Fim do 13 salário

[Flavio Costa]

Poindexter, como estou escrevendo do notebook, serei sucinto:
Na Medicina, em geral, a discussão é predominantemente técnica e o propósito costuma ser o mesmo, a cura do paciente. Você sabe que a Economia se mistura com interesses políticos de modo indelével e que as ideologias afetam de maneira substancial as propostas econômicas.

Eu sempre ouço, durante as campanhas eleitorais, eles falando das probabilidades, margens de erro, etc. Quando o assunto é Economia, as opiniões são apresentadas, mas jamais vi alguém declarando qualquer porcentagem que indique a confiança daquilo. No máximo é um disfarçado "os analistas acreditam...". Se você conhece algum meio de comunicação para o grande público que torne as probabilidades explícitas, me apresente pois eu não conheço. Até lá, o que você chama de "generalização apressada" y otras cositas más é apenas o que eu tenho visto.

[Poindexter]

Na Medicina, em geral, a discussão é predominantemente técnica e o propósito costuma ser o mesmo, a cura do paciente.

O mesmo na Economia.

Você sabe que a Economia se mistura com interesses políticos de modo indelével e que as ideologias afetam de maneira substancial as propostas econômicas.

Assim como a Medicina é manchada com questões de orgulho pessoal de médicos, laboratórios farmacêuticos que puxam o saco dos médicos ou até mesmo criam "incentivos" para que recomendem o produto de seu laboratório ao invés de outros similares ou genéricos, médicos fazendo eutanásia "por debaixo do pano" para liberar leitos ou por convicção pessoal...

O caso da Terri Schiavo então foi impressionante... médico dizendo que deveriam retirar os tubos, outros que não...

Eu sempre ouço, durante as campanhas eleitorais, eles falando das probabilidades, margens de erro, etc.

Você ouve falar das probabilidades e das margens de erro, mas você não ouve nem metade do tal do "etc". Eles por acaso te informam qual é a probabilidade de o resultado verdadeiro estar dentro da margem de erro? Resposta: NÃO, a menos que os telejornais tenham mudado tudo sem ter me avisado...

Quando o assunto é Economia, as opiniões são apresentadas, mas jamais vi alguém declarando qualquer porcentagem que indique a confiança daquilo. No máximo é um disfarçado "os analistas acreditam...".

Culpa do economista ou culpa do jornalista? Você já viu como jornalistas editam os pareceres técnicos do economista? Tem que caber tudo em 10 linhas! Termos como "intervalo de confiança", "coeficiente de explicação" e outros análogos tão lascados!

Se você conhece algum meio de comunicação para o grande público que torne as probabilidades explícitas, me apresente pois eu não conheço. Até lá, o que você chama de "generalização apressada" y otras cositas más é apenas o que eu tenho visto.

Problema dos economistas ou dos jornalistas? Ou, mais especificamente... sempre culpa dos economistas?

[Ateu Tímido]

Não sei como o Tranca vê a questão, mas direitos do trabalhador inscritos na Constituição Federal (direitos sociais) são vistos como "cláusulas pétreas" pelo Supremo Tribunal Federal, isto é, não poderiam ser revogadas nem por emenda constitucional, nem que isso só valesse para quem entrasse no mercado. Só uma nova Constituição poderia fazer isso.

[Johnny]

Para mim está ótimo. Quem não tem que se dane. Eu tenho e vou lutar até o fim para mantê-lo.

[Flavio Costa]

Caro Poindexter, deixemos de lado a questão da Medicina, pois ela entrou na discussão apenas por causa de uma palavra que não tem nada a ver com o assunto sendo tratado.

Acabamos discutindo métodos e jornalismo, que também não é o foco aqui, acho que concordamos que há muita superficialidade na maioria da produção jornalística, o que é normal já que ela se destina à maioria das pessoas. O que está em pauta é o "axioma":

Fim do 13o --> aumento salarial.

A justificativa que você usou para validar essa implicação é que, de outra maneira, haveria uma "crise imensa". Eu disse que discordo dessa defesa, baseado em inúmeras outras situações em que tal alarde foi anunciado, mas não foi acompanhado dos "terríveis efeitos" que estavam previstos. A idéia que eu tenho é que você não fez nenhum estudo econométrico para estabelecer essa relação, se baseou apenas nas "leis do mercado" para chegar à conclusão do que "deve acontecer", certo?

É esse tipo de pensamento, muito usado pelos políticos no mínimo para "justificar" certas decisões que retiram ou prejudicam benefícios concedidos aos cidadãos ou ao Estado, que eu estou comentando. A visão que eu tenho é que muitas decisões são baseadas unicamente em ideologias ou influência política e certas "explicações" são usadas unicamente como desculpa oficial, mas sem o devido embasamento - um sintoma disso são as inúmeras "catástrofes" que são anunciadas, mas nunca acontecem.

O que você acha?

