Mitos da criação - cada povo com seu Gênesis

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Fernando Silva
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Mitos da criação - cada povo com seu Gênesis

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Alguns mitos da criação:

http://www.utp.br/eletras/ea/eletras1/art05.htm
Egípcio

Re(Ra)- o deus sol - ao amanhecer do tempo deu a luz a si mesmo. Sentindo que estava só, cuspiu, e de sua saliva nasceram Shu - o ar- e Tefnut - a umidade. Da união de Shu e Tefnut vieram Geb - o deus da terra - e Nut - a deusa dos céus. Das lágrimas de Re(Ra) vieram os primeiros seres humanos. Ele construiu as montanhas, fez a humanidade e os animais, céus e terra. A cada manhã ele se levanta e navega em seu barco Sektet, através do céu. À noite Nut o engole, e ao amanhecer ele renasce mais uma vez dele mesmo.

Sérvio

No começo não havia nada a não ser Deus, e Deus dormia e sonhava. Por muitas e muitas eras Deus sonhou. Mas finalmente despertou.
Deus olhou ao redor de si, e a cada olhar uma estrela se formava, Deus ficou maravilhado. Começou a viajar para conhecer o universo que havia criado. Viajou muito mas onde quer que chegasse não havia fim, nem limite.
Finalmente chegou à Terra. Estava cansado e o suor escorria de sua testa. Uma gota caiu no chão e criou vida; assim nasceu o homem. Ele é parente de Deus, mas não nasceu para o prazer. Foi produzido pelo suor e desde o começo esta destinado a uma vida de labores.

Chinês

No começo do tempo tudo era caos e esse caos tinha a forma de uma ovo de galinha. Dentro do ovo estavam Yim e Yang, as duas forças opostas que compõe o universo. Yim e Yang são a escuridão e a luz, o seco e o molhado, feminino e masculino, frio e o calor.

Um dia as energias conflitantes dentro do ovo o quebraram. Os elementos mais pesados desceram e formaram a terra, e os mais leves flutuaram e formaram o céu. Entre o céu e a terra estava P’an-Ku, o primeiro ser. A cada dia durante dezoito mil anos, a terra e o céu se separavam um pouquinho mais, e a cada dia P’an-Ku crescia no mesmo ritmo de forma que sempre ocupava o espaço entre os dois.

O corpo de P’an-Ku era coberto de um pêlo espesso, e ele tinha dois chifres na testa e duas presas no queixo. Quando ele estava contente, o tempo era bom, mas se ficava perturbado ou zangado chovia ou acontecia uma tempestade.

Existem diferentes histórias sobre o grande P’an-Ku. Alguns dizem que ele, exausto com o trabalho de manter a terra e o céu separados enquanto o mundo tomava forma, morreu. Seu corpo se partiu e separou-se: sua cabeça virou a montanha do norte; seu estômago virou a montanha do centro; seu braço esquerdo a montanha do sul; seu braço direito a montanha do leste e seus pés a montanha do oeste. Seus olhos se transformaram na lua e no sol; sua carne, na terra; seus cabelos, nas árvores e plantas; e suas lágrimas nos rios e mares. Seu alento se transformou no vento, e sua voz no trovão e no relâmpago. As pulgas de P’an-Ku viraram a humanidade. Outros dizem que P’an-Ku, junto com a primeira tartaruga, a primeira fênix, o primeiro dragão e o primeiro unicórnio, modelou o universo com seu martelo e cinzel. Ele governou a humanidade na primeira época da história. Todos os dias os instruía, do alto de seu trono, até que soubessem tudo sobre o sol, a lua e as estrelas acima e os quatro mares abaixo. Escutando-o as pessoas perdiam o cansaço. Uma manhã, quando o grande P’an-Ku já havia passado todo o seu conhecimento para a humanidade, desapareceu e nunca mais foi visto.

Japonês

No começo, o céu e a terra não estavam divididos. Então do oceano do caos surgiu um junco, e esse foi o eterno senhor da terra, Kunitokotatchi. Depois veio o deus feminino, Izanami, e o masculino, Izanagi. Eles ficaram na ponte flutuante do paraíso e agitaram o oceano com uma lança adornada de jóias até que este coalhasse, e assim criaram a primeira ilha, Onokoro. Construíram uma casa nessa ilha com um pilar central de pedra que é a espinha dorsal do mundo. Izanami deu uma volta por um lado do pilar e Izanagi pelo outro. Quando se encontraram face a face uniram-se em casamento.

