Ser Sexy na Savana Pré-histórica

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unborn
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Ser Sexy na Savana Pré-histórica

Mensagem por unborn »

Segundo Matt Ridley e outros psicologos evolucionários, a única força capaz de explicar o aumento rápido do cérebro humano, dos 400cc dos Austrolopiteco afarensis para os nossos 1400 cc, é a seleção sexual. Ou seja, o mesmo mecanismo que levou ao tamanho absurdo da cauda do pavão ou ás ridiculas armações dos Alces (a diferença é que no nosso caso a seleção sexual beneficiou os 2 sexos ainda que com ligeiras diferenças na forma de usar o cérebro). Somos Pavones cerebrais. Pelos vistos na savana primitiva quem fosse mais esperto tinha mais sucesso entre as mulheres (algo que podemos confirmar hoje em dia quando vemos nerds e ratos de biblioteta superinteligentes rodeados de mulheres humidas e ansiosas :emoticon16: ).

Isto explica de certa forma (depende do nível de explicação que cada ache satisfatório) porque somos tão inteligentes, mesmo sem ser necessário. Em principio o nosso cérebro evoluiu para responder aos problemas de uma vida de caçador recolector na savana (onde o genero humano passou a esmagadora parte da sua história evolutiva). Mas se pegasse-mos num homem das cavernas e o educassemos para ser fisico quântico, ele seria capaz de proezas matemáticas totalmente irrelevantes para o estilo de vida para que "nasceu". Isto quer dizer que as teorias adaptacionistas que os Evolucionistas usam para explicar o cérebro (o cérebro é uma adaptação) não implicam que o cérebro só consiga resolver problemas adaptativos. Não são teorias deterministas em nenhum sentido. Um dos efeitos da seleção natural, que acontece por toda a biosfera, é que funções que evoluiram para resolver um problema (adaptação) podem ser usadas para fins completamente diferentes e imprevistos. É por isso que temos a física quântica. Talvez seja por isso que temos também auto-consciência e livre arbitrio (somos capaz de dizer não aos nossos instintos ou áquilo que aprendemos.)

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Azathoth
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Re.: Ser Sexy na Savana Pré-histórica

Mensagem por Azathoth »

É um livro muito bacana, e serve como contraponto aos aparentes exageros de adaptacionistas como Steven Pinker e Daniel Dennett. Um dos aspectos que achei mais relevantes é a defesa de Geoffrey Miller de que a seleção sexual é um mecanismo qualitativamente diferente da seleção natural ( ou 'seleção ecológica' ) e que durante muito tempo foi renegada como uma off-shot desta. Também gostei da inferência de como a seleção sexual pode funcionar bem como motor da macroevolução em geral também.

Sobre teorias sociobiológicas da moralidade, já havia lido o livro do Riddley que é uma grande defesa da seleção por parentesco; Miller julga que ainda assim é insuficiente para explicar a exagerada generosidade masculina, entre outros fatores. A defesa da arte como fenótipo extendido humano é fascinante e muito inovadora aos que julgavam que expressão artística era meramente efeito colateral de um cérebro muito complexo ou alguma inovação puramente social; gostei muito da comparação dos machados de pedra aqueulianos ( que já apareceram em outro livro do Riddley ) com os ninhos luxuosos dos bowerbirds; ambos funcionam como indicadores de fitness.

A própria mente funciona como indicador de fitness aos moldes de outros ornamentos vistosos porque compreende cerca de 1/3 da carga genética ativa do Homem ( estimativa do Miller ) e é muito dispendiosa em energia, exige muita manutenção. Além de uma mente sã, a discussão da importância de um corpo são pode ser vista em 'A lei do mais belo', onde são analisados com mais detalhes muitos caracteres fisionômicos sexuais primários e secundários.

Se Miller estiver certo, a conclusão poética é que o mundo humano é feito de paixão; nossa arquitetura, nossa ciência e tecnologia e ultimamente toda a civilização é fruto do direcionamento de competências intelectuais que originalmente serviam para propósitos de sedução.

