A questão da ética com os animais

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Carmen
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Re: Re.: A questão da ética com os animais

Mensagem por Carmen »

clara campos escreveu:
O objectivo da minha pergunta é precisamente perceber se a motivação do vegetarianismo se prende com "matar animais" ou "fazer sofrer animais". O flávio corrigiu,e eu aceito a correcção, substituindo morte sem sofrimento por vida sem sofrimento.

Admiro a luta pela abolição do sofrimento, mas equipar a vida de um animal individual,à de um humano, para mim é absurdo.
Parece-me mais ajuizado defender uma alimentação equilibrada (diminuindo bastante o consumo de carne) e lutar por garantir condições dignas aos animais domésticos e cobais científicas, bem como lutar contra o uso de animais em indústrias fúteis ou não-vitais.


Clara, o Flavio já respondeu bem à sua pergunta, porém, só completando mais um pouco, vegetarianos têm motivações tão diversas que não dá para generalizar. Sei de muitos que passariam a comer carne se o sofrimento fosse abolido, até eu pensava assim, há tempos. Atualmente essa idéia me soa absurda, pois descobri que, além da carne ser um hábito desnecessário que pode ser eliminado e que até me causa repulsa hoje, essa era uma forma preconceituosa de ver os animais.
Claro que acho louvável fazer qualquer coisa que seja para reduzir o sofrimento, por exemplo, a princípio parece menos pior comer um bife bovino comum do que de vitela, ou patê de fígado de ganso. Levando em conta que esses sofrem tormentos ainda maiores na sua criação, para o mesmo resultado, talvez sim...ou não. O filósofo Peter Singer fala numa linha limítrofe que costuma ir descendo sempre mais, conforme a pessoa segue pelo vegetarianismo, do que "pode ou não pode". Hoje ele é vegano, mesmo tendo consumido frutos do mar por um tempo, até se dar conta de que assim colocando "panos quentes", vai se adiando o reconhecimento de que animais têm direitos, que vão além do não sofrimento.
Seu post veio bem a calhar com o que está começando a ser discutido aqui no Brasil, sobre a diferença entre lutar pelo bem-estar ou pelos direitos dos animais. Quem acredita que o primeiro é apenas um passo para o segundo, não aceita essa de apenas melhorar as condições de vida, embora reconheça que já é algo no caminho. Quem tem competência para julgar essa questão ? Como saber se é ético "anestesiar" o boi antes de matá-lo ? Ou se temos mais ou menos direito de usá-los em vivissecção se proporcionarmos algum grau de conforto ?
Seria correto construir senzalas luxuosas e continuar mantendo a escravidão ?
Há muito no que se pensar (e mais ainda a fazer), Clara.

PS: Sobre "equiparar a vida de um animal individual à de um ser humano", sugiro que leia "Libertação Animal" ou "Ética Prática", ambos de Peter Singer. Ele vai a fundo na questão.

Abraços !

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Ayyavazhi
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Mensagem por Ayyavazhi »

Dante, the Wicked escreveu:Acho que a diferença fundamental entre os supostos groges e os animais que comemos seria a capacidade de reconhecimento ético recíproco. Um leão não tem a capacidade de refletir moralmente se deve ou não me devorar se eu estiver dando sopa no meio da savana africana. O groge teria em relação a mim, assim como eu em relação a ele.


Corretíssimo. Exatamente por isso não podemos nos equiparar a um leão na hora de justificar a matança de animais. Esse argumento está entre os mais comuns e surrados que tenho ouvido ao longo de treze anos. Se temos a capacidade de compreender o valor da vida, por que apelamos para comparações com seres que não o podem fazer?

Se fomos brindados por Deus, pela natureza ou pelo acaso (tanto faz, no momento) com uma inteligência superior, temos a obrigação de fazer uso dela e não dar vazão a instintos primitivos.


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Ayyavazhi
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Mensagem por Ayyavazhi »


Carmen,

Não sei porque você insiste em dizer que tem dificuldade para se expressar. Sua resposta foi muitas vezes superior à minha.


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Flavio Costa
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Re: Re.: A questão da ética com os animais

Mensagem por Flavio Costa »

clara campos escreveu:
Outros também defendem o direito dos animais à liberdade.

hum... a caça seria aceite então? (caça controlada, naturalmente)

O Acauan defende a caça realizada pelas tribos indígenas, com uma função social, realizada pelo caçador, para subsistência. A Carmen considerou isso bem mais aceitável que a "indústria da carne".

