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spink
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http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/ ... 2u110.jhtm



Uma outra presidência Clinton?

Walter Shapiro
em Washington

O cargo e a história podem estar contra ela, mas os números (e os dólares) não mentem. Por que Hillary Clinton já pode ser uma força impossível de se conter.



No esforço bipartidário mais notável para relegar George W. Bush à irrelevância, a corrida presidencial de 2008 já começou - com seis meses de antecedência em relação a qualquer disputa comparável na história moderna.

Os republicanos, que era de se esperar que ainda estivessem usufruindo os benefícios da reeleição de Bush, fizeram um teste para a Casa Branca no início deste mês em Memphis, Tennessee, conjugado a uma eleição simulada do candidato preferido à presidência. Os democratas não contam com nada tão formal na agenda de curto prazo do partido, mas praticamente em todas as semanas um potencial candidato para 2008 encontra uma desculpa para visitar o primeiro Estado das primárias, incluindo o governador do Novo México, Bill Richardson, que deu uma passada por New Hampshire no último final de semana.

Hillary Clinton, que paira sobre o campo da disputa presidencial como a Estátua da Liberdade no Porto de Nova York, pode se dar ao luxo de argumentar, como faz em eventos privados para arrecadação de verbas, que esta obsessão acelerada com 2008 se constitui em uma distração desnecessária para o seu objetivo imediato de reconquistar uma vaga no Congresso. Outros aspirantes a candidatos democratas - incluindo o atual destaque do mês, o ex-governador de Virgínia, Mark Warner - não podem, como Hillary, se entregar à inação dinâmica. Para eles, decisões iniciais precisam ser tomadas sobre estratégia de campanha, arrecadação de verbas, montagem de equipe e outras questões fundamentais antes das eleições congressuais de novembro.

É por isso que uma das principais ocupações dos consultores democratas e das lideranças do partido nos últimos dias tem sido redigir memorandos sobre os prováveis obstáculos e potenciais recompensas da corrida de 2008. Após uma série de conversas privadas com membros proeminentes do grupo de democratas que redigem tais memorandos, tenho uma idéia do que aqueles que sonham com a Casa Branca têm ouvido, especialmente sobre uma disputa contra Hillary. Em uma tentativa de mostrar o que está acontecendo por trás do cenário, eu sintetizei tal idéia (convencional ou não) no seguinte memorando, dirigido a um candidato presidencial democrata imaginário, que tem o bom e velho nome político John P. Wintergreen:

Memorando

Para: JPW

De: Walter Shapiro

Assunto: Disputar para Vencer em 2008

Não nos entreguemos aqui a ilusões. Se você entrar na corrida presidencial (e você me disse repetidamente que está pronto a passar os próximos dois anos dormindo apenas quatro horas por noite em Holiday Inns), é necessário que assuma que vai concorrer com Hillary, já que acredito que as chances de que ela dispute sejam de 80%. Se ela de alguma forma desistir, como fez Mario Cuomo em 1991, você poderá se considerar o governador mais sortudo de um Estado de fronteira dos Estados Unidos.

Caso contrário você encontrará em Hillary a mais formidável favorita presidencial na história política moderna (e, sim, eu estou levando em conta George W. Bush em 2000). Eis aqui dez razões pelas quais a senadora de Nova York será uma candidata amedrontadora:

1)Reconhecimento universal do nome (contrastando com o nome dela, JPW,
somente 3% dos prováveis eleitores das primárias democráticas sabem que você foi originalmente presidente no clássico de Gershwin "Of Thee I Sing").

2)A capacidade dela de arrecadar US$ 100 milhões sem ter que trabalhar
uma só vez até tarde da noite suplicando e humilhando-se para conseguir dinheiro.

3)A capacidade de dominar a mídia livre. Hillary jamais fará uma aparição pública nesta campanha sem que seja acossada por cem jornalistas (já você, JPW, imagine só qual a cobertura jornalística que terá na sua primeira entrevista coletiva à imprensa, quando se gabar do seu bom trabalho como governador e do "Milagre Tennetucky").

4)O apoio emocional que ela receberá de uma percentagem significante de
eleitoras que desejam mudar a história.

5)Nostalgia pela paz e a prosperidade da era Clinton da década de 1990.

6)O contínuo ressentimento democrata devido ao impeachment.

7)O estilo político supercauteloso de Hillary, que a faz evitar riscos e, provavelmente, os erros deliberados.

8)A mais potente candidata substituta da história política, na forma de
Bill Clinton.

9)A capacidade do nome e do legado de Clinton de atrair 75% dos votos
afro-americanos e uma grande fatia dos votos hispânicos.

