Jornal do Commercio
Linux x Microsoft?
Publicado em 31.05.2006
Foi movimentado o primeiro LinuxWorld brasileiro. Mas dois personagens roubaram a cena. De um lado, o guru do software livre John “Maddog” Hall. Do outro, Bill Hilf, da Microsoft, conversando tranqüilamente, como se atuassem no mesmo lado. No evento, o representante de Bill Gates falou dos planos da empesa para software livre. Sinal dos tempos...
JACQUES WALLER
Especial para o JC
SÃO PAULO – Três dias de quiosques, novidades, lançamentos, debates e palestras sobre o sistema operacional Linux e os caminhos futuros do movimento pelo software livre não foram maiores que os 45 minutos da palestra da Microsoft durante o I LinuxWorld Brasil, semana passada, em São Paulo. Ao microfone, o diretor do laboratório de Software Livre da Microsoft, o norte-americano Bill Hilf, discursou sobre os interesses e planos da mega-empresa no mundo do código aberto, dando a entender que a criadora do Windows simpatiza com a causa. A palestra, no último dia, foi logo em seguida à fala de alguém que sempre chama a atenção, o presidente da Linux International e guru do movimento software livre, o também norte-americano John “Maddog” Hall. Sentado na primeira fila do auditório, Maddog ouviu, com a mão na barba, e com clara expressão de descrença, a fala de Hilf. Ao fim da palestra, Maddog se aproximou de Hilf e, disse, quase ao pé do ouvido: “Quero conversar com você depois. Tirar algumas dúvidas”.
A conversa aconteceu lá mesmo. O conteúdo não foi divulgado, mas a cena em si demonstra algo impensável até então: Microsoft e comunidade de software livre dialogando. E o discurso dos dois foi até alinhado. Maddog continuou a defender os benefícios do código aberto e atacou o software proprietário, comparando cópias de teste à primeira dose oferecida por um traficante. “A primeira dose é de graça, garoto. Depois você vai ter que pagar”, brincou, arrancando risadas da platéia. Mesmo assim, o veterano não citou a Microsoft diretamente, abrandando o discurso, geralmente bastante inflamado. Já Hilf, que citou Maddog em sua fala, como que pedindo o aval do “colega”, defendeu o software livre como incentivador de concorrência e preços mais baixos.
Ele falou sobre alguns produtos Microsoft já disponíveis em código aberto, como o Wix. Trata-se do mecanismo de instalação de programas do Windows. “Vocês conhecem. É aquele que pergunta: você tem certeza que quer instalar esse programa? E você clica sim, sim, sim, sim”, também brincou Hilf. Mas o que o executivo mais defendeu foi o conceito de comunidade.
“O melhor sobre a idéia de código aberto não são os programas, mas a comunidade. Nossos programas podem ser muito melhorados pela comunidade. Já entrei em projetos de código aberto cujo objetivo era dar vantagem a um único grupo e esses nunca deram certo”, testemunhou Hilf, que trabalhou com Linux na IBM antes de entrar para a Microsoft. Bill Hilf aproveitou para apresentar o blog do laboratório que dirige. O site Port25, um verdadeiro portal da Microsoft sobre software livre, deve ganhar versão em português em dois meses, devendo se chamar Porta25.
Maddog também defendeu o valor da comunidade no processo de desenvolvimento de programas em código aberto, mas destacou que esse elemento deve ser adicionado ao valor total de um produto. “Software livre não tem só a ver com redução de custos, mas com valor total”, comentou Maddog, que falou ainda das iniciativas do Brasil em software livre. “O Brasil tem liderado o Linux e o movimento de código aberto há anos e é muito interessante a adoção do modelo de software livre pelo governo”, finalizou.
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).