A verdade é que as pessoas não comem carne simplesmente por não saberem que os animais sofrem. Como o O ENCOSTO falou, a maioria come porque não tem empatia com os animais (assim como os judeus não têm empatia com os palestinos, por exemplo).
The world's mine oyster, which I with sword will open.
- William Shakespeare
Grande parte das pessoas pensam que elas estão pensando quando estão meramente reorganizando seus preconceitos.
- William James
Agora já aprendemos, estamos mais calejados...
os companheiros petistas certamente não vão fazer as burrices que fizeram neste primeiro mandato.
- Luis Inácio, 20/10/2006

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Poindexter
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Mensagem por Poindexter »

Avatar escreveu:
Corretíssimo. Exatamente por isso não podemos nos equiparar a um leão na hora de justificar a matança de animais. Esse argumento está entre os mais comuns e surrados que tenho ouvido ao longo de treze anos. Se temos a capacidade de compreender o valor da vida, por que apelamos para comparações com seres que não o podem fazer?

Se fomos brindados por Deus, pela natureza ou pelo acaso (tanto faz, no momento) com uma inteligência superior, temos a obrigação de fazer uso dela e não dar vazão a instintos primitivos.



Se o leão não compreende o valor da vida, na visão dele não estaríamos dele tirando algo de precioso ao matá-lo, não?
Si Pelé es rey, Maradona es D10S.

Ciertas cosas no tienen precio.

¿Dónde está el Hexa?

Retrato não romantizado sobre o Comun*smo no século XX.

A child, not a choice.

Quem Henry por último Henry melhor.

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Lamentável...

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Poindexter
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Re.: A questão da ética com os animais

Mensagem por Poindexter »

Outra pergunta: por quê deveríamos tentar nos pôr no lugar DELES com os NOSSOS valores? Não seria mais correto escolher logo um agente para se pensar, ou seja, nos pôr no lugar DELES com os valores DELES ou nos pôr em NOSSO lugar com os NOSSOS valores?

Em suma: por quê a sensibilidade tem que ser deles e os valores morais os nossos?
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Re: Re.: A questão da ética com os animais

Mensagem por O ENCOSTO »

Flavio Costa escreveu:
clara campos escreveu:
Outros também defendem o direito dos animais à liberdade.

hum... a caça seria aceite então? (caça controlada, naturalmente)

O Acauan defende a caça realizada pelas tribos indígenas, com uma função social, realizada pelo caçador, para subsistência. A Carmen considerou isso bem mais aceitável que a "indústria da carne".

A verdade é que as pessoas não comem carne simplesmente por não saberem que os animais sofrem. Como o O ENCOSTO falou, a maioria come porque não tem empatia com os animais (assim como os judeus não têm empatia com os palestinos, por exemplo).



Por quê a tradição indigena de matar animais pode ser tolerada pelos vegetarianos?

O Churrasco é tão tradicional quanto qualquer cultura tribal.
O ENCOSTO


http://www.manualdochurrasco.com.br/
http://www.midiasemmascara.org/
Onde houver fé, levarei a dúvida.

"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas infundadas, e a certeza da existência das coisas que não existem.”

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Poindexter
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Re.: A questão da ética com os animais

Mensagem por Poindexter »

Não é tolerar, Encosto. "Mais aceitável" não significa "tolerável".
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Flavio Costa
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Re: Re.: A questão da ética com os animais

Mensagem por Flavio Costa »

clara campos escreveu:Admiro a luta pela abolição do sofrimento, mas equipar a vida de um animal individual,à de um humano, para mim é absurdo.
Parece-me mais ajuizado defender uma alimentação equilibrada (diminuindo bastante o consumo de carne) e lutar por garantir condições dignas aos animais domésticos e cobais científicas, bem como lutar contra o uso de animais em indústrias fúteis ou não-vitais.

Eu não sou muito chegado em comer carne, principalmente a vermelha e defendo que qualquer forma de redução de sofrimento vale a pena. Não dá mesmo para comparar pescar um peixe e comer ou matar 30 lêmures para fazer um casaco de pele.

Mas para muita gente não é absurdo comparar a vida de um animal e de um humano, pois os motivos pelos quais não queremos que os seres humanos se matem uns aos outros também estão presentes no reino animal. O único diferencial evidente é que eles não são da nossa espécie.

