Flavio Costa escreveu:Fernando Silva escreveu:A principal diferença, a meu ver, é que o viciado, o fumante, o alcoólatra, o portador de TOC e outros problemas costumam reconhecer que não são normais e até tentam se recuperar.
Aí teremos que discutir o controverso conceito de "normalidade" e suas tênues fronteiras.
Se você faz uma coisa que prejudica sua saúde e sua vida, talvez seja direito seu, desde que não prejudique mais ninguém (o que nem sempre é o caso), mas fica difícil considerar que uma pessoa assim está agindo corretamente (é melhor não usar a palavra "normal").
Sim, eu me orgulho de não ter começado a fumar. Quem começou, foi para ser "igual aos outros", para parecer mais velho do que era ou coisa assim, não porque sentisse algum prazer naquilo, no início. Agora, mais velhos, sabem que erraram mas não têm força para largar o vício.
Sim, eu me orgulho de não ser um alcoólatra ou um viciado em drogas.
Flavio Costa escreveu:Fernando Silva escreveu:Os religiosos, ao contrário, se julgam os eleitos, a elite moral, a luz do mundo, e olham de cima os que não crêem no deus deles e, principalmente, os que não crêem em deus nenhum. Eles não se vêem como problemáticos, muito pelo contrário.
Está vendo como é difícil aprofundar esse tema sem falar da
postura dos fanáticos ao invés de ater-se unicamente à crença em si? Também não é interessante assumir a
postura oposta.
Eu era católico, mas não condenava quem não era. Eu tinha uma dupla moralidade: eu não podia fazer certas coisas porque era católico, os outros podiam porque não eram. Ou seja, eu não condenava os outros. Eles estavam certos e eu também.
Flavio Costa escreveu:Fernando Silva escreveu:Outras dependências não "desligam" a razão, apenas são mais fortes que ela, impedindo que o viciado largue o vício.
Ou você não refletiu o suficiente ao escrever isso, ou nunca conviveu com usuários de cocaína. Acha mesmo que drogas não podem desligar a razão? Ou um exemplo mais próximo da "normalidade", acha mesmo que nenhum homem desliga a razão por causa da paixão por uma mulher? Ou até mesmo pelo sexo descompromissado, que pode levar a consequências até mais nefastas e tangíveis?
Quando chega a esse ponto, realmente fica difícil. Sim, conheço um cara que gostava tanto da mulher que permitiu que ela continuasse dormindo com o amante, na cama
dele. Ele não suportava a idéia de se separar dela.
Sim, eu já me apaixonei pelas pessoas erradas. Eu sabia que elas não prestavam e, mesmo assim, queria ficar com elas. Aconteceu mais de uma vez, só que eu me controlei e as deixei.
Eu nunca fiz sexo sem tomar as devidas precauções e não entendo quem não faz.
Drogas podem desligar a razão, sim, mas não o tempo todo. O viciado, quando está "limpo", sabe que é um escravo da droga. Se ele chega ao ponto de não reconhecer mais isto, então já era. Só internando.
Flavio Costa escreveu:Fernando Silva escreveu:Acho que esta é a principal diferença.
Qual?

Num caso, a pessoa reconhece que não está agindo racionalmente, mas não tem forças para reagir. No outro, a pessoa acha que está certa e não vê razão para mudar.
Não sei se a minha experiência serve de exemplo, mas eu já fui católico e achava que a minha religião era a única verdadeira.
Eu não via motivos para questionar minha crença.
Hoje eu sei que fui vítima de uma lavagem cerebral na infância.
Eu não condeno a pessoa que eu era. Por que eu iria mudar se eu estava certo? Mas eu me condenaria se, depois de participar de debate após debate com ateus e examinar criticamente cada uma das minhas crenças, eu continuasse a acreditar "pela fé".
De qualquer forma, desde que a pessoa não tente impor sua crença e seus valores religiosos aos outros, ela que acredite no que quiser. É direito dela.