de um ponte, um estádio, uma usina ou um submarino nuclear, do que em desembolsar milhões ou bilhões para construirem sozinhas tais coisas. Ou seja, muitas coisas necessárias não seriam feitas se fôssemos depender da simples iniciativa, vontade e coragem dos milionários.
Como você explica a existência de estádios privados?
Um agente privado não constrói um estádio se ele sente que não dará o retorno desejado, isto é, se suas estimativas indicarem que não há muitas pessoas dispostas a pagar 10 reais de entrada em eventos que podem ocorrer por ali.
Em suma: o estádio não será construído porque não dá retorno. Não dá retorno porque as pessoas não estão tão dispostas a pagar por ele. Se não estão dispostas a pagar por ele, é porque não é tão necessário assim como você presume.
Se não existisse a "segurança socializada compulsória" do estado, os "seguranças privados" poderiam tomar todo o seu dinheiro, seus bens, lhe fazer de escravo, comer seu rabo e ainda lhe matar, e você não teria a quem recorrer.
O estado já toma grande parte do meu dinheiro e minha liberdade, e eu nada posso fazer pois tudo é "legal".
Só não come o meu rabo. Quando a SODOMIA for obrigatória (e tudo indica que está em vias de ser) tratarei de começar a revolução armada anarcocapitalista eu mesmo.