Poderíamos alegar que outro diferencial é o que o Dante colocou, da capacidade de valoração moral. Mas aí teremos que dizer porque isso nos daria o direito de matar quem não tem essa capacidade. E podemos até mesmo nos questionar se um leão realmente não tem essa capacidade. Ora, ele não me ataca na savana porque ele acha moralmente justificável, ele faz isso pelo mesmo motivo que nós abatemos frango: para comer. Porém, se não é desejável que o leão nos devore, porque seria desejável que nós devoremos as galinhas? Pelo que percebemos, judeus, palestinos, leões e galinhas, todos temem a morte e o sofrimento.

Infelizmente, a constatação que fazemos é que é impossível viver sem matar, mas podemos diminuir a morte e o sofrimento que causamos. Mas se a perfeição é impossível, até que ponto devemos insistir nisso? Aí vai da consciência e vontade de cada um. Alguns se contentam apenas em não atear fogo em cachorros vira-latas na rua. Alguns em usar animais apenas para comer e experiências científicas. Alguns só comem peixe. Outros se contentam com ovos e mel. Uns poucos não comem nada que envolva animais, mas matam as baratas em sua casa.

Poupar os animais é como trabalhar, como ser educado ou ajudar os colegas. Não há um ponto "certo" e um ponto "errado", mas os esforços empreendidos nesse sentido são uma forma de caridade. Assim como não queremos ser mal educados, não queremos abusar dos animais.
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Res Cogitans
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Re.: A questão da ética com os animais

Mensagem por Res Cogitans »

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Re.: A questão da ética com os animais

Mensagem por Res Cogitans »

Clara Campos escreveu:Admiro a luta pela abolição do sofrimento, mas equipar a vida de um animal individual,à de um humano, para mim é absurdo.


Não se está equiparando a vida de um animal a de um ser humano. E o Avatar trabalhou suficientemente bem esta parte.
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.

*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.

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Mensagem por Res Cogitans »

Dante, the Wicked escreveu:Acho que a diferença fundamental entre os supostos groges e os animais que comemos seria a capacidade de reconhecimento ético recíproco. Um leão não tem a capacidade de refletir moralmente se deve ou não me devorar se eu estiver dando sopa no meio da savana africana. O groge teria em relação a mim, assim como eu em relação a ele.


Essa é uma diferença fundamental somente na esperança que eles se comportem moralmente. Um groge poderia agir moralmente, um leão não. Mas isso impede o leão de ter status moral? Ou seja, que eu leve em consideração seu sofrimento quando infligir alguma ação sobre ele? Uma vez que sei que todo ser que sofre não gosta de sofrer...
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.

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Ayyavazhi
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Mensagem por Ayyavazhi »

Poindexter escreveu:Se o leão não compreende o valor da vida, na visão dele não estaríamos dele tirando algo de precioso ao matá-lo, não?


O brilhantismo e exatidão das exposições feitas pelo Flavio Costa, Res Cogitans e Carmen, dispensam meus acanhados comentários. Mesmo assim, ensaiarei uma resposta à sua pergunta.

Posso concluir, com base nos estudos e observações que o homem tem feito da natureza, que o leão não está apto a se enveredar por abstrações morais e filosóficas, compreendendo o valor da vida que fervilha ao seu redor. Isso não significa que ele seja desprovido de sentimentos e inteligência, mas, simplesmente, que esses atributos estão presentes nele de forma diferenciada dos humanos, deixando-o mais adaptado ao meio hostil onde vive. Não significa, muito menos, que ele não dê valor a sua própria existência. Todo animal tem apego à sua vida e isso é facilmente observável, prescindindo-se de qualquer pré-requisito acadêmico. Até uma formiga tem esse apego, muito embora eu admita que, no caso dos insetos, esse valor é mais instintivo do que consciente.

O horror que uma gazela experimenta ao ser atacada por um leão, é o mesmo que o leão sentiria ao encarar os rifles humanos. Nesse momento, nivelam-se homens e ratos, pois o medo da morte e vontade de viver estão presentes em todos. De mais a mais, entre os próprios seres humanos, os entes superiores, o supra-sumo da vida na Terra, quantos não existem que desprezam ou ignoram o valor da vida das demais espécies, enquanto supervalorizam a própria? O leão, parece-me, tem muito mais justificativas para agir assim do que nós, seres tão inteligentes.

Exatamente por termos toda essa capacidade de cognição e abstração, é que devemos procurar agir com responsabilidade, ética e, por que não?, compaixão, com nossos semelhantes, com os demais seres vivos e com o planeta como um todo.


