Procedure escreveu:Delegar funções ao bel-prazer da contingência? Milton Friedman em Capitalismo e liberdade escreveu algo que sintetiza o meu pensamento a respeito, mais ou menos assim: em uma economia liberal (ou seja, numa onde existe a livre iniciativa, a livre concorrência e seja baseada no contrato voluntáriuo), o empregado está protegido do empregador por existirem outros para quem trabalhar, o empregador está protegido do empregado por ter outros a quem empregar; o consumidor está protegido do vendedor por haver outros de quem comprar, e o vendedor está protegido do consumidor por existirem outros a quem vender.
E, claro, como todo bom texto de divulgação política de uma idéia, a coisa é tão sintetizada que não se tratou nem até que ponto a coisa deve ser tão liberalizada para funcionar.
De qualquer forma, a ecola de Chicago parece apresentar coisas legais.
Procedure escreveu:Não há porque imaginar uma volta aos tempos iniciais da revolução industrial, onde péssimas condições de trabalho eram o que existia. A dinâmica do livre mercado, como dito acima, não permite que um empresário imponha arbitrariamente salários baixos que não condizem com o "mérito" do funcionário e más condições de trabalho.
Bom, não creio que exista nenhuma dinâmica de livre mercado que não resulte em monopólios ou crises de superprodução devido à irracionalização da produção.
Ainda assim, dinâmica de mercado alguma faz com que as situações dos trabalhadores em inúmeros países do mundo deixem de estar péssimas, na velha máxima do "trabalhe pelo que tem ou morra de fome, temos reservas de mão-de-obra". Essa automação do ser, essa busca do lucro, numa visão foucaultiana, que remete inclusive aos primeiros críticos da formação burguesa, é tão imoral que me enoja. Ao menos a social democracia tenta impedir essa maluquice exploratória, daí, tem meu voto.
Procedure escreveu:Sobre a questão da herança, é apenas uma conseqüência do direito à propriedade privada. Posso fazer o que eu quiser com a minha loja, e isso inclui passá-la a meus filhos. Ser contra a herança de bens é ser contra a propriedadde privada, e como considero o sistema baseado na propriedade privada como o mais eficiente na garantia das liberades, se tento intervir na herança de bens estarei intervindo na liberdade. Podemos discutir a relação entre liberdade e propriedade privada, a relação fundamental esquecida pelos socialistas entre liberdade econômica e liberdade política. A primeira pode existir se a segunda, mas a segunda não existe sem a primeira.
Dogma. O próprio berço da democracia advém de estruturas sociais que NUNCA permitiram qualquer liberdade econômica individual.
Quanto à herança, por bem ou por mal, contraria a noção de mérito. Daí, escolham seus lados. Mas eu já sabia que sua resposta seria essa.
Procedure escreveu:(E sobre a especulação, há um ótimo texto do Constantino a respeito: http://rodrigoconstantino.blogspot.com/2007/07/funo-dos-especuladores.html)
Spamta? Fala sério. Volte ao Friedman!
Além do mais, é um texto bem parcial que trata de meia dúzia de funções não confirmadas (ver Singer) por estes "montadores de castelos de cartas". O que eu perguntei, desde o início, é se há qualquer vinculação entre mérito e especulação financeira. Para mim, não.
E, ah, como diria um certo economista, faça uma economia apenas com especuladores. Depois disso, conversamos.
Procedure escreveu:Cabe ao estado intervir onde não há ética por parte de um empresário.
O problema é que eu não sei o que você consideraria antiético neste caso...
Eu não estou falando de ética. E, ética por ética, o sistemão capitalista onde estamos inseridos é profundamente anti-ético.
Procedure escreveu:O que me diz dos tão falados Tigres Asiáticos? Hong Kong por exemplo: uma ilha completamente carente de recursos naturais que se tornou um país altamente desenvolvido graças a um choque liberal: abertura total de mercado a investimentos, ausência de regulações (excesso de direitos trabalhistas e "proteção" ao consumidor, por exemplo) e intervenção na economia?
Aglutinação de investimentos educacionais e subsídios estatais para determinado tipo de serviço. Se o serviço passa a ser mais procurado, zilhões de empresas, buscando a mão-de-obra barata local, investem em produção na região e a população fica feliz e contente pelos empregos e pela grana.
Ao menos foi isso que ocorreu na Índia e na Coréia do Sul, principalmente com os capitalisticamente interessantes "sistemas de informação".
Aí, temos três problemas:
1- É um tiro no escuro. Se a previsão falhasse e esse tipo de serviço, a longo prazo, perdesse valor de mercado, o país estaria tão fudido quanto ou mais, visto que vinculou (quase) toda sua economia àquilo. O Chile até hoje tenta redimensionar sua economia para outra coisa que não seja Cobre, porque vender uvinha e vinhozinho pra hermano latino não dá, né...
2- Qualquer crisezinha que afete a área investida será um inferno astral pra nação, visto que ela não tem uma economia sólida e diversificada. Bem ou mal, economias "terceiromundistas", embora um pouco mais sólidas, como a de Brasil e México, não sofreriam tanto.
3- EU GOSTARIA DE VIVER NA CORÉIA E SER ECONOMISTA, MAS NESSA PORCARIA SÓ TEM CURSO DE TÉCNICO EM INFORMÁTICA!! Basicamente isso, se aquela porra dá grana, pouca gente vai correr pros nichos menos proveitosos.
Entretanto, não há fórmula de bolo para desenvolvimento e/ou subdesenvolvimento. Nem forma de bolo comunista nem forma de bolo liberal. Embora a comunista seja um bocado mais arriscada, perigosa e utópica.
Procedure escreveu:Sairam do nada que eram na década de 50 para serem hoje grandes centros tecnológicos e industriais. São exemplos de países altamente subdesenvolvidos que por sorte resolveram seguir o caminho da não-intenvenção ao estilo socialista.
Vamos liberalizar a África também. Talvez dê certo. Aliás, pra boa parte dos liberais, só parece existir "terceiro mundo" devido aos malignos estatizadores que ganham às custas da pobre população, né? Tsc...
Procedure escreveu:Dê um exemplo do que você consideraria um argumento de liberalismo econômico fundamentalista, para ver se me enquadro.
Hum, vejamos...criminalização dos sindicatos, arrebatamento legal de todos os direitos trabalhistas.
Manda ver!