Crianças e Suas Vidas Passadas
- Vitor Moura
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Crianças e Suas Vidas Passadas
[center]Capítulo 6 do livro Crianças e Suas Vidas Passadas, de Carol Bowman[/center]
[center]Dr. Ian Stevenson[/center]
Enquanto procurava e lia todos os livros sobre vidas passadas e reencarnação, encontrei referências ao Dr. Ian Stevenson. Stevenson era chefe do Departamento de Psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade da Virgínia e havia documentado milhares de casos de crianças que relembraram espontaneamente suas vidas passadas.
Precisava conhece-lo melhor. Mandei buscar na Unversidade da Virgínia Twenty Cases Suggestive of Reincarnation e Children Who Remember Previous Live.
Quando os livros chegaram, rasguei a embalagem e me pus a folheá-los. Virando as páginas rapidamente, vi capítulos intitulados “Tipos de Evidência para Reencarnação”, “Variações de Casos em Culturas Diferentes” e “O Comportamento das Crianças Relacionado com Vidas Prévias”. Dei um grito de alegria quando vi as tabelas de Vinte Casos: enormes tabulações impressas lateralmente (tinha que virar o livro para poder ler), comparando dezenas de fatos que cada criança havia lembrado de uma vida passada com uma pessoa real que vivera anteriormente.
Por exemplo, o caso de Parmod, um menino indiano de dois anos e meio, que lembrava de ter possuído uma grande loja de guloseimas em outra cidade. Quando sua família o levou à tal cidade, ele foi diretamente para a loja, e mostrou como se montava uma complicada máquina de refrigerantes que havia sido propositalmente desmontada para testá-lo.
Michael Wright, de três anos, do Texas, surpreendeu a mãe com detalhes específicos sobre um acidente automobilístico que ele afirmava tê-lo matado. A vida de que se lembrava era a do namorado de sua mãe no ginásio, que ninguém nunca mencionara. O namorado morrera num acidente de automóvel, exatamente como Michael descrevera.
Quando a menina Sukla, da Índia, tinha um ano e meio, ninava um bloco de madeira e o chamava de Minu, sua filha. Nos anos seguintes, Sukla relembrou detalhes suficientes de sua vida passada, permitindo que a família a levasse para sua casa anterior e a reunisse a Minu, uma menina cuja mãe morrera quando ela era ainda um bebê.
Os livros estavam repletos de casos tão fascinantes quanto aqueles. A cada caso, uma criança muito pequena , geralmente com dois ou três anos, sem o auxílio de ninguém, relembrava detalhes específicos suficientes de uma vida passada, de modo que sua identidade anterior pudesse ser estabelecida. Então, o Dr. Stevenson investigava o caso e verificava que a criança não havia sabido nada sobre a pessoa relembrada pelos meios normais, ficando a lembrança de vidas passadas como única explicação.
Porém, quanto mais eu lia, mais desapontada e abalada ficava, descobrindo que o Dr. Stevenson não estava nem um pouco interessado no potencial curativo das lembranças. Eu havia suposto que, sendo psiquiatra, teria interesse na cura. Mas, aparentemente, não tinha. Fechei o livro frustrada e tirei um cochilo.
[center]A PROVA É A QUESTÃO[/center]
Nos dias seguintes, tentei entender a abordagem do Dr. Stevenson àquelas lembranças. Percebi que ele é, antes de mais nada, um empirista. Sua missão era reunir dados e publicá-los sem floreios para que os outros os examinassem; evitava tirar conclusões ou fazer assertativas.
O Dr. Stevenson deixou de lado a questão da cura, preferindo responder a uma questão maior que tem intrigado o homem desde o início dos tempos: o que sobrevive à morte física? Graças aos enormes esforços de toda a sua vida, pela primeira vez na história da ciência tínhamos evidência objetiva para provar a reencarnação – provas que sugeriam fortemente que algo da nossa individualidade sobrevive à morte física.
Quando entendi aquilo, minha frustração se desfez. Passei a sentir gratidão pelo que aquele homem havia feito, por tantos anos de esforços em busca de provas empíricas e pelo enorme legado que ele deixava com sua pesquisa. Senti respeito, admiração – até espanto – quando finalmente compreendi o significado e as implicações do trabalho dele. Com minha nova atitude, a história de como o Dr. Stevenson começou sua pesquisa e conseguiu construir um nicho tão sólido para a reencarnação tornou-se fascinante.
O Dr. Stevenson é médico e psiquiatra, mas no início de sua carreira desencantou-se tanto com a psicanálise freudiana quanto com a psicanálise behavorista. Começou a explorar outras teorias de desenvolvimento da personalidade e, através da pesquisa, chegou à parapsicologia. A parapsicologia é um ramo da ciência que procura provas objetivas da existência de capacidades superiores da mente, tais como telepatia, e de provas de que algo sobrevive à morte física, como os Poltergheists, que o paradigma conservador da psicologia não admite existir.
Procurando na literatura sobre a parapsicologia, o Dr. Stevenson descobriu alguns relatórios isolados e esparsos de relatos de lembranças espontâneas de vidas passadas em crianças. Indo mais fundo, acumulou quarenta e quatro casos que haviam sido publicados em jornais, revistas e livros, nos últimos cem anos. Todos foram dados como anomalias – histórias fascinantes de ocorrências inusitadas que, quando examinadas isoladamente, eram facilmente descartadas como sendo insignificantes. Mas, quando ele começou a analisar e resumir aqueles casos, percebeu que tinha muitos pontos em comum. Os padrões o convenceram de que os casos provavelmente eram autênticos e justificavam investigações mais profundas. Ele viu uma oportunidade para consolidar aqueles casos e oferecer novas e fortes evidências para o debate sobre reencarnação. Um estudo sistemático sobre as lembranças de vidas passadas em crianças nunca fora tentado antes.
Em 1961, ele viajou para a Índia para investigar um único caso novo e confirmar alguns casos publicados antes. Pouco depois de chegar, teve uma surpresa. A notícia de que um professor americano estava interessado em lembranças de vidas passadas de crianças se espalhara, e as pessoas começaram a trazer casos novos à sua atenção. Nas cinco primeiras semanas de permanência na Índia, encontrou vinte e cinco novos casos para investigar; em três anos, já eram quatrocentos. Aquilo era o início de um projeto que o ocuparia pelo resto de sua carreira. Começou a procurar casos obstinadamente, onde quer que os encontrasse, inovando constantemente e melhorando seus métodos de pesquisa. Logo outros pesquisadores começaram a copiar seus métodos e a reproduzir seus resultados. O Dr. Stevenson, hoje na casa dos setenta anos, ainda é a referência neste campo de pesquisa em constante crescimento.
Sua mais brilhante inovação foi olhar para as crianças à procura de provas de reencarnação. Quando adultos têm lembranças de vidas passadas, é impossível provar, sem sombra de dúvida, que o paciente não tenha obtido as informações em livros, TV ou por ouvir falar. Mas as lembranças de crianças são relativamente puras, ainda não maculadas pela experiência terrena. Com crianças muito pequenas é possível identificar quase tudo a que já estiveram expostas, tornando mais fácil isolar as lembranças que podem ser explicadas apenas por uma vida passada.
O Dr. Stevenson limita seus estudos apenas a casos de lembranças espontâneas, em que a criança começa a falar de uma identidade da vida passada por vontade própria, sem indução de ninguém. O que elimina a hipnose ou qualquer outra técnica que fosse pescar lembranças, evitando as críticas de que os pesquisadores poderiam ter direcionado ou influenciado a criança.
O simples volume de casos investigados, catalogados e publicados pelo Dr. Stevenson adiciona um enorme valor e credibilidade ao seu testemunho. O peso do conjunto compensa qualquer falha em casos isolados. Um princípio científico bastante bem demonstrado é aquele que afirma que padrões genéricos obtidos de muitos experimentos são mais confiáveis do que um caso tomado isoladamente, não importa quão irrefutável este caso possa ser. Quando um crescente volume de casos de outros pesquisadores mostra os mesmos padrões, a prova é quase irrefutável.
Nos trinta e cinco anos desde sua primeira viagem à Índia, o Dr. Stevenson gerou uma impressionante massa de trabalho. Até hoje, ele e seus colegas coletaram mais de dois mil e seiscentos casos numa grande variedade de culturas e religiões em todo o planeta. A maioria dos casos provém da Ásia meridional, mas muitos são do Oriente Médio, África , Europa e Estados Unidos. Sessenta e cinco casos muito bem detalhados foram publicados em livros, como o conjunto de quatro volumes Cases of the Reincarnation Type, e mais de duzentos novos casos estão a caminho.
[center]DETETIVE DE VIDAS PASSADAS[/center]
Assim que aprendi a decifrar o estilo confuso da escrita do Dr. Stevenson, descobri o caráter aventureiro em seus livros.Os casos são histórias de detetive.Ele próprio, é claro, é o chefe dos investigadores, auxiliado por seus inseparáveis pesquisadores associados. Segue pistas que o levam muitas vezes por estradas enlameadas, até chegar a longínquas aldeias em países do Terceiro Mundo, sem saber jamais o que terá pela frente. Ele se defronta com todos os tipos de personagens pitorescos, impasses e certos perigos.Está apenas interessado nos fatos, mas desenvolveu um olhar arguto capaz de captar detalhes sutis, os indícios contextuais que fazem a diferença entre um simples investigador e o mestre dos detetives.
Como um detetive, sua meta imediata é resolver um caso, o que para o Dr. Stevenson é um objetivo bem definido. Um caso está “resolvido” quando ele encontra uma criança que tenha lembranças espontâneas e detalhadas de uma vida passada e é capaz de comparar as lembranças da criança com a vida de uma (e apenas uma) pessoa falecida (ele chama a pessoa falecida de personalidade prévia). Finalmente, para ser considerada “verificada”, ele tem que se dar por satisfeito, após rigorosa investigação, de que a criança não teve possibilidade, por meios normais – não importa quão improváveis ou absurdos – de saber detalhes sobre a personalidade anterior. (Normal é qualquer coisa diferente de uma ligação por vida passada; o Dr. Stevenson afasta até mesmos os casos que podem ser explicados por telepatia ou possessão espiritual.)
Em outras palavras, um caso verificado é aquele em que os dois lados da equação batem convincentemente, e em que a única explicação – fora qualquer dúvida irracional – é a lembrança de vidas passadas. O dr. Stevenson tem mais de oitocentos casos verificados em seus arquivos.
De onde vêm esses casos? Por estar estudando o fenômeno natural das lembranças espontâneas, não podem ser criados em clínicas ou laboratórios. O Dr. Stevenson tem que ficar esperando que os casos cheguem até ele. Tem que confiar numa rede internacional de batedores e colegas que coletam os relatórios e rumores da existência de crianças que afirmam lembrar de vidas passadas. Uma das razões pelas quais tem tantos casos na Índia é que sua rede de informações está mais desenvolvida naquele país do que em qualquer outro.
