Quem disse que o racismo parou em Kardec?

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Acauan
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Re: Quem disse que o racismo parou em Kardec?

Mensagem por Acauan »

Benetton escreveu:
Acauan escreveu:
Benetton escreveu:Essa questão de Hitler ser ateu ou religioso é tão polêmica quanto a de Einsten.


HITLER ERA MESMO UM CRISTÃO ?


Mas nem esticando o conceito de "cristão" até limites absurdos poderíamos dizer que Hitler era um.
Quando muito, há evidências de que o ditador tolerava o cristianismo como fator de unidade da civilização e cultura ocidental - se opondo ao judaísmo e comunismo -, enquanto não era substituído pela cultura nazista, que dado sua natureza puramente totalitária intencionava controlar o Homem até o nível espiritual, muito além da simples dominação política.

Desculpe-me voltar e insistir neste ponto, mas gostaria de entender melhor : Isso poderia significar que houve uma forte probabilidade de Hitler, dado à sua psicopatia, ser "O último abencerrage", usar e manipular o cristianismo em prol de seus interesses de dominação, como fez Tony Blair, numa tentativa de apaziguar a altercação com a Irlanda do Norte, e assim escrever seu nome na História da Inglaterra e do mundo? Muitos candidatos a mandatários de nações fazem isso. Não precisamos ir muito longe : Basta lembrar de Fernando Henrique Cardoso que, para se reeleger em 1998, num país de esmagadora maioria Cristã, OMITIU sua condição ateísta. Ou seja, de uma forma ou de outra, ele "manipulou" o Cristianismo em favor de si mesmo.


Bem, primeiro eu dificilmente incluiria Tony Blair, Fernando Henrique e Adolf Hitler na mesma análise comparativa, exceto para colocar os dois primeiros de um lado e o maledeto do outro, oposto e distante, seja lá qual fosse a questão política posta.

Depois, qual o problema com a hipótese de que Blair se converteu sinceramente ao catolicismo, por influência da esposa e interesses familiares?
Meu romancista contemporâneo preferido, o também britânico Graham Greene, fez isto há um tempão e as explicações que deu poderiam ser usadas por qualquer um, até pelo Tony.
Nem tudo na vida é política, mesmo na vida dos políticos.


Benetton escreveu:
Acauan escreveu:Fora isto, acho difícil alguém demonstrar com evidências objetivas que fosse ele ateu ou católico, isto de alguma forma influenciou diretamente Hitler a decidir que conquistaria o poder absoluto na Alemanha, imporia uma ditadura tirânica, conquistaria todos os países a volta e exterminaria ou escravizaria os povos de quem não gostasse.

O que influenciou Hitler, pela sua resposta, independente da condição Cristã ou Não-Cristã, foi tão somente a psicopatia e extrema determinação de tornar a Alemanha uma potencia mundial? Mas para arrigementar e unificar o séquito nazista cada vez maior, não poderia ele, independente de suas convicções íntimas, fazer-se de "cristão de fachada" para facilitar o escopo de dominação?


São duas questões completamente distintas.

Uma é o que influenciou Hitler e outra é como ele influenciou os outros.

As biografias usuais parecem concordar que as convicções de Hitler eram produto da interpretação pessoal de um pacote de idéias que incluía esoterismos antigos, mal e porcamente recontados, os livros de Karl May, um Julio Verne alemão que não deu muito certo, tradicionais preconceitos populares alemães, Nietscheanismo de botequim, as pretensões artísticas do pintor, discurso político revolucionário etc.
Hitler passava longe de quaisquer competências intelectuais refinadas, daí toda esta miscelânea de idéias era fundida no cadinho de sua própria visão de mundo, pra lá de tacanha, resultando em um pastiche ideológico que só podia fazer algum sentido se imposto pela força bruta.

É ai que a psicopatia entra em cena.
Gente normal se esforça para ajustar sua visão de mundo à realidade.
Psicopatas querem ajustar a realidade à sua visão de mundo, agindo com completa e absoluta indiferença a tudo o mais.
Como a maioria dos psicopatas não tem muito poder, suas ações tendem a se restringir a atos criminosos característicos à sua psicopatia particular.