Ironicamente, isso aparenta ser uma nova versão da concepção freudiana da 'sublimação sexual'; e todos sabemos o quanto psicólogos evolutivos gostam de Freud :emoticon1:
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Fernando Silva
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Re.: Ser Sexy na Savana Pré-histórica

Mensagem por Fernando Silva »

Há uma outra hipótese: quando nossos antepassados deixaram a sombra das árvores e ficaram de pé, sua cabeça ficou exposta ao sol. Para proteger o cérebro, desenvolveu-se uma camada extra, por fora, com a função de retirar o calor através do sangue, além do isolamento puro e simples.
Essa camada extra tornou-se o córtex humano.

Outros animais, como o cachorro, usam toda a cabeça e a língua como dissipadores.

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unborn
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Mensagem por unborn »

Há muitas hipoteses baseadas na seleção natural simples. Há a hipotese mefistofélica que diz que o nosso cérebro evoluiu por necessidade de arranjar truques cada vez melhores para enganar adversários... que culmina com a hipotese de Ronald Trivers do auto engano (para enganar melhor os outros podemos nos enganar a nós mesmos).
Também há a hipotese alimentar. Aqueles com melhor capacidade para memorizar fontes alimentares teriam uma melhor aptidão inclusiva.

Mas parece que só a seleção sexual tem o efeito galopante capaz de justificar um aumento tão brutal do cérebro humano em tão pouco tempo...

Darwin favorecia a hipotese da seleção sexual assim como Ronald Fisher (o pai da estatística moderna) que provou matemáticamente que seria suficiente...

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unborn
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Re: Re.: Ser Sexy na Savana Pré-histórica

Mensagem por unborn »

Azathoth escreveu:

A defesa da arte como fenótipo extendido humano é fascinante e muito inovadora aos que julgavam que expressão artística era meramente efeito colateral de um cérebro muito complexo ou alguma inovação puramente social;


Bom, acho essa ideia meio ridicula. O fenótipo extendido pode ser aplicado a aves que fazem ninhos ou a castores que fazem barragens. Nós podemos fazer seleção artificial de aves e mudar a forma dos ninhos que fazem, escolhendo em cada geração, por exemplo, as aves que fazem ninhos ligeiramente ovais. Ao fim de n gerações podemos ter ninhos totalmente ovais. A seleção de um fenótipo estendido implica uma seleção de genes. Mas no que toca aos seres humanos... não se pode fazer seleção artificial de artistas ou de arquitectos, para que façam a arte que o selecionador quer. Portanto a ideia aplicada a seres humanos parece meio ridicula...

Como diz Dennett, há a maneira como nós fazemos as coisas e a maneira cmos os castores fazem as coisas.

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unborn
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Re: Re.: Ser Sexy na Savana Pré-histórica

Mensagem por unborn »

Azathoth escreveu: e todos sabemos o quanto psicólogos evolutivos gostam de Freud :emoticon1:


Oh... nem por isso. Não vejo como. A psicanálise é vaga... e parece determinismo sexual. Já a psicologia evolutiva diz que nós temos milhares de instintos. A seleção sexual não apenas beneficiou os instintos sexuais... mas todos os outros qque temos. Isto está a muita distância de Freud. A postura da psicologia evolutiva em relação á religião também é totalmente diferente da visão Freudiana. Longe de Deus ser uma projeção do Pai para combater o medo da existência, para a psicologia evolutiva Deus é um produto do senso comum (algo que a evolução obviamente favoreceu, porque é excelente a resolver problemas mundanos)
O caçador recolector pensaria assim: "Eu Faço lanças para caçar presas. Não são as lanças que criam o caçador. Por isso se vir uma lança sei que um caçador como eu fez a lança. E a presa, quem a fez? Talvez algum criador como eu, mas muito maior e mais poderoso. Ele fez a presa, porque a presa tem design. E a presa me alimenta. talvez esse criador mereça louvor."