Cada um desses casos começa quando uma criança, geralmente entre dois e quatro anos, sem indução de ninguém, começa a falar sobre uma vida passada. A criança dirá o nome de pessoas e lugares que ninguém na família jamais ouviu falar ou terá um comportamento estranho. Na maioria dos casos, descreverá detalhes muito particulares da morte – geralmente violenta. Em certos casos extremos, a criança dirá aos seus surpresos pais que é na verdade outra pessoa e que tem pais diferentes ou até mesmo uma esposa e filhos que vivem numa outra cidade, e depôs insistirá para ser levada até ela.
A criança geralmente persiste em falar sobre suas lembranças durante meses ou anos, apesar das tentativas por vezes ríspidas da família para dar fim às lembranças. (O Dr. Stevenson relata que metade das famílias tenta acabar com as lembranças.) Fofocas sobre as lembranças de vidas passadas da criança vazam para a aldeia e se espalham pela região, atingindo finalmente os ouvidos de uma família que tem um parente falecido que corresponde à descrição dada pela criança. A família, ao saber da notícia, procura a criança, curiosa por saber se é realmente o parente falecido redivivo; ou a família da criança finalmente entrega os pontos e a leva em busca de sua antiga residência.
É comum que nestas primeiras visitas a criança lidere o grupo sem ajuda de ninguém, através das ruas da aldeia até a propriedade do falecido, reconhecendo espontaneamente a família e os amigos da personalidade prévia, chamando-os pelos nomes, fazendo comentários sobre mudanças na casa, perguntando por pessoas ou bens dos quais sente a falta e lembrando de fatos obscuros do passado – tudo isso do ponto de vista particular do falecido. Em alguns casos poderá revelar o conhecimento de esconderijos ou lugares para esconder as jóias da família, ou dívidas secretas, ou escândalos da família que ninguém conhecia. O mais impressionante é que a criança não saberá nada do que aconteceu após a morte da personalidade prévia. A lembrança está congelada no tempo. Mudanças no prédio, nos aposentos da casa ou na aparência da família e amigos desde a morte atingirão a criança como novidade, desorientando-a pelo desconhecimento.
Em algum momento, um dos batedores do Dr. Stevenson ouve falar do caso e os pesquisadores acorrem ao local, enquanto as lembranças da criança e das testemunhas ainda estão frescas. Quando o Dr. Stevenson chega, faz o possível para desmentir as lembranças da vida passada da criança. Usando técnicas de entrevista adotadas no ramo legal, entrevista a criança, a família, os parentes, os aldeões, testando a validade das afirmações, comparando uma com outra, procurando sinais de inconsistência. Recusa-se a aceitar relatos de segunda mão e insiste em entrevistar apenas pessoas que testemunharam o relato da criança. Sem o conhecimento da família, descobre e entrevista discretamente pessoas da aldeia que não estejam diretamente envolvidas no caso para obter referências imparciais sobre o caráter da família. Faz visitas de surpresa à família, meses e anos mais tarde, para refazer entrevistas.
O Dr. Stevenson toma todas as precauções para não cometer enganos. Se não fala a língua nativa (fala cinco idiomas), usará dois intérpretes, por vezes três, para fazer as entrevistas. Além das anotações registradas pelo grupo de entrevistadores, a sessão é gravada em fita. Ele coleta e fotografa evidências sólidas, como registros escritos e sinais de nascença. Transcreve e organiza suas notas logo após os encontros, e monta cuidadosa cronologia dos desdobramentos de lembranças à procura de falhas.
Com o mesmo meticuloso cuidado, reconstrói, a partir do depoimento de testemunhas, o que aconteceu exatamente quando a criança encontrou a família da personalidade prévia pela primeira vez e fez os primeiros reconhecimentos. Procura descobrir especialmente se alguns dos indícios não teriam sido fornecidos inadvertidamente à criança.Verifica cada fato sobre a personalidade prévia que a criança lembra. Em média, em todos os casos resolvidos, 90% dessas declarações foram confirmadas. Depois, investiga qualquer contato que possa ter havido entre as duas famílias, por mais indireto e remoto que tenha sido. Faz pressão para descobrir qualquer outra oportunidade que a criança tenha tido para aprender os fatos que alega lembrar.
Quando o Dr. Stevenson publica um caso, inclui todos os fragmentos de dados que possam ter algum significado sobre a sua validade. Através do texto, explora todos os prós e contras de todas as possíveis imperfeições ou falhas do caso, qualquer coisa que possa desacredita-lo. Estas questões são descritas e dissecadas em detalhe. Quer assegurar ao leitor que examinou todas as possibilidades de que a criança possa ter obtido informações, por mais improváveis que sejam. Algumas dessas discussões individuais consomem várias páginas, o que torna a leitura lenta.
O Dr. Stevenson vai até o fim seguindo seu método rigoroso e empírico. Fiquei espantada com a quantidade de tiros certeiros que as crianças dão com suas lembranças – estes casos estão repletos deles -, mas nos seus textos o cientista nunca fica ansioso, jamais chama atenção para as coisas extraordinárias que essas crianças são capazes de dizer e fazer. Estas pepitas cintilantes da evidência de vidas passadas, junto com algumas das mais insondáveis e bizarras histórias humanas que jamais li, estão enterradas entre resíduos de dados e comentários técnicos.
[center]DOCE SWARNLATA[/center]
A história de Swarnlata, em Twenty Cases, é característica dos casos do Dr. Stevenson. As lembranças de vidas passadas da menina começaram quando, aos três anos de idade, deu informações suficientes para localizar a família da pessoa falecida de que se lembrava (caso foi “resolvido”), e ela forneceu mais de cinqüenta fatos específicos que foram verificados. Mas o caso de Swarnlata é diferente da maioria porque as lembranças dela não desapareceram. E é um caso bonito, caracterizado por amor e lembranças felizes.
Swarnlata Mishra nasceu numa família de classe média em 1948, na cidade de Pradesh, Índia. Aos três anos de idade, viajava com seu pai, passando pela cidade de Katni, a mas de cinqüenta quilômetros de casa, quando subitamente apontou e pediu ao motorista para entrar numa rua e ir até “minha casa”. Disse que ali poderiam tomar uma xícara de chá melhor que em qualquer lugar da estrada.
Pouco depois, relatou mais detalhes de sua vida em Katni, e seu pai anotou tudo. Disse que seu nome era Biya Pathak, e que tinha dois filhos. Descreveu sua casa por dentro e por fora e disse ainda que havia uma escola feminina atrás da casa; da frente da casa podia-se ver a linha férrea e os fornos de cal. Swarnlata disse que Biya morrera de “uma dor na garganta” e que fora tratada pelo Dr. S. C. Bhabrat, de Jabalpur. Também lembrou de um incidente em um casamento em outra cidade, onde ela e uma amiga tiveram dificuldade de encontrar um banheiro.
Na primavera de 1959, quando Swarnlata tinha dez anos, a notícia daquele caso chegou ao conhecimento do professor Sri H. N. Banerjee, pesquisador indiano e colega do Dr. Stevenson. Banerjee viajou até Katni e, tendo apenas a descrição de Swarnlata, chegou à sua casa. Os fornos de cal estavam num terreno adjacente à propriedade; a escola feminina ficava cem metros atrás da propriedade dos Pathak, mas não era visível da frente.
A casa pertencia aos Pathak, uma família rica. Biya Pathak morrera em 1939, deixando marido, dois filhos pequenos e muitos irmãos jovens. O professor Banerjee entrevistou a família e verificou tudo o que Swarnlata dissera. Os Pathak nunca ouviram falar da família Mishra, que morava a mais de cinqüenta quilômetros dali; os Mishra também não conheciam os Pathak.
Meses depois, o viúvo de Biya, um dos filhos e deu irmão mais velho viajaram até a aldeia de Swarnlata para testar sua memória. Não revelaram suas identidades nem disseram o propósito de sua visita, e empregaram nove pessoas da cidade para acompanha-los à casa dos Mishra, onde chegaram sem terem avisado. A cena seguinte desta história parece sair de um romance de mistério, mas é a mais pura verdade, extraída das tabulações do caso publicado de Swarnlata.
Swarnlata reconheceu imediatamente o irmão e o chamou de Babu, apelido que Biya lhe dava. O Dr. Stevenson publicou apenas os fatos crus, mas a emoção deve ter sido forte naquele momento. Swarnlata, com dez anos então, deu a volta no aposento, olhando um homem a cada vez. Alguns ela identificou como conhecidos de outras cidades, outros eram estranhos para ela. Então, aproximou-se de Sri Chintamini Pandey, marido de Biya, Swarnlata abaixou os olhos e agiu timidamente, como fazem as mulheres hindus na presença de seus maridos, e disse o nome dele. O Dr. Stevenson não diz nada sobre a reação de Sri Pandey ao encontrar sua esposa viva novamente, vinte anos após sua morte.
Swarnlata também identificou corretamente o filho de Biya, Murli, que tinha treze anos quando Biya morreu. Mas Murli tentou engana-la e passou o dia inteiro insistindo que era outra pessoa e não Murli. Tentou convencê-la também de que um amigo que trouxera era Naresh, o outro filho de Biya. Swarnlata não foi enganada nenhuma vez. Insistiu que Murli era seu filho e que o outro homem era um estranho. Finalmente, Swarnlata lembrou a seu antigo marido que ele havia furtado mil e duzentas rúpias de Biya antes que ela morresse, e que o dinheiro havia sido guardado numa caixa. Surpreso pelo fato de Swarnlata lembrar daquele segredo que somente ele e Biya conheciam, Sri Pandey admitiu que ela dizia a verdade.
Algumas semanas depois, o pai de Swarnlata a levou a Katni para visitar a casa e a aldeia em que Biya vivera e morrera. Assim que chegou, percebeu imediatamente mudanças na casa. Perguntou por um parapeito, uma varanda e uma árvore plantada no terreno – tudo aquilo havia sido retirado após a morte de Biya. Identificou o seu quarto e aquele em que morrera. Depois, identificou corretamente mais de duas dúzias de pessoas que Biya havia conhecido, reagindo com emoções proporcionais ao relacionamento que Biya tinha com cada uma delas. Murli tentou montar armadilhas outra vez, mas Swarnlata não caiu em nenhuma delas.
Deve ter sido um espetáculo e tanto. Ali estava uma menina de dez anos, uma estranha vinda de longe – tão longe, segundo a cultura indiana, que seu dialeto era diferente daquele falado pelos Pathak - , que agia confiantemente como se fosse a dona daquela casa, conhecia os nomes, os apelidos e os segredos da família, e se lembrava até de parentes distantes, velhos empregados e amigos, brincando com todos de como haviam mudado em vinte anos. O mais interessante era que Swarnlata não sabia nada do que acontecera à família Pathak desde 1939. Suas lembranças paravam no ano da morte de Biya.