Carmen
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Re: Re.: A questão da ética com os animais

Mensagem por Carmen »

Flavio Costa escreveu:O Acauan defende a caça realizada pelas tribos indígenas, com uma função social, realizada pelo caçador, para subsistência. A Carmen considerou isso bem mais aceitável que a "indústria da carne".


Não acredito...Flavio, citar o Acauan em assuntos indígenas é perfeitamente aceitável, ele deve dominar este como os muitos outros em que "é fera"...mas eu ?
Voce e o Poindexter estão a fim de me comprometer. :emoticon4:

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Flavio Costa
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Re: Re.: A questão da ética com os animais

Mensagem por Flavio Costa »

Carmen escreveu:Não acredito...Flavio, citar o Acauan em assuntos indígenas é perfeitamente aceitável, ele deve dominar este como os muitos outros em que "é fera"...mas eu ?
Voce e o Poindexter estão a fim de me comprometer. :emoticon4:

Estava apenas lembrando a opinião que você relatou na época em que o assunto foi discutido.
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- Luis Inácio, 20/10/2006

Carmen
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Re: Re.: A questão da ética com os animais

Mensagem por Carmen »

Flavio Costa escreveu:
Carmen escreveu:Não acredito...Flavio, citar o Acauan em assuntos indígenas é perfeitamente aceitável, ele deve dominar este como os muitos outros em que "é fera"...mas eu ?
Voce e o Poindexter estão a fim de me comprometer. :emoticon4:

Estava apenas lembrando a opinião que você relatou na época em que o assunto foi discutido.


Nunca pensei que uma opinião minha fosse lembrada um bom tempo depois. É agradável de ver.

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clara campos
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Re: Re.: A questão da ética com os animais

Mensagem por clara campos »

Res Cogitans escreveu:
Clara Campos escreveu:Admiro a luta pela abolição do sofrimento, mas equipar a vida de um animal individual,à de um humano, para mim é absurdo.


Não se está equiparando a vida de um animal a de um ser humano. E o Avatar trabalhou suficientemente bem esta parte.


Avatar escreveu:Por que o imenso valor que damos à vida humana não pode ser estendido aos animais? Por que eles merecem menos?
Só por existir, só por duvidar, tenho duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar... (J.P.)

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Mensagem por clara campos »

Carmen:
Obrigada pelas dicas. Lerei assim que a minha época de exames acabar.
Só por existir, só por duvidar, tenho duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar... (J.P.)

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Re: Re.: A questão da ética com os animais

Mensagem por Ayyavazhi »

clara campos escreveu:
Res Cogitans escreveu:
Clara Campos escreveu:Admiro a luta pela abolição do sofrimento, mas equipar a vida de um animal individual,à de um humano, para mim é absurdo.


Não se está equiparando a vida de um animal a de um ser humano. E o Avatar trabalhou suficientemente bem esta parte.


Avatar escreveu:Por que o imenso valor que damos à vida humana não pode ser estendido aos animais? Por que eles merecem menos?


Clara, eu nunca equiparei a vida de um humano a de um animal. Tantas vezes já disse, neste fórum, que em uma situação inevitável, daria preferência à vida humana. No famoso episódio do acidente nos andes (em 1972, se não me engano) os sobreviventes foram obrigados a comer a carne de seus próprios companheiros. Ou isso ou a morte. Alguém poderia culpa-los? Cessando a condição extrema, o canibalismo volta a ser o ato repugnante que sempre foi. Não estamos perdidos no meio do nada, lutando por nossa sobrevivência. Podemos escolher. Não precisamos da morte do animal para garantir nossa vida. Podemos ter uma vida boa e saudável sem ter que dispor da vida de outros seres. Não é necessário mensurar quem tem mais ou menos direito à vida; respeitar essa vida e deixá-la em paz é suficiente.

Editado pela última vez por Ayyavazhi em 11 Mai 2006, 19:01, em um total de 1 vez.

