Meninos do tráfico.
Meninos do tráfico.
ENTREVISTA – MV BILL
Rapper lança documentário, livro e álbum sobre meninos do tráfico
O projeto “Falcão – Meninos do Tráfico” promete ser um soco no estômago de milhões de brasileiros. O trabalho é resultado de uma pesquisa iniciada em 1997 pelo rapper MV Bill e seu produtor, Celso Athayde.
Nelson Breve – Carta Maior
RIO DE JANEIRO - “Eu trafico para ajudar minha mãe. Eu sei que ela não gosta, mas eu trafico para ajudar ela”, conta o pequeno Falcão para a câmera que lhe enxerga com humanidade.
Garotos com menos de 15 anos, segurando armas pesadas para vigiar os pontos de tráfico de drogas em favelas de 20 capitais do Brasil. Eles falam da infância miserável, da vida marginal, dos sofrimentos, da discriminação e da guerra que banalizou a morte violenta na sociedade brasileira. Falam com carinho das mães, com revolta dos pais, dos seus sonhos e do futuro, que sabem: será curto. Quase todos estarão mortos dois anos depois. As imagens de seus corpos baleados e da família inconformada também serão mostradas no documentário de 58 minutos que a TV Globo exibirá neste domingo (19) durante o Fantástico.
“Falcão – Meninos do Tráfico” promete ser um soco no estômago de 50 milhões de brasileiros. O trabalho é resultado de uma pesquisa iniciada em 1997 pelo rapper MV Bill e seu produtor, Celso Athayde. Durante seis anos, eles aproveitaram o calendário de shows para percorrer comunidades de todos os cantos do Brasil com uma câmera digital na mão e uma idéia na cabeça: registrar depoimentos e imagens dos garotos que trabalham no tráfico com o olhar de quem busca compreendê-los e não condená-los. São mais de 200 horas de gravação, segundo Athayde.
Desse material, 90 horas foram disponibilizadas para a Globo fazer uma primeira edição.O documentário deveria ter sido exibido em agosto de 2003. A emissora fez uma ampla divulgação, mas, poucos dias antes do programa, MV Bill e Athayde suspenderam misteriosamente a autorização, alegando motivos pessoais. A atitude provocou especulações. Chegaram a desconfiar de que eles tinham sido ameaçados por chefes do tráfico. Também se comentou na época que haveria um interesse comercial da Columbia Pictures nas imagens cedidas à TV Globo.
Dois anos e meio depois, a Globo volta a investir pesado na divulgação. Fala-se em R$ 20 milhões em propaganda nos diversos meios de comunicação de todo país. O objetivo da emissora é uma incógnita, mas o dos produtores é mostrar o outro lado de uma realidade que a sociedade conhece pela metade. “O projeto Falcão é uma reflexão sobre segurança pública do ponto de vista de quem nunca falou. Não é para tornar os meninos do tráfico heróis, muito menos vilões. É para torná-los mais humanos e discutir a questão do ponto de vista de quem é vitima e de quem é culpado”, explica Athayde, um ex-menino de rua, que morou na favela do Sapo, em Camará, e descobriu no movimento hip hop um instrumento de luta contra a discriminação racial e a desigualdade social.
Buscando talentos nas favelas do Rio, ele encontrou MV Bill, um jovem rapper com idéias parecidas com as suas. Os dois pensam que ficar só no discurso e na denúncia não leva a nada. Eles acreditam que o movimento tem que partir para a ação. “Hip hop não é um movimento musical, é um movimento de jovens negros de periferia”, explica Athayde. “Nós queríamos mudar a linguagem. Tinha muito discurso e não tinha prática. Podia se transformar em mais um indústria de denúncia e não ter alternativa”, acrescenta o produtor na conversa que teve com a CARTA MAIOR na última quinta-feira, a caminho da Cidade de Deus para encontrar com MV Bill.
Nessa perspectiva, eles criaram a Central Única das Favelas (CUFA), entidade que organiza um festival anual de hip hop (Prêmio Hutúz), que já foi incluído no calendário oficial da cidade do Rio de Janeiro. Com apoio de instituições governamentais e não-governamentais, a CUFA está construindo em Madureira um centro cultural e esportivo para formação da identidade dos jovens ligados à cultura hip hop. O investimento inicial é de R$ 4 milhões. Lá, eles pretendem ampliar o trabalho que vem sendo feito há anos com jovens das comunidades do Rio, em atividades como basquete de rua, grafite, música e audiovisual.
Assim surgiu o projeto Falcão, que só recebeu esse nome muito depois, quando eles verificaram que a autodenominação dos garotos que servem como soldados para proteger o tráfico nas favelas tinha se espalhado pelas comunidades de várias regiões do Brasil. MV Bill descobriu também que a realidade que ele conheceu na infância na favela da Cidade de Deus é a mesma não só dos morros do Rio de Janeiro, mas de todas as periferias de Porto Alegre a Manaus. Os garotos estão sendo aliciados pelo tráfico porque não encontram outras perspectivas de uma vida mais estimulante, embora mais curta. “Vimos em todas as nossas cidades os meninos encontrando no tráfico de drogas o caminho para sobreviver”, conta MV Bill.
