- 17/05/2006 - 23h26
Grupos de direitos humanos questionam mortes em São Paulo
SÃO PAULO (Reuters) - A reação da polícia à onda de violência deflagrada pelo crime organizado em São Paulo deixou mais suspeitos mortos nesta quarta-feira, levantando a desconfiança de grupos de direitos humanos de que estaria em curso uma ação de vingança.
O anúncio do aumento das mortes de supostos criminosos, de 71 para 93, veio acompanhado da informação de que a Justiça determinou o bloqueio de sinais de telefonia celular em áreas de presídio de seis cidades paulistas, na primeira medida efetiva, desde o início da crise, que não se restringe a operações policiais.
Ao mesmo tempo, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), precisou negar repetidas vezes que tenha havido qualquer acordo com Marcos Camacho, o Marcola, principal líder da facção criminosa PCC, para encerrar os ataques e rebeliões iniciadas na sexta-feira.
Apesar das críticas de entidades de direitos humanos, o secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, reiterou em entrevista à imprensa que a identificação dos suspeitos de serem criminosos se dará apenas "quando se desmantelarem as quadrilhas e os inquéritos estiverem prontos".
A falta de transparência neste momento aumenta as suspeitas dos grupos de direitos humanos.
"Uma ação que aparentemente foi bem desenvolvida pela polícia, no sentido de conter a rebelião e os ataques ... parece ser ação de vingança, retaliação... É fundamental o esclarecimento para que a população saiba se a resposta que a polícia e o governo do Estado deram foi adequada ou não", disse à Reuters Paulo de Mesquita Neto, da Human Rights Watch no Brasil e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP.
Além dos suspeitos, a violência deflagrada em São Paulo causou a morte de 30 policiais (23 PMs e sete policiais civis), três guardas municipais, oito agentes penitenciários e quatro cidadãos.
"É importante conter os ataques, mas não se pode dar carta branca para a violência policial. Já aconteceu no passado e sabemos que os resultados não são bons".
Para Aton Fon, advogado e diretor da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos em São Paulo, causa preocupação que "em 12 horas, 31 supostos participantes de combates tenham sido mortos".
"A polícia, que antes de começar mantinha informações que permitiam ações de prevenção, de repente entra em ação e mata ... Gera a suspeita de que esteja acontecendo uma política de extermínio para equilibrar as contas. A mesma política dos bandidos. Temos em realidade a situação de guerra entre bandidos, porque, se policiais agiram desse modo, eles estão agindo como bandidos", disse.
Já o comandante da Polícia Militar, coronel Elizeu Eclair, afirmou a jornalistas na terça-feira que as prisões e mortes de criminosos acalmaram as ações violentas.
CELULARES
O bloqueio de celulares, determinado pela Justiça, terá duração de 20 dias, renováveis, e atinge neste momento Avaré, Iaras, Presidente Venceslau, Araraquara, São Vicente e Franco da Rocha.
A decisão do juiz-corregedor do Departamento de Inquéritos Policiais e Polícia Jurídica, Alex Tadeu Monteiro Zilenovski, atende a pedido da Polícia Civil do Estado. A medida determina à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) que estabeleça um plano técnico para bloqueio dos sinais de celular que as operadoras de telefonia deverão implementar em até 48 horas.
Em Brasília, os ministros da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e das Comunicações, Hélio Costa, encontraram-se nesta tarde com presidentes das operadoras e decidiram editar medida de âmbito federal para bloquear os celulares. Uma reunião esta noite na Casa Civil deveria definir se será editada medida provisória ou decreto sobre o assunto.
SUPOSTO ACORDO
Em outro frente, o governador Cláudio Lembo precisou reiterar que não houve acordo com o PCC, apesar do encontro de autoridades de segurança e da advogada Iracema Vasciaveo com Marcola, no último domingo.
"Não há acordo com o crime, há o bom senso com o trato da coisa pública e com a comunidade em particular. Nós tínhamos de usar todas as formas possíveis para agilizar o diálogo, inclusive com essa figura", disse Lembo, referindo-se a Marcola.
Mas o Ministério Público do Estado de São Paulo disse que vai investigar o teor da conversa desse encontro, para verificar se houve concessão de benefícios que ultrapassem os limites da lei em favor de presos.
"A negociação para colocar fim a uma rebelião é algo natural. O que nós não podemos admitir é a concessão a um movimento de benefícios não previstos na lei", afirmou a jornalistas Rodrigo Pinho, procurador-geral de Justiça.
(Reportagem de Fernanda Ezabella, Marcelo Mota, Maurício Savarese, Andrei Khalip e Eduardo Lima)
http://noticias.uol.com.br/ultnot/2006/ ... 55629.jhtm
Demorou para os palhacinhos aparecerem...

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