Mr. Crowley escreveu:o problema não é nem torcer pra outro país/esportista em paralelo,(eu mesmo torço pra Alemanha(exceto em jogos contra o Brasil)), mas torcer contra o próprio país é escrotice ou vontade aparecer mesmo("olha pra mim gente, eu torço pra Argentina")
A Seleção Brasileira, o Guga, o Felipe Massa, o Torben Grael... não são O Brasil. Se fosse para se pensar assim não poderia haver gente no Nordeste cujo PRIMEIRO TIME é o (perdoe-me o palavrão) "Fra"m*ngo. Não poderia haver cariocas torcedores do Cruzeiro e quem mora em São Januário sequer poderia torcer pelo Fluminense. Eu sinceramente não entendo porquê as pessoas acham justificáveis essas quebras de barreiras em nível nacional, mas não em nível internacional.
Já temos tantas barreiras em nossas vidas! Barreiras financeiras, barreiras de tempo, barreiras de habilidade, barreiras burocráticas... para quê se criar mais essa?
Eu estive pensando sobre isto esses dias... certas coisas a gente simplesmente não explica facilmente. Pensei, pensei, e concluí... não há uma "explicação de bolso" (como
Maradona, por exemplo), para a minha torcida
albiceleste. Desde que me conheço por gente futebolisticamente (Mundial da Espanha, 1982, quando eu tinha 7 anos), eu me sentia deslocado da torcida canarinha. Eu JÁ SABIA NÃO APENAS QUE AQUELA NÃO ERA A MINHA TORCIDA COMO TAMBÉM SABIA QUE A MINHA TORCIDA ERA A DA SEL. DA ARGENTINA, mas não sabia o porquê disso.
Não era fácil. Eu não me sentia bem com isso. Eu sentia que todos tinham espaço para torcerem felizes... MENOS EU (hoje, é óbvio que sei que não sou "só eu"). Amarguei oito anos de auto-repressão desse sentimento na esperança de "passar", até jogar isso para o alto e me assumir definitivamente como
hincha albiceleste. Mesmo assim, continuava a juntar algumas explicações para isso, que, muito embora muitas vezes fossem bem embasadas, não explicavam plenamente. Depois de mais um tempo, deixei de sentir necessidade por explicações e deixei de procurá-las.
Você fala em "aparecer"... é lógico que um torcer pela
Albiceleste no Brasil vai fatalmente chamar a atenção. Não tem jeito! Se você andar de canarinho na rua, ninguém vai perceber, mas se andar
albiceleste é óbvio que vai ser diferente. O problema é que um diferente visto como negativo. É um diferente que acarreta solidão futebolística. É um diferente que me obriga ter que cruzar uma fronteira se eu quiser poder vibrar nas ruas a conquista de mais um Mundial enquanto você pode fazer isso na rua que cruza a tua casa.
Tudo isso que disse em tese não é fácil, mas se torna mais fácil quando vem aquela alegria de ver um gol
Albiceleste (aquela mesma alegria que você sentia e sente com gols de Romário, Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho, etc.). Ficaria ainda mais fácil se isso fosse visto com um pouco menos de estranheza pela Sociedade.