Além do documentário a ser exibido pelo Fantástico, o projeto Falcão tem outros lançamentos previstos. Na próxima segunda-feira (20), MV Bill e Celso Athayde colocam nas livrarias o livro “Falcão – Meninos do Tráfico”, que conta os bastidores das filmagens misturados com impressões que eles tiveram em outros momentos relacionadas com a discriminação e a desigualdade. A obra já sai como best-seller, assim como o livro anterior, Cabeça de Porco, que também foi inspirado no projeto e foi escrito em parceria com o sociólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário Nacional de Segurança Pública. Já foram impressos 100 mil exemplares, que estão sendo distribuídos pela Editora Objetiva.
Em 18 de maio, MV Bill lança seu terceiro CD, “Falcão – O Bagulho é Doido”. Assim como o disco anterior, Declaração de Guerra, as letras foram todas escritas no período em que os depoimentos dos meninos foram colhidos. Em 12 de outubro, Dia da Criança, a Columbia Pictures faz o lançamento do documentário Falcão – O Sobrevivente, com imagens diferentes das exibidas pela Globo. O filme, com cerca de duas horas de duração será exibido em circuito internacional.
O nome é uma referência ao fato de que dos 17 garotos que seriam o fio condutor do documentário, 16 morreram em um espaço de dois anos. O sobrevivente escapou da sina dos falcões porque está preso. “O filme era para falar sobre a vida dos meninos. Acabou falando sobre a morte. Quando soube que o último sobrevivente havia sido preso, agradeci a Deus pela prisão. Era uma forma de garantir a vida dele”, revela MV Bill nesta entrevista exclusiva à CARTA MAIOR.
CARTA MAIOR - Como surgir a idéia do documentário?
MV BILL - Quando começamos nossa pesquisa, entre 97 e 98, vi muita coisa acontecendo com os jovens. Daí surgiu a letra de Soldado do Morro (do CD Traficando Informação, de 1999). Eu chamei o Celso Athayde para fazer o videoclip e entrevistamos vários garotos. Quando voltamos lá algum tempo depois, 80% dos jovens estavam mortos. Aí eu percebi que a música e o vídeo eram importantes, mas insuficientes para interferir na realidade. Então, começamos a filmar os garotos das comunidades das cidades onde íamos fazer os shows. Fomos identificando jovens que viam na criminalidade uma maneira de vida. A coisa foi acontecendo. Talvez seja a única oportunidade de retratar esses jovens de outra maneira, com outros olhos. Falar com eles e mostrá-los de uma maneira mais humana.
CM - O que mais te impressionou?
MB - Escolhemos 17 jovens como fio condutor do documentário. As falas deles eram muito ricas, sobre os sonhos, a vida, a família, o futuro. Disseram coisas que nunca tiveram oportunidade de dizer para outras câmeras. Percebi que, mesmo a droga, que é a tragédia de tantas vidas, é a sobrevivência de tantas outras. Fomos acompanhando o que acontecia com eles. Dezesseis morreram no espaço de dois anos. As mães deles, na hora mais difícil, ligavam para a gente dizendo “meu filho morreu, venham filmar, porque ele acreditava que o trabalho de vocês era importante”. O filme era para falar sobre a vida dos meninos. Acabou falando sobre a morte. Quando soube que o último sobrevivente havia sido preso, agradeci a Deus pela prisão. Era uma forma de garantir a vida dele.
CM - Sua experiência de infância na favela influenciou na proposta do documentário?
MB - O fato de morar na Cidade de Deus, ser nascido e criado lá, faz com que enxergue as coisas diferente. Não consigo ver como bandido quem brincou comigo quando era criança. Todos os meus amigos de infância estão mortos. Os que estão vivos são cadáveres ambulantes. Tive uma infância padrão para quem nasce em comunidade. Estudar até onde der. Conciliar estudo e trabalho. Uma hora tem que optar porque fica muito difícil. Na favela tem o que chamo de sonhos adiados. Descobri que o tráfico, de forma trágica, dá respeito, visibilidade. Andar com uma arma na favela impõe respeito. Todo mundo quer ser visível. Encontrei a música, mas ela não é o único caminho. É um dos caminhos. Não tem o mesmo caminho para todos. Procurei retratar isso nas músicas. Quando criamos a CUFA, tivemos a oportunidade de praticar o discurso. O projeto todo pratica. Conversar com as pessoas, mostrar a realidade. Não só cantar. Falo e brigo por interesses de outras pessoas. Porque, geralmente, as pessoas que ficam famosas e têm espaço na mídia acham difícil defender. Nós vamos continuar fazendo o que já fazemos há muito tempo, a inclusão da comunidade através da CUFA. Trazendo os problemas para discussão.
CM - Qual a conclusão que tiveram dessa experiência?
MB - Não é caso de polícia, de Justiça. É caso de educação, cultura, oportunidade, igualdade. Nas viagens dos shows tive a sensação de que havia mais de dois brasis. E nós estávamos lidando com os mais descuidados. A realidade do Rio é compartilhada no Brasil inteiro. Quando fiz um show em Minas Gerais, teve um tiroteio com três mortos. Dois de uma comunidade e um de outra. O jornal sequer noticiou. Mas os jornais noticiam um tiroteio em Ipanema sem nenhum ferido. Esse projeto é uma oportunidade de mostrar a vida sendo banalizada. Vimos em todas as nossas cidades os meninos encontrando no tráfico de drogas o caminho para sobreviver. Isso está acontecendo com garotos das periferias de cidades como Porto Alegre e Curitiba.
CM - Como mudar essa realidade?
