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Em vez de permitir a saída dos coreanos, que poderiam fugir, o "Líder Supremo" contratou uma torcida de chineses para representá-los na Copa do Mundo.
"O Globo" 15-05-10
Mil chineses contra o Brasil
José Meirelles Passos
Duas barreiras impedem os habitantes da Coreia do Norte de viajar à África do Sul para torcer por sua seleção na Copa do Mundo. Uma delas é que a grande maioria não tem dinheiro suficiente para isso. A outra é que os poucos em condições de bancar uma viagem dessas são impedidos de ir porque, para deixar o país, é preciso obter um visto de saída — mas o governo não dá essa autorização, temendo que haja uma fuga em massa do regime ditatorial.
Por isso, a Coreia do Norte — país que recebeu da Fifa mil ingressos para cada um dos seus jogos da primeira rodada (contra o Brasil, Portugal e Costa do Marfim) — contará com uma torcida de aluguel, composta apenas de chineses. O seu governo entregou os ingressos ontem em Pequim a um grupo que foi denominado como “Exército de Torcedores Voluntários”, e que vai estrear contra os brasileiros, no dia 15 de junho.
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Uma Copa pirateada
Fotos de satélite da Ásia, à noite, mostram um grande trecho do território terrestre, de tamanho quase idêntico ao da Inglaterra, sempre totalmente às escuras. É exatamente ali que fica a Coreia do Norte, onde o fornecimento de energia é tão escasso e inconstante quanto o de alimentos.
Durante a Copa a população norte-coreana também deverá permanecer numa escuridão esportiva. Isso porque o “líder supremo”, Kim Jong-il, decidiu que nenhuma das partidas será transmitida pela TV do país, que tem 29 milhões de habitantes.
Só mesmo ele, e uma pequena elite de burocratas do governo, poderão ver os jogos: só eles têm acesso à TV por satélite. Sinais de rádio e TV do exterior são bloqueados aos demais mortais.
As estações locais, todas do governo, vão mostrar trechos de alguns jogos, dias depois de sua realização. Jon-il não adquiriu direitos de transmissão para o seu país. Habitualmente a população vê pela TV partidas do seu campeonato nacional, e algumas de torneios europeus — estas com atraso de até três semanas. Isso porque, sem dinheiro para adquirir os direitos, a TV estatal depende da obtenção de cópias piratas.
A emissora Seoul Broadcasting System, da Coreia do Sul (SBS), ofereceu (sem sucesso) estender o seu sinal ao vizinho do norte, para que toda a população visse a Copa ao vivo, gratuitamente. O canal apresentou apenas uma condição: que a Coreia do Norte permitisse que os jornalistas da TV entrassem no país para cobrir a reação de sua torcida.
O governo refugou. Disse que só permitiria a entrada dos repórteres se a SBS pagasse para filmar dentro da Coreia do Norte e, além disso, cobrisse as despesas de jornalistas dos meios estatais nortecoreanos que serão enviados à África do Sul.
Alerta máximo na saúde pública Choe Sang-Hun THE NEW YORK TIMES
Médicos da Coreia do Norte fazem operações sem anestesia em clínicas onde agulhas hipodérmicas não são esterilizadas e lençóis não são lavados, disse o grupo de direitos humanos Anistia Internacional em um relatório apresentado na quintafeira.
“Cinco assistentes médicos seguravam meus braços e pernas para que eu não me movesse”, o relatório citava um desertor do exército norte-coreano de 24 anos, descrevendo como teve a perna amputada sem anestesia após um acidente de trem.
“Sentia tanto dor que gritei e depois desmaiei”.
Outros também contaram histórias terríveis.
Uma mulher disse que teve o apêndice removido sem anestesia e as mãos e pés amarrados para evitar que ela se mexesse durante o procedimento.
Outros disseram que há cidades inteiras sem ambulâncias.
Baseado em entrevistas com mais de 40 nortecoreanos que desertaram durante os últimos seis anos, assim como profissionais de saúde que trabalharam com nortecoreanos, o relatório retratava um sistema de saúde do país em situação bastante difícil.
Há muito excluída do resto do mundo, a Coreia do Norte tem levado sua população a um isolamento ainda maior. Tensões crescentes na Península Coreana depois do teste nuclear do Norte no ano passado e o suposto papel do Norte de afundar um navio de guerra sul-coreano em março afastaram possíveis doadores para trabalho humanitário. A reforma monetária mal feita do final do ano passado piorou a falta crônica de alimentos no Norte.
– Os norte-coreanos estão com uma carência crítica médica e de alimentos – conta Catherine Baber, diretora adjunto da Anistia Internacional pela Ásia Pacífico. – É crucial que o auxílio à Coreia do Norte não seja usado como um futebol político pelos países auxiliadores.
A Coreia do Norte afirma que oferece serviço médico gratuito para a população.
Contudo, na realidade, os pacientes pagam os médicos com dinheiro, cigarros, álcool e comida desde os anos 90, diz o relatório de 50 páginas.
“Muitos norte-coreanos evitam os médicos, indo direto aos mercados para comprar remédios, medicando a si mesmos de acordo com suas próprias suposições ou a recomendação dos vendedores”, diz o relatório.
A Coreia do Norte gasta menos com tratamento médico do que qualquer outro país – menos de US$1 por pessoa, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
De acordo com a Anistia Internacional, depois que alguns nortecoreanos começaram a comer grama, troncos e raízes de árvore, a tuberculose voltou ao país.
Durante anos, americanos fugindo do país relataram um sistema de assistência médica em deterioração, principalmente depois do colapso da economia de meados dos anos 90.