A Navalha de Ockham da maneira como foi popularizada pela ciência (um tanto diversa da sua formulação original) diz que entre duas teorias que explicam igualmente os mesmos fatos, a mais simples é a correta. Em outras palavras, se uma explicação simples basta, não há necessidade de buscar outra mais complicada. A Navalha também é conhecida por "Princípio da Economia".
Um exemplo clássico do uso deste principio pode ser visto na discussão histórica em torno da estabilidade do Universo. Isaac Newton, um gênio da física mas também um homem profundamente místico, estava convencido de que os planetas não poderiam permanecer imutavelmente em suas órbitas sem a interferência de Deus. Imaginava o Universo como um relógio (uma invenção relativamente moderna em sua época), o qual Deus teria posto em movimento na Criação e que precisava ser corrigido de tempos em tempos, tal qual um relógio que precisa de corda para continuar funcionando. Sem Deus agindo como um relojoeiro celeste, calculara Newton, os planetas, acabariam arrefecendo seu movimento devido às mútuas influências gravitacionais, desviando-se de suas órbitas até colidirem entre si. Foi somente um século depois de Newton, que Pierre Simon de Laplace mostrou, com a ajuda de métodos matemáticos de aproximação, que se os planetas não se desviavam de suas órbitas era porque as interferências gravitacionais entre eles se compensavam e anulavam-se a longo prazo. Quando indagado por Napoleão sobre por que Deus estava ausente de sua teoria, Laplace respondeu: "Sire, não precisei desta hipótese".
Laplace havia aplicado a "Navalha de Ockham" à sua cosmologia: entre duas teorias, uma que exigia a existência de uma superentidade vigilante para criar e manter o universo em movimento e outra que podia conter os fenômenos observados sem incluir hipóteses adicionais, Laplace escolheu a segunda, aquela com o mínimo de suposições necessárias para explicar todos os fatos observados, ou seja, aquela com o menor número de "razões suficientes".
Logicamente Isaac Newton não desconhecia a Navalha de Ockham, até mesmo tinha sua própria versão dela: "Não se deve admitir mais causas às coisas da natureza que aquelas que forem tanto verdadeiras quanto suficientes para explicar sua aparência."
Utilizando a Navalha de Ockham no estudo do paranormal.
Todas as alegações de fenômenos paranormais têm algo em comum: entre duas hipóteses que explicam igualmente os fatos "paranormais" observados, uma baseada em conhecimento bem fundamentado pela ciência e outra envolvendo seres de outros planetas, espíritos, anjos, demônios, magia, campos de energia misteriosos, ou simplesmente forças físicas desconhecidas, muitos preferem a segunda, mais "complicada", do que a primeira, mais "simples".
Um exemplo (dos mais pitorescos): Muitos querem crer que os círculos nas plantações inglesas (crop circles) têm sido feitos por alienígenas interessados em se comunicar conosco. Em 2001 foi encontrado na Inglaterra um círculo que reproduzia a mensagem enviada pelo radioteléscópio de Arecibo ao espaço em 1974 como parte do programa SETI (Search for Extraterrestrian Intelligence). A mensagem reproduzida no círculo era idêntica à original, exceto que os dados relativos à raça humana, como o DNA e uma figura humana, tinham sido trocados por dados e uma figura supostamente alienígenas. Enquanto os ufólogos ficaram exultantes, os cientistas do programa SETI disseram que o tempo necessário para que o sinal enviado em 1974 chegasse à estrela mais próxima (na direção em que o sinal foi enviado) mais o tempo que uma suposta raça inteligente levaria para vir desta estrela até a Terra seria muito maior do que o tempo decorrido desde a transmissão. Ou seja, mesmo que exista uma raça extraterrestre inteligente (o que é justamente o que quer descobrir o projeto SETI), ainda é cedo para que respondam a transmissão iniciada em 74. Seria mais fácil, disseram os cientistas, aceitar o fato de que aquele círculo, como outros, havia sido feito por pessoas em busca de aventura ou reconhecimento. Mas então os ufólogos replicaram (5thworld.com/Chilbolton/ChilboltonCode.html) dizendo que isto é apenas uma prova de que os alienígenas já estão entre nós há muito mais tempo do que supomos, provavelmente desde o início da vida humana. Bem, isso não é realmente um impedimento lógico, mas vemos que se aceitamos a hipótese dos aliens, somos obrigados também a incorporar o fato de que eles existem entre nós e que podem estar disfarçados como nossos vizinhos (ou isso, ou reformulamos as leis da física para que seja possível viajar numa velocidade maior do que a da luz). Mais adiante quando confrontados com a dificuldade de que, dada a diversidade que a vida pode assumir, seria uma coincidência incrível que estes aliens se parecessem com a figura humanóide retratada no círculo, os ufólogos responderam que uma raça suficientemente avançada para viajar pelo espaço, e que já se encontra na Terra há milhares de anos, certamente dominaria a engenharia genética necessária para alterar conforme seu desejo a vida local (nós). Resumindo: empurrados pela lógica através do tortuoso pensamento ufológico, a "hipótese alien" nos deixou nas mãos, não apenas alienígenas casuais, mas alienígenas vivendo entre nós, que alteraram geneticamente a vida na Terra para que nos desenvolvessemos à sua imagem e semelhança, e que a despeito de tanta tecnologia e disposição se comunicam com a raça humana através de códigos em plantações.
Eis o problema em se ser pródigo em pressupostos e ir além do estritamente científico.
http://www.projetoockham.org/div_ockham.html
Dentro deste contexto, as explicações psicológicas e biológicas que eu apresentei para os motivos da homossexualidade são suficientes e não vejo motivos para recorrermos ao sobrenatural ou paranormal para explicarmos as causas do homossexualismo.
Falar que "você não pode provar que as crianças estão mentindo, logo os relatos sobre vidas passadas são reais" é ad ignorantiam, conforme demonstrei na postagem acima.
Assumo que a palavra " com certeza" soou forte, tanto que alterei a postagem do blog em razão disso.
Vitor, acho que generalizar o blog todo por causa de uma palavra ( o "com certeza") ficou muito forte.
Espero que deixemos estes atritos para trás e fiquemos no respeito que sempre tivemos um com o outro, nos debates.
Abraços