
‘Sou criticado porque gasto com pobres’
Heliana Frazão e Letícia Lins
SALVADOR, LAURO DE FREITAS, CACHOEIRA E CRUZ DAS ALMAS (BA). Em clima de campanha em quatro municípios da Bahia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou ontem os seus antecessores de só se lembrarem dos pobres em véspera de eleição e disse, sem citar a pesquisa da Unicamp, que nenhum governo nos últimos cem anos fez tanto quanto ele no campo social.
— Sou criticado porque dizem que estou gastando muito dinheiro com os pobres, quando deveria estar fazendo estradas e outras coisas. No Brasil, toda vez que a gente investe dinheiro nm projeto industrial, que constrói ponte, viaduto, estrada, aquilo é tratado como investimento. Na hora que investe nos pobres, é gasto — disse Lula, durante discurso em Lauro de Freitas, a 30 quilômetros de Salvador, onde entregou 239 casas populares a famílias que residiam em regiões de risco.
Apoio de dona Canô

Em Cachoeira, a 120 quilômetros de Salvador, Lula visitou a Universidade Federal do Recôncavo e encontrou-se com dona Canô, mãe de Caetano Veloso, que declarou voto no petista:
— Estou com ele e não abro.
Em Cruz das Almas, o tom de campanha ficou com o ministro da Cultura, Gilberto Gil, que fez um discurso em defesa do presidente. Lula fez duras críticas ao Congresso, por não ter aprovado o Orçamento para 2006.
— Enquanto o povo sofre, nós não conseguimos aprovar o Orçamento. O Congresso ainda não aprovou. Sem ele não podemos fazer os investimentos. A maior desgraça do ser humano é a inveja — criticou Lula. — Eles não conseguiram fazer e não querem que a gente faça.
A última etapa da visita foi para a obra mais polêmica: o metrô de Salvador, projeto anunciado em 1999, que deveria ter sido concluído em 2003 e que parou por falta de recursos. O cronograma sofreu modificações e o projeto original de 12 quilômetros de extensão foi reduzido à metade. Lula prometeu que o metrô não vai parar e disse que estão garantidos os recursos para concluir a primeira etapa.
Lula foi aplaudido várias vezes e festejado inclusive com bandeiras e slogans de campanha. , como “Um dois três, Lula outra vez”. O prefeito de Salvador, João Henrique Carneiro (PDT), afirmou que Salvador quer ver Lula mais quatro anos no poder. O presidente comparou o momento de crise às dificuldades enfrentadas pelo presidente Juscelino Kubitschek ao construir Brasília:
— Aqueles que estão me atacando também atacavam JK. Na hora que a gente assume um mandato, não pode responder a todas as ofensas se é atacado. Gosto de uma briga, adoro uma briga e quem me conhece, sabe que adoro uma briga. Agora eu sou presidente da República, não posso ficar respondendo a cada baixo nível contra mim.
“Sou um lutador e vou lutar para vencer”
Em seguida, Lula reconheceu a crise do seu governo:
— Hoje não estou bem, a situação está má, mas primeiro, acima de tudo eu creio em Deus. Segundo sou brasileiro e terceiro sou um lutador e vou lutar para vencer.
http://oglobo.globo.com/jornal/pais/193546631.asp