Bem, começando a entrar mais no mingau...
Inicialmente devo dizer: acredito em Deus, sendo que atualmente sou fortemente inclinado a ver Deus como no Pampsiquismo Brahmânico (onde existe apenas uma única hiperconsciência no Universo, sendo todas as "demais" consciências meras emanações não rompidas do todo maior, emanações de Brahman, que são no Hinduísmo chamadas de Atman); acredito também na vida pós morte, na reencarnação, e no reencontro com os entes queridos já falecidos, e também na possibilidade de nos comunicarmos com os mortos através de médiuns. E acima de tudo defendo a cientificidade da hipótese da existência de espíritos e da hipótese de sobrevivência da consciência à morte (no momento, apenas esta minha última frase é uma afirmação da minha visão científica do tema em discussão; minhas frases anteriores são apenas dados a respeito de minha fé e de meus viéses).
Nessa mensagem, gostaria de comentar alguns trechos de uma troca de idéias entre Wellington e Benneton.
Benneton postou o texto abaixo (reuni em um parágrafo só pra não confundir com o meu comentário a seguir):
"Publiquei as experiências do Médico Britânico, o Dr. San Parnia, sobre as NDEs ( Near Death Experience ), no antigo Fórum R.V e as reproduzi diversas vezes, sem que houvesse contestação à altura das pesquisas. Inclusive deixei um link para o interessado ver a reportagem em Real Player. Não vi nenhum cientista sério contestar Parnia, só lamúrias de céticos inconformados. Às vezes, o ceticismo é mais dogmático dos que a mais despótica religião ...
Para aqueles que quiserem ver a matéria na íntegra, com as contundentes declarações e depoimentos de Parnia, é só acessar ( o link permanecerá enquanto o Velho Fórum RV ainda estiver ativo ) :
MÉDICOS INGLESES E A EXPERIÊNCIA PRÓXIMA DA MORTE :"
http://www.forumnow.com.br/vip/mensagen ... 78&nrpag=4
Nesse texto comentado por Benneton, há o seguinte trecho:
“Checamos a história na delegacia e o atropelamento aconteceu mesmo. Só podemos acreditar numa coisa: as almas, ou seja lá o que for, se encontraram e depois tomaram rumos diferentes. A do nosso paciente voltou para o corpo. A do homem atropelado se foi”, diz o médico. Foi para onde ? "Os pesquisadores ainda não têm resposta. Isso vai depender de mais estudos. Por enquanto eles apenas cogitam. Essa energia pode ficar vagando eternamente, pode reencarnar em outro corpo, pode durar somente algum tempo e depois acabar. Nem se sabe ainda se essa energia é alimentada pelo cérebro ou se é o cérebro que se alimenta dela. Talvez, admitem os cientistas, sejam mesmo almas criadas por Deus, e que voltam para junto dele quando o corpo já não funciona mais..."
Benneton, esse vídeo do Fantástico (de fins de 2001) é uma das coisas mais inacreditáveis que já vi em termos de jornalismo. Por mais incrível que possa parecer, ele está cheio de mentiras. Esse trecho acima aparentemente JAMAIS foi afirmado por Sam Parnia. Sim, ele aparece ao lado do Marcos Losekann (repórter da Globo) e enquanto Parnia vai narrando algo em inglês, a tradução reproduz exatamente esse trecho que é apresentado acima. Contudo, recentemente Sam Parnia afirmou para um brasileiro que enviou um email para ele sobre esse assunto (e que trocou informações comigo) que jamais fez tais afirmações. E pior, ele desconhece por completo tal caso. De fato, esse caso relatado acima seria muito mais forte até do que o caso Pam Reynods, que parece ser o mais forte que há. Tudo me leva a crer que esse caso foi fabricado pela própria Globo, através de caminhos simplesmente insondáveis...
Apesar disso, os trechos seus que vou comentar (seguidos dos trechos de Wellington) permanecem válidos. Comentando então:
Benneton disse: Conclusão : Parnia afirma que as NDEs surgem durante o período de inconsciência, ou seja, durante períodos durante os quais, pelo materialismo psi ou não psi, esperaríamos que o cérebro não estivesse produzindo nenhuma sensação de "experiência subjetiva".
Wellington rebateu: 1. Não sei o que é "materialismo psi ou não psi"! Parece uma espécie de tentatica de refutação apriorístico-reducionista da interpretação psi como se ela já fosse conhecida em sua completude! Se for isso, é puramente anti-científico descartá-la!