Nos anos seguintes, Swarnlata visitou a família Pathak a intervalos regulares. Desenvolveu uma relação de amor com muitas das pessoas da sua família da vida passada, que a aceitou como Biya renascida. O pai de Swarnlata também aceitou a identidade passada da filha. Anos depois, quando Swarnlata atingiu a idade de se casar, seu pai consultou os Pathak sobre a escolha de um marido para ela.
Como Swarnlata se sentiu sobre aquele assunto? Era confuso para ela lembrar-se tão profundamente da vida de uma mulher adulta? O Dr. Stevenson se correspondeu com ela e visitou-a por muitos anos, e disse que ela cresceu normalmente, tornou-se uma jovem muito bonita, casou-se e conseguiu se formar numa universidade. Disse-lhe que certas vezes, quando se lembrava de sua vida feliz em Katni, seus olhos brilhavam cheios de lágrimas, e que por um instante desejara poder voltar à riqueza e à vida de Biya. Mas permaneceu leal à família Mishra e aceitou plenamente sua posição nesta vida.
[center]COMPORTAMENTOS TRAZENDO DE VOLTA AO PASSADO[/center]
O Dr. Stevenson anotava mais detalhes que as simples declarações verbais das crianças que investigava. Dava atenção especial ao seu comportamento. Traços, habilidades, fobias e preferências que parecessem fora de propósito para a família natural de uma criança, mas que combinava com a vida de uma personalidade anterior, reforçavam as lembranças verbais e as evidências de reencarnação. Esta ênfase na observação de comportamento é outra inovação importante de Stevenson.
Por exemplo, as crianças que lembram de vidas passadas numa classe superior à sua, na Índia, podem censurar seus pais de classe inferior por terem por terem hábitos e estilo de vida incultos, e podem recusar comer os alimentos de gente inferior. Bishen Chand agia exatamente como o homem rico e mimado que se lembrava ter sido. Repreendia desdenhosamente seus pais por sua pobreza, exigia comida de melhor qualidade, rejeitava as roupas simplórias que recebia, dizendo que não serviam nem para seus empregados. Por outro lado, algumas crianças que lembram ter sido de casta inferior à de seus pais podem mostrar toda a grosseria e o instinto de sobrevivência dos desesperadamente pobres, além de hábitos ofensivos para a nova família. Alguns manifestam gratidão por terem ascendido e demonstram grande prazer em comer boa comida e vestirem roupas melhores. Uma menina que nascera brâmane – a casta mais alta das Índia – lembrava-se da sua vida como varredora de ruas da mais baixa casta, os “intocáveis”. Normalmente pacata, a menina aterrorizava a família com seus hábitos repulsivos e com sua insistência em querer comer porco (a família era vegetariana). E, ao contrário dos outros membros da família, limpava de bom grado – quase avidamente – os excrementos das crianças menores.
Quando uma criança que tem lembranças de vidas passadas visita a família ou os amigos da personalidade prévia, quase sempre distinguirá com o seu comportamento o indivíduo que reconhece. Stevenson cita o caso em que um menino do Sri Lanka lembrou-se de uma vida como uma menina e ficou feliz ao ver suas antigas irmãs, mas não se relacionava direito com seu irmão, que fora cruel com ela na vida passada. Em outro caso, descreve um jovem indiano que repreendeu uma mulher que reconhecera como sua antiga esposa, por estar usando o sari branco, usualmente vestido por viúvas, ao invés do sari colorido de sua esposa. Normalmente, seria uma ofensa social grave para um rapaz fazer tal repreensão a uma mulher mais velha.
O Dr. Stevenson admite que um exemplo isolado de comportamento fora do comum numa criança não significa nada; a peculiaridade poderia ser explicada de várias maneiras. Mas quando muitas características, todas fora do comum e aparentemente sem conexão, formam uma síndrome de comportamento que corresponda perfeitamente à vida de uma personalidade prévia, há evidências convincentes de reencarnação. O Dr. Stevenson documenta correspondências evidentes de comportamento em quase todos os casos resolvidos.
Fobias são um exemplo impressionante de lembrança behaviorista. São comuns naqueles casos que quase sempre correspondem a uma morte em vida passada. O caso de Shamlinie é um exemplo marcante, porque desde o seu nascimento ela teve duas fobias aparentemente isoladas que faziam sentido quando os detalhes da morte na vida passada eram conhecidos.
Ainda um bebezinho, Shamlinie tinha pavor de água e resistia, gritando e se debatendo, a qualquer tentativa de banha-la. Naquela época, também tinha pavor de ônibus. Chorava histericamente quando andava num, e até mesmo quando via um deles ao longe. Seus pais estavam intrigados porque não havia nenhum motivo, em sua breve vida, que pudesse ter causado ou justificasse nenhum dos pavores estranhos da menina.
Porém, assim que Shamlinie começou a falar, disse aos pais que já tinha tido uma existência anterior, e deu amplos detalhes de sua vida em uma aldeia não muito longe dali chamada Galtudawa. Descreveu também a sua morte. Certa manhã, saiu de casa para comprar pão. Como o acostamento da estrada estava cheio de água, por causa das fortes chuvas que caíram, ela andava pela faixa de rodagem. Um ônibus passou raspando, espirrando água sobre ela e jogando-a dentro de uma plantação de arroz inundada. Levantou os braços e chamou: “Mamãe”. Depois, disse ela, caiu num longo sono.
A família veio a saber depois que uma menina de onze anos chamada Hemaseelie, da aldeia de Galtudawa, morrera afogada ao dar um passo para atrás para evitar ser atropelada por um ônibus, e caíram num arrozal inundado. Quando Shamlinie fez quatro anos, foi levada até Galtudawa, reconheceu testemunhas de que era de fato Hemaseelie rediviva. Finalmente seus pais tiveram uma explicação para as duas fobias desconexas de Shamlinie, que desapareceram tão logo reassumiu sua vida anterior.
[center]RAVI SHANKAR ENFRENTA SEUS ASSASSINOS[/center]
O caso de Ravi Shankar (não se trata do músico) foi um dos casos de reencarnação mais famosos da Índia, antes mesmo que o Dr. Stevenson o investigasse. É um exemplo dramático de como os casos de fortes lembranças verbais às vezes são reforçados por marcas físicas no corpo.
Ravin Shankar nasceu em julho de 1951. Mal tinha dois anos quando disse aos pais que era realmente Munna, filho de Jageshwar, barbeiro do distrito Chhipatti de Kanauj. Contou-lhes detalhadamente como certo dia foi atraído para longe de seus brinquedos por dois homens, um barbeiro e um tintureiro, que o levaram para um pomar próximo do Templo Chintamini, cortaram sua garganta e o enterraram na areia.
Ravi repetiu aquela história para os parentes, amigos e para o seu professor durante os dois anos seguintes. Perguntou várias vezes aos pais pelos brinquedos que disse ter tido na vida anterior – um grande quadro-negro de madeira, uma pistola de brinquedo, um elefante de madeira, um relógio e uma pasta escolar. Eram brinquedos que sua família atual não era capaz de comprar; mesmo assim, o pequeno Ravi os censurou por não permitirem que ele os fosse buscar. Falava tanto de sua vida como Munna que se tornou um estorvo para a família e para os amigos, e ameaçou fugir para a sua “outra família”. Reconhecendo a importância das afirmativas de Ravi, seu professor as escreveu e enviou para o professor B. L. Atreya, que foi o primeiro a investigar o caso.
A insistência de Ravi de que era um menino assassinado se espalhou pela aldeia e pelos distritos vizinhos. Foi assim que Sri Jageshwar Prasad soube da história de Ravi. Em 19 de janeiro de 1951, seu filho único de seis anos, Munna, fora assassinado com uma navalha, após ter sido atraído ara longe de casa. Alguém tinha visto Munna se afastar com Jawahar, o barbeiro, e Chaturi, o tintureiro, o que permitiu sua prisão. Um dos supostos assassinos, parente do menino, tinha motivos para matá-lo : ficaria na posição de possível herdeiro dos bens de Sri Jageshwar Prasad. Quando o corpo mutilado de Munna e a cabeça decepada foram encontrados enterrados na areia, Chaturi, o tintureiro, confessou o crime, mas depois voltou atrás. Como não havia testemunhas, o caso foi encerrado, e o barbeiro e o tintureiro libertados.
Prasad estava profundamente abalado e enraivecido com a morte de seu filho. Quando ouviu dizer que Ravi Shankar afirmava ter tido a garganta cortada por um barbeiro e um tintureiro, foi visitar Ravi para ver se ele era, de fato, seu filho morto renascido. Mas o pai de Ravi temia que ele lhe fosse tirado por Prasad e recusou-se violentamente a permitir que ele encontrasse seu filho. Também temia que os assassinos, que ainda estavam soltos, pudessem querer evitar qualquer tentativa de reabertura do processo. Porém, alguns dias depois, a mãe de Ravi desobedeceu às ordens do marido e permitiu que Prasad falasse com seu filho de quatro anos.
Ravi reconheceu imediatamente seu antigo pai, identificou o relógio que usava como aquele que Prasad comprara para Munna em Bombaim. Contou detalhes sobre a morte de Munna, que batiam com a confissão dos assassinos presumidos e com as evidências materiais do crime. Prasad confirmou outros detalhes da vida de Munna que apenas a família sabia : Munna havia colhido algumas goiabas para comer antes de sair de casa e ser assassinado, e tivera todos os brinquedos que Ravi descrevia. O assassino de Munna fizera sua mãe enlouquecer, e ela guardou cuidadosamente todos os brinquedos do menino num armário, esperando que ele voltasse.
Ravi tremia de medo toda vez que via um barbeiro ou um tintureiro. Certo dia, assistindo a uma cerimônia religiosa, ficou aterrorizado de repente, ao ver um homem na multidão. Reconheceu o homem como Chaturi, o tintureiro um dos assassinos de Munna. O pequeno Ravi, cheio de ódio, jurou vingar sua morte. Quando a mãe percebeu sua reação àquele estranho, fez perguntas e confirmou que ele era de fato um dos suspeitos da morte de Munna.
Mas ainda tem mais. Ravi nasceu com uma marca de nascença semelhante a uma grande ferida a faca em volta do pescoço. Quando começou a contar a sua história, com dois anos, já dizia que a marca estava no lugar onde o tintureiro e o barbeiro haviam cortado sua garganta numa vida passada.
O Dr. Stevenson viu Ravi em 1964 e examinou a marca de nascença; Ravi estava com treze anos. Ele descreveu a marca, que cortava horizontalmente o pescoço do menino, tirou as medidas de três a seis milímetros de largura e “com pigmentação mais escura que o tecido adjacente e tinha a aparência de uma cicatriz. Parecia muito com a marca de uma ferida a faca e cicatrizada.” De acordo com testemunhas, a marca de nascença era maior quando Ravi era menor, mas foi desaparecendo gradualmente à medida que ele crescia.