MB - Não devemos responsabilizar governos. Não é algo de agora, não é culpa do governo atual. Mas essa é a oportunidade para brecar. Acabar é impossível. Nem os EUA conseguiram. Temos que combater a falta de educação, de saúde, de cultura, de conhecimento, de oportunidade. Esse é o momento de todos fazerem uma reflexão para saber onde está indo o Brasil. Se eu fosse o general de um grande exército faria uma grande invasão nas favelas do Brasil. Mas não da forma tradicional. Eu invadiria com as armas da saúde, da educação, da cultura, do conhecimento, da oportunidade, da visibilidade, do desenvolvimento. Essa experiência me mostrou que essas são as armas para combater melhor a violência.
Rapper lança documentário, livro e álbum sobre meninos do tráfico
O projeto “Falcão – Meninos do Tráfico” promete ser um soco no estômago de milhões de brasileiros. O trabalho é resultado de uma pesquisa iniciada em 1997 pelo rapper MV Bill e seu produtor, Celso Athayde.
Nelson Breve – Carta Maior
RIO DE JANEIRO - “Eu trafico para ajudar minha mãe. Eu sei que ela não gosta, mas eu trafico para ajudar ela”, conta o pequeno Falcão para a câmera que lhe enxerga com humanidade.
Garotos com menos de 15 anos, segurando armas pesadas para vigiar os pontos de tráfico de drogas em favelas de 20 capitais do Brasil. Eles falam da infância miserável, da vida marginal, dos sofrimentos, da discriminação e da guerra que banalizou a morte violenta na sociedade brasileira. Falam com carinho das mães, com revolta dos pais, dos seus sonhos e do futuro, que sabem: será curto. Quase todos estarão mortos dois anos depois. As imagens de seus corpos baleados e da família inconformada também serão mostradas no documentário de 58 minutos que a TV Globo exibirá neste domingo (19) durante o Fantástico.
“Falcão – Meninos do Tráfico” promete ser um soco no estômago de 50 milhões de brasileiros. O trabalho é resultado de uma pesquisa iniciada em 1997 pelo rapper MV Bill e seu produtor, Celso Athayde. Durante seis anos, eles aproveitaram o calendário de shows para percorrer comunidades de todos os cantos do Brasil com uma câmera digital na mão e uma idéia na cabeça: registrar depoimentos e imagens dos garotos que trabalham no tráfico com o olhar de quem busca compreendê-los e não condená-los. São mais de 200 horas de gravação, segundo Athayde.
Desse material, 90 horas foram disponibilizadas para a Globo fazer uma primeira edição.O documentário deveria ter sido exibido em agosto de 2003. A emissora fez uma ampla divulgação, mas, poucos dias antes do programa, MV Bill e Athayde suspenderam misteriosamente a autorização, alegando motivos pessoais. A atitude provocou especulações. Chegaram a desconfiar de que eles tinham sido ameaçados por chefes do tráfico. Também se comentou na época que haveria um interesse comercial da Columbia Pictures nas imagens cedidas à TV Globo.
Dois anos e meio depois, a Globo volta a investir pesado na divulgação. Fala-se em R$ 20 milhões em propaganda nos diversos meios de comunicação de todo país. O objetivo da emissora é uma incógnita, mas o dos produtores é mostrar o outro lado de uma realidade que a sociedade conhece pela metade. “O projeto Falcão é uma reflexão sobre segurança pública do ponto de vista de quem nunca falou. Não é para tornar os meninos do tráfico heróis, muito menos vilões. É para torná-los mais humanos e discutir a questão do ponto de vista de quem é vitima e de quem é culpado”, explica Athayde, um ex-menino de rua, que morou na favela do Sapo, em Camará, e descobriu no movimento hip hop um instrumento de luta contra a discriminação racial e a desigualdade social.
Buscando talentos nas favelas do Rio, ele encontrou MV Bill, um jovem rapper com idéias parecidas com as suas. Os dois pensam que ficar só no discurso e na denúncia não leva a nada. Eles acreditam que o movimento tem que partir para a ação. “Hip hop não é um movimento musical, é um movimento de jovens negros de periferia”, explica Athayde. “Nós queríamos mudar a linguagem. Tinha muito discurso e não tinha prática. Podia se transformar em mais um indústria de denúncia e não ter alternativa”, acrescenta o produtor na conversa que teve com a CARTA MAIOR na última quinta-feira, a caminho da Cidade de Deus para encontrar com MV Bill.
Nessa perspectiva, eles criaram a Central Única das Favelas (CUFA), entidade que organiza um festival anual de hip hop (Prêmio Hutúz), que já foi incluído no calendário oficial da cidade do Rio de Janeiro. Com apoio de instituições governamentais e não-governamentais, a CUFA está construindo em Madureira um centro cultural e esportivo para formação da identidade dos jovens ligados à cultura hip hop. O investimento inicial é de R$ 4 milhões. Lá, eles pretendem ampliar o trabalho que vem sendo feito há anos com jovens das comunidades do Rio, em atividades como basquete de rua, grafite, música e audiovisual.
Assim surgiu o projeto Falcão, que só recebeu esse nome muito depois, quando eles verificaram que a autodenominação dos garotos que servem como soldados para proteger o tráfico nas favelas tinha se espalhado pelas comunidades de várias regiões do Brasil. MV Bill descobriu também que a realidade que ele conheceu na infância na favela da Cidade de Deus é a mesma não só dos morros do Rio de Janeiro, mas de todas as periferias de Porto Alegre a Manaus. Os garotos estão sendo aliciados pelo tráfico porque não encontram outras perspectivas de uma vida mais estimulante, embora mais curta. “Vimos em todas as nossas cidades os meninos encontrando no tráfico de drogas o caminho para sobreviver”, conta MV Bill.
