Quem gosta de poesia?

Fórum de discussão de assuntos relevantes para o ateísmo, agnosticismo, humanismo e ceticismo. Defesa da razão e do Método Científico. Combate ao fanatismo e ao fundamentalismo religioso.
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rapha...
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Re: Re.: Quem gosta de poesia?

Mensagem por rapha... »

clara campos escreveu:
rapha... escreveu:Eu fui no show, Clarita. :emoticon1:

Nãããooooooo!!!!!!!!!!!!
eu dava o cu e dois tostões (expressão portuguesa é favor de NÃO levar à letra...) para ver PJ!!!!!!

e então rapha, como foi???? brutalíssimo, suponho :emoticon8:


Foi como tinha de ser. :emoticon3:

E foi muito mais especial por ter sido na Pedreira Paulo Leminski, uma espécie de caverna, que tem até um lago dentro. :emoticon7:

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Poindexter
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Re: Re.: Quem gosta de poesia?

Mensagem por Poindexter »

rapha... escreveu:Foi como tinha de ser. :emoticon3:

E foi muito mais especial por ter sido na Pedreira Paulo Leminski, uma espécie de caverna, que tem até um lago dentro. :emoticon7:


Que foi bloqueada pelos bombeiros por ser um local totalmente impróprio para shows.
Si Pelé es rey, Maradona es D10S.

Ciertas cosas no tienen precio.

¿Dónde está el Hexa?

Retrato não romantizado sobre o Comun*smo no século XX.

A child, not a choice.

Quem Henry por último Henry melhor.

O grito liberalista em favor da prostituição já chegou à este fórum.

Lamentável...

O que vem de baixo, além de não me atingir, reforça ainda mais as minhas idéias.

The Only Difference Between Suicide And Martyrdom Is Press Coverage

Conan

Mensagem por Conan »

Cântico negro

José Régio


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

Conan

Mensagem por Conan »

Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão sutil... tão pólen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...

José Gomes Ferreira (1900-1985)

Conan

Re: Re.: Quem gosta de poesia?

Mensagem por Conan »

clara campos escreveu:Conan, alberto Caeiro?


Sim, um dos pseudónimos de Fernando Pessoa... :emoticon1:

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user f.k.a. Cabeção
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Mensagem por user f.k.a. Cabeção »

Ahura-Mazda escreveu:O poema de Edgar Poe, na magnífica tradução de Pessoa:


De fato, essa tradução é tão boa quanto o original.

Eles a usaram na versão brasileira de um episódio especial de Halloween dos Simpsons.
"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem

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rapha...
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Re: Re.: Quem gosta de poesia?

Mensagem por rapha... »

Poindexter escreveu:
rapha... escreveu:Foi como tinha de ser. :emoticon3:

E foi muito mais especial por ter sido na Pedreira Paulo Leminski, uma espécie de caverna, que tem até um lago dentro. :emoticon7:


Que foi bloqueada pelos bombeiros por ser um local totalmente impróprio para shows.


Fecharam até a Ópera de Arame.

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Tranca
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Mensagem por Tranca »

Cavaleiro do Ébano escreveu:Essa é minha...


SONETO DE AMOR IMPOSSÍVEL

De tudo, ao que se chama amor é atribuído
O que no peito está contido
E só por um sendo vivido:
Amor trancado, devendo ser esquecido.

As duas almas sabem deste amor
Águas calmas refletem seu esplendor
Barreiras incomplacentes, mas o sentimento teima.
Do calor, só o frio restou, deste amor, que queima.

Das tardes que passamos e da paixão que não vivemos
Dos planos que nunca fizemos e que restou só a saudade.
Traído pelo que mais confiava: a própria fidelidade.

De sentimento que só nossas almas conhecem,
Assim viverei, como me é dado, deste sonho,
Da herança, da lembrança. Óh coração, ao sofrimento
[aqui me ponho.

.


E aí, o que acham? Posso ter esperanças de aprender?
E olha que é o meu preferido. :emoticon1:


Ei Cavaleiro!