Seu primeiro filho chamou-se Hiruko, mas ele não floresceu; assim quando ele tinha três anos, colocaram-no em um barco de junco e o deixaram à deriva; ele se tornou Ebisu , deus dos pescadores.

Depois Izanami deu a luz às oito ilhas do Japão, e finalmente começou a parir os deuses que dariam forma e governariam o mundo - deuses do vento, da terra , do mar e da chuva. Mas quando Izanami deu a luz ao deus do fogo, ela se queimou tanto que morreu. Izanagi ficou furioso com o deus do fogo e o cortou em três pedaços e então partiu em busca de Izanami. Foi direto procurá-la na terra das tristezas. Ele a chamava dizendo "- Volte meu amor, as terras que estamos criando ainda não estão completas!" Ela veio até ele dizendo "- Você chegou tarde demais , já comi do alimento desta terra mas gostaria de voltar. Espere aqui por mim e pedirei permissão aos espíritos do mundo inferior. Mas não tente me procurar". Depois de um tempo, cansado de esperar, Izanagi quebrou um dente do pente de cabelo para usar como tocha e a seguiu. Quando a encontrou, viu que ela já estava apodrecendo e que os vermes passeavam sobre seu corpo. Ela estava dando a luz aos oito deuses do trovão. Izanagi deu a volta, nauseado. Izanami gritou para ele: "Que a vergonha caia sobre você", e ordenou aos espíritos sujos do mundo inferior que o matassem.

Os espíritos perseguiram Izanagi, mas ele conseguiu escapar jogando fora seu adorno de cabelo que se transformou em uvas , que os espíritos pararam para comer. Depois jogou fora o seu pente que se transformou em brotos de bambu, e novamente, os espíritos pararam para comer.

Quando alcançou a passagem entre a terra dos vivos e a terra dos mortos, a própria Izanami já quase o tinha alcançado. Mas Izanagi a viu se aproximando e bloqueou a passagem entre os mundos com uma enorme pedra que necessitaria de mil homens para movê-la, criando assim uma barreira permanente entre a vida e a morte. Do outro lado do pedregulho Izanami gritou "A cada dia matarei mil pessoas e as trarei para esta terra!" Izanagi respondeu "A cada dia eu farei nascer cinco mil bebês."

Então Izanagi deixou Izanami reinando na terra das tristezas, e voltou para a terra dos vivos.

Izanagi chegou a um laranjal e uma planície coberta de trevos e banhou-se em uma fonte de águas cristalinas, enquanto limpava da sujeira do mundo inferior do seu rosto foi criando mais deuses. Limpando seu olho esquerdo, criou Amaterasu, a deusa do sol. Limpando o seu olho direito, criou Tsuki-Yomi, deusa da lua. Limpando o seu nariz, criou Susanowo, deus da tempestade.

Siberiano


No começo não havia terra, apenas o oceano. Ulgan, o grande criador, desceu para fazer a terra, mas não conseguia imaginar como. Foi então que ele avistou um pouco de lama que parecia ter um corpo e um rosto, flutuando na superfície da água. Ulgan deu vida à lama, chamou a criatura de Erlik e a fez seu amigo e companheiro.

Certo dia, Ulgan e Erlik, sob a forma de gansos negros, estavam voando sobre as águas. Erlik, que sempre fora orgulhoso, voou alto demais e, exausto, caiu na água e começou a afundar. Desesperado pediu ajuda e Ulgan o puxou, e também mandou que uma pedra subisse à superfície, para que Erlik pudesse sentar-se. Então Ulgan pediu a Erlik que mergulhasse e trouxesse um pouco de lama para fazer a terra. Erlik fez o que Ulgan pediu mas, cada vez guardava um pouco de lama em sua boca, esperando fazer seu próprio mundo quando visse como se fazia. Ulgan então mandou que a lama se expandisse, e a lama obedeceu quase sufocando Erlik que a cuspiu, e é por isso que a terra tem brejos.

