A polêmica das caricaturas do profeta Maomé, quem diria, veio parar no carnaval carioca. Como os ânimos andam exaltados em todo o mundo, devido à reação dos muçulmantos contra as charges do pai do Islamismo publicadas em um jornal dinamarquês, a Associação de Bandas de Carnaval do Rio de Janeiro está orientando seus membros a não tocar a marcha "Cabeleira do Zezé". Composta por João Roberto Kelly, na década de 60, a canção é executada até hoje em bailes de carnaval, com versos que citam Maomé. Como agravante, a letra faz uma alusão ao homossexualismo, tema tabu nas sociedades islâmicas.
"Não é exatamente uma proibição. Trata-se apenas de uma orientação, pois prezamos a liberdade de expressão. Se o organizador do baile exigir que a música seja executada, ela será tocada, sem problemas. Mas se a escolha do repertório ficar por conta da banda, aconselhamos os integrantes a não tocar "Cabeleira do Zezé", para evitar reações negativas", conta Luciano Gomes, presidente da Associação de Bandas de Carnaval do Rio de Janeiro.
Luciano não acredita que deva haver muçulmanos indignados durante os bailes, mas não descarta a possibilidade de radicais islâmicos de outros países serem avisados sobre a possível ofensa e começarem a incluir o Brasil entre as nações acusadas de desrespeitar o profeta Maomé. "Como hoje vivemos em um mundo globalizado, as informações correm o planeta muito rapidamente. Algo tão inocente como uma marchinha de carnaval pode ter o efeito de uma bomba se interpretada de forma errada fora do Brasil", raciocina Luciano.
A marcha traz os versos
"Olha a cabeleira do Zezé
Será que ele é
Será que ele é
Será que ele é bossa nova
Será que ele é Maomé
Parece que é transviado
Mas isso eu não sei se ele é".
João Roberto Kelly, que sempre negou as referências ao homossexualismo em sua famosa marchinha, é tão avesso a polêmicas que se recusa a comentar as possíveis implicações que a citação a Maomé pode gerar nesse momento de retaliações de muçulmanos. Procurado pela reportagem, o compositor não quis dar entrevista.