E assim nasceu a religião. Nada de dramas psicológicos freudianos. Apenas senso comum...

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unborn
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Se a psicologia seguisse o caminho de William James em vez do caminho de Freud, há muito que teriamos a psicologia evolucionária em vez de termos de esperar 100 anos por John Tooby e Leda Cosmides...

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Azathoth
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Re.: Ser Sexy na Savana Pré-histórica

Mensagem por Azathoth »

unborn escreveu:Bom, acho essa ideia meio ridicula.


Eu não julgo ridícula; o artesanato desses machados exige habilidade manual, coordenação motora, resistência à ferimentos físicos ( lascas são afiadas ) e senso estético para fazê-los os mais simétricos possíveis; uma única ferramenta indica várias qualidades do artesão. Se fosse puramente uma ferramenta e não um ornamento extra-genético, por que essa cultura perdurou durante mais de 1 milhão de anos?

O design dos machados não é uma espécie de 'projeção determinística neural' exatamente ao estilo dos ninhos de bowerbirds mas segundo a tese era originalmente uma ferramenta comum que se demonstrou útil com incrementos e enbelezamentos como indicador de aptidão de várias competências mentais. Nossa grande expressão artística se espelha em várias esferas como verbal, musical, artesanal e atlética. Entre os protohumanos mais recentes, parece foi no artesanato o mais significativo.

unborn escreveu:Não vejo como. A psicanálise é vaga... e parece determinismo sexual.


Eu estava sendo irônico; psicólogos evolutivos são em geral ferrenhos críticos da psicanálise.
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o anátema
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Re: Re.: Ser Sexy na Savana Pré-histórica

Mensagem por o anátema »

Azathoth escreveu:
unborn escreveu:Bom, acho essa ideia meio ridicula.


Eu não julgo ridícula; o artesanato desses machados exige habilidade manual, coordenação motora, resistência à ferimentos físicos ( lascas são afiadas ) e senso estético para fazê-los os mais simétricos possíveis; uma única ferramenta indica várias qualidades do artesão. Se fosse puramente uma ferramenta e não um ornamento extra-genético, por que essa cultura perdurou durante mais de 1 milhão de anos?



Outro ponto que acho interessante, é que parece que não se consegue imaginar bem como seriam utilizados esses "machados" como tal. Além de não parecerem apropriados para isso em formato, alguns são ou muito grandes ou muito pequenos também. Ainda parece que não têm sinais de terem sido gastos por qualquer uso...

Ou é isso que lembro de ter lido
Sem tempo nem paciência para isso.

Site com explicações para 99,9999% de todas as mentiras, desinformações e deturpações criacionistas:

www.talkorigins.org
Todos os tipos de criacionismos, Terra jovem, velha, de fundamentalistas cristãos, islâmicos e outros.

Série de textos sugerida: 29+ evicences for macroevolution

Índice com praticamente todas as asneiras que os criacionistas sempre repetem e breves correções

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RoaCh Of DisCord
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Re: Re.: Ser Sexy na Savana Pré-histórica

Mensagem por RoaCh Of DisCord »

Azathoth escreveu:
unborn escreveu:Bom, acho essa ideia meio ridicula.


Eu não julgo ridícula; o artesanato desses machados exige habilidade manual, coordenação motora, resistência à ferimentos físicos ( lascas são afiadas ) e senso estético para fazê-los os mais simétricos possíveis; uma única ferramenta indica várias qualidades do artesão. Se fosse puramente uma ferramenta e não um ornamento extra-genético, por que essa cultura perdurou durante mais de 1 milhão de anos?

O design dos machados não é uma espécie de 'projeção determinística neural' exatamente ao estilo dos ninhos de bowerbirds mas segundo a tese era originalmente uma ferramenta comum que se demonstrou útil com incrementos e enbelezamentos como indicador de aptidão de várias competências mentais. Nossa grande expressão artística se espelha em várias esferas como verbal, musical, artesanal e atlética. Entre os protohumanos mais recentes, parece foi no artesanato o mais significativo.