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Re: Re.: A questão da ética com os animais

Mensagem por clara campos »

Avatar escreveu:
Clara, eu nunca equiparei a vida de um humano a de um animal. Tantas vezes já disse, neste fórum, que em uma situação inevitável, daria preferência à vida humana. No famoso episódio do acidente nos andes (em 1972, se não me engano) os sobreviventes foram obrigados a comer a carne de seus próprios companheiros. Ou isso ou a morte. Alguém poderia culpa-los? Cessando a condição extrema, o canibalismo volta a ser o ato repugnante que sempre foi. Não estamos perdidos no meio do nada, lutando por nossa sobrevivência. Podemos escolher. Não precisamos da morte do animal para garantir nossa vida. Podemos ter uma vida boa e saudável sem ter que dispor da vida de outros seres. Não é necessário mensurar quem tem mais ou menos direito à vida; respeitar essa vida e deixá-la é em paz é suficiente.


Com aquela frase que citei fiquei mesmo com essa ideia.
Peço desculpa pela confusão.
Só por existir, só por duvidar, tenho duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar... (J.P.)

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Poindexter
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Re.: A questão da ética com os animais

Mensagem por Poindexter »

Si Pelé es rey, Maradona es D10S.

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O ENCOSTO
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Re: Re.: A questão da ética com os animais

Mensagem por O ENCOSTO »

Avatar escreveu:
clara campos escreveu:
Res Cogitans escreveu:
Clara Campos escreveu:Admiro a luta pela abolição do sofrimento, mas equipar a vida de um animal individual,à de um humano, para mim é absurdo.


Não se está equiparando a vida de um animal a de um ser humano. E o Avatar trabalhou suficientemente bem esta parte.


Avatar escreveu:Por que o imenso valor que damos à vida humana não pode ser estendido aos animais? Por que eles merecem menos?


Clara, eu nunca equiparei a vida de um humano a de um animal. Tantas vezes já disse, neste fórum, que em uma situação inevitável, daria preferência à vida humana. No famoso episódio do acidente nos andes (em 1972, se não me engano) os sobreviventes foram obrigados a comer a carne de seus próprios companheiros. Ou isso ou a morte. Alguém poderia culpa-los? Cessando a condição extrema, o canibalismo volta a ser o ato repugnante que sempre foi. Não estamos perdidos no meio do nada, lutando por nossa sobrevivência. Podemos escolher. Não precisamos da morte do animal para garantir nossa vida. Podemos ter uma vida boa e saudável sem ter que dispor da vida de outros seres. Não é necessário mensurar quem tem mais ou menos direito à vida; respeitar essa vida e deixá-la em paz é suficiente.





Pelo que percebo nesses debates, basta criar animais sem cerebros, tendo em vista que o "grande problema" parece ser o sofrimento.

Já que se pode comer plantas só porque elas não sentem dor, seria mais ético então criar bois e galinhas sem cerebros, sendo alimentados por meio de tubos, sondas, etc.
O ENCOSTO


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Dante, the Wicked
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Mensagem por Dante, the Wicked »

Res Cogitans escreveu:
Dante, the Wicked escreveu:Acho que a diferença fundamental entre os supostos groges e os animais que comemos seria a capacidade de reconhecimento ético recíproco. Um leão não tem a capacidade de refletir moralmente se deve ou não me devorar se eu estiver dando sopa no meio da savana africana. O groge teria em relação a mim, assim como eu em relação a ele.


Essa é uma diferença fundamental somente na esperança que eles se comportem moralmente. Um groge poderia agir moralmente, um leão não. Mas isso impede o leão de ter status moral? Ou seja, que eu leve em consideração seu sofrimento quando infligir alguma ação sobre ele? Uma vez que sei que todo ser que sofre não gosta de sofrer...


A questão é: qual outra opção temos?
Um sádico teria outras opções além de torturar um bichinho indefeso. Entre elas estão procurar tratamento psiquiátrico ou ser homem e subir num ring de luta onde podem revidar nele.
Agora, qual a opção que temos além de comer animais? Uma alimentação totalmente baseada em vegetais? Só que plantações precisam de agrotóxicos que matam animais.
Visite minha página http://filomatia.net. Tratando de lógica, filosofia, matemática etc.

Visite o Wikilivros. Aprenda mais sobre Lógica.
Assista meu canal do youtube. Veja meu currículo lattes.

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King In Crimson
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Re: Re.: A questão da ética com os animais

Mensagem por King In Crimson »

O ENCOSTO escreveu:
Avatar escreveu:
clara campos escreveu:
Res Cogitans escreveu:
Clara Campos escreveu:Admiro a luta pela abolição do sofrimento, mas equipar a vida de um animal individual,à de um humano, para mim é absurdo.


Não se está equiparando a vida de um animal a de um ser humano. E o Avatar trabalhou suficientemente bem esta parte.


