O Humanista do Ano de 1996 fez esta pergunta em um discurso aceitando a honraria da Associação Humanista Americana.
É elegante lustrar apocalipticamente a ameaça à humanidade posta pelo vírus da AIDS, doença da "vaca louca", e muitas outras, mas eu penso um caso que pode ser feito dizendo que a fé é um dos maiores males do mundo, comparável com o vírus da varíola, mas mais difícil de erradicar.
Fé, sendo crença que não é baseada em evidência, é o principal vício de qualquer religião. E quem, olhando para a Irlanda do Norte ou o Oriente Médio, pode estar convicto que o vírus cerebral da fé não é extremamente perigoso? Uma das histórias contadas aos jovens suicidas-bomba Muçulmanos é que o martírio é o caminho mais rápido para o paraíso - e não apenas o paraíso mas uma parte especial do paraíso onde eles irão receber sua recompensa especial de 72 noivas virgens. Me ocorre que nossa melhor esperança pode prover um tipo de "controle de armas espiritual": mandar teólogos especialmente treinados para se desintensificar a tarifa corrente de virgens.
Dados os perigos da fé - e considerando as realizações da razão e observação na atividade chamada ciência - eu acho irônico que, onde quer que eu dê uma aula publicamente, sempre aparece alguém que vem à frente e diz, "Claro, sua ciência é apenas uma religião como a nossa. Fundamentalmente, a ciência apenas reduz-se até a fé, não é?"
Bem, a ciência não é religião e ela não reduz-se até a fé. Embora ela tenha muitas das virtudes das religiões, ela não têm nenhum de seus vícios. A ciência é baseada em evidência verificável. A fé religiosa não apenas carece de evidência, sua independência da evidência é seu orgulho e alegria, berrado de cima dos telhados. E por que mais os Cristãos lustrariam críticas sobre São Tomé? Os outros apóstolos são levantados para nós como exemplares de virtude porque a fé não era suficiente para eles. São Tomé, por outro lado, requeria evidência. Talvez ele devesse ser o santo padroeiro dos cientistas.
Uma razão para eu receber o comentário sobre ciência sendo uma religião é porque eu acredito no fato da evolução. Eu até acredito nisso com uma convicção passional. Para alguns, isso pode superficialmente parecer-se com fé. Mas a evidência que me faz acreditar na evolução não é apenas esmagadoramente forte; ela está livremente disponível para qualquer um que tenha o trabalho de ler sobre ela. Qualquer um pode estudar a mesma evidência que eu tenho e presumivelmente chegar a mesma conclusão. Mas se você têm uma crença que é baseada somente em fé, eu não posso examinar as suas razões. Você pode se retirar atrás do muro particular da fé onde eu não posso te alcançar.
Agora na prática, claro, cientistas individuais algumas vezes escorregam de volta para o vício da fé, e alguns podem acreditar tão cegamente em uma teoria favorita que eles até ocasionalmente falsificam evidência. Entretanto, o fato que isso algumas vezes ocorre não altera o princípio que, quando eles o fazem, eles fazem com vergonha e não com orgulho. O método da ciência é tão planejado que ele normalmente os acha no final.
A ciência é atualmente uma das mais morais, uma das mais honestas disciplinas que existem - porque a ciência iria colapsar completamente se não fosse por uma aderência escrupulosa para com a honestidade ao reportar evidência. (Como disse James Randi, essa é uma razão pela qual os cientistas são tão raramente enganados por paranormais trapaceiros e pelo qual a parte de desbancar é executada melhor por mágicos profissionais; cientistas simplesmente não antecipam desonestidade deliberada também.) Existem outras profissões (não se precisa mencionar advogados especificamente) na qual falsificar evidências ou pelo menos deformá-las é precisamente para o que pessoas são pagas e ganham pontos por fazer isso.
A ciência, então, está livre do principal vício da religião, que é a fé. Mas, como eu disse, a ciência têm algumas das virtudes das religiões. A religião pode aspirar prover a seus seguidores vários benefícios - entre eles explicação, consolação, e levantar o astral. A ciência, também, têm algo a oferecer nestas áreas.
Os humanos têm uma grande sede por explicação. Isso pode ser uma das razões principais do porquê a humanidade têm tão universalmente uma religião, desde que as religiões aspirem prover explicações. Nós viemos à nossa consciência individual em um universo misterioso e longo para se entender. A maioria das religiões oferece uma cosmologia e uma biologia, uma teoria da vida, uma teoria das origens, e as razões para a existência. Ao fazer isso, elas demonstram que a religião é, de uma maneira, ciência; é apenas uma ciência ruim. Não caia no argumento que a religião e a ciência operam em dimensões separadas e que estão preocupadas com questões de tipos diferentes. As religiões tem historicamente sempre tentado responder perguntas que corretamente pertencem à ciência. Desta maneira as religiões não devem ter permissão agora para se retirar do chão onde elas tradicionalmente vem tentando lutar. Elas oferecem tanto uma cosmologia quanto uma biologia, entretanto, em ambos os casos ela é falsa.
Consolação é mais difícil para a ciência prover. Diferente da religião, a ciência não pode oferecer aos enlutados uma reunião gloriosa com seus amados no além. Esses enganados nessa terra não podem, em uma visão científica, antecipar a doce comeuppance para seus suplícios na vida à vir. Pode-se argumentar que, se a idéia de uma vida pós-morte é uma ilusão (como eu acredito que é), a consolação que isso oferece é vazia. Mas não é necessariamente assim, uma crença falsa pode ser tão confortante quanto uma verdadeira, contanto que o crente nunca descubra sua falsidade. Mas se as consolações vêm assim tão barato, a ciência pode pesar com outros paliativos baratos, tais como drogas analgésicas, conforto pode ou não ser ilusório, mas ele funciona.
Levantar o astral, entretanto, é onde a ciência realmente vêm a auxiliar. Todas as grandes religiões têm um local para temer respeitosamente, para transporte extasiado ao espanto e beleza da criação. E é exatamente essa sensação de arrepio na espinha, imponente de tirar o fôlego - quase adoração - essa inundação do peito com espanto extasiado, que a ciência moderna pode prover. E ela faz além dos sonhos mais extravagantes de santos e místicos. O fato que o sobrenatural não tem lugar nas nossas explicações, em nossa compreensão de tanto sobre o universo e a vida, não diminui o espanto. Pelo contrário. O mais mero olhar de relance através de um microscópio no cérebro de uma formiga ou através de um telescópio numa galáxia distante de bilhões de mundos é suficiente para deixar acanhado e paroquial os próprios salmos de reza.
Agora, como eu disse, quando me é posto que a ciência ou alguma parte particular da ciência, como a teoria evolucionária, é apenas uma religião como qualquer outra, eu normalmente nego isso com indignação. Mas eu comecei a me perguntar se talvez essa não é a tática errada. Talvez a tática correta seja aceitar de bom grado a carga e demandar igual tempo para ciência nas classes de educação religiosa. E quanto mais eu penso sobre isso, mais eu percebo que um excelente argumento poderia ser feito quanto a isso. Então eu quero falar um pouco sobre educação religiosa e a função que a ciência pode ter nisso.