Ah sim. Ok. Mas não se pode fazer seleção para que alguém faça o que Picasso fez.

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RoaCh Of DisCord
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Re: Re.: Ser Sexy na Savana Pré-histórica

Mensagem por RoaCh Of DisCord »

Azathoth escreveu:
Eu estava sendo irônico; psicólogos evolutivos são em geral ferrenhos críticos da psicanálise.


OK... lol

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Azathoth
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Re.: Ser Sexy na Savana Pré-histórica

Mensagem por Azathoth »

Eu terminei de ler o livro essa tarde e fiquei intrigado com o fato do Geoffrey Miller ter deixado uma das idéias mais poderosas para o final deste; o comportamento proteiforme.

Possuímos uma tendência mecanicista de considerar que os processos de seleção evolutivos chegam à soluções ótimas para resolver problemas; mas uma solução ótima para alguns problemas nem sempre incorre em uma rota particular mas sim em ser imprevisível! O exemplo mais fácil para demonstrar isso é nas próprias 'corridas armamentistas' da Natureza onde um padrão de movimento de fuga previsível da presa seria eliminado em prol de movimentos mais aleatórios que os predadores não poderiam antever.

Ele argumenta que o humor, comportamento brincalhão e aspectos da criatividade humana são imprevisíveis no sentido de serem espontâneos e causarem novidades; com isso ele alia o fato de primatas em geral se sentirem atraídos por novidades e alega que um cérebro capaz de gerar idéias novas e imprevisíveis para impressionar parceiras pode ser uma rota para diferencial reprodutivo.

Bom, agora irei comentar os aspectos que julgo mais falhos no livro; a mais falha na minha opinião é a visão da linguagem como ornamento.

Ele aponta que a genética do comportamento demonstra que a capacidade para ter um vocabulário maior é herdável mas não sei por quê isso não poderia significar outras coisas ( teria que ver se memória verbal é intercambiável com outros tipos de memória ).

Ele julga que vocabulário poético com excesso de sinônimos e palavras raras e luxuosas funcionam como handicaps, indicadores de aptidão mentais usados como sedução. O problema fatal dessa abordagem é que linguagens com vocabulários extremamente extensos se mantiveram ausentes durante a maior parte do Pleistoceno portanto não consigo conceber como poderia existir uma adaptação psicológica voltada para uma aquisição vultosa de palavras novas.

As histórias de que casais sem dúvida após algumas horas conversando passam a conhecer inúmeros pontos de referência de seus passados, possuem mecanismos para detectar quando alguém está mentindo sobre seu passado monitorando inconsistências no seu relato e que boa parte da sedução é verbal ( começa com o flerte ) pode parecer que faz muito sentido, mas se eu não estiver equivocado, os vocabulários de populações caçadoras-coletoras sem escrita que existem hoje são muito mais limitados em comparação às línguas ocidentais modernas.

Depois, uma linguagem extremamente rebuscada e rica é vista pela grande maioria da população humana como pedante, monótona, pretenciosa, etc. Só iria funcionar mesmo como artifício de sedução em alguém de nível socio-cultural equivalente.

O outro aspecto que também não gostei vem principalmente do capítulo da moralidade onde é argumentado que a sedução do EEA humano é vista muito como 'amor cortês', com homens gentis e afáveis indicando às parceiras que não são psicopatas. Mas não é do senso comum que mulheres se sentem atraídas por parceiros com uma certa malícia? Isso poderia ser coberto pelo comportamento proteiforme?

No mais, é um livro interessante que abre várias janelas.