Avatar escreveu:Por que o imenso valor que damos à vida humana não pode ser estendido aos animais? Por que eles merecem menos?


Clara, eu nunca equiparei a vida de um humano a de um animal. Tantas vezes já disse, neste fórum, que em uma situação inevitável, daria preferência à vida humana. No famoso episódio do acidente nos andes (em 1972, se não me engano) os sobreviventes foram obrigados a comer a carne de seus próprios companheiros. Ou isso ou a morte. Alguém poderia culpa-los? Cessando a condição extrema, o canibalismo volta a ser o ato repugnante que sempre foi. Não estamos perdidos no meio do nada, lutando por nossa sobrevivência. Podemos escolher. Não precisamos da morte do animal para garantir nossa vida. Podemos ter uma vida boa e saudável sem ter que dispor da vida de outros seres. Não é necessário mensurar quem tem mais ou menos direito à vida; respeitar essa vida e deixá-la em paz é suficiente.





Pelo que percebo nesses debates, basta criar animais sem cerebros, tendo em vista que o "grande problema" parece ser o sofrimento.

Já que se pode comer plantas só porque elas não sentem dor, seria mais ético então criar bois e galinhas sem cerebros, sendo alimentados por meio de tubos, sondas, etc.
E o animais com gânglios nervosos ficam como?

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Capitão América
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Mensagem por Capitão América »

Esse texto é muito bom, o Hélio acertou no ponto. Sintetizou exatamente o que penso sobre o assunto. Discordo apenas do final, não creio que nossa sensibilização justifique qualquer ação em direção de estabelecer-se alguns "direitos das presas".

Natureza cruel

Dentre as muitas coisas que não entendo no mundo moderno, uma das que mais me espantam é o vigor dos movimentos em defesa dos animais. Não me entendam mal. Já se foram os tempos em que eu me divertia amarrando latas ao rabo de gatos ou realizando procedimentos operatórios em batráquios. Como a maioria das pessoas, enterneço-me com filhotinhos de cães e repudio o sofrimento desnecessário imposto a seres sencientes de todas as espécies. O problema é que a defesa incondicional dos direitos dos animais, como a proposta por vários desses grupos, não encontra respaldo filosófico, lógico ou biológico. Gostemos ou não, o ser humano está mais ou menos no topo da cadeia alimentar. Nossa sobrevivência, como indivíduos e como espécie, depende da destruição de outros viventes. Em quatro palavras, a natureza é cruel.

Escrevo essas linhas a propósito da reportagem publicada pela Folha na segunda-feira* a respeito de um novo vídeo que questiona o uso de animais em pesquisa. Exceto pelos patologicamente sádicos --que são sempre uma minoria em qualquer grupo social--, nenhum cientista aprecia sacrificar cobaias, mas existem inúmeras situações em que isso é crucial. Toda nova droga ou vacina que é desenvolvida precisa, a uma dada altura, ser experimentada "in vivo". Parece razoável que, antes de dá-la a humanos, a testemos com ratos. Há mesmo situações que justificam a vivissecção ou o sacrifício do animal. Um exemplo eloqüente é o de experimentos que visam a verificar o efeito da injeção de células-tronco sobre órgãos avariados. Aqui não há como escapar a imolar a cobaia para autopsiar o órgão e saber se houve ou não a regeneração pretendida.

Daí não se segue, é claro, que eu apóie toda e qualquer experimentação envolvendo animais. Os testes ainda empregados pela indústria de cosméticos parecem especialmente cruéis e desnecessários, podendo ser substituídos por provas "in vitro" com cultura de células. Ainda que a adoção da nova tecnologia encareça um pouco o produto, esse é um custo que pode ser repassado ao consumidor ou absorvido. Na pior das hipóteses, o gasto extra, ao lado de um selo atestando que a empresa tal não maltrata animais, pode ser considerado um investimento em marketing.

Um pouco mais complexo é o caso das faculdades de medicina. Cirurgiões não nascem prontos. É recomendável que, antes de abrir a barriga de um humano, o estudante esteja bem adestrado. Nos países ricos, simuladores em 3D e outras parafernálias tecnológicas já substituem a contento os cães e porcos ainda usados por aqui. Acho que é uma questão de tempo até que as vivissecções sejam definitivamente banidas de nossas escolas. Observe-se que a eventual proscrição, a qual aplaudo, não alterará muito a sorte dos bichos. Os porcos continuarão sendo abatidos nos matadouros _e sem anestesia_ para virar salsichas, e os cães seguirão sendo sacrificados pela carrocinha para o necessário controle de zoonoses. A natureza, como já disse, é cruel.