Além do documentário a ser exibido pelo Fantástico, o projeto Falcão tem outros lançamentos previstos. Na próxima segunda-feira (20), MV Bill e Celso Athayde colocam nas livrarias o livro “Falcão – Meninos do Tráfico”, que conta os bastidores das filmagens misturados com impressões que eles tiveram em outros momentos relacionadas com a discriminação e a desigualdade. A obra já sai como best-seller, assim como o livro anterior, Cabeça de Porco, que também foi inspirado no projeto e foi escrito em parceria com o sociólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário Nacional de Segurança Pública. Já foram impressos 100 mil exemplares, que estão sendo distribuídos pela Editora Objetiva.
Em 18 de maio, MV Bill lança seu terceiro CD, “Falcão – O Bagulho é Doido”. Assim como o disco anterior, Declaração de Guerra, as letras foram todas escritas no período em que os depoimentos dos meninos foram colhidos. Em 12 de outubro, Dia da Criança, a Columbia Pictures faz o lançamento do documentário Falcão – O Sobrevivente, com imagens diferentes das exibidas pela Globo. O filme, com cerca de duas horas de duração será exibido em circuito internacional.
O nome é uma referência ao fato de que dos 17 garotos que seriam o fio condutor do documentário, 16 morreram em um espaço de dois anos. O sobrevivente escapou da sina dos falcões porque está preso. “O filme era para falar sobre a vida dos meninos. Acabou falando sobre a morte. Quando soube que o último sobrevivente havia sido preso, agradeci a Deus pela prisão. Era uma forma de garantir a vida dele”, revela MV Bill nesta entrevista exclusiva à CARTA MAIOR.
CARTA MAIOR - Como surgir a idéia do documentário?
MV BILL - Quando começamos nossa pesquisa, entre 97 e 98, vi muita coisa acontecendo com os jovens. Daí surgiu a letra de Soldado do Morro (do CD Traficando Informação, de 1999). Eu chamei o Celso Athayde para fazer o videoclip e entrevistamos vários garotos. Quando voltamos lá algum tempo depois, 80% dos jovens estavam mortos. Aí eu percebi que a música e o vídeo eram importantes, mas insuficientes para interferir na realidade. Então, começamos a filmar os garotos das comunidades das cidades onde íamos fazer os shows. Fomos identificando jovens que viam na criminalidade uma maneira de vida. A coisa foi acontecendo. Talvez seja a única oportunidade de retratar esses jovens de outra maneira, com outros olhos. Falar com eles e mostrá-los de uma maneira mais humana.
CM - O que mais te impressionou?
MB - Escolhemos 17 jovens como fio condutor do documentário. As falas deles eram muito ricas, sobre os sonhos, a vida, a família, o futuro. Disseram coisas que nunca tiveram oportunidade de dizer para outras câmeras. Percebi que, mesmo a droga, que é a tragédia de tantas vidas, é a sobrevivência de tantas outras. Fomos acompanhando o que acontecia com eles. Dezesseis morreram no espaço de dois anos. As mães deles, na hora mais difícil, ligavam para a gente dizendo “meu filho morreu, venham filmar, porque ele acreditava que o trabalho de vocês era importante”. O filme era para falar sobre a vida dos meninos. Acabou falando sobre a morte. Quando soube que o último sobrevivente havia sido preso, agradeci a Deus pela prisão. Era uma forma de garantir a vida dele.
CM - Sua experiência de infância na favela influenciou na proposta do documentário?
MB - O fato de morar na Cidade de Deus, ser nascido e criado lá, faz com que enxergue as coisas diferente. Não consigo ver como bandido quem brincou comigo quando era criança. Todos os meus amigos de infância estão mortos. Os que estão vivos são cadáveres ambulantes. Tive uma infância padrão para quem nasce em comunidade. Estudar até onde der. Conciliar estudo e trabalho. Uma hora tem que optar porque fica muito difícil. Na favela tem o que chamo de sonhos adiados. Descobri que o tráfico, de forma trágica, dá respeito, visibilidade. Andar com uma arma na favela impõe respeito. Todo mundo quer ser visível. Encontrei a música, mas ela não é o único caminho. É um dos caminhos. Não tem o mesmo caminho para todos. Procurei retratar isso nas músicas. Quando criamos a CUFA, tivemos a oportunidade de praticar o discurso. O projeto todo pratica. Conversar com as pessoas, mostrar a realidade. Não só cantar. Falo e brigo por interesses de outras pessoas. Porque, geralmente, as pessoas que ficam famosas e têm espaço na mídia acham difícil defender. Nós vamos continuar fazendo o que já fazemos há muito tempo, a inclusão da comunidade através da CUFA. Trazendo os problemas para discussão.
CM - Qual a conclusão que tiveram dessa experiência?
MB - Não é caso de polícia, de Justiça. É caso de educação, cultura, oportunidade, igualdade. Nas viagens dos shows tive a sensação de que havia mais de dois brasis. E nós estávamos lidando com os mais descuidados. A realidade do Rio é compartilhada no Brasil inteiro. Quando fiz um show em Minas Gerais, teve um tiroteio com três mortos. Dois de uma comunidade e um de outra. O jornal sequer noticiou. Mas os jornais noticiam um tiroteio em Ipanema sem nenhum ferido. Esse projeto é uma oportunidade de mostrar a vida sendo banalizada. Vimos em todas as nossas cidades os meninos encontrando no tráfico de drogas o caminho para sobreviver. Isso está acontecendo com garotos das periferias de cidades como Porto Alegre e Curitiba.