Muito bom isso, brother!

E apareça mais no RV!

Abraço

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Johnny
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Mensagem por Johnny »

Joguei uma pedra ao lago
De tão pesada foi ao fundo
Vinha passando uma vaca leiteira
Caranguejo não tem pescoço

Subi num pé de couve
Só para ver meu amor passar
Deu meia noite meu amor não veio
Desci do coqueiro

Autor retardado
"Tentar provar a existencia de deus com a biblia, é a mesma coisa q tentar provar a existencia de orcs usando o livro senhor dos aneis."

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Ricardo
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Mensagem por Ricardo »

O pior poema da galaxia:

The dead swans lay in the stagnant pool.
They lay. They rotted. They turned
Around occassionally.
Bits of flesh dropped off them from
Time to time.
And sank into the pool's mire.
They also smelt a great deal.

Paul Neil Milne Johnstone of Redbridge
Editado pela última vez por Ricardo em 02 Jun 2006, 12:50, em um total de 1 vez.

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Tranca
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Mensagem por Tranca »

Johnny escreveu:Joguei uma pedra ao lago
De tão pesada foi ao fundo
Vinha passando uma vaca leiteira
Caranguejo não tem pescoço


E cadê o sovaco da minhoca?

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Samael
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Re: Re.: Quem gosta de poesia?

Mensagem por Samael »

Kramer escreveu:
clara campos escreveu:eu dava o cu e dois tostões (expressão portuguesa é favor de NÃO levar à letra...) para ver PJ!!!!!!


Sério? Eu não consigo imaginar uma expressão desse tipo se popularizando! :emoticon5:


Po, Hugo, eu dava o cu e dois tostões para que essa expressão se popularizasse! :emoticon12:

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Samael
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Re.: Quem gosta de poesia?

Mensagem por Samael »

Batatinha quando nasce
Se esparrama pelo chão
Eu levo papai no bolso
E mamãe no coração.

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rapha...
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Re: Re.: Quem gosta de poesia?

Mensagem por rapha... »

Samael escreveu:Batatinha quando nasce
Se esparrama pelo chão
Eu levo papai no bolso
E mamãe no coração.


Rodrigo, tu é muito burro.

Primeiro que tu cometeu pela trilionésima quinta vez o erro da próclise em início de frase. E o autor desta estrofe não é tão idiota quanto você, não cometeria este erro.

Segundo que não é "se esparrama", é "espalha ramas". Onde já se viu batata "esparramar"?

Vai ser mané assim lá ná UNIRIO!

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spink
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Mensagem por spink »

rapha escreveu:Segundo que não é "se esparrama", é "espalha ramas"


Fico com a versão popular.
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

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Re: Re.: Quem gosta de poesia?

Mensagem por Samael »

rapha... escreveu:
Samael escreveu:Batatinha quando nasce
Se esparrama pelo chão
Eu levo papai no bolso
E mamãe no coração.


Rodrigo, tu é muito burro.

Primeiro que tu cometeu pela trilionésima quinta vez o erro da próclise em início de frase. E o autor desta estrofe não é tão idiota quanto você, não cometeria este erro.

Segundo que não é "se esparrama", é "espalha ramas". Onde já se viu batata "esparramar"?

Vai ser mané assim lá ná UNIRIO!


1º Se usa próclise no início de frases. Tanto que eu usei. E não soa mal. Vou até iniciar minha monografia de graduação com uma só pra te sacanear. A linguagem é dialética.

2º Eu citei a versão popular. E batata esparrama sim. É só jogar um monte delas no chão.

:emoticon1:

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rapha...
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Re: Re.: Quem gosta de poesia?

Mensagem por rapha... »

Samael escreveu:
rapha... escreveu:
Samael escreveu:Batatinha quando nasce
Se esparrama pelo chão
Eu levo papai no bolso
E mamãe no coração.


Rodrigo, tu é muito burro.

Primeiro que tu cometeu pela trilionésima quinta vez o erro da próclise em início de frase. E o autor desta estrofe não é tão idiota quanto você, não cometeria este erro.

