O que faz a "Comissão de Combate à Intolerância Religiosa"

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Fernando Silva
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O que faz a "Comissão de Combate à Intolerância Religiosa"

Mensagem por Fernando Silva »

"O Globo" 24/10/10

Comissão de Combate à Intolerância Religiosa

por Mauro Ventura

O celular de Ricardo Rubim não para de tocar. “Falo com Deus e o mundo”, desculpa-se. Não é força de expressão. Além dos pedidos a Ele, o candomblecista Rubim conversa com padres, rabinos, pastores, pais de santos, sheiks. “É muito problema”, diz o coordenador de comunicação da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, a CCIR. Ora é um terreiro que foi depredado por neopentecostais, ora uma mãe que perdeu a guarda do filho porque era do candomblé.

A CCIR surgiu em 2008, após traficantes evangélicos expulsarem moradores que tinham casas de candomblé e umbanda num morro na Ilha do Governador. A CCIR, que tem como interlocutor o babalaô Ivanir dos Santos, reúne todas as religiões, como a Congregação Espírita Umbandista do Brasil, a Igreja Presbiteriana de Jacarepaguá, o Fórum Dom Helder Câmara, a Federação Israelita do Rio de Janeiro, a Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro, a União Wicca do Brasil, a União Cigana do Brasil e a Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna.

Aos 33 anos, ex-editor do jornal “O Povo”, Rubim, que tem 114 palestras marcadas até dezembro, termina a pós em docência do ensino superior e prepara tese de mestrado sobre a relação entre funk e psicanálise.

REVISTA O GLOBO: O que faz a comissão?
RICARDO RUBIM: Organizamos caminhadas em defesa da liberdade religiosa. A última, mês passado, reuniu 120 mil pessoas na Praia de Copacabana.

Elaboramos a base do Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa e temos a ONG Projeto Legal, que atende gratuitamente as vítimas. De janeiro de 2009 a setembro de 2010, foram 118 atendimentos.

E há 63 ações e procedimentos correndo na Justiça.

A maior parte se refere a umbanda e candomblé, como a funcionária de um banco, umbandista, que adora o CD “Tecnomacumba”, da Rita Ribeiro.

Levou para o trabalho, uma colega viu e cismou que ela tinha jogado um pó preto em cima dela. Chamou a moça de macumbeira e invejosa, e convenceu as pessoas de que ela é má. Demos apoio psicológico, prestamos assistência jurídica, contactamos o banco, tomamos cuidado para não ser demitida.

E com relação a problemas com outras religiões?
Um empresário muçulmano, membro da comissão, disse que entrou no metrô, com sua pasta de laptop, e as pessoas só faltaram enfartar. Olhares de “Vou morrer por uma bomba”. Sentiu-se como terrorista.

Aconteceu no Rio, não em Nova York ou Londres. As mulheres muçulmanas estavam sendo muito mais revistadas que as outras. Entramos em contato com os aeroportos, que disseram para falar com a Anac.

A Anac disse que eram regras internas de cada instituição. Mas a vistoria diminuiu, acho que por nossa causa. Num supermercado no Recreio, um homem começou a xingar uma muçulmana. As câmeras filmaram. Foi preso, era um ex-policial. O processo está em andamento.

A CCIR se manifestou contra Val Baiano. Ele é evangélico e disse: “Se macumba fosse do bem, seria boacumba”...
Nossa preocupação não está voltada só para ele, e sim para os esportistas em geral. O Santos foi fazer caridade num centro espírita que atende portadores de paralisia cerebral e alguns jogadores se recusaram a descer do ônibus. A comissão pretende falar com o ministro dos Esportes, para alertar. Precisamos conscientizar os ídolos sobre o risco de expressar sua opinião de maneira discriminatória. Você tem o direito à sua religião até a hora em que não demonize a do outro.

Você já sofreu ameaças?
Fui sequestrado mês passado, em Madureira. Dois jovens bem vestidos se aproximaram da janela do meu carro. Um disse: “Ricardo, abre a porta que meu amigo vai entrar. Não grita que não vou fazer mal. Vai em direção a Cascadura.” Em Piedade, mandaram encostar. “A única coisa que queremos está dentro do seu rádio Nextel.” Estava cheio de contatos de religiosos, políticos, artistas. Acredito que seja represália pelo cargo, já que no caminho disseram: “Sabemos que você trabalha lá no negócio de combate à intolerância.”

E essa influência da religião na campanha eleitoral?
A CCIR luta “pela liberdade religiosa e garantia de um Estado laico, onde cada cidadão tenha o direito garantido de professar sua fé livremente”.

Política e religião não podem se misturar. As pautas religiosas dominaram a campanha, e temas fundamentais como educação, saúde e infraestrutura ficaram de lado. Fizeram uso de um assunto sagrado para envenenar o eleitor. Quando a comissão viu que a questão religiosa começava a tomar a cara de pautas políticas, os membros disseram: “Não podemos ser levados por essa onda, não podemos doutrinar ninguém.”

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