Acauan escreveu:
Olá amigo,
O problema da doutrina espírita kardecista (entre outros) é que ela é reducionista, como quase todas as doutrinas.
As pessoas existem em dois cosmos, um macro, o universo externo a elas próprias cujas manifestações lhas chegam através dos sentidos, e um micro, referente à sua própria existência como indivíduo consciente, que, como tal, sabe que é um ser vivo e consciente dentro de um macrocosmo do qual só sabe o que seus sentidos lhe transmitem.
Meus limitadíssimos conhecimentos na área, me impedem de emitir qualquer opinião sobre a DE. Em diversas postagens de colegas espíritas, pude perceber diferenças nas explicações apresentadas para determinado assunto. Em muitos casos, considerei essa visão como reducionista. As divergências entre os próprios espíritas não me deixam perceber, até o momento, se se trata de um erro de interpretação pessoal ou uma proposta defendida pela própria doutrina.
Acauan escreveu:
A natureza humana resulta do esforço de conciliar estes dois cosmos.
A doutrina espírita prega um macrocosmo que determina os rumos do microcosmo individual ao invés de buscar a conciliação ente ambos.
Daí nascem as falsas analogias, como a entre a queimadura e o homicídio, pois é certo que existe uma reação natural e instintiva de afastar-nos do que nos queima, que não há quanto afastarmo-nos do que é errado.
Talvez toda analogia seja falsa. Se procurarmos com cuidado, sempre encontraremos uma falha na alegoria apresentada. Além da abstração, faz-se necessário, em muitos casos, um quê de flexibilidade para que a proposta funcione. Fugindo de uma abordagem moral, que colocaria um abismo intransponível entre as duas situações, diria que a grande diferença entre a queimadura e o homicídio, para o observador humano, é o tempo. A primeira requer poucas frações de segundo para percebermos que machuca. A segunda (partindo da premissa que tudo o que se diz sobre espírito e reencarnação seja verdadeiro) levaria um tempo um pouquinho maior para se transformar em ensinamento. Completado o tempo necessário para a maturidade de cada caso – um segundo ou mil anos – o homem evitaria instintivamente aquilo que lhe faz mal. Essa é a proposta da analogia, ainda que por demais incompleta.
Acauan escreveu:
O mais frio dos assassinos largará involuntariamente o cabo metálico da panela com água fervente, mas não terá a mesma reação ao manusear a arma que tirará a vida de alguém.
Assim, não é razoável estabelecer correlações diretas entre a dor física e a dor moral.
A moral é uma opção do microcosmo do indivíduo, ao passo que o que vem do macrocosmo, como a dor da queimadura, não está sujeito às nossas decisões.
Sem dúvida, Guerreiro, a correlação não pode ser direta. Até porque a dor moral, para um assassino, não deve ter nenhum valor. Como dito acima, e ainda necessitando manter a citada premissa como verdadeira, os valores morais seriam agregados a ele lentamente, através de uma sucessão de experiências específicas e tão contundentes quanto necessário fosse. A inevitabilidade aponta para o dia em que a dor moral, para ele, seria talvez mais insuportável do que a física.
Acauan escreveu:
A probabilidade que atende tanto aos requisitos do macro quanto do microcosmo é o BEM encontrar sua plenitude em si mesmo. Assim, todo BEM possui em si sua própria justiça e sua própria recompensa.
O esquema cósmico mais simples de todos.
Grandes palavras.
O bem é um estágio superior a tudo o que eu descrevi até aqui. Essa resposta automática a se evitar um erro, como se evitaria algo que machucasse, é como tudo começa. É aquela situação que os céticos tanto criticam, quando fica claro que o sujeito não faz o mal por medo da “punição” ou ambicionando recompensas futuras. O bem não está aí. Esse homem não está pronto. Mas não se pode negar que importantes passos foram dados: ele deixou de ser um assassino.
O aprendizado não pode ser detido e o nosso personagem fictício, um dia, terá seu encontro com o verdadeiro bem. Ele deixará de desejar o resultado lucrativo de suas ações e será bom porque essa é sua natureza. O bem, como sabiamente você disse, bastará a si mesmo.
Acauan escreveu:
ANAUÊ Avatar!
Anauê, Guerreiro.