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RoaCh Of DisCord
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Re.: Ser Sexy na Savana Pré-histórica

Mensagem por RoaCh Of DisCord »

Bene... para que não pensem que eu sou parcial. Há muito quem pense que a Psicologia Evolutiva é um travesty tipo era dos Flinstones. É pseudo científica, porque elabora hipoteses não testáveis. Basicamente diz que os nossos módulos mentais evoluiram por seleção na Savana Pleistocénica para resolver problemas Pleistocénicos (a dificuldade é encontrar esses ambientes). Se evoluiram dessa forma, então cada módulo mental é uma adaptação que, em última análise, serve os genes. Ou seja, como todas as adaptações, tem de aumentar a aptidão inclusiva (tem de influenciar a probabilidade de os genes que influenciam esses módulos de passarem há geração seguinte). De onde vem então a nossa capacidade de contrariar isto? Porque razão fazemos coisas que nada têm a ver com aptidão inclusiva? A tese é esta: Por exemplo, nós temos um módulo para a sexualidade, mas também temos um módulo para "projetar" o futuro. Do conflito destes 2 módulos diferentes pode surgir a opção de não ter filhos. Portanto, o livro arbitrio de que os Psicologos evolutivos falam nasce de conflitos entre demónios internos. Muitos Neurobiologos (Steven Rose, por exemplo) acham que isto subverte os dados da neurobiologia. Dizem que de um lado temos muitos neurobiologos que dedicaram a vida a estudar cerebros vivos e do outros Psicologos que passam mais tempo á frente de um computador. Estes Psicologos abusam da analogia do computador e falam de processamento de Informação, esquecendo que nos cérebros vivos a informação está "viva" por lhe é dada uma semântica (significado), enquanto que as teses do processamento da informação trabalham sobre informação "morta". Os dados da Neurobiologia dizem que o cérebro tem uma enorme redundância, algo que parece desmentir a ideia de módulos rigidos sobre influência genetica. O cérebro como um todo foi construido por genes (a sua arquitetura profunda), por uma cooperação (simbiose) de genes e não por grupos rivais de genes, cada um deles responsável por um módulo que eventualmente conflitua com outros módulos.

Bem, há uma luta tremenda nesta área...

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RoaCh Of DisCord
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Mensagem por RoaCh Of DisCord »

Ás vezes eu sinto, quando comparo a escola do gene egoista e a do contra, é que a escola do gene egoista tem uma paixão pela explicação (a importância que dão á universalidade, por exemplo, Dawkins e o seu Darwinismo Universal centrado na informação digital), e a outra escola tem uma paixão pelo objeto que explica (os seres vivos reais com os seus cérebros reais, etc).

O Freeman Dyson divide os cientistas entre os Unificadores (os que procuram a equação final) e os diversificadores que não se contentam em ver a selva de longe, mas que entram na selva para ver que criaturas particulares lá andam. Eu sinto que os diversificadores como Gould são mais aventureiros, enquanto os unificadores como Dawkins são mais nerds...

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o anátema
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Re.: Ser Sexy na Savana Pré-histórica

Mensagem por o anátema »

quem se encontraria entre os "do contra" o egoísmo genético, e qual seria a argumentação?
Sem tempo nem paciência para isso.

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Johnny
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Re.: Ser Sexy na Savana Pré-histórica

Mensagem por Johnny »

O mais importante é que a cerveja não ficou só na teoria. Agradeço a São Cristóvão pela graça alcançada. :emoticon16:
"Tentar provar a existencia de deus com a biblia, é a mesma coisa q tentar provar a existencia de orcs usando o livro senhor dos aneis."

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RoaCh Of DisCord
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Re: Re.: Ser Sexy na Savana Pré-histórica

Mensagem por RoaCh Of DisCord »

ímpio escreveu:quem se encontraria entre os "do contra" o egoísmo genético, e qual seria a argumentação?


Parte da argumentação eu já referi, em relação á questão dos módulos mentais.

Do "contra", temos; Steven Rose; Stuart kauffman, Brian Goodwin; Lyn Margulis; Steve Gould; Niles Eldredge...

Podes procurar a argumentação deles no

site: http://www.edge.org/3rd_culture/who3c.html

Também há a defesa dos outros... ataques e contra-ataques. É interessante...