CM - Como mudar essa realidade?
MB - Não devemos responsabilizar governos. Não é algo de agora, não é culpa do governo atual. Mas essa é a oportunidade para brecar. Acabar é impossível. Nem os EUA conseguiram. Temos que combater a falta de educação, de saúde, de cultura, de conhecimento, de oportunidade. Esse é o momento de todos fazerem uma reflexão para saber onde está indo o Brasil. Se eu fosse o general de um grande exército faria uma grande invasão nas favelas do Brasil. Mas não da forma tradicional. Eu invadiria com as armas da saúde, da educação, da cultura, do conhecimento, da oportunidade, da visibilidade, do desenvolvimento. Essa experiência me mostrou que essas são as armas para combater melhor a violência.
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).
Re.: Meninos do tráfico.
Quem assistiu? 

"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).
Re: Re.: Meninos do tráfico.
penna escreveu:Quem assistiu?
Eu, sou fã de MV Bill, agora mesmo estou no chat do fantástico
- user f.k.a. Cabeção
- Moderador
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- Registrado em: 22 Out 2005, 10:07
- Contato:
Re.: Meninos do tráfico.
Eu assisti.
O documentário (ou o trecho apresentado) é até interessante, pois não descamba para a relativização moral, nem para disseminação de dogmas esquerdistas há muito já desmentidos pela realidade dos fatos.
Mas eles a seguir mostram as "opiniões" da intelligentzia, só para não perderem o hábito.
Ninguém, obviamente, para dizer que o crime existe porque o Estado não cumpre seu papel previnindo, combatendo, desarticulando e punindo o crime. Re-socialização só é possível quando os incentivos para o crime são poucos, o que não é a realidade desse país.
E para conseguir isso, deve-se ter polícias bem treinadas e pagas, e sujeitar policiais corruptos ao rigor legal que deve ser imposto aos bandidos, para que o incentivo a corrupção policial seja reduzido junto com o da criminalidade.
Mas como um dos traficantes entrevistados afirmou, o tráfico é bom para os políticos, pois gera miséria, que gera demagogia, que gera votos, para os policiais, que gera uma renda extra melhor que seus salários de fome, e para os "intelectuais" regurgitarem suas merdas de todo dia.
O documentário (ou o trecho apresentado) é até interessante, pois não descamba para a relativização moral, nem para disseminação de dogmas esquerdistas há muito já desmentidos pela realidade dos fatos.
Mas eles a seguir mostram as "opiniões" da intelligentzia, só para não perderem o hábito.
Ninguém, obviamente, para dizer que o crime existe porque o Estado não cumpre seu papel previnindo, combatendo, desarticulando e punindo o crime. Re-socialização só é possível quando os incentivos para o crime são poucos, o que não é a realidade desse país.
E para conseguir isso, deve-se ter polícias bem treinadas e pagas, e sujeitar policiais corruptos ao rigor legal que deve ser imposto aos bandidos, para que o incentivo a corrupção policial seja reduzido junto com o da criminalidade.
Mas como um dos traficantes entrevistados afirmou, o tráfico é bom para os políticos, pois gera miséria, que gera demagogia, que gera votos, para os policiais, que gera uma renda extra melhor que seus salários de fome, e para os "intelectuais" regurgitarem suas merdas de todo dia.
"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem
Re.: Meninos do tráfico.
Moderador apresenta a mensagem enviada por PauloCruz: Paulo Cruz - São Paulo - Espetacular a reportagem. Queria saber como foi que teve autorização dios traficantes para gravar a reportagem.
MV Bill responde para PauloCruz: A gente passou a ter uma relação de cumplicidade com esse jovens, não chegávamos com uma cÂmera escondida. As pessoas nos davam a entrevista sabendo do propósito deles e com isso eles concordavam e passavam a se sentir donos daquilo também. Algumas mães passaram a ser produtoras desse vídeo.
O usuário TEMPESTADE saiu da sala
Moderador apresenta a mensagem enviada por Vanze: Gostaria de saber se o vídeo deste documentário pode ser obtido por mães e instituições de ensino?
MV Bill responde para Vanze: Quando fizemos esse trabalho, nós exibimos esse material, fizemos debate, estivemos em comunidades, nós entendemos que todos os setores devesm estar unidos e saber do conteúdo desse documentário!Até porque ele não termina aqui, contiuamos com um livro contando os bastidores dess trabalho e no dia 12 de outubro, lançando a seção se cinema!
Moderador apresenta a mensagem enviada por May: Qual o caminho que as autoridades irão tomar diante disto tudo
MV Bill responde para May: Eu não sei o que se passa na cabeça das autoridades, mas eu gostaria muito que isso não se tornasse uma ssunto de polícia ou de político. Mas eu vejo nesse filme um outro olhar! Avho que essa discussão que vai se desencadear, vai ter essa função, de que essa violência não combatida com mais violência!
Moderador apresenta a mensagem enviada por thatha: teve medo em algum momento
MV Bill responde para thatha: Tive em vários momentos e várias vezes, medo dos dois lados, quando era preso, medo por eles, o medo é uma constante dentro daquele Universo. Os jovens de forma trágica demosntravam que em breve iriam morrer, e diziam que queriam dar entrevista para mostrar para todos isso!