Segundo que não é "se esparrama", é "espalha ramas". Onde já se viu batata "esparramar"?

Vai ser mané assim lá ná UNIRIO!


1º Se usa próclise no início de frases. Tanto que eu usei. E não soa mal. Vou até iniciar minha monografia de graduação com uma só pra te sacanear. A linguagem é dialética.

2º Eu citei a versão popular. E batata esparrama sim. É só jogar um monte delas no chão.

:emoticon1:


Dialética é minha r*la!

Ahura-Mazda
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Re: Re.: Quem gosta de poesia?

Mensagem por Ahura-Mazda »

rapha... escreveu:
Samael escreveu:Batatinha quando nasce
Se esparrama pelo chão
Eu levo papai no bolso
E mamãe no coração.


Rodrigo, tu é muito burro.

Primeiro que tu cometeu pela trilionésima quinta vez o erro da próclise em início de frase.

Você não entende nada de poesia, mesmo. Se trata de uma licença poética utilizada pelo autor, no intuito de dar uma sonoridade e métrica apropriadas ao poema.
"Considero a religião como um brinquedo infantil e acho que o único pecado é a ignorância." - Cristopher Marlowe

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spink
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Re: Re.: Quem gosta de poesia?

Mensagem por spink »

Ahura-Mazda escreveu:
rapha... escreveu:
Samael escreveu:Batatinha quando nasce
Se esparrama pelo chão
Eu levo papai no bolso
E mamãe no coração.


Rodrigo, tu é muito burro.

Primeiro que tu cometeu pela trilionésima quinta vez o erro da próclise em início de frase.

Você não entende nada de poesia, mesmo. Se trata de uma licença poética utilizada pelo autor, no intuito de dar uma sonoridade e métrica apropriadas ao poema.


Deixa estar...
Falando nisso; quem aqui aprendeu a "medir" um poema?
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

Ahura-Mazda
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Re: Re.: Quem gosta de poesia?

Mensagem por Ahura-Mazda »

carlos escreveu:
Ahura-Mazda escreveu:
rapha... escreveu:
Samael escreveu:Batatinha quando nasce
Se esparrama pelo chão
Eu levo papai no bolso
E mamãe no coração.


Rodrigo, tu é muito burro.

Primeiro que tu cometeu pela trilionésima quinta vez o erro da próclise em início de frase.

Você não entende nada de poesia, mesmo. Se trata de uma licença poética utilizada pelo autor, no intuito de dar uma sonoridade e métrica apropriadas ao poema.


Deixa estar...
Falando nisso; quem aqui aprendeu a "medir" um poema?


Eu sei, mais ou menos. Você tem que contar as sílabas poéticas, que é a quantidade de sílabas pronunciadas em cada verso. É diferente da separação silábica tradicional. Por exemplo, vc só conta as sílabas até a útima sílaba tônica (se a última palvra do verso for proparxítona, as duas útiams sílabas não são contadas). O poeminha postado pelo Samael é uma redondilha maior, com 7 sílabas poéticas em cada verso.
"Considero a religião como um brinquedo infantil e acho que o único pecado é a ignorância." - Cristopher Marlowe

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Lúcifer
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Re: Re.: Quem gosta de poesia?

Mensagem por Lúcifer »

Ahura-Mazda escreveu:O poema de Edgar Poe, na magnífica tradução de Pessoa:

O CORVO
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais
«Uma visita», eu me disse, «está batendo a meus umbrais.
É só isso e nada mais.»

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão) a amada, hoje entre hostes celestiais —
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundindo força, eu ia repetindo,
«É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isso e nada mais».

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
«Senhor», eu disse, «ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi...» E abri largos, franquendo-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais —
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isto só e nada mais.

Para dentro estão volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
«Por certo», disse eu, «aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.»
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
«É o vento, e nada mais.»

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais.
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
«Tens o aspecto tosquiado», disse eu, «mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.»
Disse-me o corvo, «Nunca mais».