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o anátema
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Mensagem por o anátema »

Mas serão eles mesmo "contra" egoísmo genético ou apenas vêem outras coisas complementares?

Porque egoísmo genético nada mais é que levar-se a idéia de seleção natural aos próprios genes. Negar isso seria dizer que os que se reproduzem mais não se reproduzem mais.

Ao mesmo tempo em que talvez se aceite seleção natural para o indivíduo, ou entre-se naquelas conversas que me parecem mais coisa de semântica do que de mecanismo sobre se a unidade de seleção é o gene, indivíduo, população, deme ou sei lá mais o que.

Do que sei de Gould e Kauffann não é exatamente uma oposição a seleção natural, mas simplesmente uma ênfase em que todo menor detalhe, por mais adaptativo que seja, tenha sido necessariamente moldado pela seleção natural "para" aquilo. Como orifícios hexagonais em colméias de abelha sendo de um tamanho ótimo, melhor que triangulares ou quadrados, mas isso não se deve a seleção natural "optando" por formas diversas até que essa sobrou. Simplesmente as abelhas individualmente fazem células cilíndricas, como em espécies com colméias "unicelulares", mas construidas lado a lado, incidentalmente tornam-se hexagonais. Ou que não é preciso algo extremamente intrincado para movimentos coordenados de grupos de organismos, manadas em estouro, cardumes de peixes, ou pássaros migrando.

Assim ao mesmo tempo acho que eles não devem negar a seleção natural, apenas não se apressam em atribuir tudo como produto "total" dela. Ao mesmo tempo não acho que Dawkins e os outros ultradarwinistas fanáticos neguem que haja exaptação, ainda que que prefiram usar o termo adaptação em ambos os casos, dizendo que nenhuma adaptação é feita "do zero", especialmente para a função desempenhada, pois isso seria teleologia descarada, não seleção natural.
Sem tempo nem paciência para isso.

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o anátema
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Mensagem por o anátema »

Azathoth escreveu:Ele julga que vocabulário poético com excesso de sinônimos e palavras raras e luxuosas funcionam como handicaps, indicadores de aptidão mentais usados como sedução. O problema fatal dessa abordagem é que linguagens com vocabulários extremamente extensos se mantiveram ausentes durante a maior parte do Pleistoceno portanto não consigo conceber como poderia existir uma adaptação psicológica voltada para uma aquisição vultosa de palavras novas.

Não seria que não há uma adaptação específica pra isso, mas isso acaba decorrendo da tendência à excitação com o novo/chateação com o repetitivo? Acabaria funcionando da mesma forma ou até melhor que uma "mini cauda de pavão cerebral" específica para memorização de muitas palavras, no sentido da vantagem conferida pela seleção sexual. Se é algo muito independente, pode conservar-se e ser selecionado mesmo que outras capacidades, como a própria atração pela novidade, não estejam lá tão bem. Desse modo acho que ocorreria por seleção sexual descontrolada, mas não me parece ser muito tão como "handicap".


Depois, uma linguagem extremamente rebuscada e rica é vista pela grande maioria da população humana como pedante, monótona, pretenciosa, etc. Só iria funcionar mesmo como artifício de sedução em alguém de nível socio-cultural equivalente.

Acho que primeiramente teria que se considerar o efeito contrário, qual seria a opinião/atração de uma pessoa com relação a uma outra com uma articulação bem abaixo da dela própria.

Mas acho que tem mesmo isso de se procurar um "status" mais ou menos equivalente, evitando parceiros de status inferior pelas desvantagens mais óbvias, mas também evitando em certo grau parceiros de status superior pelo investimento de cortejo ser possivelmente frustrado, não valer tanto o gasto quanto as tentativas com o mesmo ou menor esforço com alguém do mesmo status.

Se bem me lembro ele até menciona isso em algum momento, ou talvez tenha lido algo assim em outro lugar.


