O sentido da vida

Fórum de discussão de assuntos relevantes para o ateísmo, agnosticismo, humanismo e ceticismo. Defesa da razão e do Método Científico. Combate ao fanatismo e ao fundamentalismo religioso.
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Flavio Costa
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Re: O sentido da vida

Mensagem por Flavio Costa »

Alter-ego escreveu:Mas Porque ficara alegre seria viver bem? E se alguém quiser considerar que "estar de olhos abertos" seria viver bem, enquanto que alienar-se ante à realidade, isso sim, seria viver mal?
Quem vai considerar, a priori, o que seja meçlhor ou pior?

Essa resposta você não deve buscar nos outros, nem para os outros. A única coisa que você tem para lhe ajudar é sua própria experiência.

Aqui corremos o risco de discutir sobre o relativismo moral, mas não quero entrar nesse assunto. Se você quer saber se algo é bom, pense naquilo, veja o que outras pessoas passaram quando se submeteram àquilo. Se acha que vale a pena, experimente. Tendo experimentado, veja se as consequências foram boas ou ruins, desejáveis ou indesejáveis. Se não forem boas, as evite. Essa que é a sabedoria da qual eu estava falando para a Nadja, pois sabedoria é compreender os resultados das nossas ações da forma mais plena possível.

Alter-ego escreveu:Essa já é outra questão interessante, sim.
Mas, supondo que exista essa "eternidade de sofrimento", e fosse eu a ir de encontro dela, jogaria na cara de deus (qualquer um), que ele não tendo experimentado o sofrimento não poderia me julgar, e portanto não estaria sendo justo. E como os deuses são (aprioristicamente) justos, ele diminuiria ante a mim, até já não existir...

Seus amigos no Vaticano concebem um Deus mais intransigente e com menos dor na consciência.
The world's mine oyster, which I with sword will open.
- William Shakespeare
Grande parte das pessoas pensam que elas estão pensando quando estão meramente reorganizando seus preconceitos.
- William James
Agora já aprendemos, estamos mais calejados...
os companheiros petistas certamente não vão fazer as burrices que fizeram neste primeiro mandato.
- Luis Inácio, 20/10/2006

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Samael
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Mensagem por Samael »

Acauan escreveu:
Nadja escreveu:Princípio de realidade são os valores resultantes das transformações sofrida pelos nossos valores instintivos a partir da repressão destes pela cultura humana. Por exemplo, a transformação de uma satisfação imediata para uma satisfação adiada, ou a transformação da realização do prazer para a restrição do prazer.


A defesa desta tese por Herbert Marcuse no livro Eros e Civilização, que opunha os instintos de prazer e morte (Eros e Tanatos) como motores da civilização, tornou-se um dos ícones da contracultura dos anos sessenta e setenta.
Nas últimas décadas esta visão caiu no ostracismo por falta de quem a defendesse.


Nadja escreveu:Tomar como sentido à nossa existência "viver com sabedoria" ou "deixar marcas sobre a terra", são objetivos secundários que facilmente são deixados para trás, pois dada a constante reelaboração dos nossos valores instintivos, o que se faz imperativo para poder dar uma orientação qualquer a vida é aprender a lidar com a nossas contrariedades e frustrações, e para isso, a única receita é a prática da resignação, o que independe da soma de conhecimento que o indivíduo possui.


Caminhar sobre a terra é uma expressão da realidade, enquanto valores instintivos, contrariedades, frustrações e resignação são estados mentais definidos por discurso.


Marcuse foi muito criticado por sua ligação forte ao antigo idealismo em contraposição ao racionalismo crescente naqueles anos.

O próprio Marshall Berman faz algumas críticas bem interessantes a ele, tanto em sua fase idealista quanto em sua fase nilista.

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Nadja
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Mensagem por Nadja »

Acauan escreveu:A defesa desta tese por Herbert Marcuse no livro Eros e Civilização, que opunha os instintos de prazer e morte (Eros e Tanatos) como motores da civilização, tornou-se um dos ícones da contracultura dos anos sessenta e setenta.
Nas últimas décadas esta visão caiu no ostracismo por falta de quem a defendesse.