Feitas essas observações gerais, procuremos entender melhor os fundamentos filosóficos da questão. Aqueles que se opõem com veemência a todo tipo de experimentação estão basicamente afirmando que existe um impedimento moral absoluto a tudo o que implique sacrifício ou dano a outros seres vivos, que teriam um estatuto jurídico semelhante ao de homens no que diz respeito ao direito à vida. Além de má filosofia, essa é uma posição essencialmente suicida. Como nós humanos não desenvolvemos a capacidade de realizar a fotossíntese, precisamos "roubar" de outros a energia da qual dependemos para viver. Podemos eleger como "vitimas" ou bem vegetais, ou animais ou mesmo humanos, mas o fato é que nossa existência só é possível através da morte de outros seres vivos.

Alguém poderia argumentar que é perfeitamente possível viver apenas de frutas e outras partes de vegetais cujo consumo não implique a morte do espécime. Pode ser, mas apenas em pequena escala. Se os atuais seis bilhões de humanos aceitassem privar-se de todo tipo de carne e concordassem em alimentar-se exclusivamente de frutas e grãos, nós provavelmente teríamos de derrubar o que restou das florestas para cultivar pomares. Com as matas, iria também boa parte da biodiversidade remanescente. Não estamos mais falando do desaparecimento de indivíduos isolados, mas de todos os representantes de várias espécies.

A tese do impedimento absoluto é, portanto, uma asneira. O simples fato de que a morte de outros seres vivos é imprescindível à nossa existência já prova que temos o direito de dispor da vida de animais. E não parece haver muita diferença entre matar um boi para fartar-se num delicioso churrasco ou vivisseccionar um roedor para desenvolver uma vacina que poderá salvar a vida de milhões de criancinhas humanas. Se quisermos, o segundo sacrifício foi biologicamente mais "rentável" do que o primeiro.

Não podemos tentar fundar um Direito que inclua todos os seres vivos. Quem mais perto chegou de fazê-lo foi o bioeticista australiano Peter Singer. Para ele, seres vivos vão adquirindo "direitos" à medida que se mostram mais conscientes. Assim, um porco seria mais digno de nossa compaixão do que um mosquito; a solidariedade devida ao chimpanzé arrebataria aquela que prestamos a nossos amigos suínos. O efeito colateral dessa argumentação é que fetos humanos e mesmo doentes mentais teriam menos direitos --uma tese que poucos estão dispostos a comprar. Singer, entretanto, coerentemente, defende o aborto, a eugenia e até o infanticídio em determinados casos. Mais informações sobre o instigante pensamento do filósofo australiano podem ser lidas nas colunas "O troféu são Herodes e as amebas", "Só para confundir..." e "Salvem as baleias".

O fundamento da ética é o reconhecimento do outro como um semelhante e, portanto, titular dos mesmos direitos. E, por razões óbvias, não posso considerar-me igual a meu prato de comida, que é necessariamente um meio para mim.

Até concordo que devemos evitar os testes desnecessários e aliviar quanto pudermos o sofrimento de animais envolvidos em pesquisas --não porque eles sejam titulares de direitos, mas para preservar nossa própria sensibilidade, a qual, como bem constatou Singer, vem se expandindo ao longo da história para círculos cada vez mais amplos. Nesse contexto, alguma militância é bem-vinda. O dono da indústria de cosméticos não vai adotar uma tecnologia mais cara se não houver nenhuma pressão social para que o faça. Os defensores mais entusiasmados da causa animal, entretanto, vão muito além do aceitável, ameaçando até assassinar seres humanos que não pensem como eles. Para ser minimamente coerentes, deveriam dedicar a seus adversários a mesma proteção que pretendem estender a ratos e lesmas: o direito de não sofrer estresse físico e psíquico. Recusam-se, porém, terminantemente a fazê-lo, no que dão mais uma demonstração de quão cruel é a natureza.

Hélio Schwartsman, 40, é editorialista da Folha. Bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve para a Folha Online às quintas.

E-mail: helio@folhasp.com.br

http://www1.folha.uol.com.br/folha/pens ... u243.shtml
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"Se a liberdade significa realmente alguma coisa, significa o direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir". - George Orwell

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