O Dr. Stevenson encontrou Ravi Shankar para uma entrevista de acompanhamento em 1969. Estava com dezoito anos e ia para a faculdade. Ravi disse que suas lembranças da vida anterior como Munna haviam desaparecido; só sabia da história pelo que as outras pessoas lhe contavam. Todas as suas fobias – de barbeiros e navalhas – haviam desaparecido também, embora continuasse se sentido pouco à vontade sempre que passava pela área do Templo Chintamini, onde Munna fora morto. Sua marca de nascença continuava claramente visível no pescoço.
[center]MARCAS E DEFEITOS DE NASCENÇA[/center]
A marca de nascença de Ravi Shankar, que correspondia exatamente à ferida fatal no pescoço de Munna, não era um caso isolado. O Dr. Stevenson descobriu que em 35% dos seus casos verificados (309 em 895) a criança tinha marcas ou defeitos de nascimento que casavam com ferimentos em suas vidas anteriores. Está publicando um conjunto de três livros monumentais dedicados exclusivamente a este fenômeno, que incluirá duzentos e dez casos verificados. A escala desta obra – sua obra-prima – indica quanta importância ele dá a esses casos como evidências de reencarnação. São importantes porque apresentam provas físicas para a ligação entre passado e presente. Não importa quão fortes sejam as evidências verbais e comportamentais num caso, os críticos sempre encontrarão erros nos dados. Mas marcas e defeitos de nascença – especialmente quando podem ser comparados com dados médicos do falecido – são evidências tangíveis, incontestáveis, de uma correspondência direta entre uma vida passada e a presente.
Um dos casos do novo livro de Stevenson, apresentado em um artigo no Journal of Scientific Exploration, trata de um menino indiano que lembrava de ter sido morto com um tiro no peito. Havia no peito do menino uma sucessão de marcas de nascença que combinavam com o padrão e a disposição (verificados através do relatório da autópsia) da ferida mortal.
Outra vítima de um tiro de cartucho foi atingida à queima-roupa no lado direito da cabeça (confirmado pelo relatório do hospital). O menino turco que lembrava desta vida nasceu com “uma orelha menor e malformada e subdesenvolvimento do lado direito da face”.
Uma mulher tinha três marcas de nascença similares a cicatrizes lineares separadas nas costas. Quando criança, lembrou da vida de uma mulher que foi morta com três golpes de machado nas costas.
Outro menino na Índia nasceu com tocos de dedos apenas na mão direita – um caso extremamente raro. Lembrou da vida de um menino que teve os dedos cortados pelas lâminas de uma ceifadeira.
As marcas de nascimento da maioria dos casos de Stevenson não são as manchas congênitas comuns que vemos nos adultos. Elas têm a aparência de cicatrizes e feridas. São marcas inconfundíveis, grandes e notáveis, “costumam ser enrugadas e terem a forma de cicatrizes, algumas vezes ficando abaixo das áreas adjacentes, áreas sem pêlos, áreas em que a pigmentação está fortemente diminuída ou tendo marcas da cor de vinho do Porto”. Isto também vale para defeitos de nascença – membros deformados, por exemplo. Também são espécimens raros e incomuns, que não cabem na definição de “padrões reconhecíveis de malformação humana“ e parecem ser o resultado de ferimentos causados por instrumentos externos.
O Dr. Stevenson aplicou seus métodos usualmente rigorosos para examinar e registrar as marcas e defeitos de nascença. Exigiu que os relatórios das testemunhas oculares confirmassem que as marcas estavam presentes no nascimento. Mediu e fotografou meticulosamente as marcas. Separou os casos em que o defeito de nascença pudesse ser genético, causado por um relacionamento familiar entre o paciente e o morto, ou que pudesse ser explicado por eventos durante a gravidez. Depois, documentou os fatos da vida e da morte da personalidade prévia a partir de relatos de testemunhas oculares, relatórios médicos e relatórios de autópsia. (Lembrem-se que o Dr. Stevenson se formou em medicina e portanto sabia o que estava vendo.) Finalmente, comparou as feridas mortais comprovadas da personalidade prévia com as marcas da criança em exame. Ele era muito cuidadoso e se prevenia contra casos em que as lembranças de vidas passadas eram fabricadas como um meio de explicar retroativamente as marcas de nascença. Só aceitava aqueles casos verificados em que a criança tinha lembranças verbais suficientes – os diversos fatos e pessoas de que Swarnlata se lembrara, por exemplo – para identificar e localizar as personalidades prévias. Em muitos casos, esta pessoa era completamente desconhecida da criança e da família. Em outras palavras, o caso tem que resistir pelos seus próprios méritos, antes que marcas e defeitos de nascença sejam admitidos como evidências adicionais.
Alguns críticos podem dizer que estas marcas de nascença são obras do acaso. Mas um número significativo de casos de marcas de nascença do Dr. Stevenson envolvem duas ou mais marcas que combinam – por exemplo, a mulher que tinha três marcas em forma de cicatriz nas costas . Entre os duzentos e dez casos do seu livro, dezoito são de marcas de nascença duplas. Nove desses casos envolvem feridas a bala em que não apenas as marcas combinam com o lugar exato de entrada e saída das balas, como o lugar de entrada é pequeno e redondo, e o correspondente à saída é largo e irregular. Isso se ajusta perfeitamente ao fato balístico de que a ferida de saída de uma bala é sempre maior que o furo por onde a bala entra no corpo.
Quais são as chances de que duas marcas de nascimento correspondam casualmente a duas feridas? Stevenson fez os cálculos e determinou que as chances são de uma para 25.600. As chances para que isso aconteça por dezoito vezes são astronômicas.[1]
[1] Nota: Há um erro aqui que vem se propagando nos livros de Ian Stevenson. A chance, na verdade, para uma marca coincidente é de 1 em 25. Para duas, 1 em 625 (1/25 x 1/25), e não 1 em 25600, como Carol Bowman afirma. Ainda assim, a chance é bem remota, vale dizer (apenas 0,16%).
[center]CRENÇA[/center]
O Dr. Stevenson prova que existe reencarnação? Ele jamais dirá que sim. Stevenson sustenta que está apresentando evidências de reencarnação, mas não afirma que a reencarnação está provada. Denominou intencionalmente seu primeiro livro de Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação. Como um empirista, acredita que seria fora de propósito fazer qualquer afirmação ou chegar a uma conclusão final. Sua atitude é: eis aqui a prova, decida por si mesmo.
Essa atitude é similar à do Dr. Woolger , que diz que não importa se você acredita ou não em reencarnação, contanto que os efeitos curem. Está interessado apenas na verdade psicológica das lembranças. Mas, como um profissional dedicado á cura, Woolger diz que é melhor tratar estas memórias como se elas se originassem no passado.
Tanto o Dr. Stevenson quanto o Dr. Woolger impedem que seja feita publicidade em que se diga que acreditam em reencarnação, apesar de serem levados à evidência disso todos os dias. Não serei tão cautelosa. Eu acredito, a partir das evidências do Dr. Woolger e por minha própria experiência, que estas lembranças derivam de vidas passadas. Lembranças de vidas passadas são realmente de vidas passadas.
A atitude dos dois doutores traz à minha mente um velho ditado: “Se anda como um pato, parece com um pato, grasna como um pato, então é um pato.” Bem, se o Dr. Stevenson quer afirmar apenas que “temos evidências de que seja um pato, mas não lhes direi o que é” e o Dr. Woolger sugere que “devemos tratá-lo como um pato”, para mim está bem.
Mas para mim é um pato.
Após ler os livros do Dr. Stevenson cuidadosamente, seguindo sua lógica e absorvendo os fatos daqueles casos, como pode alguém não estar convencido de que as lembranças são reais? Em suas próprias palavras: “Que evidência, se existisse, o convenceria de que existe reencarnação?”
[center]Dr. Ian Stevenson[/center]
Enquanto procurava e lia todos os livros sobre vidas passadas e reencarnação, encontrei referências ao Dr. Ian Stevenson. Stevenson era chefe do Departamento de Psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade da Virgínia e havia documentado milhares de casos de crianças que relembraram espontaneamente suas vidas passadas.
Precisava conhece-lo melhor. Mandei buscar na Unversidade da Virgínia Twenty Cases Suggestive of Reincarnation e Children Who Remember Previous Live.
Quando os livros chegaram, rasguei a embalagem e me pus a folheá-los. Virando as páginas rapidamente, vi capítulos intitulados “Tipos de Evidência para Reencarnação”, “Variações de Casos em Culturas Diferentes” e “O Comportamento das Crianças Relacionado com Vidas Prévias”. Dei um grito de alegria quando vi as tabelas de Vinte Casos: enormes tabulações impressas lateralmente (tinha que virar o livro para poder ler), comparando dezenas de fatos que cada criança havia lembrado de uma vida passada com uma pessoa real que vivera anteriormente.
Por exemplo, o caso de Parmod, um menino indiano de dois anos e meio, que lembrava de ter possuído uma grande loja de guloseimas em outra cidade. Quando sua família o levou à tal cidade, ele foi diretamente para a loja, e mostrou como se montava uma complicada máquina de refrigerantes que havia sido propositalmente desmontada para testá-lo.
Michael Wright, de três anos, do Texas, surpreendeu a mãe com detalhes específicos sobre um acidente automobilístico que ele afirmava tê-lo matado. A vida de que se lembrava era a do namorado de sua mãe no ginásio, que ninguém nunca mencionara. O namorado morrera num acidente de automóvel, exatamente como Michael descrevera.
Quando a menina Sukla, da Índia, tinha um ano e meio, ninava um bloco de madeira e o chamava de Minu, sua filha. Nos anos seguintes, Sukla relembrou detalhes suficientes de sua vida passada, permitindo que a família a levasse para sua casa anterior e a reunisse a Minu, uma menina cuja mãe morrera quando ela era ainda um bebê.
Os livros estavam repletos de casos tão fascinantes quanto aqueles. A cada caso, uma criança muito pequena , geralmente com dois ou três anos, sem o auxílio de ninguém, relembrava detalhes específicos suficientes de uma vida passada, de modo que sua identidade anterior pudesse ser estabelecida. Então, o Dr. Stevenson investigava o caso e verificava que a criança não havia sabido nada sobre a pessoa relembrada pelos meios normais, ficando a lembrança de vidas passadas como única explicação.
Porém, quanto mais eu lia, mais desapontada e abalada ficava, descobrindo que o Dr. Stevenson não estava nem um pouco interessado no potencial curativo das lembranças. Eu havia suposto que, sendo psiquiatra, teria interesse na cura. Mas, aparentemente, não tinha. Fechei o livro frustrada e tirei um cochilo.
[center]A PROVA É A QUESTÃO[/center]
Nos dias seguintes, tentei entender a abordagem do Dr. Stevenson àquelas lembranças. Percebi que ele é, antes de mais nada, um empirista. Sua missão era reunir dados e publicá-los sem floreios para que os outros os examinassem; evitava tirar conclusões ou fazer assertativas.
