Kramer escreveu:Não entendo muito disso. Achei que mais-valia fosse simplesmente lucro...
Aí é que tá, Kramer.
O Samael muito provavelmente vai criticar a definição que te passarei, porque esses textos de Marx são meio "bíblicos", ou seja, numa hora laranja é leguminosa e outra hora é hortaliça, deixando sempre margens à milhares de interpretações, muitas delas excludentes, muitas deles sequer imaginadas pelo autor.
De qualquer forma, aí vai:
A mais-valia seria a riqueza gerada pelo trabalhador que não volta para o trabalhador em termos de salário.
Como, grosso modo, o marxismo crê que o valor de um bem é dado pelo trabalho presente nele, temos, supondo que o bem seja vendido pelo seu valor:
Receita com a venda = Valor = Trabalho = lucro + aluguel + ... +salário
Desta forma, a mais-valia seria dada por:
Mais-valia = Trabalho - salário = lucro + aluguel +...
Desta forma, a mais-valia seria a exploração do trabalhador pelos empresários, donos de terra, etc.
Acontece que é um absurdo dizer que Valor = Trabalho!!!!!
Para te mostrar, darei um exemplo:
Imagina você, Kramer, que duas empresas produzam tacos de golfe, que não são de estilo "artesanal", nem "personalizado" e nem nada disso, com a mesma qualidade. Só que, enquanto na empresa 1, cada funcionário leva em média 5 minutos de trabalho para produzir um taco, na empresa 2 leva 50. Não tô falando sobre os fatores que levam a empresa 2 a necessitar 10 vezes mais tempo de seus empregados do que a firma 1... só estou dizendo que é assim.
As duas firmas têm a mesma fama no mercado. Pergunto: você acha que o taco da firma 2 vale 10 vezes mais que o taco da firma 1?
Ainda no século XIX, contestaram a idéia de valor-trabalho, dizendo que o valor de um bem é dado pela sua UTILIDADE, ou seja, o que é mais útil para as pessoas tem mais valor, não interessando o trabalho embutido, e o que é menos útil, menos valor.
Faz mais sentido, não é, Kramer? Faz mais sentido darmos mais valor ao que nos é mais útil, não?
Só que aí vieram com outro problema: a água é a coisa mais útil no mundo, e pouco valor se dava a ela, enquanto que muito valor se dava aos diamantes, que para nada serviam além de ficar nos pescoços das mulheres (na época, não havia corrida espacial e esses lances de perfuração refinada estavam recém engatinhando).
Daí, perto da virada para o século XX, houve um novo conceito: a UTILIDADE MARGINAL (isto é: o valor seria dado pela utilidade ADICIONAL ao se ter UMA UNIDADE A MAIS do bem).
SIM, É A FAMOSA DERIVADA (Valor do bem x = dU/dx, onde U é a utilidade).
Isso explicava a questão da água e do diamante... como, na época, água era algo que sobrava e sobrava na Natureza, ter um litro a mais de água pouca satisfação traria para alguém, mas... como diamantes eram raros, ter um grama a mais de diamante grande satisfação traria para as pessoas.
Este conceito explicaria também o fato de ingressos serem mais caros na hora do show, pessoas toparem dar rios de dinheiro por um copo d' água no deserto do Saara...
E por aí vai.