
Eu moro na Tijuca e já tinha notado a quantidade de mulheres de véu e pichações com propaganda de sites islâmicos.
Pelo jeito, é no meu bairro que se concentra a maioria dos islamitas do Rio. Agora vão construir uma mesquita.
Além dos carrilhões das igrejas, teremos agora, 4 vezes por dia (a 5ª vez foi suspensa porque é muito cedo), o muezzin gritando "Allah akhbar!".
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Rio, 18 de junho de 2006 "O Globo"
Rio ganhará nova mesquita até o fim do ano
Alessandro Soler
Versos do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, vão ecoar nas ruas da Tijuca, todos os dias, a partir do fim do ano. Os cânticos difundidos por alto-falantes instalados nas torres da nova mesquita do Rio — que começa a ser erguida ainda este mês — chamarão os fiéis em árabe para as salás, as orações diárias. Parte da comunidade islâmica carioca, estimada por líderes religiosos em algo entre 1.500 e três mil pessoas, organiza-se para erguer o templo. Ele será o único no Rio além de outro quase em ruínas e desativado em Jacarepaguá.
— Vamos chamar os fiéis pelos alto-falantes em quatro das cinco salás diárias. Só não dá para acordar o bairro na primeira delas, por volta das 5h. Os vizinhos não ficariam muito felizes — arrisca, com bom humor, o sheik (sábio) e imã (ministro religioso) Abdelbagi Sidahmed Osman, artífice do projeto da nova mesquita.
Número de conversões disparou desde 2001
A demanda por um templo islâmico na cidade é crescente. A superexposição — para o mal e para o bem — dos muçulmanos na mídia desde os atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA, conta o imã, fez disparar o número de conversões. Se no ano 2000 foram menos de dez, em 2001 e 2002 mais de cem cariocas abraçaram a doutrina que, segundo a crença, foi revelada por Deus ao profeta Muhammad
— Mais de 80% da comunidade muçulmana no Rio são formados por convertidos. Não somos uma religião que estimula o proselitismo ou prega nas praças, mas quem quiser abraçar uma doutrina de paz, que nada tem a ver com o terrorismo infelizmente praticado por alguns grupos, será bem-vindo — explica o imã, que ministra cultos na acanhada sede da sociedade beneficente, no Centro.
A Tijuca, segundo ele, foi escolhida para abrigar o templo e um centro cultural e de estudos anexo por concentrar a maior parte dos fiéis no Rio. A proximidade com o local de trabalho ou residência é fundamental. É que a oração de sexta-feira, depois de o sol atingir o ponto máximo no céu (por volta do meio-dia), deve ser feita na mesquita.
— Infelizmente o Rio é violento. Além das orações de sexta, que nos obrigam a ir até a mesquita, aos sábados temos cursos e eventos até tarde. Sair pelas ruas ermas é perigoso. Estar perto de casa vai ser maravilhoso — avalia a estilista de moda islâmica e terapeuta Haniya Bel Hayat, filha de um muçulmano e uma cristã e convertida ao islamismo.
Minaretes, vitrais, tapetes e outras referências árabes
O projeto mesclará elementos contemporâneos e tradicionais árabes. Uma casa de dois andares na Tijuca ganhará um terceiro pavimento, um terraço e dois minaretes — as torres a partir das quais os fiéis são convocados. Vitrais, arabescos e tapetes completarão o ambiente. A mesquita é projeto do engenheiro senegalês Abdul Aziz Diene e do arquiteto brasileiro Gilson Vidal, ambos muçulmanos.
— Haverá um grande masjid (salão de orações) com tapetes e uma bela decoração, mas sem imagens, como manda a tradição. É empolgante fazer um projeto tão importante para a comunidade — avalia Diene, radicado no Rio há 13 anos, onde faz doutorado em engenharia na Coppe/UFRJ.
Além de mesquita, o prédio terá salas de estudo e pesquisa, biblioteca, cozinha para o preparo da sopa que a sociedade distribui a moradores de rua do Centro e espaço de convivência. O cabeleireiro Ali Ahmad, de Vista Alegre, também comemorou a iniciativa:
— Nós nos sentíamos de certa forma desprestigiados. Praticantes de todas as religiões têm direito a ter a sua casa para louvar a Deus.