O Dr. Stevenson deixou de lado a questão da cura, preferindo responder a uma questão maior que tem intrigado o homem desde o início dos tempos: o que sobrevive à morte física? Graças aos enormes esforços de toda a sua vida, pela primeira vez na história da ciência tínhamos evidência objetiva para provar a reencarnação – provas que sugeriam fortemente que algo da nossa individualidade sobrevive à morte física.
Quando entendi aquilo, minha frustração se desfez. Passei a sentir gratidão pelo que aquele homem havia feito, por tantos anos de esforços em busca de provas empíricas e pelo enorme legado que ele deixava com sua pesquisa. Senti respeito, admiração – até espanto – quando finalmente compreendi o significado e as implicações do trabalho dele. Com minha nova atitude, a história de como o Dr. Stevenson começou sua pesquisa e conseguiu construir um nicho tão sólido para a reencarnação tornou-se fascinante.
O Dr. Stevenson é médico e psiquiatra, mas no início de sua carreira desencantou-se tanto com a psicanálise freudiana quanto com a psicanálise behavorista. Começou a explorar outras teorias de desenvolvimento da personalidade e, através da pesquisa, chegou à parapsicologia. A parapsicologia é um ramo da ciência que procura provas objetivas da existência de capacidades superiores da mente, tais como telepatia, e de provas de que algo sobrevive à morte física, como os Poltergheists, que o paradigma conservador da psicologia não admite existir.
Procurando na literatura sobre a parapsicologia, o Dr. Stevenson descobriu alguns relatórios isolados e esparsos de relatos de lembranças espontâneas de vidas passadas em crianças. Indo mais fundo, acumulou quarenta e quatro casos que haviam sido publicados em jornais, revistas e livros, nos últimos cem anos. Todos foram dados como anomalias – histórias fascinantes de ocorrências inusitadas que, quando examinadas isoladamente, eram facilmente descartadas como sendo insignificantes. Mas, quando ele começou a analisar e resumir aqueles casos, percebeu que tinha muitos pontos em comum. Os padrões o convenceram de que os casos provavelmente eram autênticos e justificavam investigações mais profundas. Ele viu uma oportunidade para consolidar aqueles casos e oferecer novas e fortes evidências para o debate sobre reencarnação. Um estudo sistemático sobre as lembranças de vidas passadas em crianças nunca fora tentado antes.
Em 1961, ele viajou para a Índia para investigar um único caso novo e confirmar alguns casos publicados antes. Pouco depois de chegar, teve uma surpresa. A notícia de que um professor americano estava interessado em lembranças de vidas passadas de crianças se espalhara, e as pessoas começaram a trazer casos novos à sua atenção. Nas cinco primeiras semanas de permanência na Índia, encontrou vinte e cinco novos casos para investigar; em três anos, já eram quatrocentos. Aquilo era o início de um projeto que o ocuparia pelo resto de sua carreira. Começou a procurar casos obstinadamente, onde quer que os encontrasse, inovando constantemente e melhorando seus métodos de pesquisa. Logo outros pesquisadores começaram a copiar seus métodos e a reproduzir seus resultados. O Dr. Stevenson, hoje na casa dos setenta anos, ainda é a referência neste campo de pesquisa em constante crescimento.
Sua mais brilhante inovação foi olhar para as crianças à procura de provas de reencarnação. Quando adultos têm lembranças de vidas passadas, é impossível provar, sem sombra de dúvida, que o paciente não tenha obtido as informações em livros, TV ou por ouvir falar. Mas as lembranças de crianças são relativamente puras, ainda não maculadas pela experiência terrena. Com crianças muito pequenas é possível identificar quase tudo a que já estiveram expostas, tornando mais fácil isolar as lembranças que podem ser explicadas apenas por uma vida passada.
O Dr. Stevenson limita seus estudos apenas a casos de lembranças espontâneas, em que a criança começa a falar de uma identidade da vida passada por vontade própria, sem indução de ninguém. O que elimina a hipnose ou qualquer outra técnica que fosse pescar lembranças, evitando as críticas de que os pesquisadores poderiam ter direcionado ou influenciado a criança.
O simples volume de casos investigados, catalogados e publicados pelo Dr. Stevenson adiciona um enorme valor e credibilidade ao seu testemunho. O peso do conjunto compensa qualquer falha em casos isolados. Um princípio científico bastante bem demonstrado é aquele que afirma que padrões genéricos obtidos de muitos experimentos são mais confiáveis do que um caso tomado isoladamente, não importa quão irrefutável este caso possa ser. Quando um crescente volume de casos de outros pesquisadores mostra os mesmos padrões, a prova é quase irrefutável.
Nos trinta e cinco anos desde sua primeira viagem à Índia, o Dr. Stevenson gerou uma impressionante massa de trabalho. Até hoje, ele e seus colegas coletaram mais de dois mil e seiscentos casos numa grande variedade de culturas e religiões em todo o planeta. A maioria dos casos provém da Ásia meridional, mas muitos são do Oriente Médio, África , Europa e Estados Unidos. Sessenta e cinco casos muito bem detalhados foram publicados em livros, como o conjunto de quatro volumes Cases of the Reincarnation Type, e mais de duzentos novos casos estão a caminho.
[center]DETETIVE DE VIDAS PASSADAS[/center]
Assim que aprendi a decifrar o estilo confuso da escrita do Dr. Stevenson, descobri o caráter aventureiro em seus livros.Os casos são histórias de detetive.Ele próprio, é claro, é o chefe dos investigadores, auxiliado por seus inseparáveis pesquisadores associados. Segue pistas que o levam muitas vezes por estradas enlameadas, até chegar a longínquas aldeias em países do Terceiro Mundo, sem saber jamais o que terá pela frente. Ele se defronta com todos os tipos de personagens pitorescos, impasses e certos perigos.Está apenas interessado nos fatos, mas desenvolveu um olhar arguto capaz de captar detalhes sutis, os indícios contextuais que fazem a diferença entre um simples investigador e o mestre dos detetives.
Como um detetive, sua meta imediata é resolver um caso, o que para o Dr. Stevenson é um objetivo bem definido. Um caso está “resolvido” quando ele encontra uma criança que tenha lembranças espontâneas e detalhadas de uma vida passada e é capaz de comparar as lembranças da criança com a vida de uma (e apenas uma) pessoa falecida (ele chama a pessoa falecida de personalidade prévia). Finalmente, para ser considerada “verificada”, ele tem que se dar por satisfeito, após rigorosa investigação, de que a criança não teve possibilidade, por meios normais – não importa quão improváveis ou absurdos – de saber detalhes sobre a personalidade anterior. (Normal é qualquer coisa diferente de uma ligação por vida passada; o Dr. Stevenson afasta até mesmos os casos que podem ser explicados por telepatia ou possessão espiritual.)
Em outras palavras, um caso verificado é aquele em que os dois lados da equação batem convincentemente, e em que a única explicação – fora qualquer dúvida irracional – é a lembrança de vidas passadas. O dr. Stevenson tem mais de oitocentos casos verificados em seus arquivos.
De onde vêm esses casos? Por estar estudando o fenômeno natural das lembranças espontâneas, não podem ser criados em clínicas ou laboratórios. O Dr. Stevenson tem que ficar esperando que os casos cheguem até ele. Tem que confiar numa rede internacional de batedores e colegas que coletam os relatórios e rumores da existência de crianças que afirmam lembrar de vidas passadas. Uma das razões pelas quais tem tantos casos na Índia é que sua rede de informações está mais desenvolvida naquele país do que em qualquer outro.
Cada um desses casos começa quando uma criança, geralmente entre dois e quatro anos, sem indução de ninguém, começa a falar sobre uma vida passada. A criança dirá o nome de pessoas e lugares que ninguém na família jamais ouviu falar ou terá um comportamento estranho. Na maioria dos casos, descreverá detalhes muito particulares da morte – geralmente violenta. Em certos casos extremos, a criança dirá aos seus surpresos pais que é na verdade outra pessoa e que tem pais diferentes ou até mesmo uma esposa e filhos que vivem numa outra cidade, e depôs insistirá para ser levada até ela.
A criança geralmente persiste em falar sobre suas lembranças durante meses ou anos, apesar das tentativas por vezes ríspidas da família para dar fim às lembranças. (O Dr. Stevenson relata que metade das famílias tenta acabar com as lembranças.) Fofocas sobre as lembranças de vidas passadas da criança vazam para a aldeia e se espalham pela região, atingindo finalmente os ouvidos de uma família que tem um parente falecido que corresponde à descrição dada pela criança. A família, ao saber da notícia, procura a criança, curiosa por saber se é realmente o parente falecido redivivo; ou a família da criança finalmente entrega os pontos e a leva em busca de sua antiga residência.
É comum que nestas primeiras visitas a criança lidere o grupo sem ajuda de ninguém, através das ruas da aldeia até a propriedade do falecido, reconhecendo espontaneamente a família e os amigos da personalidade prévia, chamando-os pelos nomes, fazendo comentários sobre mudanças na casa, perguntando por pessoas ou bens dos quais sente a falta e lembrando de fatos obscuros do passado – tudo isso do ponto de vista particular do falecido. Em alguns casos poderá revelar o conhecimento de esconderijos ou lugares para esconder as jóias da família, ou dívidas secretas, ou escândalos da família que ninguém conhecia. O mais impressionante é que a criança não saberá nada do que aconteceu após a morte da personalidade prévia. A lembrança está congelada no tempo. Mudanças no prédio, nos aposentos da casa ou na aparência da família e amigos desde a morte atingirão a criança como novidade, desorientando-a pelo desconhecimento.
Em algum momento, um dos batedores do Dr. Stevenson ouve falar do caso e os pesquisadores acorrem ao local, enquanto as lembranças da criança e das testemunhas ainda estão frescas. Quando o Dr. Stevenson chega, faz o possível para desmentir as lembranças da vida passada da criança. Usando técnicas de entrevista adotadas no ramo legal, entrevista a criança, a família, os parentes, os aldeões, testando a validade das afirmações, comparando uma com outra, procurando sinais de inconsistência. Recusa-se a aceitar relatos de segunda mão e insiste em entrevistar apenas pessoas que testemunharam o relato da criança. Sem o conhecimento da família, descobre e entrevista discretamente pessoas da aldeia que não estejam diretamente envolvidas no caso para obter referências imparciais sobre o caráter da família. Faz visitas de surpresa à família, meses e anos mais tarde, para refazer entrevistas.
O Dr. Stevenson toma todas as precauções para não cometer enganos. Se não fala a língua nativa (fala cinco idiomas), usará dois intérpretes, por vezes três, para fazer as entrevistas. Além das anotações registradas pelo grupo de entrevistadores, a sessão é gravada em fita. Ele coleta e fotografa evidências sólidas, como registros escritos e sinais de nascença. Transcreve e organiza suas notas logo após os encontros, e monta cuidadosa cronologia dos desdobramentos de lembranças à procura de falhas.