Ulgan criou o primeiro homem, usando a terra como carne e pedras como ossos. Depois fez a primeira mulher a partir da costela do homem. Mas a mulher e o homem não tinham um espírito vivo. Ulgan saiu a procura de um para dar-lhes, deixando o primeiro cão guardando seus corpos inertes. Erlik veio e, vendo que o cão estava tremendo porque não tinha pelos, subornou-o para que olhasse para o outro lado, oferecendo-lhe um casaco bem quente. Assim Erlik pegou um junco e soprou vida nos corpos do primeiro homem e da primeira mulher. Portanto foi Erlik e não Ulgan o pai da humanidade. Quando Ulgan viu o que tinha acontecido, não sabia o que fazer. Pensou em destruir o homem e a mulher e começar tudo de novo, porém o primeiro sapo viu Ulgan meditando sobre esse assunto e disse-lhe que não se preocupasse. "Se eles viverem, deixe que vivam e se eles morrerem, deixe que morram." Então Ulgan deixou que vivessem . Quanto ao cão, Ulgan lhe disse que dali em diante teria sempre de guardar a humanidade e viver no frio e que se o homem o maltratasse seria por sua própria culpa.

Ulgan nunca perdoou Erlik por ter soprado a vida nos pessoas e já estando farto de seus modos, baniu-o para o reino dos mortos. Lá Erlik senta-se em um trono negro, cercado por espíritos do mal que, a cada noite, vão buscar as almas dos mortos.

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Fernando Silva
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Re: Mitos da criação - cada povo com seu Gênesis

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Origem do mito do dilúvio bíblico

http://www.utp.br/eletras/ea/eletras1/art05.htm
A purificação pelas águas: o Noé dos sumérios.


Depois de receberem a vida, os seres humanos precisam ser ensinados, e seus mestres imortais podem ser sábios e úteis, ou enganadores e cruéis. O preço da sabedoria pode ser grande - mesmo para deuses.

Após transferirem o conhecimento vital para a humanidade, os deuses criadores e outros seres podem retirar-se para seus palácios, seus lares nos céus, ou desaparecer misteriosamente. Mas ás vezes eles se zangam com os erros dos homens e decidem destruir a própria criação. Mitos dos grandes dilúvios, como o que Noé sofreu na Bíblia, são encontrados por todo o mundo, como por exemplo na história suméria de Gilgamesh e no conto sérvio intitulado "A Grande Enchente".


O herói sumério Gilgamesh

Resumindo drasticamente, Gilgamesh seria o senhor de Uruk, formado pelos deuses para ser rei entre os homens. Dois terços divino, com uma beleza perfeita, coragem e sabedoria, orgulhoso como um touro jovem, Gilgamesh era tão perfeito em sua glória que a ele nenhum homem poderia se opor, e nenhuma mulher resistir.

Aruru, a deusa da criação,decide criar um companheiro para Gilgamesh, e, cuspindo em suas mãos, pegou um pedaço de barro e o jogou em uma área selvagem. Assim criou Enkidu, o guerreiro, filho do silêncio, o forte. Tempos depois Enkidu desafia Gilgamesh para uma luta, e eles lutam como touros , cabendo a vitória a Gilgamesh. Porém dessa luta surge uma amizade mais íntima do que o amor entre homem e mulher. Ishtar, a deusa do amor, desejou Gilgamesh, que a desprezou. Então seu amor se transformou em ódio. Ishtar vai pedir a seu pai Anu que faça um touro do paraíso para destruir Gilgamesh. O touro desce à terra e ataca a cidade de Uruk, matando centenas de pessoas. Enkidu segura o touro e Gilgamesh o mata com sua espada e oferece o seu coração a Shamash, o deus do sol.

