Sakké escreveu:A fé é a arte de nao pensar? Outro espantalho. A ciencia nasceu num clima de pensamento religioso em que que se acreditava num Deus que ditava Leis e permitia a ordem na natureza. Ordem essa que é acessível ao nosso intelecto. Porque nao nsceu a ciencia moderna na China... que era muito avançada???
Acredito que a origem da ciência moderna teve mais a ver com outros aspectos da sociedade do que a religiosidade. "Por que não na China", pode ter duas razões básicas, a primeira, seria mais ou menos a mesma resposta para por que uma dada adaptação supostamente benéfica não apareceu em algum organismo qualquer; porque depende em muito do acaso em sua origem, mesmo para as idéias, bem como vantagens adicionais para sua auto-perpetuação; as idéias ou invenções não surgem e se espalham nos povos tão logo sejam boas, e nem necessariamente algo que imaginemos amplamente útil de fato teria utilidade, ou talvez apelo. Vai ver para as preocupações sociais dos chineses e outros povos, as formas de conhecimento que tinham já eram o bastante, e uma ciência moderna incipiente não teria facilidade em prosperar, mesmo se surgisse independentemente.
Além disso, acredito que na China também houvesse religiosidade, e ainda assim, a ciência moderna não surgiu lá. Mesmo levando em conta a hipótese de que não houvesse esse ponto de se supor um deus que criou uma ordem estudável, isso não significa que seja necessária essa fé específica, ou fé alguma, para o nascimento da ciência moderna; a essência desse germe da ciência na fé é apenas a hipótese inicial dessa ordem que poderia ser estudada, não sendo necessário ter fé que ela foi estabelecida por um deus específico, um deus ou deuses quaisquer, ou por de qualquer outro jeito mais tradicionalmente caracterizável como fé do que uma mera hipótese.
A única grande vantagem que poderia se supor da fé religiosa nesse sentido seria o ímpeto causado pelo "fanatismo", por motivações como ânsia de conhecer a mente de deus, mas mesmo esse ímpeto não tem origem necessariamente apenas em alguma espécie de fé sobrenatural, o ser humano pode ter outras motivações além dessa, outras ambições. Esse interesse pela "mente de deus", por exemplo, poderia ser simplesmente o interesse pelo funcionamento da natureza, mas sem qualquer afirmação de fé quanto aos motivos desse funcionamento, simplesmente o encanto pelo mistério.
[qeuote]Além do mais, nao há ciencia sem paradigmas... que sao ideias aceite apriori e sem as quais nao se pode interrogar a natureza.[/quote]
Bem, aí já é igualar fé a hipótese; para se questinar a natureza tem que se hipotetizar algo, e para que desse questionamento saia algo mesmo esse questionamento tem que partir de alguma coisa assumida como verdadeira mesmo, a alternativa seria algo como niilismo ou solipsismo (sempre me confundo com esses, digo, supor que não se faz a menor idéia de nada, logo não adianta nem tentar investigar qualquer coisa, porque qualquer coisa que se imagine pode estar errada, mesmo que outras observações parecerem confirmar). Mas a diferença que há entre a fé e a hipótese é que a primeira não é testável. Se um paradigma, se uma suposição inicial acaba se mostrando errada, teoricamente o ideal seria eventualmente abandoná-la, sem o apego típico daquilo que se chama mais comumente de fé. Não que não possa eventualmente ocorrer esse apego, mas isso não faz dele algo bom só porque é sobre algo pretensamente científico.
Rasoura de Occan. Conhecem? É uma criaçao de um sacerdote chamado Occan. Mais um exemplo de que a fé é a arte de nao pensar, como diz o Dawkins.
Acho que Dawkins não fala algo como que quem tem fé é incapaz de pensar. Apenas que ao se ter fé, não está se pensando, talvez melhor dizendo, se questionando. E assim o conhecimento não avança. Usar a navalha de Occan não é um ato de fé, ato de fé seria não usar e continuar sem questionar, tendo fé, naquilo que ela "eliminaria".
(pode ser um ato de "fé" se feito sem qualquer análise melhor da coisa em questão, de qualquer modo)
Tal com é um espatalho o que o impio diz, sobre a temível marcha da religiao... e os seus terriveis memes (bota espantalho nisso). Claro que é temivel. Um Rolo da massa nas maos de uma mulher traida é um instrumento Temível. Saké a mais pode resultar em coma alcoólico... um aviao é um perigo enorme... como a Al-qaeda demonstrou. Os automóveis, onde morreram centenas de milhares de pessoas em acidentos sao máquinas genocidas... e sim... a Filosofia, A política e a ciencia também podem ser temíveis.
E tenho dito...
Mas por que espantalho?

Vamos ser sintéticos: o que é fé? Assumir algo inquestionadamente? Esse algo não pode incluir coisas nocivas? Pode. Daí não me parece um espantalho assumir que "a marcha da fé", é algo a ser temido.
Vou comparar a sua analogia, ao dizer que "Filosofia, A política e a ciencia também podem ser temíveis"... me utilizando de uma frase do Isaac Asimov:
"Se o conhecimento pode criar problemas, não é através da ignorância que podemos solucioná-los."
Agora, passando isso para a fé:
"Se a fé pode criar problemas, não é através de questionarmos nossas idéias pré-concebidas que podemos evitá-los."
Daí acho que podemos ver como a periculosidade potencial da fé é fundamentalmente diferente da periculosidade potencial da ciência, política, filosofia. Enquanto a antítese da ciência não resolve os problemas que dela podem decorrer, o mesmo não é verdade com a fé. Os problemas decorrentes da fé simplesmente se resolveriam não tendo fé, sem qualquer perda significativa.
O pior é que fé é algo tão ruim, que potencialmente ocasionaria problemas até por sua "eliminação", por criar algo como uma dependência psicológica. A "defesa" mais sensata da fé que vejo são os apelos à piedade, sobre o que seriam das pessoas se de repente tivessem como falsas as razões pelas quais sempre consideraram que suas vidas são especiais, ou que não irão se reencontrar com seus entes queridos quando entrarem num plano mágico ou em outras vidas... ou o que as igrejas fariam com tantos recursos se tivessem que se dedicar a algo real...

Não nego que haja esse problema, mas acho que não faz de maneira alguma a fé - no sentido de preconceito glamurizado - algo bom, a ser mantido, assim como a dependência de drogas não é algo bom apesar de em muitos casos seu uso não poder ser cortado subitamente.