Com o mesmo meticuloso cuidado, reconstrói, a partir do depoimento de testemunhas, o que aconteceu exatamente quando a criança encontrou a família da personalidade prévia pela primeira vez e fez os primeiros reconhecimentos. Procura descobrir especialmente se alguns dos indícios não teriam sido fornecidos inadvertidamente à criança.Verifica cada fato sobre a personalidade prévia que a criança lembra. Em média, em todos os casos resolvidos, 90% dessas declarações foram confirmadas. Depois, investiga qualquer contato que possa ter havido entre as duas famílias, por mais indireto e remoto que tenha sido. Faz pressão para descobrir qualquer outra oportunidade que a criança tenha tido para aprender os fatos que alega lembrar.
Quando o Dr. Stevenson publica um caso, inclui todos os fragmentos de dados que possam ter algum significado sobre a sua validade. Através do texto, explora todos os prós e contras de todas as possíveis imperfeições ou falhas do caso, qualquer coisa que possa desacredita-lo. Estas questões são descritas e dissecadas em detalhe. Quer assegurar ao leitor que examinou todas as possibilidades de que a criança possa ter obtido informações, por mais improváveis que sejam. Algumas dessas discussões individuais consomem várias páginas, o que torna a leitura lenta.
O Dr. Stevenson vai até o fim seguindo seu método rigoroso e empírico. Fiquei espantada com a quantidade de tiros certeiros que as crianças dão com suas lembranças – estes casos estão repletos deles -, mas nos seus textos o cientista nunca fica ansioso, jamais chama atenção para as coisas extraordinárias que essas crianças são capazes de dizer e fazer. Estas pepitas cintilantes da evidência de vidas passadas, junto com algumas das mais insondáveis e bizarras histórias humanas que jamais li, estão enterradas entre resíduos de dados e comentários técnicos.
[center]DOCE SWARNLATA[/center]
A história de Swarnlata, em Twenty Cases, é característica dos casos do Dr. Stevenson. As lembranças de vidas passadas da menina começaram quando, aos três anos de idade, deu informações suficientes para localizar a família da pessoa falecida de que se lembrava (caso foi “resolvido”), e ela forneceu mais de cinqüenta fatos específicos que foram verificados. Mas o caso de Swarnlata é diferente da maioria porque as lembranças dela não desapareceram. E é um caso bonito, caracterizado por amor e lembranças felizes.
Swarnlata Mishra nasceu numa família de classe média em 1948, na cidade de Pradesh, Índia. Aos três anos de idade, viajava com seu pai, passando pela cidade de Katni, a mas de cinqüenta quilômetros de casa, quando subitamente apontou e pediu ao motorista para entrar numa rua e ir até “minha casa”. Disse que ali poderiam tomar uma xícara de chá melhor que em qualquer lugar da estrada.
Pouco depois, relatou mais detalhes de sua vida em Katni, e seu pai anotou tudo. Disse que seu nome era Biya Pathak, e que tinha dois filhos. Descreveu sua casa por dentro e por fora e disse ainda que havia uma escola feminina atrás da casa; da frente da casa podia-se ver a linha férrea e os fornos de cal. Swarnlata disse que Biya morrera de “uma dor na garganta” e que fora tratada pelo Dr. S. C. Bhabrat, de Jabalpur. Também lembrou de um incidente em um casamento em outra cidade, onde ela e uma amiga tiveram dificuldade de encontrar um banheiro.
Na primavera de 1959, quando Swarnlata tinha dez anos, a notícia daquele caso chegou ao conhecimento do professor Sri H. N. Banerjee, pesquisador indiano e colega do Dr. Stevenson. Banerjee viajou até Katni e, tendo apenas a descrição de Swarnlata, chegou à sua casa. Os fornos de cal estavam num terreno adjacente à propriedade; a escola feminina ficava cem metros atrás da propriedade dos Pathak, mas não era visível da frente.
A casa pertencia aos Pathak, uma família rica. Biya Pathak morrera em 1939, deixando marido, dois filhos pequenos e muitos irmãos jovens. O professor Banerjee entrevistou a família e verificou tudo o que Swarnlata dissera. Os Pathak nunca ouviram falar da família Mishra, que morava a mais de cinqüenta quilômetros dali; os Mishra também não conheciam os Pathak.
Meses depois, o viúvo de Biya, um dos filhos e deu irmão mais velho viajaram até a aldeia de Swarnlata para testar sua memória. Não revelaram suas identidades nem disseram o propósito de sua visita, e empregaram nove pessoas da cidade para acompanha-los à casa dos Mishra, onde chegaram sem terem avisado. A cena seguinte desta história parece sair de um romance de mistério, mas é a mais pura verdade, extraída das tabulações do caso publicado de Swarnlata.
Swarnlata reconheceu imediatamente o irmão e o chamou de Babu, apelido que Biya lhe dava. O Dr. Stevenson publicou apenas os fatos crus, mas a emoção deve ter sido forte naquele momento. Swarnlata, com dez anos então, deu a volta no aposento, olhando um homem a cada vez. Alguns ela identificou como conhecidos de outras cidades, outros eram estranhos para ela. Então, aproximou-se de Sri Chintamini Pandey, marido de Biya, Swarnlata abaixou os olhos e agiu timidamente, como fazem as mulheres hindus na presença de seus maridos, e disse o nome dele. O Dr. Stevenson não diz nada sobre a reação de Sri Pandey ao encontrar sua esposa viva novamente, vinte anos após sua morte.
Swarnlata também identificou corretamente o filho de Biya, Murli, que tinha treze anos quando Biya morreu. Mas Murli tentou engana-la e passou o dia inteiro insistindo que era outra pessoa e não Murli. Tentou convencê-la também de que um amigo que trouxera era Naresh, o outro filho de Biya. Swarnlata não foi enganada nenhuma vez. Insistiu que Murli era seu filho e que o outro homem era um estranho. Finalmente, Swarnlata lembrou a seu antigo marido que ele havia furtado mil e duzentas rúpias de Biya antes que ela morresse, e que o dinheiro havia sido guardado numa caixa. Surpreso pelo fato de Swarnlata lembrar daquele segredo que somente ele e Biya conheciam, Sri Pandey admitiu que ela dizia a verdade.
Algumas semanas depois, o pai de Swarnlata a levou a Katni para visitar a casa e a aldeia em que Biya vivera e morrera. Assim que chegou, percebeu imediatamente mudanças na casa. Perguntou por um parapeito, uma varanda e uma árvore plantada no terreno – tudo aquilo havia sido retirado após a morte de Biya. Identificou o seu quarto e aquele em que morrera. Depois, identificou corretamente mais de duas dúzias de pessoas que Biya havia conhecido, reagindo com emoções proporcionais ao relacionamento que Biya tinha com cada uma delas. Murli tentou montar armadilhas outra vez, mas Swarnlata não caiu em nenhuma delas.
Deve ter sido um espetáculo e tanto. Ali estava uma menina de dez anos, uma estranha vinda de longe – tão longe, segundo a cultura indiana, que seu dialeto era diferente daquele falado pelos Pathak - , que agia confiantemente como se fosse a dona daquela casa, conhecia os nomes, os apelidos e os segredos da família, e se lembrava até de parentes distantes, velhos empregados e amigos, brincando com todos de como haviam mudado em vinte anos. O mais interessante era que Swarnlata não sabia nada do que acontecera à família Pathak desde 1939. Suas lembranças paravam no ano da morte de Biya.
Nos anos seguintes, Swarnlata visitou a família Pathak a intervalos regulares. Desenvolveu uma relação de amor com muitas das pessoas da sua família da vida passada, que a aceitou como Biya renascida. O pai de Swarnlata também aceitou a identidade passada da filha. Anos depois, quando Swarnlata atingiu a idade de se casar, seu pai consultou os Pathak sobre a escolha de um marido para ela.
Como Swarnlata se sentiu sobre aquele assunto? Era confuso para ela lembrar-se tão profundamente da vida de uma mulher adulta? O Dr. Stevenson se correspondeu com ela e visitou-a por muitos anos, e disse que ela cresceu normalmente, tornou-se uma jovem muito bonita, casou-se e conseguiu se formar numa universidade. Disse-lhe que certas vezes, quando se lembrava de sua vida feliz em Katni, seus olhos brilhavam cheios de lágrimas, e que por um instante desejara poder voltar à riqueza e à vida de Biya. Mas permaneceu leal à família Mishra e aceitou plenamente sua posição nesta vida.
[center]COMPORTAMENTOS TRAZENDO DE VOLTA AO PASSADO[/center]
O Dr. Stevenson anotava mais detalhes que as simples declarações verbais das crianças que investigava. Dava atenção especial ao seu comportamento. Traços, habilidades, fobias e preferências que parecessem fora de propósito para a família natural de uma criança, mas que combinava com a vida de uma personalidade anterior, reforçavam as lembranças verbais e as evidências de reencarnação. Esta ênfase na observação de comportamento é outra inovação importante de Stevenson.
Por exemplo, as crianças que lembram de vidas passadas numa classe superior à sua, na Índia, podem censurar seus pais de classe inferior por terem por terem hábitos e estilo de vida incultos, e podem recusar comer os alimentos de gente inferior. Bishen Chand agia exatamente como o homem rico e mimado que se lembrava ter sido. Repreendia desdenhosamente seus pais por sua pobreza, exigia comida de melhor qualidade, rejeitava as roupas simplórias que recebia, dizendo que não serviam nem para seus empregados. Por outro lado, algumas crianças que lembram ter sido de casta inferior à de seus pais podem mostrar toda a grosseria e o instinto de sobrevivência dos desesperadamente pobres, além de hábitos ofensivos para a nova família. Alguns manifestam gratidão por terem ascendido e demonstram grande prazer em comer boa comida e vestirem roupas melhores. Uma menina que nascera brâmane – a casta mais alta das Índia – lembrava-se da sua vida como varredora de ruas da mais baixa casta, os “intocáveis”. Normalmente pacata, a menina aterrorizava a família com seus hábitos repulsivos e com sua insistência em querer comer porco (a família era vegetariana). E, ao contrário dos outros membros da família, limpava de bom grado – quase avidamente – os excrementos das crianças menores.
Quando uma criança que tem lembranças de vidas passadas visita a família ou os amigos da personalidade prévia, quase sempre distinguirá com o seu comportamento o indivíduo que reconhece. Stevenson cita o caso em que um menino do Sri Lanka lembrou-se de uma vida como uma menina e ficou feliz ao ver suas antigas irmãs, mas não se relacionava direito com seu irmão, que fora cruel com ela na vida passada. Em outro caso, descreve um jovem indiano que repreendeu uma mulher que reconhecera como sua antiga esposa, por estar usando o sari branco, usualmente vestido por viúvas, ao invés do sari colorido de sua esposa. Normalmente, seria uma ofensa social grave para um rapaz fazer tal repreensão a uma mulher mais velha.
O Dr. Stevenson admite que um exemplo isolado de comportamento fora do comum numa criança não significa nada; a peculiaridade poderia ser explicada de várias maneiras. Mas quando muitas características, todas fora do comum e aparentemente sem conexão, formam uma síndrome de comportamento que corresponda perfeitamente à vida de uma personalidade prévia, há evidências convincentes de reencarnação. O Dr. Stevenson documenta correspondências evidentes de comportamento em quase todos os casos resolvidos.