Ishtar amaldiçoa Gilgamesh e Enkidu pela morte do touro. Então os deuses decidem que um dos dois deveria morrer e Enkidu fica gravemente enfermo e morre. Inconformado, Gilgamesh começa a questionar porque os deuses são para sempre e os mortais deveriam morrer. Para saber a resposta das suas angústias, parte em busca de seu ancestral Utnapishtim a quem os deuses salvaram do dilúvio e deram vida eterna. Após uma busca longa e enfrentando grandes ameaças, encontrando com deuses e cruzando o mar da morte, Gilgamesh chega ao lar de Utnapishtim, seu antepassado. "Sou Gilgamesh Senhor de Uruk. Vim de longe, através da escuridão vazia e cruzando o mar amargo, para perguntar por que os homens morrem. Enkidu meu amigo, está morto, e o medo da morte está comigo. Devo me juntar a ele na casa do pó? Você que já foi um homem como eu, conte-me sua história antepassado."

Utnapishtim respondeu "O que cresce apodrece. Tanto o sábio quanto o idiota morrem. A libélula vive para a glória do sol e depois desaparece. Um homem cresce como o junco em um rio, e é cortado. A morte é como o sono, chega para todos. Os deuses dão a dádiva dos dias da vida e do dia da morte. Mas vou lhe contar a minha história."

"Eu vivia na cidade de Shurrupak, na margem do Eufrates, e era um fiel servo do sábio deus Ea. A cidade envelheceu, e os deuses envelheceram - Anu, o pai, e seus filhos, Enlil, Ea, Ninurta, Ennugi, Ishtar e os demais. Ishtar trazia problemas para o meio dos homens: guerras e inquietações. Os deuses não conseguiam dormir com o tumulto. Enlil, o guerreiro, disse: "vamos soltar as águas do mundo e afogar essa plebe que perturba nosso descanso." E os deuses concordaram. Até mesmo Ea. Ele não podia avisar a humanidade da enchente, mas murmurou o segredo para minha casa de junco, e os juncos murmuraram em meu sono: "homem de Shurrupak, derrube sua casa e construa um barco". Obediente ao deus, construí um barco, comprido e largo e nele coloquei um teto, e levei as sementes de todas as coisas vivas para o barco. Levei minha família e minhas posses e um macho e uma fêmea de todas as criaturas vivas do mundo, tanto as domesticadas quanto as selvagens.

Durante seis dias e seis noites a tempestade açoitou, afogando o mundo em uma fúria de vento e chuva. No sétimo dia, a tempestade se acalmou. Olhei do barco para fora, e não havia mais nada além da água na superfície da terra. Então eu chorei, mas isso foi apenas mais água.

Finalmente o barco encalhou no topo do monte Nisir. Ansioso para saber se a enchente estava baixando, soltei uma pomba, depois uma andorinha e depois um corvo. A pomba e a andorinha retornaram exaustas, mas o corvo não - tinha encontrado um lugar para pousar e descansar. Alegre, fiz um sacrifício aos deuses. Logo Enlil sentiu o cheiro da fumaça adocicada de meu sacrifício e ficou furioso. "Será que algum desses mortais criadores de confusão escapou? Era para todos terem perecido. Alguém deve ter lhes avisado!" Mas o sábio Ea respondeu: "A enchente era um destino pesado demais para toda a humanidade. Esse homem, pelo menos, não merecia morrer. Mas não enviei-lhe nenhuma mensagem; o homem sonhou". Com isso , a raiva de Enlil esfriou. Ele me pegou pela mão e pôs minha esposa ao meu lado, nós nos ajoelhamos, e ele tocou em nossas testas. "Até agora Utnapishtim era mortal. Agora ele e sua esposa serão como deuses."

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Re: Mitos da criação - cada povo com seu Gênesis

Mensagem por Fernando Silva »

http://www.girafamania.com.br/historia_ ... ordica.htm
MITOLOGIA NÓRDICA

O mito da criação germânica...

Quando ainda não existia nem a Terra nem o mar e nem o ar, quando só existia a escuridão, já estava lá o “Pai”... Ao começar a criação, mesmo no centro do espaço abria-se Ginnunga ou Ginnungagap – terrível abismo sem fundo e sem luz, circundado por uma massa de vapor. Ao norte estava a Terra de Niflhein – o mundo de água e escuridão que se abria ao redor da eterna fonte de Hvergelmir...

Dessa fonte nasciam os 12 rios do Elivagar, as doze correntes que corriam até a borda do seu mundo, antes de encontrar-se com o muro de frio que gelava as suas águas, fazendo-o também cair no abismo central com um estrondo ensurdecedor, as águas escoavam abismo adentro, para muito longe de sua origem, onde em alguns pontos a água congelou, formando assim camadas sobrepostas de gelo que foram pouco a pouco preenchendo o abismo...

