Quarta-feira , 15 de Abril de 2009
BR-319, Manaus-Porto Velho: cenários de destruição

De qualquer ângulo que se contemple, a recuperação da rodovia BR-319 -a Manaus-Porto Velho, uma obra do PAC- é mau negócio. A conclusão está em um novo estudo de custo/benefício, o segundo a condenar a estrada, que prevê prejuízo mínimo de R$ 315 milhões nos próximos 25 anos. Na pior hipótese, o saldo negativo chegaria a R$ 2,2 bilhões.
A análise independente da obra de interesse do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR-AM), leva a assinatura da organização não-governamental Conservação Estratégica. Trata-se do braço brasileiro da americana Conservation Strategy Fund (CSF), especializada em estudos de racionalidade econômica de projetos que afetem o ambiente.
A BR-319 corta uma área de floresta amazônica muito preservada e tida como de alto valor em biodiversidade. Por causa da alta pluviosidade, tem baixo potencial para agropecuária. A pavimentação de rodovias na Amazônia, contudo, atrai migrantes e assentamentos rurais -e também grilagem de terras, extração predatória da madeira, pecuária e desmatamento. (...)
Feitas as contas, o saldo do empreendimento seria negativo em R$ 315 milhões. Só 33 centavos de benefícios decorreriam de cada real investido.
O segundo cenário, que inclui custos ambientais, é ainda mais desfavorável à obra. O relatório serviu-se de projeções anteriores do grupo de Britaldo Soares-Filho na Universidade Federal de Minas Gerais, para estimar o desmatamento induzido pela BR-319 recuperada: 4 milhões de hectares até o ano 2030 (ou 40 mil km22, quase o território do Rio de Janeiro), ou 210 mil hectares/ano.
Cada hectare de floresta estoca cerca de 150 toneladas de carbono, que em caso de desmatamento termina na atmosfera e contribui para agravar o efeito estufa. O passo seguinte foi calcular o valor desse estoque, em créditos de carbono, para computá-lo como prejuízo -uma vez que sua destruição impediria a comercialização de títulos correspondentes no mercado internacional. Saldo: até R$ 2,2 bilhões de perda.
Leia a íntegra da reportagem na Folha de S.Paulo (aqui, só para assinantes). Um resumo do estudo está disponível aqui, e o relatório completo dentro de alguns dias ou semanas aqui.