Fobias são um exemplo impressionante de lembrança behaviorista. São comuns naqueles casos que quase sempre correspondem a uma morte em vida passada. O caso de Shamlinie é um exemplo marcante, porque desde o seu nascimento ela teve duas fobias aparentemente isoladas que faziam sentido quando os detalhes da morte na vida passada eram conhecidos.
Ainda um bebezinho, Shamlinie tinha pavor de água e resistia, gritando e se debatendo, a qualquer tentativa de banha-la. Naquela época, também tinha pavor de ônibus. Chorava histericamente quando andava num, e até mesmo quando via um deles ao longe. Seus pais estavam intrigados porque não havia nenhum motivo, em sua breve vida, que pudesse ter causado ou justificasse nenhum dos pavores estranhos da menina.
Porém, assim que Shamlinie começou a falar, disse aos pais que já tinha tido uma existência anterior, e deu amplos detalhes de sua vida em uma aldeia não muito longe dali chamada Galtudawa. Descreveu também a sua morte. Certa manhã, saiu de casa para comprar pão. Como o acostamento da estrada estava cheio de água, por causa das fortes chuvas que caíram, ela andava pela faixa de rodagem. Um ônibus passou raspando, espirrando água sobre ela e jogando-a dentro de uma plantação de arroz inundada. Levantou os braços e chamou: “Mamãe”. Depois, disse ela, caiu num longo sono.
A família veio a saber depois que uma menina de onze anos chamada Hemaseelie, da aldeia de Galtudawa, morrera afogada ao dar um passo para atrás para evitar ser atropelada por um ônibus, e caíram num arrozal inundado. Quando Shamlinie fez quatro anos, foi levada até Galtudawa, reconheceu testemunhas de que era de fato Hemaseelie rediviva. Finalmente seus pais tiveram uma explicação para as duas fobias desconexas de Shamlinie, que desapareceram tão logo reassumiu sua vida anterior.
[center]RAVI SHANKAR ENFRENTA SEUS ASSASSINOS[/center]
O caso de Ravi Shankar (não se trata do músico) foi um dos casos de reencarnação mais famosos da Índia, antes mesmo que o Dr. Stevenson o investigasse. É um exemplo dramático de como os casos de fortes lembranças verbais às vezes são reforçados por marcas físicas no corpo.
Ravin Shankar nasceu em julho de 1951. Mal tinha dois anos quando disse aos pais que era realmente Munna, filho de Jageshwar, barbeiro do distrito Chhipatti de Kanauj. Contou-lhes detalhadamente como certo dia foi atraído para longe de seus brinquedos por dois homens, um barbeiro e um tintureiro, que o levaram para um pomar próximo do Templo Chintamini, cortaram sua garganta e o enterraram na areia.
Ravi repetiu aquela história para os parentes, amigos e para o seu professor durante os dois anos seguintes. Perguntou várias vezes aos pais pelos brinquedos que disse ter tido na vida anterior – um grande quadro-negro de madeira, uma pistola de brinquedo, um elefante de madeira, um relógio e uma pasta escolar. Eram brinquedos que sua família atual não era capaz de comprar; mesmo assim, o pequeno Ravi os censurou por não permitirem que ele os fosse buscar. Falava tanto de sua vida como Munna que se tornou um estorvo para a família e para os amigos, e ameaçou fugir para a sua “outra família”. Reconhecendo a importância das afirmativas de Ravi, seu professor as escreveu e enviou para o professor B. L. Atreya, que foi o primeiro a investigar o caso.
A insistência de Ravi de que era um menino assassinado se espalhou pela aldeia e pelos distritos vizinhos. Foi assim que Sri Jageshwar Prasad soube da história de Ravi. Em 19 de janeiro de 1951, seu filho único de seis anos, Munna, fora assassinado com uma navalha, após ter sido atraído ara longe de casa. Alguém tinha visto Munna se afastar com Jawahar, o barbeiro, e Chaturi, o tintureiro, o que permitiu sua prisão. Um dos supostos assassinos, parente do menino, tinha motivos para matá-lo : ficaria na posição de possível herdeiro dos bens de Sri Jageshwar Prasad. Quando o corpo mutilado de Munna e a cabeça decepada foram encontrados enterrados na areia, Chaturi, o tintureiro, confessou o crime, mas depois voltou atrás. Como não havia testemunhas, o caso foi encerrado, e o barbeiro e o tintureiro libertados.
Prasad estava profundamente abalado e enraivecido com a morte de seu filho. Quando ouviu dizer que Ravi Shankar afirmava ter tido a garganta cortada por um barbeiro e um tintureiro, foi visitar Ravi para ver se ele era, de fato, seu filho morto renascido. Mas o pai de Ravi temia que ele lhe fosse tirado por Prasad e recusou-se violentamente a permitir que ele encontrasse seu filho. Também temia que os assassinos, que ainda estavam soltos, pudessem querer evitar qualquer tentativa de reabertura do processo. Porém, alguns dias depois, a mãe de Ravi desobedeceu às ordens do marido e permitiu que Prasad falasse com seu filho de quatro anos.
Ravi reconheceu imediatamente seu antigo pai, identificou o relógio que usava como aquele que Prasad comprara para Munna em Bombaim. Contou detalhes sobre a morte de Munna, que batiam com a confissão dos assassinos presumidos e com as evidências materiais do crime. Prasad confirmou outros detalhes da vida de Munna que apenas a família sabia : Munna havia colhido algumas goiabas para comer antes de sair de casa e ser assassinado, e tivera todos os brinquedos que Ravi descrevia. O assassino de Munna fizera sua mãe enlouquecer, e ela guardou cuidadosamente todos os brinquedos do menino num armário, esperando que ele voltasse.
Ravi tremia de medo toda vez que via um barbeiro ou um tintureiro. Certo dia, assistindo a uma cerimônia religiosa, ficou aterrorizado de repente, ao ver um homem na multidão. Reconheceu o homem como Chaturi, o tintureiro um dos assassinos de Munna. O pequeno Ravi, cheio de ódio, jurou vingar sua morte. Quando a mãe percebeu sua reação àquele estranho, fez perguntas e confirmou que ele era de fato um dos suspeitos da morte de Munna.
Mas ainda tem mais. Ravi nasceu com uma marca de nascença semelhante a uma grande ferida a faca em volta do pescoço. Quando começou a contar a sua história, com dois anos, já dizia que a marca estava no lugar onde o tintureiro e o barbeiro haviam cortado sua garganta numa vida passada.
O Dr. Stevenson viu Ravi em 1964 e examinou a marca de nascença; Ravi estava com treze anos. Ele descreveu a marca, que cortava horizontalmente o pescoço do menino, tirou as medidas de três a seis milímetros de largura e “com pigmentação mais escura que o tecido adjacente e tinha a aparência de uma cicatriz. Parecia muito com a marca de uma ferida a faca e cicatrizada.” De acordo com testemunhas, a marca de nascença era maior quando Ravi era menor, mas foi desaparecendo gradualmente à medida que ele crescia.
O Dr. Stevenson encontrou Ravi Shankar para uma entrevista de acompanhamento em 1969. Estava com dezoito anos e ia para a faculdade. Ravi disse que suas lembranças da vida anterior como Munna haviam desaparecido; só sabia da história pelo que as outras pessoas lhe contavam. Todas as suas fobias – de barbeiros e navalhas – haviam desaparecido também, embora continuasse se sentido pouco à vontade sempre que passava pela área do Templo Chintamini, onde Munna fora morto. Sua marca de nascença continuava claramente visível no pescoço.
[center]MARCAS E DEFEITOS DE NASCENÇA[/center]
A marca de nascença de Ravi Shankar, que correspondia exatamente à ferida fatal no pescoço de Munna, não era um caso isolado. O Dr. Stevenson descobriu que em 35% dos seus casos verificados (309 em 895) a criança tinha marcas ou defeitos de nascimento que casavam com ferimentos em suas vidas anteriores. Está publicando um conjunto de três livros monumentais dedicados exclusivamente a este fenômeno, que incluirá duzentos e dez casos verificados. A escala desta obra – sua obra-prima – indica quanta importância ele dá a esses casos como evidências de reencarnação. São importantes porque apresentam provas físicas para a ligação entre passado e presente. Não importa quão fortes sejam as evidências verbais e comportamentais num caso, os críticos sempre encontrarão erros nos dados. Mas marcas e defeitos de nascença – especialmente quando podem ser comparados com dados médicos do falecido – são evidências tangíveis, incontestáveis, de uma correspondência direta entre uma vida passada e a presente.
Um dos casos do novo livro de Stevenson, apresentado em um artigo no Journal of Scientific Exploration, trata de um menino indiano que lembrava de ter sido morto com um tiro no peito. Havia no peito do menino uma sucessão de marcas de nascença que combinavam com o padrão e a disposição (verificados através do relatório da autópsia) da ferida mortal.
Outra vítima de um tiro de cartucho foi atingida à queima-roupa no lado direito da cabeça (confirmado pelo relatório do hospital). O menino turco que lembrava desta vida nasceu com “uma orelha menor e malformada e subdesenvolvimento do lado direito da face”.
Uma mulher tinha três marcas de nascença similares a cicatrizes lineares separadas nas costas. Quando criança, lembrou da vida de uma mulher que foi morta com três golpes de machado nas costas.
Outro menino na Índia nasceu com tocos de dedos apenas na mão direita – um caso extremamente raro. Lembrou da vida de um menino que teve os dedos cortados pelas lâminas de uma ceifadeira.
As marcas de nascimento da maioria dos casos de Stevenson não são as manchas congênitas comuns que vemos nos adultos. Elas têm a aparência de cicatrizes e feridas. São marcas inconfundíveis, grandes e notáveis, “costumam ser enrugadas e terem a forma de cicatrizes, algumas vezes ficando abaixo das áreas adjacentes, áreas sem pêlos, áreas em que a pigmentação está fortemente diminuída ou tendo marcas da cor de vinho do Porto”. Isto também vale para defeitos de nascença – membros deformados, por exemplo. Também são espécimens raros e incomuns, que não cabem na definição de “padrões reconhecíveis de malformação humana“ e parecem ser o resultado de ferimentos causados por instrumentos externos.