Ao sul deste caos estava a doce terra de Muspells ou Muspelsheim – país do fogo, o cálido lar do fogo elementar, cuja custódia estava encomendada ao gigante Surt ou Surtur – gigante do fogo que lá vivia.

Este gigante era quem lançava nuvens de centelhas ao brandir a sua espada chamejante, enchendo do seu fogo o céu, mas este fogo quase não conseguia fundir o gelo do abismo e o frio venceria de novo, fazendo com que se elevasse uma coluna de vapor que também não podia fugir do abismo, dado que, ao encontrar-se com o mundo do gelo, condensavam-se as grandes colunas de umidade, enchendo de nuvens o espaço central...

Deste lugar surgiu o Gigante Ymir, a personificação do oceano gelado, e nasceu com fome voraz, que só pode saciar com outra criatura nascida ao mesmo tempo que ele... A mistura continuou e dos pedaços de gelo nasceu a gigante Vaca Audumla (símbolo da fecundidade), de cujas tetas brotavam quatro rios de leite...

Audumla, procurando avidamente o seu alimento, lambeu um bloco de gelo e fundiu-o com a sua língua, fez aparecer o bom deus Buri enterrado muito tempo antes nos gelos perpétuos (em outra versão nasceu do leite que caiu das tetas da vaca)...

Mas enquanto Ymir adormecido placidamente, pariu sem reparar, com o suor de sua axila, Thrudgelmir, o gigante das seis cabeças, e este fez depois nascer o seu companheiro Bergelmir, e dos dois saiu a estirpe de todos os gigantes malvados do gelo...

A guerra do bem e do mal...

E os gigantes do mar viram o deus Buri, que acabava de engendrar o seu filho e aliado Bor. Compreenderam então que era o único momento no qual seria possível tentar vencer o bem. Os gigantes começaram imediatamente a guerra. Mas as forças estavam demasiadamente igualadas e o combate já durava eras, quando Bor desposou a Bestla, a gigante filha do gigante Bolthorn, e dessa união tiveram três filhos, três aliados imediatos para sua causa: Odin, Vili e Vé (representando o espírito, a vontade e o sagrado, respectivamente).

Com esta formidável ajuda, o novo exército do bem fez retroceder os malvados espíritos do gelo, até matar Ymir. Da grande quantidade de seu sangue, todos os gigantes, menos dois, se afogaram. Todos de sua raça morreram, exceto Bergelmir e a sua esposa, que puderam por-se a salvo a tempo, fugindo numa barca para o limite do mundo...

Do corpo de Ymir os irmãos (Odin, Vili e Vé) criaram o céu e a terra. Com seu crânio (outras versões: sua pele; ou de seus olhos de cor marrom) construíram a Midgard (a Terra, também chamado de o País do Meio ou Jardim Central). Seus músculos (carne) usaram para encher o Ginnungagap; seu sangue para criar os lagos e os oceanos; de seus ossos inquebráveis eles fizeram as montanhas; com o seu pelo, a vegetação; árvores eram feitas de seu cabelo e os dentes gigantes se tornaram rochas e pedras, também os desfiladeiros, sobre as quais colocaram as sobrancelhas do gigante, para fortificar a fronteira com o mar, construído com o sangue e o suor de Ymir.

Mas, a muita distância deles, Bergelmir e a sua mulher alcançaram uma inóspita terra que afetava pouco essas criaturas do frio, estabelecendo-se em um lugar ao qual chamaram Jotun ou Jotunheim (País do Leste ou País do Gelo), a casa dos gigantes, onde começaram a dar vida a outra raça de gigantes do gelo, para continuar a renovada luta das forças opostas...

E nasceu a terra...

Só faltava fechar este novo mundo e, julgou-se conveniente fazer isso, colocando sobre Midgard a abóbada craniana do derrotado gigante... A assim se fez, encarregando aos anões Nordri, Sudri, Austri e Wesdri a sua fixação em cada um dos quatro pontos cardeais que levavam os seus nomes...