O usuário Le. saiu da sala
MV Bill fala agora sobre seu documentário \'Falcão: Meninos do Tráfico\' no chat do Fantástico. Entre aqui!
Moderador apresenta a mensagem enviada por PC12: Vc chegou a entrevistar algum Policial Civil?
MV Bill responde para PC12: Quando eu começei a fzer esse trabalho eu queria um outro olhar e não fazer um documentário nos moldes que já conhecemos...quando eu começei a ouvir os jovens, eu fiquei convencido de que não tinha necessidade disso!
O usuário Comissario saiu da sala
Moderador apresenta a mensagem enviada por Renatinha: Sou de Recife é vejo que a situação aqui caminha pra isso, me sinto de mãos atadas. Oque fazer?
MV Bill responde para Renatinha: Não tenho um diagnóstico para cada um poder ajudar, até porque cada estado é uma situação, mas o que esse documentário me mostrou, é que os trabalhos sociais tem uma importância fundamental. A gente via a diferença de uma comunidade que abriga esse projeto e outras que não, e a diferença era brutal! Cidadania e oportunidade precisam chegar nesses lugares! Eu, na minha visão, a partir do momento em que a pessoa muda a sua visão em relação as favelas, em relação aos pretos aí você começa a fazer um pouco!
O usuário pollyudo saiu da sala
Moderador apresenta a mensagem enviada por luiz: o q vc acha q falta para q ñ aja esse tipo d "sub-mundo" ou seja qual o caminho q levaria a ñ permanecer nesta vida d lei do cão?
MV Bill responde para luiz: O certo mesmo seria ele nem entrar, por isso o nosso trabalho é bem focado nas crianças!
O usuário cariri saiu da sala
Moderador apresenta a mensagem enviada por RLL: vc acha q -se liberar o trafico d drogas melhoraria a condição d vida d moradores da favela sou d Limeira interior d SP
MV Bill responde para RLL: Eu acho que não, porque a conversa com esses jovens, nenhum entrou no tráfico devido a dependência química. Todos entraram de acordo com uma busca! Liberar não acaba com a criminalidade!
O usuário julinho saiu da sala
Moderador apresenta a mensagem enviada por abraao357: se os jovens do documentário tivessem oportunidade de estudar, vc acha que eles largariam o tráfico ou ja é uma cultura muito arraigada na favela???
MV Bill responde para abraao357: Ninguém nasce bandido. Eles buscam a referência do que está a sua volta! Quem está nessa condição melhor, passa a ser a referência. O foco é lá cedo!
O usuário mateussszz entrou na sala.
Moderador fala para a platéia: No Fantástico de hoje, você assistiu ao inédito documentário 'Falcão: Meninos do Tráfico'. MV Bill participa agora do chat e conta como foi a produção. Enviem suas perguntas, lembrando de mencionar a cidade onde moram!
Moderador apresenta a mensagem enviada por nickita: gostaria de saber qual foi o caso q mais comoveu vc bill? sou do rio de janeiro
MV Bill responde para nickita: Sem dúvida foi a história do jovem que tinha o sonho de ser palhaço e no entanto ele estava com uma arma na mão! O sonho dele passou a ser o meu sonho...
O usuário Nane saiu da sala
Moderador apresenta a mensagem enviada por baixada-rj: mv bill moro no rj e gostaria de saber algumas coisas, em primeiro lugar : do se trata a c.u.f.a?
MV Bill responde para baixada-rj: CUFA significa Central única das Favelas! Ela completou 8 anos e ela nos possibilitou transformar em realidade aqui que discursávamos. Hoje, temos 3 bases, uma em Madureira, outra na Cidade de Deus, outra em Jacaré e a quarta será em Acari, e está indo para outro estados também. Temos telesalas, audivisual, aulas de baskete de rua que é uma forma de inclusão, temos oficinas, teatro, é uma contribuição importante, mas singela e vem modificando a vida dos jovens. No início tinham voluntários, hoje montamos uma equipe que está focada e passam a doar tempo integral! Todos foram jovens assistidos e viraram reprodutores.
O usuário teht saiu da sala
Moderador apresenta a mensagem enviada por Nick: vc acha que os usuários de drogas, que possuem boas condições de vida, tem sua quota de responsabilidade por financiarem esta realidade?
MV Bill responde para Nick: acho que todos nós. Eu e você Camila, o internauta! Essa questão não é de agora. Não dá pra culpar os políticos de agora, isso é uma coisa que vem de geração em geração. é muito fácil achar um culpado.
O usuário gabiiisk8_SP saiu da sala
Moderador apresenta a mensagem enviada por vanessa: Sou do RJ queria saber se ele nãotem medo de alguma represalia
MV Bill responde para vanessa: Acaba sendo um risco que a gente corre. Esse material sónseria possívem com a cumplicidade da periferia.
O usuário ribeiro entrou na sala.
Moderador apresenta a mensagem enviada por Karina: em quais lugarem foram gravados os vídeos?
MV Bill responde para Karina: O mais importante desse material não seria identificar esses ligares e essas pessoas. Até porque 90% dessas pessoas está morta! Isso não é a questão. O problema está na forma de como pensamos o Brasil.
MV Bill responde para PauloCruz: A gente passou a ter uma relação de cumplicidade com esse jovens, não chegávamos com uma cÂmera escondida. As pessoas nos davam a entrevista sabendo do propósito deles e com isso eles concordavam e passavam a se sentir donos daquilo também. Algumas mães passaram a ser produtoras desse vídeo.