O Dr. Stevenson aplicou seus métodos usualmente rigorosos para examinar e registrar as marcas e defeitos de nascença. Exigiu que os relatórios das testemunhas oculares confirmassem que as marcas estavam presentes no nascimento. Mediu e fotografou meticulosamente as marcas. Separou os casos em que o defeito de nascença pudesse ser genético, causado por um relacionamento familiar entre o paciente e o morto, ou que pudesse ser explicado por eventos durante a gravidez. Depois, documentou os fatos da vida e da morte da personalidade prévia a partir de relatos de testemunhas oculares, relatórios médicos e relatórios de autópsia. (Lembrem-se que o Dr. Stevenson se formou em medicina e portanto sabia o que estava vendo.) Finalmente, comparou as feridas mortais comprovadas da personalidade prévia com as marcas da criança em exame. Ele era muito cuidadoso e se prevenia contra casos em que as lembranças de vidas passadas eram fabricadas como um meio de explicar retroativamente as marcas de nascença. Só aceitava aqueles casos verificados em que a criança tinha lembranças verbais suficientes – os diversos fatos e pessoas de que Swarnlata se lembrara, por exemplo – para identificar e localizar as personalidades prévias. Em muitos casos, esta pessoa era completamente desconhecida da criança e da família. Em outras palavras, o caso tem que resistir pelos seus próprios méritos, antes que marcas e defeitos de nascença sejam admitidos como evidências adicionais.
Alguns críticos podem dizer que estas marcas de nascença são obras do acaso. Mas um número significativo de casos de marcas de nascença do Dr. Stevenson envolvem duas ou mais marcas que combinam – por exemplo, a mulher que tinha três marcas em forma de cicatriz nas costas . Entre os duzentos e dez casos do seu livro, dezoito são de marcas de nascença duplas. Nove desses casos envolvem feridas a bala em que não apenas as marcas combinam com o lugar exato de entrada e saída das balas, como o lugar de entrada é pequeno e redondo, e o correspondente à saída é largo e irregular. Isso se ajusta perfeitamente ao fato balístico de que a ferida de saída de uma bala é sempre maior que o furo por onde a bala entra no corpo.
Quais são as chances de que duas marcas de nascimento correspondam casualmente a duas feridas? Stevenson fez os cálculos e determinou que as chances são de uma para 25.600. As chances para que isso aconteça por dezoito vezes são astronômicas.[1]
[1] Nota: Há um erro aqui que vem se propagando nos livros de Ian Stevenson. A chance, na verdade, para uma marca coincidente é de 1 em 25. Para duas, 1 em 625 (1/25 x 1/25), e não 1 em 25600, como Carol Bowman afirma. Ainda assim, a chance é bem remota, vale dizer (apenas 0,16%).
[center]CRENÇA[/center]
O Dr. Stevenson prova que existe reencarnação? Ele jamais dirá que sim. Stevenson sustenta que está apresentando evidências de reencarnação, mas não afirma que a reencarnação está provada. Denominou intencionalmente seu primeiro livro de Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação. Como um empirista, acredita que seria fora de propósito fazer qualquer afirmação ou chegar a uma conclusão final. Sua atitude é: eis aqui a prova, decida por si mesmo.
Essa atitude é similar à do Dr. Woolger , que diz que não importa se você acredita ou não em reencarnação, contanto que os efeitos curem. Está interessado apenas na verdade psicológica das lembranças. Mas, como um profissional dedicado á cura, Woolger diz que é melhor tratar estas memórias como se elas se originassem no passado.
Tanto o Dr. Stevenson quanto o Dr. Woolger impedem que seja feita publicidade em que se diga que acreditam em reencarnação, apesar de serem levados à evidência disso todos os dias. Não serei tão cautelosa. Eu acredito, a partir das evidências do Dr. Woolger e por minha própria experiência, que estas lembranças derivam de vidas passadas. Lembranças de vidas passadas são realmente de vidas passadas.
A atitude dos dois doutores traz à minha mente um velho ditado: “Se anda como um pato, parece com um pato, grasna como um pato, então é um pato.” Bem, se o Dr. Stevenson quer afirmar apenas que “temos evidências de que seja um pato, mas não lhes direi o que é” e o Dr. Woolger sugere que “devemos tratá-lo como um pato”, para mim está bem.
Mas para mim é um pato.
Após ler os livros do Dr. Stevenson cuidadosamente, seguindo sua lógica e absorvendo os fatos daqueles casos, como pode alguém não estar convencido de que as lembranças são reais? Em suas próprias palavras: “Que evidência, se existisse, o convenceria de que existe reencarnação?”
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Re.: Crianças e Suas Vidas Passadas
[O ENCOSTO]
Evidência Anedótica.
[/O ENCOSTO]
Evidência Anedótica.
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Re.: Crianças e Suas Vidas Passadas
Por que eu não me lembro da minhas vidas passadas?
- Vitor Moura
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Re: Re.: Crianças e Suas Vidas Passadas
Karasu escreveu:[O ENCOSTO]
Evidência Anedótica.
[/O ENCOSTO]
Marcas e defeitos de nascimento não são evidência anedótica. São evidências físicas, várias com registro médico.
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Re: Re.: Crianças e Suas Vidas Passadas
Kramer escreveu:Por que eu não me lembro da minhas vidas passadas?
Há várias explicações, entre elas que o seu período de intermissão foi longo e que vc não teve uma morte violenta.
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Re: Re.: Crianças e Suas Vidas Passadas
Vitor Moura escreveu:Kramer escreveu:Por que eu não me lembro da minhas vidas passadas?
Há várias explicações, entre elas que o seu período de intermissão foi longo e que vc não teve uma morte violenta.
[Caçador de falácias]
Ad Hoc.
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Editado pela última vez por Jack Torrance em 28 Abr 2006, 21:52, em um total de 2 vezes.
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Re.: Crianças e Suas Vidas Passadas
Vidas passadas do Karasu Moisés:



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Re.: Crianças e Suas Vidas Passadas
Vida não tão passada do Niels:



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Re: Re.: Crianças e Suas Vidas Passadas
Kramer escreveu:Por que eu não me lembro da minhas vidas passadas?
Lamento, Kramer vs Kramer, as evidências indicam que vc não as teve, portanto não se lembrará de coisas que vc não teve e nunca viu ou sentiu.
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Re: Re.: Crianças e Suas Vidas Passadas
Karasu escreveu:Vitor Moura escreveu:Kramer escreveu:Por que eu não me lembro da minhas vidas passadas?
Há várias explicações, entre elas que o seu período de intermissão foi longo e que vc não teve uma morte violenta.
[Caçador de falácias]
Ad Hoc.
[/Caçador de falácias]
Não é ad hoc, pelo contrário, há dados estatísticos que mostram essa correlação.
Chadha e Stevenson (1988) compararam casos resolvidos de morte violenta com casos resolvidos de morte natural em relação à idade do indivíduo quando falou pela primeira vez da vida prévia e ao período de intermissão, achando diferenças significativas em ambas as variáveis. Os idivíduos de casos de morte natural começaram a falar da vida prévia numa idade média de 42,96 meses (3,58 anos), enquanto indivíduos de casos de morte violenta começaram numa idade média de 32,14 meses (2,68 anos) (p <. 01). O período de intermissão em casos de morte natural foi achado ser de 72,60 meses (6,05 anos) e em casos de morte violenta de 46,50 meses (3,88 anos) (p <. 01). Matlock (1989a), no entanto, foi incapaz de confirmar estes resultados com uma série de 56 casos resolvidos publicados.
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Re.: Crianças e Suas Vidas Passadas
- A linha da testa também avançou prá caralho....
- Voa Cabelo, voa....





Cara, eu fui até em uma dermatologista. Ela examinou bem o couro cabeludo e viu que agora não cai mais, e de fato parou.
É normal perder um pouco de cabelo com a cirurgia, por causa de uma diminuição das proteínas. Mas isso é só no início. Como estou com 6 meses de redução de estômago, agora já parou.
Tem gente que perde muito, literalmente tufos de cabelo.
Mas quer ver o que é realmente diferença?

Voa mudança gritante ao longo dos anos, voa...
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Re.: Crianças e Suas Vidas Passadas
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"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem
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Re: Re.: Crianças e Suas Vidas Passadas
Vitor Moura escreveu:Kramer escreveu:Por que eu não me lembro da minhas vidas passadas?
Há várias explicações, entre elas que o seu período de intermissão foi longo e que vc não teve uma morte violenta.
O engraçado é que partindo deste princípio 99,99999....% das pessoas devem ter demorado séculos para reencarnar e devem todos terem tido uma morte pacífica,de preferência dormindo ao som de música clásssica.
Re: Re.: Crianças e Suas Vidas Passadas
o pensador escreveu:Vitor Moura escreveu:Kramer escreveu:Por que eu não me lembro da minhas vidas passadas?
Há várias explicações, entre elas que o seu período de intermissão foi longo e que vc não teve uma morte violenta.
O engraçado é que partindo deste princípio 99,99999....% das pessoas devem ter demorado séculos para reencarnar e devem todos terem tido uma morte pacífica,de preferência dormindo ao som de música clásssica.

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Re: Re.: Crianças e Suas Vidas Passadas
Kramer escreveu:o pensador escreveu:Vitor Moura escreveu:Kramer escreveu:Por que eu não me lembro da minhas vidas passadas?
Há várias explicações, entre elas que o seu período de intermissão foi longo e que vc não teve uma morte violenta.
O engraçado é que partindo deste princípio 99,99999....% das pessoas devem ter demorado séculos para reencarnar e devem todos terem tido uma morte pacífica,de preferência dormindo ao som de música clásssica.
E É, E É, E É

Re.: Crianças e Suas Vidas Passadas
Realmente, o espiritismo não faz sentido algum.
Editado pela última vez por rapha... em 29 Abr 2006, 12:57, em um total de 1 vez.
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Re: Re.: Crianças e Suas Vidas Passadas
rapha... escreveu:Realmente, o espiritismo não faz sentido algum.
Realmente algumas crenças espíritas dâo vontade de chorar

- Res Cogitans
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Re: Re.: Crianças e Suas Vidas Passadas
o pensador escreveu:Vitor Moura escreveu:Kramer escreveu:Por que eu não me lembro da minhas vidas passadas?
Há várias explicações, entre elas que o seu período de intermissão foi longo e que vc não teve uma morte violenta.
O engraçado é que partindo deste princípio 99,99999....% das pessoas devem ter demorado séculos para reencarnar e devem todos terem tido uma morte pacífica,de preferência dormindo ao som de música clásssica.
Pra não dizer que só falo que vc diz merda. Agora vc foi sensato.
A sua relação melhorou, foi para 1 coisa sensata pra um mol de merdas.
Continue assim.
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.
*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.
*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.
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Re: Re.: Crianças e Suas Vidas Passadas
Res Cogitans escreveu:o pensador escreveu:Vitor Moura escreveu:Kramer escreveu:Por que eu não me lembro da minhas vidas passadas?
Há várias explicações, entre elas que o seu período de intermissão foi longo e que vc não teve uma morte violenta.
O engraçado é que partindo deste princípio 99,99999....% das pessoas devem ter demorado séculos para reencarnar e devem todos terem tido uma morte pacífica,de preferência dormindo ao som de música clásssica.
Pra não dizer que só falo que vc diz merda. Agora vc foi sensato.
A sua relação melhorou, foi para 1 coisa sensata pra um mol de merdas.
Continue assim.
ÊÊÊ..brigadu tio.