... e que apesar disso, continua explicando muita coisa.

Acauan escreveu:Caminhar sobre a terra é uma expressão da realidade, enquanto valores instintivos, contrariedades, frustrações e resignação são estados mentais definidos por discurso.


Independente da nossa vontade, nós deixamos marcas por onde passamos, mas não há marcas que o tempo não se encarregue de apagar.

Por isso digo que esse objetivo é secundário, a não ser que você encontre satisfação nesse movimento involuntário...

É uma questão de escopo.
Não apenas a razão, mas também a nossa consciência, se submetem ao nosso instinto mais forte, ao tirano que habita em nós.

Friedrich Nietzsche

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Samael
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Re.: O sentido da vida

Mensagem por Samael »

Exatamente, Nadja, é uma questão de escopo. E o meu escopo também não consegue dar respostas tão positivas quanto a dos amigos aqui do fórum.

Infelizmente, talvez...

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Nadja
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Mensagem por Nadja »

Flavio Costa escreveu:É Nadja, é bom se atualizar... :emoticon1:


Fico com Marcuse porque a sua tese ainda me parece bem plausível.

Flavio Costa escreveu:Sabedoria pouco tem a ver com conhecimento, mas sim com a compreensão da realidade e das formas mais equilibradas de se conviver com ela.


Resignação! :emoticon1:
Não apenas a razão, mas também a nossa consciência, se submetem ao nosso instinto mais forte, ao tirano que habita em nós.

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Nadja
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Mensagem por Nadja »

Gon escreveu:Desculpa Nadja. Mas a cultura humana é instintiva, porque resulta diretamente da nossa capacidade de comunicar de forma abstrata. O orgão da linguagem é inato. Isto significa que tu te contradizes aí. É como se dissesses: "Os nosso valores institivos são reprimidos por algo inato em nós". Não faz sentido.


Você está negando que nós influenciamos e somos influenciados pelo meio??? :emoticon5:
Não apenas a razão, mas também a nossa consciência, se submetem ao nosso instinto mais forte, ao tirano que habita em nós.

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Re.: O sentido da vida

Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Nadja escreveu:Independente da nossa vontade, nós deixamos marcas por onde passamos, mas não há marcas que o tempo não se encarregue de apagar.


O tempo faz dessas coisas mesmo. Mas essa é apenas uma maneira de se encarar as coisas.

Outra maneira é pensar que trilhando um bom caminho, outras pessoas podem seguir por ele, e chegar mais longe, marcando ainda mais seus rastros com os passos deles.

Trilhando um caminho ruim, talvez alguns te sigam a princípio, mas apenas até alguém perceber e voltar atrás, e seu caminho ser esquecido, e a relva voltar a nascer e você será enfim esquecido.
"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem

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Gon
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Mensagem por Gon »

Nadja escreveu:
Gon escreveu:Desculpa Nadja. Mas a cultura humana é instintiva, porque resulta diretamente da nossa capacidade de comunicar de forma abstrata. O orgão da linguagem é inato. Isto significa que tu te contradizes aí. É como se dissesses: "Os nosso valores institivos são reprimidos por algo inato em nós". Não faz sentido.


Você está negando que nós influenciamos e somos influenciados pelo meio??? :emoticon5:


Não estou não. Eu só disse que a cultura é parte da nossa natureza. De certa forma é um instinto. Mas claro, temos de estar em contacto com ela. Mesmo com os instintos puros as coisas não são lineares. O instinto do babuíno para a hierarquia só funciona se o babuíno não estiver isolado. Tu dirias que o instinto para a hierarquia do babuíno é reprimido se ele está sozinho?
Pensar doi...

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Alter-ego
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Re: O sentido da vida

Mensagem por Alter-ego »

Flavio Costa escreveu:
Alter-ego escreveu:Mas Porque ficara alegre seria viver bem? E se alguém quiser considerar que "estar de olhos abertos" seria viver bem, enquanto que alienar-se ante à realidade, isso sim, seria viver mal?
Quem vai considerar, a priori, o que seja meçlhor ou pior?