2. Não conheço neurocientistas que afirmem que o cérebro seja improdutivo enquanto haja inconsciência! Você conhece?
Comentário meu agora: o que me parece ser o mais aceito pela neurologia é que o cérebro "produz" a experiência subjetiva. E que essa produção não se dá (ou seja, não há experiência subjetiva) nos momentos em que o EEG está reto (ausência de atividade do córtex cerebral) e o tronco do cérebro inativo (completa inatividade cerebral). O que os estudos de van Lommel et al e de Sam Parnia et al e o caso Pam Reynods sugerem fortemente é que existe a ocorrência de experiência subjetiva mesmo nos momentos em que o córtex está inativo e mesmo nos momentos em que o tronco cerebral está igualmente inativo. Se isso de fato for verdade, detona por completo com a atual neurologia da cognição... (e estou sendo bem comedido e conservador em minha conclusão!)
Benneton disse: Ele afirma que durante paradas cardíacas a atividade da base cerebral ( Brain Stem ) é rapidamente perdida. Essa condição também leva a sensível diminuição da circulação sanguínea no cérebro, o que, aliás, é o motivo do Eletroencefalograma apresentar uma linha reta e da inatividade da base cerebral.
Wellington respondeu: Ora, e quem disse que isso é suficiente para se afirmar que o cérebro estaria completamente inativo. A base cerebral não é todo o cérebro! Ainda assim, essa "inatividade" é uma interpretação baseada nos instrumentos atuais de medida! Para determinar a morte de alguém antigamente usava-se apenas o EEG! Depois a angiografia! Considera-se que muita gente viva foi dada como morta ao se avaliar apenas o traçado do EEF!
Eu comento agora: ao que eu sei (vale a pena dar uma checada...), se a base do cérebro (tronco cerebral) está inativa, todo o resto também está (o tronco é a parte mais primitiva, controla as funções mais primitivas e automáticas, e vibiliza o funcionamento das partes superiores). A afirmação de Sam Parnia et al e de van Lommel et al a esse respeito parece-me estar baseada no conhecimento mais clássico e robusto da neurologia. Quando o coração pára, logo em seguida o cérebro pára também. A ausência de fluxo sanguíneo leva a isso, e em poucos segundos (menos de 10 segundos, ao que parece). Então pára toda a maquinária neurológica (comunicações célula-célula através das sinapses) na qual está baseada, segundo a visão atual do materialismo neurológico, a "produção da experiência subjetiva".
As premissas de Parnia e van Lommel são corretas. O único ponto talvez falho é se de fato tais experiências subjetivas estariam se dando no momento em que Parnia e Lommel (e Sabom) acreditam que estão. Os dados parecem indicar fortemente que sim. Mas ainda se está longe de uma evidência verdadeiramente robusta nesse sentido (entenda-se robusta por: que convença a comunidade científica e que leve a um prêmio Nobel).
Benneton disse: Parnia diz ainda que em paradas cardíacas, a perda da função cortical do cérebro, que é medida pelo Eletro, precede a rápida perda da atividade da base do cérebro. Somando isso com o caso Pam Reynolds ( transcrição colocada ao final do link acima. Original em :
http://www.near-death.com/experiences/evidence01.html ), parece haver base empírica suficiente para presumirmos que as NDEs ocorram durante momentos em que o cérebro está completamente inoperante,
Wellington respondeu: Epa! Um tanto precipitado! "Completamente" é algo que atualmente é impossível de se afirmar!
Eu comento agora: concordo com Benneton. Temos base empírica suficiente para presumirmos que algumas NDEs ocorrem nos momentos em que o cérebro está completamente inoperante em sua maquinaria neural tradicionalmente aceita como geradora da consciência e da experiência subjetiva (veja que não disse que o cérebro está completamente inoperante; mas qualquer que seja o resquício de funcionamento, seria digno de prêmio Nobel se alguém demonstrar que tal resquício gera consciência, já que ele não manteria a comunicação sináptica entre neurônios). Mas há base para PRESUMIRMOS (que tenho certeza foi justamente o que Benneton quis dizer e disse; ou seja, Benneton a meu ver fez sim uma afirmação comedida, científica, e compatível com os dados). E não para considerarmos como já claramente e inequivocamente demonstrado.
Benneton afirmou: ...o que é um verdadeiro balde de água fria no materialismo fundamentalista ( psi ou não psi ). Além disso, a convergência de fatores conforme discutida pelo grupo de Stevenson, coloca em xeque, a hipótese ESP, para esses casos de EQM ou NDE.
Wellington respondeu: Esses comentários são extremamente gerais e, portanto, não-pontuais. Nem Stevenson JAMAIS afirmou que demonstrara a reencarnação, menos ainda o "grupo dele" (que de fato não é "dele" já que "ele" está tão doente que não vai ao DOPS há mais de um ano!).
Eu comento agora: Stevenson chegou a dizer que alguns casos de lembrança de vida passada fornecem evidência considerável a favor da hipótese reencarnacionista. Além disso, na Discussão do livro "Twenty Cases Suggestive of Reincarnation", ele apresenta uma discussão muitíssimo bem embasada a favor da hipótese reencarnacionista em detrimento das demais hipóteses psi. Mas nisso entraremos aos poucos...
Abraços,
Julio
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