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos seus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome «Nunca mais».

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, «Amigo, sonhos — mortais
Todos — todos lá se foram. Amanhã também te vais».
Disse o corvo, «Nunca mais».

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
«Por certo», disse eu, «são estas vozes usuais.
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este «Nunca mais».

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele «Nunca mais».

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sombras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sombras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-me então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
«Maldito!», a mim disse, «deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».

«Profeta», disse eu, «profeta — ou demónio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais,
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».

«Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!, eu disse. «Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha dor de um demónio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais,
E a minh'alma dessa sombra, que no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!



Eu ia colocar ela mas, já que você já se adiantou....
Eu prefiro escrever os meus próprios pensamentos. Poesia é um pé no saco pra escrever.
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Ahura-Mazda
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Mensagem por Ahura-Mazda »

Na falta de uma tradução decente (qe é bem difícil de se fazer), vai o original, mesmo:

Oh Captain! My Captain!

O Captain! my Captain! our fearful trip is done,
The ship has weather'd every rack, the prize we sought is won,
The port is near, the bells I hear, the people all exulting,
While follow eyes the steady keel, the vessel grim and daring;
But O heart! heart! heart!
O the bleeding drops of red,
Where on the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.

O Captain! my Captain! rise up and hear the bells;
Rise up--for you the flag is flung--for you the bugle trills,
For you bouquets and ribbon'd wreaths--for you the shores a-crowding,
For you they call, the swaying mass, their eager faces turning;
Here Captain! dear father!
This arm beneath your head!
It is some dream that on the deck,
You've fallen cold and dead.

My Captain does not answer, his lips are pale and still,
My father does not feel my arm, he has no pulse nor will,
The ship is anchor'd safe and sound, its voyage closed and done,
From fearful trip the victor ship comes in with object won;
Exult O shores, and ring O bells!
But I with mournful tread,
Walk the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.

Walt Whitman
"Considero a religião como um brinquedo infantil e acho que o único pecado é a ignorância." - Cristopher Marlowe

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Capitão América
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Mensagem por Capitão América »

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Jimmy Page
[]'s

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"Se a liberdade significa realmente alguma coisa, significa o direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir". - George Orwell

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Márcio
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Re.: Quem gosta de poesia?

Mensagem por Márcio »

De novo sem rimas ,
Colho palavras como folhas soltas ,
Para traduzir sentimentos .
Sem métrica ,
Palavras loucas de um louco ,
Pousadas em papel antes virgem ,
Agora feito cúmplice paciente .
Sem rimas , sem cor .
Palavras , antes pensamentos , tormentas ,
Agora revelando meu interior .
Te deixo meu amor , tudo isso .
Esse poema louco ,
Feito por quem é também um louco ,
Totalmente por você .
Completamente doido ,
Mas agora sem você .
Só , solidão ,
Por enquanto .
O ateísmo é uma consequência em mim, não uma militância sistemática.

'' O homem sábio molda a sí mesmo, os tolos só vivem para morrer.'' (O Messias de Duna - F.Herbert)

Não importa se você faz um pacto com deus ou o demônio, em quaisquer dos casos é a sua alma que será perdida, corrompida...!

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clara campos
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Re.: Quem gosta de poesia?

Mensagem por clara campos »

Excisão

Decepa-se a noz
do êxtase,
a desordem do corpo.

Quando no topo
o astro do prazer
é desacato.

Desatando-se o fio
do nó
das pernas.

Corta-se a folha intactado tecido,
na tecitura dobada do orgasmo.

Nada pode restar
do feminino
que a lâmina não corte.

O canivete se afunde
de golpe,
e assassine.

Ou o estilhaço
do copo
não rasgue e faz, devagarinho.

Cerzindo a ferida
à dor
no mesmo acto.

A envenenar sem

o sangue do destino.

Que em vez de
gritar,
vai murmurando baixo.

Maria Teresa Horta
Só por existir, só por duvidar, tenho duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar... (J.P.)

Trancado