Essa resposta você não deve buscar nos outros, nem para os outros. A única coisa que você tem para lhe ajudar é sua própria experiência.

Aqui corremos o risco de discutir sobre o relativismo moral, mas não quero entrar nesse assunto. Se você quer saber se algo é bom, pense naquilo, veja o que outras pessoas passaram quando se submeteram àquilo. Se acha que vale a pena, experimente. Tendo experimentado, veja se as consequências foram boas ou ruins, desejáveis ou indesejáveis. Se não forem boas, as evite. Essa que é a sabedoria da qual eu estava falando para a Nadja, pois sabedoria é compreender os resultados das nossas ações da forma mais plena possível.

Pois, cara.
Continuamos navegando em conceitos arbitrários.
O critério de que você fala é um bom critério? Pode ser, pode não ser.
Ele baseia-se na percepção de mundo que cada um tiver. Esta leitura do mundo, pode se revelar deveras perigosa, quando considerarmos que o "leitor" pode estar num estado de desajuste psíquico, ou se este não tiver reunido uma gama de informações suficientes sobre a realidade ao seu redor.
A experiência de mundo, continua a se revelar como altamente perigosa, porque não temos garantia alguma de que os nossos sentidos nos transmitem a realidade, tal qual ela é.

Alter-ego escreveu:Essa já é outra questão interessante, sim.
Mas, supondo que exista essa "eternidade de sofrimento", e fosse eu a ir de encontro dela, jogaria na cara de deus (qualquer um), que ele não tendo experimentado o sofrimento não poderia me julgar, e portanto não estaria sendo justo. E como os deuses são (aprioristicamente) justos, ele diminuiria ante a mim, até já não existir...

Seus amigos no Vaticano concebem um Deus mais intransigente e com menos dor na consciência.

E eu com eles? :emoticon5:
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Flavio Costa
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Re: O sentido da vida

Mensagem por Flavio Costa »

Vamos lá. :emoticon146:

Alter-ego escreveu:Pois, cara.
Continuamos navegando em conceitos arbitrários.
O critério de que você fala é um bom critério? Pode ser, pode não ser.
Ele baseia-se na percepção de mundo que cada um tiver. Esta leitura do mundo, pode se revelar deveras perigosa, quando considerarmos que o "leitor" pode estar num estado de desajuste psíquico, ou se este não tiver reunido uma gama de informações suficientes sobre a realidade ao seu redor.

Por mais que a experiência sensorial seja limitada, ela é nosso único ponto de contato com o mundo. Podemos especular indefinidamente sobre o que as coisas são além dos sentidos, mas conceito algum vai nos tornar capazes de perceber qualquer coisa além deles. Sem os sentidos, o mundo não pode ser experimentado.

Se uma pessoa está em desajuste psíquico, o mundo dela está em desajuste e nada pode mudar isso. Ela vai cavar para si um abismo de sofrimento, do qual só pode sair ao se livrar do desajuste.

Então ao perguntar "Quem vai considerar, a priori, o que seja melhor ou pior?", não vejo melhor resposta que "Cada um de nós". O que é melhor para você? Por mais que queiramos nos iludir, é o que todos fazemos. Quando alguém é cristão, o é porque na lógica dele acha que é o melhor para si. Quando alguém vai fazer faculdade de Música, o faz porque acha que é o melhor para si. Não é possível viver de outra maneira, então porque discutir objetivamente algo que é inerentemente pessoal?

Não há nada a ser feito a respeito, apenas nos observarmos e vermos o que é melhor para nós. Procurar a resposta onde ela está, que é num plano pessoal, e não procurar uma "verdade intrínseca" à felicidade. Atualmente, existem pelo menos 6 bilhões de respostas distintas para essa pergunta e, pela sua natureza, não são respostas contraditórias e sim complementares na compreensão daquilo que chamamos de "existência humana".
The world's mine oyster, which I with sword will open.
- William Shakespeare
Grande parte das pessoas pensam que elas estão pensando quando estão meramente reorganizando seus preconceitos.
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Agora já aprendemos, estamos mais calejados...
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- Luis Inácio, 20/10/2006

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