Com o crânio posto no seu lugar fez-se nascer o céu, mas ao colocá-lo os miolos espalharam-se pelo ar e com os seus restos criaram-se as nuvens. Só faltava a iluminação desse espaço e os deuses acudiram a Muspells, fazendo com o fogo da espada de Surd, fabricando com as suas centelhas as luzes do firmamento...

Com as duas maiores os deuses realizaram o Sol e a Lua, colocando-as sobre duas carruagens que girariam sem parar sobre Midgard, revelando-se incessantemente no céu, carroças guiadas pelos dois filhos do gigante Mundilfari, a sua filha Sol e seu filho Mani.

Ambas as carruagens, para manter viva a luta constante entre o bem e o mal, seriam eterna e inutilmente perseguidas pelos dois lobos Skoll e Hatri – encarnações vivas da repulsa e do ódio, que tratavam de alcançá-los, sem o conseguirem salvo em alguma rara ocasião (quando da terra se podia ver um eclipse do Sol ou da Lua), para conseguir o seu malvado objetivo de devorar o Sol e a Lua e fazer com que a escuridão perpétua caísse de novo sobre o Universo...

Para fazer o dia e a noite encarregou-se ao belo Dag, filho da deusa da noite Naglfari, que levasse a carroça do dia, puxada por Skin (brioso cavalo branco que produzia com os seus cascos a brilhante luz do dia), enquanto Note, a filha do gigante Norvi, encarregava-se de conduzir a carroça preta da noite, puxada pelo seu negro cavalo Hrim (o que lançava à Terra o orvalho e a geada produzido pelo seu trotar).

Mais tarde, foram-se acrescentando ao cortejo celeste as seis horas e as duas grandes estações: o inverno e o verão. Já estava a Terra pronta para ser ocupada pelos primeiros seres criados pelos deuses...

Os dois primeiros seres...

Mas era necessário muito mais do que os elfos, bons e maus para dar sentido ao Universo, e os deuses pensaram que o acabado Midgard exigia a presença da mulher e do homem... Vendo perante si um Olmeiro (Embla) e um Salgueiro (Askr) juntos, a beira mar, Odin compreendeu imediatamente que dessas duas árvores teria que criar o homem e a mulher, a estirpe dos humanos

Deu-lhes Odin a alma; Hoenir, o movimento e os sentidos; Lodur, o sangue e a vida. O primeiro homem, Askr, e a primeira mulher Embla, estavam vivos e eram livres, tinham recebido o dom do pensamento e da linguagem, o poder de amar a capacidade da esperança e a força do trabalho, para governarem o seu mundo...

Deram origem a uma nova raça, sobre a qual eles, os deuses, estariam exercendo permanente a sua tutela. Mas Odin, deus da sabedoria e da vitória, era o protetor dos guerreiros aos quais proporcionava um especial afeto, cuidando deles da altura do seu trono, o Hlidskialf, enquanto vigiava o resto do Universo, no nível dos deuses, no dos humanos e no dos elfos.

Perto de lá estava Valhalla, a sala dos mortos escolhidos, o paraíso dos homens escolhidos entre os caídos em combate heróico. Era um palácio magnífico, ao qual se acedia por qualquer das quinhentas e quarenta portas, imensas portas (por cada uma podia passar uma formação de oitocentos homens em fundo), que davam para uma grande sala coberta de espadas tão brilhantes que iluminavam a estância, refletindo-se a sua luz no artesanato feito de escudos de ouro e nos peitilhos e malhas que decoravam os bancos, a sala de jantar e o lugar de reunião para os Einheriar trazidos entre os mortos pelas Valquírias montados nas suas cavalgaduras, após cavalgarem através do Bifrost...

O ocaso dos deuses...

E o dia da vingança do lobo Fenris (chamado também no velho nórdico de “Wolf-Joint”) chegou por fim. O último dia, o da batalha entre as forças do bem e as do mal. Loki (o diabo), que tinha vivido entre os doze deuses, levava a maldade no seu seio, e quando foi expulso de Asgard, também a levou para os humanos, fazendo com que o mundo se convertesse no lugar de todos os crimes; em breve as divindades viram que tinha chegado o tempo do seu ocaso...