O outro aspecto que também não gostei vem principalmente do capítulo da moralidade onde é argumentado que a sedução do EEA humano é vista muito como 'amor cortês', com homens gentis e afáveis indicando às parceiras que não são psicopatas. Mas não é do senso comum que mulheres se sentem atraídas por parceiros com uma certa malícia? Isso poderia ser coberto pelo comportamento proteiforme?


Sobre isso já li em outros lugares por aí, artigos e notícias de sites de divulgação científica, acho que até e notícias na TV/discovery channel. Acho que se explicaria com que na verdade não é bem assim.

Primeiramente, teria que se levar em conta a questão de diferenças universais de investimento entre macho e fêmea, ganhoscom promiscuidade, que dá vazão a padrões de seleção diferentes, e níveis de beleza/atratividade comportamental, que também vão ocasionar comportamentos diferentes.

Para a mulher, essas gentilizas todas, segundo essa linha de argumentação, não teria tanto a ver com prova de saúde mental, mas como demonstração de subordinação, e disposição de alto nível de investimentos, como que para "comprar" o nível de status/atratividade mais elevado dela. Na verdade, nem seria algo verdadeiramente sexualmente atraente, mas um sinal de que seria um provedor dedicado. Seria uma forma de compensação por falta de outros atributos que também seriam selecionados. Atingindo um certo equilíbrio, pode valer a pena para a mulher, deve despertar algum nível de atração o suficiente para ser selecionado.

Já um comportamento pouco menos gentil, menos puxa-saco, não necessariamente ao nível de psicopatia, mas de quase indiferença, por outro lado, seria típico de um "status" mais elevado, o que seria sim, realmente desejável, no sentido de atração sexual mesmo. Algo meio parecido com aquelas coisas de desengatar instintos pelo comportamento esperado proveniente de X; como ficar com medo sem saber por que, se todos a volta estão com medo. Dizem ser algo irracional, independente de eventualmente se pensar que se tem alguém com medo é porque há motivo pra isso; mais ou menos como estouros de manada.

Isso acabaria funcionando como um "atalho" para homem, que faz com que não precise de todo o investimento de cortejo da outra situação. Se a mulher já o aprovou, e ela não for extremamente indesejável, ela deve conseguir o que quer, porque não está exigindo quase qualquer investimento "extra" além da cópula em si, que para os machos não custa quase nada.

Assim a estratégia garante investimento parental de uns, selecionados para tal, e variabilidade genética de outros, selecionados principalmente pela atratividade, e que também possivelmente a selecionaram principalmente com base nisso (possivelmente conseguindo filhos também atraentes, que parece que até tem uma outra teoria mais ou menos nesse sentido também).

No livro do Miller, ainda fala que possivelmente os homens fossem atrás de mulheres que já tivessem filhos de outros, ou seja, infidelidade talvez não fosse tão problemática, ainda mais em longo prazo, e ainda mais se for suficientemente ocultada, e os pais não poderiam reconhecer que um ou uns dos filhos nos quais investem não é deles.

Concordando um pouco com essa coisa toda de uma estratégia de promiscuidade, de filhos de uns para outro(s) criar, tem uma experiência que foi feita, onde um monte de voluntárias iam escolher que homens achavam mais atraentes. Eram rostos 3D, que elas editavam para um padrão sutilmente mais "másculo" e outro um pouco menos. Mas era algo bem sutil. Ainda assim, segundo a pesquisa, as mulheres escolhiam os rostos mais másculos como mais atraentes quando faziam o teste nos seus dias férteis, e o outro padrão no resto do dia.

O resto da matéria dizia algo sobre as supostas (suponho que sejam supostas) personalidades gerais que estariam correlacionadascom esses dois tipos de rostos, mais ou menos másculos, como influência de maiores ou menores níveis de testosterona mesmo. Os menos másculos seriam geralmente pais de família, provedores, e os mais másculos mais "aventureiros" e outras coisas que em portuguÊs claro seria "garanhões| , pra resmir isso que já está ficando meio longo demais.