10)Pelo menos meia-dúzia de candidatos (incluindo JPW) que dividirão os democratas anti-Hillary, de forma que ela seja capaz de vencer as primárias com apenas a sua base fundamental de, digamos , 35% dos votos.

Esta, obviamente, não é uma disputa para os fracos de espírito. Mas há um raio de esperança - e, não, não estou falando do "Milagre Tennetucky".

Nenhum favorito presidencial na história das primárias disputadas jamais conseguiu uma indicação unânime. Para cada Bush de 2000, há sempre um John McCain para emergir do nada e acrescentar uma dose de drama e incerteza à disputa. A imprensa tem um interesse velado em uma batalha ferrenha - e os democratas, em particular, gostam de contar com mais de uma escolha. Assim, Hillary terá no mínimo um adversário e algumas semanas ansiosas de roedura de unhas até as convenções. É claro que o seu objetivo, JPW, é ser o matador de dragões que a neutralizará.

O Campo Não Hillary: Comece por Mark Warner, e o candidato a vice-presidente de 2004 John Edwards, que estão em plena campanha. O senador por Indiana, Evay Bayh disse reservadamente que as suas chances de concorrer são de 90%, e a última palavra vinda de Iowa dá conta de que o governador Tom Vilsack também está se preparando para disputar as primárias. O senador por Wisconsin, Russ Feingold - que é manchete de jornal toda semana com uma tática anti-Bush - deve ser levado em conta como um dos prováveis contendores. E, finalmente, o senador Joe Biden, o boquirroto de Delaware que teve um desempenho tão loquaz durante as audiências para a confirmação de Alito, continua insistindo em dizer que estará na disputa.

Dependendo de com quem você converse, John Kerry estará ou concorrendo ou simplesmente mantendo as suas opções em aberto para uma decisão em meados de 2007, mantendo a sua visibilidade e a sua lista de e-mail (um apelo de Kerry feito por e-mail resultou na arrecadação de US$ 100 mil para Tammy Duckworth, um veterano da guerra do Iraque que disputou o governo de Illinois). Al Gore representa um outro enigma. A sua mulher, Tipper, se oporia definitivamente à idéia de uma disputa, enquanto a sua filha politicamente ativa, Karenna, parece se sentir altamente tentada a ver o pai concorrendo à candidatura. Bill Richardson está prejudicando seriamente as suas chances, enquanto o ex-líder da maioria no Senado, Tom Daschle, também está jogando o jogo do talvez. E não se esqueçam do general Wesley Clark, que nunca deixou a desejar em termos de ambição e autoconfiança.

Como Pensar Sobre o Campo de Batalha: Assim como no caso de velhas máquinas caça-níqueis, a etapa final da maioria das corridas presidenciais se reduz a três possibilidades (é verdade que houve uma série de casos, nos últimos anos, em que ao se pressionar a alavanca da máquina apareceram três limões democratas). O método tradicional é agrupar os contendores em termos nitidamente diferentes. Haverá a opção política purista de esquerda, que neste momento significaria Feingold, embora Gore e Kerry pudessem se encaixar aí com base no fervor de suas retóricas antiguerra. Hillary, é claro, contaria com um nicho próprio de Herdeira Aparente. E a posição final pertenceria ao vencedor do segundo pelotão dos que têm alguma chance: Warner, Edwards e Bayh estão disputando esta honra. Sim, JPW, você está nesta mistura final devido à sua acachapante vitória pela reeleição no Estado de fronteira, e, sim, também por causa do "Milagre Tennetucky".

Mas existe uma outra forma de classificar os candidatos a candidato de 2008. Tal forma consiste em assumir que a disputa acabará se reduzindo a Hillary, uma intrigante cara nova (Warner, Bayh, Feingold, JPW, etc) e um candidato repetido, mais tristonho, porém mais competente (Gore, Kerry, Edwards, Clark ou mesmo Biden). A importância no caso dessas opções é determinar quem está disputando com quem por apoiadores. Feingold e Warner estão disputando para ser o candidato dos "netroots" baseados em blogs? Ou estaria Warner engajado em uma batalha de pragmáticos sulistas com Edwards?

Dinheiro: para competir em 2008, um democrata precisará arrecadar algo entre US$ 30 milhões e US$ 40 milhões até o final de 2007. Este é o preço da entrada, sem exceções. Quem pensar de outra forma cairá no bloco dos candidatos do protesto, como Dennis Kucinich em 2004. JPW, isso significa que você precisará de algo entre 500 e 700 arrecadadores de verbas que sejam capazes de coletar (e não apenas prometer), cada um deles, entre US$ 50 mil e US$ 70 mil. Com a contribuição legal máxima sendo de pouco mais de US$ 2.000 (o número exato depende de um ajuste para a inflação), este é um jogo pesado.

