
“A pixação (sic) não tem obrigação de respeitar qualquer tipo de expressão que não seja feita na rua de forma ilegal. No movimento, um respeita o pixo do outro, porque todos correm o mesmo risco [...] mas a disputa vem se tornando covarde por uma pequena parte dos grafiteiros [...] esses acabaram se aliando ao dono do muro, ao empresário e ao prefeito.”
É assim que, em seu Fotolog, Djan, conhecido por Cripta, inicia seu argumento. Em março, ele e outros pichadores atacaram o painel de grafite do Viaduto Jaceguai (na avenida 23 de Maio, em São Paulo), que contém, dentre outras, ilustrações da dupla Osgêmeos. Com maior frequência nos últimos tempos, a pichação nas ruas da capital paulista começa a ganhar a atenção da mídia, tendo como outros exemplos os ataques ao Centro Universitário Belas Artes, à 28ª Bienal Internacional de São Paulo e aos grafites do túnel da avenida Paulista e do Beco da Vila Madalena. Tanto ruído rendeu um convite para a Bienal em setembro deste ano. “Houve contato desde a nossa intervenção em 2008 [...] e foi do interesse de ambas as partes (pichadores convidados e Ministério da Cultura). É a sensação de ‘uma batalha vencida’, entendeu? Quebramos mais um preconceito”, disse Djan.
O aerossol se popularizou na década de 1960 e a escrita na parede, herança que vem desde que os homens moravam em cavernas, ganhou agilidade. O spray transformou a pichação em arma de protesto na revolta estudantil de 1968, em Paris, e do lado ocidental do Muro de Berlim. Virou marcação de territórios entre gangues, em Los Angeles, grafite em Nova York na década de 1970 e ganhou estética única em São Paulo a partir da década de 1980. “Essa pixação com ‘x’ é exclusiva da cidade de São Paulo e é referência pra street art do mundo todo”, explica o próprio Djan. “A pichação de São Paulo é uma comunicação fechada. É da pichação pra pichação. Então, na verdade, ela não se comunica com a sociedade. Ela é uma agressão”, explica o fotógrafo Adriano Choque no documentário Pixo. Partindo desse princípio, a população foi inserida como mera espectadora da disputa entre duas formas urbanas de expressão com amadurecimentos diferentes. O grafite brasileiro, cultuado em diversas galerias de arte do mundo, tem origem tão marginal e excluída quanto a pichação. Quem sabe, daqui pra frente, dois propósitos tão iguais apontem um meio-termo e dividam espaço não só nas ruas, mas nas galerias mundo afora. ©

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