O usuário TEMPESTADE saiu da sala
Moderador apresenta a mensagem enviada por Vanze: Gostaria de saber se o vídeo deste documentário pode ser obtido por mães e instituições de ensino?
MV Bill responde para Vanze: Quando fizemos esse trabalho, nós exibimos esse material, fizemos debate, estivemos em comunidades, nós entendemos que todos os setores devesm estar unidos e saber do conteúdo desse documentário!Até porque ele não termina aqui, contiuamos com um livro contando os bastidores dess trabalho e no dia 12 de outubro, lançando a seção se cinema!
Moderador apresenta a mensagem enviada por May: Qual o caminho que as autoridades irão tomar diante disto tudo
MV Bill responde para May: Eu não sei o que se passa na cabeça das autoridades, mas eu gostaria muito que isso não se tornasse uma ssunto de polícia ou de político. Mas eu vejo nesse filme um outro olhar! Avho que essa discussão que vai se desencadear, vai ter essa função, de que essa violência não combatida com mais violência!
Moderador apresenta a mensagem enviada por thatha: teve medo em algum momento
MV Bill responde para thatha: Tive em vários momentos e várias vezes, medo dos dois lados, quando era preso, medo por eles, o medo é uma constante dentro daquele Universo. Os jovens de forma trágica demosntravam que em breve iriam morrer, e diziam que queriam dar entrevista para mostrar para todos isso!
O usuário Le. saiu da sala
MV Bill fala agora sobre seu documentário \'Falcão: Meninos do Tráfico\' no chat do Fantástico. Entre aqui!
Moderador apresenta a mensagem enviada por PC12: Vc chegou a entrevistar algum Policial Civil?
MV Bill responde para PC12: Quando eu começei a fzer esse trabalho eu queria um outro olhar e não fazer um documentário nos moldes que já conhecemos...quando eu começei a ouvir os jovens, eu fiquei convencido de que não tinha necessidade disso!
O usuário Comissario saiu da sala
Moderador apresenta a mensagem enviada por Renatinha: Sou de Recife é vejo que a situação aqui caminha pra isso, me sinto de mãos atadas. Oque fazer?
MV Bill responde para Renatinha: Não tenho um diagnóstico para cada um poder ajudar, até porque cada estado é uma situação, mas o que esse documentário me mostrou, é que os trabalhos sociais tem uma importância fundamental. A gente via a diferença de uma comunidade que abriga esse projeto e outras que não, e a diferença era brutal! Cidadania e oportunidade precisam chegar nesses lugares! Eu, na minha visão, a partir do momento em que a pessoa muda a sua visão em relação as favelas, em relação aos pretos aí você começa a fazer um pouco!
O usuário pollyudo saiu da sala
Moderador apresenta a mensagem enviada por luiz: o q vc acha q falta para q ñ aja esse tipo d "sub-mundo" ou seja qual o caminho q levaria a ñ permanecer nesta vida d lei do cão?
MV Bill responde para luiz: O certo mesmo seria ele nem entrar, por isso o nosso trabalho é bem focado nas crianças!
O usuário cariri saiu da sala
Moderador apresenta a mensagem enviada por RLL: vc acha q -se liberar o trafico d drogas melhoraria a condição d vida d moradores da favela sou d Limeira interior d SP
MV Bill responde para RLL: Eu acho que não, porque a conversa com esses jovens, nenhum entrou no tráfico devido a dependência química. Todos entraram de acordo com uma busca! Liberar não acaba com a criminalidade!
O usuário julinho saiu da sala
Moderador apresenta a mensagem enviada por abraao357: se os jovens do documentário tivessem oportunidade de estudar, vc acha que eles largariam o tráfico ou ja é uma cultura muito arraigada na favela???
MV Bill responde para abraao357: Ninguém nasce bandido. Eles buscam a referência do que está a sua volta! Quem está nessa condição melhor, passa a ser a referência. O foco é lá cedo!
O usuário mateussszz entrou na sala.
Moderador fala para a platéia: No Fantástico de hoje, você assistiu ao inédito documentário 'Falcão: Meninos do Tráfico'. MV Bill participa agora do chat e conta como foi a produção. Enviem suas perguntas, lembrando de mencionar a cidade onde moram!
Moderador apresenta a mensagem enviada por nickita: gostaria de saber qual foi o caso q mais comoveu vc bill? sou do rio de janeiro
MV Bill responde para nickita: Sem dúvida foi a história do jovem que tinha o sonho de ser palhaço e no entanto ele estava com uma arma na mão! O sonho dele passou a ser o meu sonho...
O usuário Nane saiu da sala
Moderador apresenta a mensagem enviada por baixada-rj: mv bill moro no rj e gostaria de saber algumas coisas, em primeiro lugar : do se trata a c.u.f.a?
MV Bill responde para baixada-rj: CUFA significa Central única das Favelas! Ela completou 8 anos e ela nos possibilitou transformar em realidade aqui que discursávamos. Hoje, temos 3 bases, uma em Madureira, outra na Cidade de Deus, outra em Jacaré e a quarta será em Acari, e está indo para outro estados também. Temos telesalas, audivisual, aulas de baskete de rua que é uma forma de inclusão, temos oficinas, teatro, é uma contribuição importante, mas singela e vem modificando a vida dos jovens. No início tinham voluntários, hoje montamos uma equipe que está focada e passam a doar tempo integral! Todos foram jovens assistidos e viraram reprodutores.