O Sol e a Lua deixaram de brilhar nos céus, ao serem alcançados e devorados pelos lobos engendrados por Fenris; a neve e o vento invadiram tudo durante três anos, e depois outros três anos de pesar caíram sobre o aterrado Universo. O dragão devorou a raiz do salgueiro Yggdrasil (Árvore do Mundo) e Heimdall (deus do arco-íris) deu toque de alarme...

Os deuses saltaram dos seus palácios e saíram nos seus cavalos para combaterem os gigantes do gelo e a sua banda de renegados e monstros horrendos. Ia dar-se início à luta final sobre a planície de Vigrid, segundo o que o destino tinha marcado desde o princípio dos tempos...

A batalha derradeira entre o exército do bem, formado pelos deuses do Aesir, os guerreiros escolhidos do Einheriar e os deuses do vento, os Vanas e as forças poderosas e heterogêneas do mal, em cujas sinistras filas estavam desde a deusa da morte, Hel, até Loki e o seu filho, o lobo Fenris, passando pelos sempre temidos gigantes do gelo e de todos os monstros aliados.

Um instante depois, entre o estrondo da tempestade e a fúria de todos os elementos desatados, todos os inimigos estavam combatendo a morte, numa luta sem quartel, na qual dificilmente podia haver um vencedor.

Cada um dos combatentes selecionou o inimigo do seu tamanho, e assim Odin enfrentou o lobo Fenris; Thor lançou-se contra a serpente do Midgard; Heimdall escolheu o traidor deus Loki como seu rival; Tyr balançou-se contra o cão Garn; sem dar-se um segundo de descanso, todos os adversários lutaram desesperadamente enquanto puderam manter-se em pé...

Mas também todos eles, sem exceção, foram sucumbindo perante os seus mútuos inimigos... Estava claro que nenhum deles podia vencer naquela loucura coletiva; enquanto os deuses e os malvados se matavam, o céu e a terra ardiam com as centelhas que arrojou o furioso Surt e, muito em breve, todo o Universo se consumia irremissivelmente nesse fogo aterrador que também o purificava para o sempre...

O ruído da luta parou. Só restavam as cinzas. Mas voltou a brilhar outra luz no céu: a filha póstuma da deusa sol, agora mais tênue e benfeitora. Ao calor do Sol amanhecia outra vez; e da profundidade do bosque de Mimir, surgiram uma mulher e um homem, Lifthrasir e Lif (os dois únicos humanos sobreviventes do fogo), que tinham sido reservados da morte para repovoarem o novo mundo que tinha que suceder ao corrompido mundo primordial...

Os deuses da natureza, Vale e Vidar, também se debruçaram à paisagem que despertava a nova vida e, encontraram-se com aqueles que nasceram para suceder aos doze deuses: os irmãos Modi e Magni, os filhos do deus Thor e da gigante Iarnsaxa, que traziam consigo o martelo do pai e as suas virtudes.

Apareceu depois Hoenir, seguiram-no pouco mais tarde os irmãos gêmeos Baldur e Hodur, filhos de Odin e Frigga. Os sete deuses descobriram felizmente que, além no alto do céu, o Gimli, a morada celestial mais elevada, se tinha salvo da destruição total. Então e, a partir desse recuperado canto do paraíso original, começaria o seu novo reinado de amor e cuidado sobre a nova humanidade e sobre a também renovada Terra...

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Rapidfire
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Re: Mitos da criação - cada povo com seu Gênesis

Mensagem por Rapidfire »

Fernando Silva escreveu:
Ulgan criou o primeiro homem, usando a terra como carne e pedras como ossos. Depois fez a primeira mulher a partir da costela do homem. Mas a mulher e o homem não tinham um espírito vivo. Assim Erlik pegou um junco e soprou vida nos corpos do primeiro homem e da primeira mulher. Quando Ulgan viu o que tinha acontecido, não sabia o que fazer. Pensou em destruir o homem e a mulher e começar tudo de novo [...]


Eu acho que já vi isso em algum lugar...
"Filipenses 1:18 - Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisso me regozijo, e me regozijarei ainda."(Paulo de Tarso)

Mesmo se Deus(es) existir(em) os motivos para a crença nele(s) estão errados.

Trancado