[Poindexter]

Caro Poindexter, deixemos de lado a questão da Medicina, pois ela entrou na discussão apenas por causa de uma palavra que não tem nada a ver com o assunto sendo tratado.

Acabamos discutindo métodos e jornalismo, que também não é o foco aqui, acho que concordamos que há muita superficialidade na maioria da produção jornalística, o que é normal já que ela se destina à maioria das pessoas. O que está em pauta é o "axioma":

Fim do 13o --> aumento salarial.

A justificativa que você usou para validar essa implicação é que, de outra maneira, haveria uma "crise imensa". Eu disse que discordo dessa defesa, baseado em inúmeras outras situações em que tal alarde foi anunciado, mas não foi acompanhado dos "terríveis efeitos" que estavam previstos. A idéia que eu tenho é que você não fez nenhum estudo econométrico para estabelecer essa relação, se baseou apenas nas "leis do mercado" para chegar à conclusão do que "deve acontecer", certo?

É esse tipo de pensamento, muito usado pelos políticos no mínimo para "justificar" certas decisões que retiram ou prejudicam benefícios concedidos aos cidadãos ou ao Estado, que eu estou comentando. A visão que eu tenho é que muitas decisões são baseadas unicamente em ideologias ou influência política e certas "explicações" são usadas unicamente como desculpa oficial, mas sem o devido embasamento - um sintoma disso são as inúmeras "catástrofes" que são anunciadas, mas nunca acontecem.

O que você acha?

Entendo o que queres dizer, Flavio, mas veja só: se o setor turístico não quiser sofrer quedas drásticas e as lojas de departamentos quiserem vender algo mais que agulhas e cartõezinhos no Natal, teria que haver esse aumento salarial!

Tudo bem: para quem tem dinheiro sobrando para investir, talvez isso não ocorra (muito embora vá passar a investir menos), mas tanta gente que já está ali "no limite",como vai fazer? Não te parece extremamente razoável se imaginar que esses setores iriam ter grandes prejuízos e um Natal "muito magro"?

Eles provavelmente não iriam ter que demitir, gerando mais desemprego ainda?

Mesmo que não ocorram essas demissões e não caia o nível da produção, etc, porque o povo brasileiro é criativo, etc... mesmo assim o PIB não cai? Dessa não teria escapatória! Se o PIB cai e o nível da produção não cai, é porque os preços caíram, o que significa dizer que os trabalhadores tiveram uim aumento salarial implícito, mas que, para o Mundo, o País como um todo ficou mais pobre (mais difícil para ir para Disney, por exemplo).

[Tranca]

Não sei como o Tranca vê a questão, mas direitos do trabalhador inscritos na Constituição Federal (direitos sociais) são vistos como "cláusulas pétreas" pelo Supremo Tribunal Federal, isto é, não poderiam ser revogadas nem por emenda constitucional, nem que isso só valesse para quem entrasse no mercado. Só uma nova Constituição poderia fazer isso.

Saudações, Bruno!

Eu não sei bem qual é a opinião colegiada do STF, mas se eles possuem este ponto de vista, não o estão aplicando.

Os direitos dos trabalhadores, previstos no artigo 7º da CF/88, podem ser modificados (ou até elididos) através de Emendas Constitucionais, não constituindo cláusulas pétreas, como os direitos e garantias fundamentais previstos no artigo 5º.

O próprio artigo 6º, que prevê os direitos sociais, foi modificado através da Emenda Constitucional nº 26 de 2000, para incluir-se entre os demais direitos (educação, saúde, trabalho, lazer, segurança, previdsência social, proteção à maternidade e à infância e à assitência aos desamparados) o direito à moradia.

Da mesma forma, alguns dos direitos dos trabalhadores previstos ao longo do artigo 7º já foram modificados através de Emendas, como se pode ver nos incisos XII, XXIX e XXXIII.

Abraço

[Flavio Costa]

Entendo o que queres dizer, Flavio, mas veja só: se o setor turístico não quiser sofrer quedas drásticas e as lojas de departamentos quiserem vender algo mais que agulhas e cartõezinhos no Natal, teria que haver esse aumento salarial!

Sim, concordo que certos setores ficariam prejudicados e que, talvez, causaria um impacto sensível na economia.

Eles provavelmente não iriam ter que demitir, gerando mais desemprego ainda?

Certamente, mas não vi nenhuma garantia de que isso vá acontecer como você prevê. Ao contrário, uma coisa que pode ocorrer é uma súbita deflação, só que a queda dos preços possivelmente será menor que a perda do patrimônio outrora associado ao 13o. Assim, o impacto na economia não será tão violento, mas o cidadão sai perdendo.

para o Mundo, o País como um todo ficou mais pobre (mais difícil para ir para Disney, por exemplo).

Sim, isso também aconteceu quando o governo desistiu do "artificial" câmbio fixo e adotou o "natural" câmbio flutuante. E a vida continua...