O usuário teht saiu da sala
Moderador apresenta a mensagem enviada por Nick: vc acha que os usuários de drogas, que possuem boas condições de vida, tem sua quota de responsabilidade por financiarem esta realidade?
MV Bill responde para Nick: acho que todos nós. Eu e você Camila, o internauta! Essa questão não é de agora. Não dá pra culpar os políticos de agora, isso é uma coisa que vem de geração em geração. é muito fácil achar um culpado.
O usuário gabiiisk8_SP saiu da sala
Moderador apresenta a mensagem enviada por vanessa: Sou do RJ queria saber se ele nãotem medo de alguma represalia
MV Bill responde para vanessa: Acaba sendo um risco que a gente corre. Esse material sónseria possívem com a cumplicidade da periferia.
O usuário ribeiro entrou na sala.
Moderador apresenta a mensagem enviada por Karina: em quais lugarem foram gravados os vídeos?
MV Bill responde para Karina: O mais importante desse material não seria identificar esses ligares e essas pessoas. Até porque 90% dessas pessoas está morta! Isso não é a questão. O problema está na forma de como pensamos o Brasil.
Deus é um só...
...mas com várias caras: uma para cada religião
O homem é um animal inteligente o bastante para criar o seu próprio criador
Ei, porque acreditar em alguem que pune todos os descendentes e também todos os animais por causa da desobediência de dois indivíduos?
Re.: Meninos do tráfico.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustr ... 200607.htm
Quem vamos convocar a seguir? Rambo?
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DA ILUSTRADA
O documentário que o "Fantástico" exibe hoje, sobre o envolvimento de crianças e adolescentes com o tráfico de drogas, dificilmente deixará de chocar os milhões de espectadores da Globo. É possível antever reações fortes. Quem sabe, até notícias no exterior.
A estupidez que a "lei" do narcotráfico impõe ao cotidiano das favelas cariocas e de outras áreas pobres do país já é conhecida, mas será mostrada em sua face mais cruel e intolerável, que é o aniquilamento da infância. "Cidade de Deus" enfocou o assunto, mas em se tratando de documentário -e não de uma obra ficcional- a tendência é que o impacto seja ainda mais potente.
É bom que a sociedade se choque com essa realidade estúpida que se ergueu sobre a incompetência e a corrupção dos poderes públicos. A pressão social é um elemento importante para que as coisas possam mudar.
A questão é saber para que tipo de mudança esse sentimento de saturação será dirigido. A falta de visão e a torturante incapacidade dos governantes de formular e implantar um projeto de restauração da cidadania e do Estado nos territórios ocupados pelo tráfico têm inclinado setores da população a projetar o alívio do problema em ações militares -já que as policiais se mostram pouco eficientes.
A exibição do documentário na seqüência da operação do Exército no Rio talvez reforce o apoio a novas intervenções semelhantes.
As Forças Armadas têm um papel a cumprir no processo de restauração -ou de implantação- da República nessas áreas controladas pelo narcotráfico. Mas apenas se esse papel estiver inscrito no contexto de um projeto maior, que de fato faça sentido.
A repetição pura e simples do teatro (em todas as acepções) de guerra a que temos assistido, poderia levar à contaminação pelo tráfico de setores militares (o que, aliás, já vai ocorrendo) e à posterior constatação de que o Exército por si só não irá resolver a questão. Se a população, já descrente da polícia, não tiver suas expectativas atendidas pelas invasões militares, quem chamaremos a seguir? Mr. Rambo?
Quem vamos convocar a seguir? Rambo?
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DA ILUSTRADA
O documentário que o "Fantástico" exibe hoje, sobre o envolvimento de crianças e adolescentes com o tráfico de drogas, dificilmente deixará de chocar os milhões de espectadores da Globo. É possível antever reações fortes. Quem sabe, até notícias no exterior.
A estupidez que a "lei" do narcotráfico impõe ao cotidiano das favelas cariocas e de outras áreas pobres do país já é conhecida, mas será mostrada em sua face mais cruel e intolerável, que é o aniquilamento da infância. "Cidade de Deus" enfocou o assunto, mas em se tratando de documentário -e não de uma obra ficcional- a tendência é que o impacto seja ainda mais potente.
É bom que a sociedade se choque com essa realidade estúpida que se ergueu sobre a incompetência e a corrupção dos poderes públicos. A pressão social é um elemento importante para que as coisas possam mudar.
A questão é saber para que tipo de mudança esse sentimento de saturação será dirigido. A falta de visão e a torturante incapacidade dos governantes de formular e implantar um projeto de restauração da cidadania e do Estado nos territórios ocupados pelo tráfico têm inclinado setores da população a projetar o alívio do problema em ações militares -já que as policiais se mostram pouco eficientes.
A exibição do documentário na seqüência da operação do Exército no Rio talvez reforce o apoio a novas intervenções semelhantes.
As Forças Armadas têm um papel a cumprir no processo de restauração -ou de implantação- da República nessas áreas controladas pelo narcotráfico. Mas apenas se esse papel estiver inscrito no contexto de um projeto maior, que de fato faça sentido.
A repetição pura e simples do teatro (em todas as acepções) de guerra a que temos assistido, poderia levar à contaminação pelo tráfico de setores militares (o que, aliás, já vai ocorrendo) e à posterior constatação de que o Exército por si só não irá resolver a questão. Se a população, já descrente da polícia, não tiver suas expectativas atendidas pelas invasões militares, quem chamaremos a seguir? Mr. Rambo?
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).