São várias coisas separadas, que misturei, mas praticamente só duas. Ou seja, isso que falei por último sobre os padrões faciais não deve ser o único, embora era o que fosse mais enfaticamente mencionado na matéria, não seria necessariamente o principal. Acho que deve ter muita importância o display comportamental, e foi daí que comecei.


Uns poderiam dizer, objetar que as mulheres gostam de flores e paparicação; mas acho que esse cenário todo não nega isso, só mostra os possíveis porques disso, e o que poderia significar. Não é que o comportamento gentil/provedor é exatamente atraente, mas é como se a realidade dissesse para ela que é digna desse investimento, que é desejada. Ou como dizem, ela fica "se achando"; mas não significará necessariamente sucesso reprodutivo para o homem.

Isso é, de qualquer forma, quase que uma caricaturização dos extremos, não uma tentativa de dizer que é um comportamento perfeitamente padronizado dessa forma. Encontro de pessoas mais ou menos num nível aproximadamente equivalente de atratividade podem ter as coisas mais "verdadeiras", no sentido dos ideais românticos que as pessoas menos dadas a aceitar esse tipo de explicação meio alla "macaco nu". Além de "todas as outras variáveis não se mantendo iguais".



Já a coisa de moralidade em si parece que já está presente mesmo nos outros macacos. Mecanismos além de seleção sexual parece que cuidam disso, acho que é meio como seleção familiar. Um "policiamento" para o cumprimento de leis acaba tornando o grupo mais bem sucedido.
Sem tempo nem paciência para isso.

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RoaCh Of DisCord
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Mensagem por RoaCh Of DisCord »

ímpio escreveu:Mas serão eles mesmo "contra" egoísmo genético ou apenas vêem outras coisas complementares?


Lê o debate entre Steven Pinker e Steven Rose:
http://www.edge.org/3rd_culture/pinker_ ... se_p1.html (Parte 1)

http://www.edge.org/3rd_culture/pinker_ ... t2_p1.html (parte 2)

Lê este texto de Brian Goodwin: http://www.edge.org/documents/ThirdCulture/k-Ch.4.html
Lê também o comentário de Goodwin a este texto de Dawkins:
http://www.edge.org/documents/ThirdCulture/j-Ch.3.html

Infelizmente o site não tem on-line o capitulo de Lynn Margulis, mas podes ler o comentário curioso de Margulis sobre Dawkins no texto de Dawkins.

Lê o texto de Stuart Kauffman, que se diz do lado oposto da perspectiva de Dawkins: http://www.edge.org/documents/ThirdCulture/j-Ch.3.html

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RoaCh Of DisCord
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Re.: Ser Sexy na Savana Pré-histórica

Mensagem por RoaCh Of DisCord »

Nenhum destes autores é antidarwinista, mas rejeitam a visão da evoluçao centrada no gene. Não é oposição á ideia da seleção natural. Kauffman é claro com a água quando diz que ele e Dawkins estão em lados opostos do espectro. Goodwin é ainda mais radical, quando diz que a visão centrada no gene fez a biologia perder o organismo. E Margulis diz que um dia acordou de manhâ e disse para ela mesmo que não era Neodarwinista.

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RoaCh Of DisCord
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Re.: Ser Sexy na Savana Pré-histórica

Mensagem por RoaCh Of DisCord »

Eu pessoalmente não tenho competência para dizer quem tem razão. Mas sei que há uma visão tipo Darwinismo Universal (a visão centrada no gene de Dawkins) que reduz a Biologia Evolucionária (o como das coisas serem o que são) ao estudo de genes (unidades abstratas de informação; nem a matéria ADN parece importante nesta visão) e veiculos (essas coisas desinteressantes que os genes fazem). Portanto, compreendo perfeitamente quando quando Brian Goodwin diz que a Biologia moderna está a perder o organismo.

Trancado