Nos velhos tempos, um candidato poderia apostar tudo em Iowa ou New Hampshire, sabendo que só seria capaz de arrecadar mais dinheiro se vencesse as prévias. Atualmente, apenas para se chegar àquele estágio inicial, você precisará daquela quantia entre US$ 30 milhões e US$ 40 milhões. E necessitará disso com uma antecedência impressionante. No terceiro trimestre de 2003 (o equivalente político do verão de 2007), a maioria dos contendores à candidatura democrata à presidência começou a gastar mais dinheiro do que arrecadou. Desta vez, com tudo mais acelerado, os candidatos podem ter que começar a gastar pesadamente por volta da primavera do ano que vem. Essas realidades financeiras são o motivo pelo qual os contendores precisam tomar as suas decisões definitivas nos próximos seis meses.

Sim, Howard Dean e, a seguir, John Kerry, violaram permanentemente as tradicionais regras relativas à arrecadação de verbas para campanha ao apelarem para a Internet em 2003 e 2004. Mas Dean era o candidato contrário à guerra do Iraque, e Kerry era o candidato de facto contra Bush. Não se consegue muito dinheiro na Internet ao se fazer meramente um website agregado a um blog. Pegando emprestado o título de uma música de "Gypsy" - aquele lendário musical da década de 1950 sobre a burlesca estrela Gypsy Rose Lee - "You Got to Have a Gimmick" ("Você Precisa de Uma Propaganda"). Neste momento, é fácil enxergar como um candidato orientado para uma causa, como Feingold, faria o seu apelo à comunidade online, embora eu detestasse ter que desenvolver uma estratégia na Internet para um candidato aparentemente insosso como Biden ou Vilsack.

O Calendário: Deixe por conta dos democratas a tarefa de adotar um calendário político irracional e, espertamente, arranje um jeito de torná-lo pior. O Comitê Nacional Democrata deverá aprovar um esquema para inserir duas convenções entre a primeira, em Iowa, e a primária de New Hampshire, que dá início à batalha eleitoral. A idéia subjacente é acrescentar diversidade a um processo dominado por Iowa e New Hampshire, dois Estados que não são conhecidos pelas suas vibrantes comunidades formadas por minorias.

Essas duas novas convenções aconteceriam em um Estado do sul (a Carolina do Sul, com o seu grande eleitorado afro-americano, é o atual favorito), e um Estado ocidental, com uma população hispânica significativa (Nevada e Colorado são os principais candidatos). Mas New Hampshire ameaça deslocar a sua primária para o final de 2007, se necessário, a fim de manter a sua tradicional supremacia - e talvez a única certeza com relação ao calendário seja uma profusão de disputas prematuras. Tudo isso, infelizmente, beneficia Hillary, já que New Hampshire é o único Estado com uma comprovada tradição antimonarquista na política presidencial (foi este o lugar onde McCain venceu Bush em 2000 por 20 pontos percentuais, em uma dramática manifestação desse sentimento contrário ao favorito).

Eis um cenário plausível segundo o qual o calendário funciona em favor de Hillary. Comece com uma segunda-feira em janeiro com a convenção de Iowa, que se presume que seja vencida por Vilsack, o herói estadual, ficando Hillary em segundo lugar. Assuma que no sábado seguinte haja uma convenção em Nevada, com os resultados divididos entre Richardson (o único hispânico na disputa) e Hillary. Enquanto isso, no mesmo dia a Carolina do Sul divide a sua convenção entre Hillary (de novo!) e Edwards, que venceu no Estado em 2004. Três dias depois, será a vez de New Hampshire, onde um outro candidato (digamos, Feingold), disputa palmo a palmo com Hillary. Em tal estágio do processo, praticamente todos os outros contendores democratas estarão quebrados, e Hillary, que jamais triunfou definitivamente em lugar algum, estará na posição de definir o jogo.

Uma Palavra Final: Eu nunca lhe prometi um jardim de rosas, especialmente aquele da Avenida Pensilvânia, 1600. Mas nada em política é pré-determinado - nem mesmo a indicação de Hillary. Muitas coisas poderão atrapalhá-la: as suas visões agressivas relativas à política externa; uma impressão de que ela é de longe a menos elegível entre os democratas; uma certa arrogância no palanque do tipo "nenhuma pergunta, por favor, eu sou a favorita"; ou até mesmo um tédio crescente com tudo que diga respeito aos Clinton. Mas embora eu adorasse ver Wintergreen na Casa Branca, não se iluda, JPW, conseguir a vaga democrata para a disputa presidencial exigirá que se sobreviva a uma as mais assustadoras corridas de obstáculos da história política moderna.
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

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spink
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Re.: Mais ao norte...

Mensagem por spink »

Estou torcendo por ela.
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

Trancado