Hitler decidiu primeiro conquistar o poder absoluto para depois dar vazão à sua psicopatia particular, cujos atos criminosos característicos se mostraram proporcionais a ela.
Se para sua visão de mundo fazer sentido era preciso impô-la ao mundo pela força bruta, que fosse.

O problema foi que se em termos intelectuais o führer não diferenciava muito de certo líder latino americano lusófono atual, inegavelmente também era um gênio intuitivo, com inquestionáveis habilidades de convencer tanto as predispostas e ignaras massas plebéias, quanto aristocráticos líderes inimigos – vide o coitado do Chamberlain.

Um maluco completo, com pretensões de reformar o mundo a imagem e semelhança de suas maluquices e com vontade e poder para tanto certamente não ligava a mínima para se alguma vez teve que se fazer de cristão quando isto fazia parte de seus interesses. Esta seria apenas uma dentre a inúmeras manipulações que faria para realizar seus objetivos que, o que é assustador, por muito pouco não logrou realizar.


Benetton escreveu:A laicidade na Alemanha nunca foi sequer considerada antes da segunda guerra mundial. Basta lembrar que os jovens que se formavam nas Escolas Militares alemãs do final do século XIX juravam obediência a Deus e ao Kaiser. Dizer-se ateu, numa condição dessas, seria assinar sua própria derrota política.


Estes formalismos não queriam dizer muita coisa. Havia na Alemanha, como em toda Europa ocidental da época, uma forte influência das doutrinas positivistas e revolucionárias que questionavam todas as tradições e pregavam a necessidade de abandoná-las em prol de um progresso profetizado e redentor, que, obviamente, disputava corações e mentes com a religião. O próprio nazismo bebeu muito desta fonte.

Benetton escreveu: Sabemos perfeitamente que, alguns políticos podem ser ladrões e corruptos, mas burros eles não são. E manipular religiões seria apenas mais uma dentre muitas características que os levam a agir em causa própria.
No nazismo, Adolf Hitler era ocasionalmente comparado com Jesus, ou tido como um Messias enviado por Deus.
Em alguns orfanatos, era habitual esta oração:
"Führer, meu Führer, que me foste enviado por Deus, protege-me e mantém-me vivo por muito tempo.
Salvastes a Alemanha da mais profunda miséria, a ti te devo o meu pão de cada dia
Führer, meu Führer, minha fé, minha luz
Führer meu Führer, não me abandones."


Poewe, Karla Poewe; Irving Hexham, “Jakob Wilhelm Hauer's New Religion and National Socialism”, Journal of Contemporary Religion, Vol. 20, Nº 2, May 2005, pp. 195-215

"O Führer é profundamente religioso, embora completamente anti-Cristão"

Diário de J. Goebbels, 28 de Dezembro de 1939.


Bem, me desculpe por não achar Goebbels uma fonte muito confiável, mas desta vez parece que não há muito o que discutir quanto ao führer ser anticristão.

Note que isto não é uma defesa do cristianismo. Cristãos podem cometer as maiores barbaridades e mesmo assim ser cristãos sinceros. Basta que sejam capazes de reconhecer seus pecados e se arrepender perante uma autoridade moral superior para, espiritualmente purificados, continuar cometendo as mesmas barbaridades.

Mas alguém aqui consegue sequer imaginar um Adolf Hitler se arrependendo perante uma autoridade moral superior?
Nós, Índios.

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Benetton
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Re: Quem disse que o racismo parou em Kardec?

Mensagem por Benetton »

Acauan escreveu:
Depois, qual o problema com a hipótese de que Blair se converteu sinceramente ao catolicismo, por influência da esposa e interesses familiares?
Meu romancista contemporâneo preferido, o também britânico Graham Greene, fez isto há um tempão e as explicações que deu poderiam ser usadas por qualquer um, até pelo Tony.
Nem tudo na vida é política, mesmo na vida dos políticos


Converteu-se sinceramente? O Ex-PM Tony Blair, membro da Igreja Anglicana por vários anos, só se converteu ao final de seu mandato, o que certamente encerra motivos estratégicos e políticos aliados a interesses em conjunto com Bush. Enquanto as tropas britânicas se mantiveram no Iraque, ele não se convertia. Blair, que foi responsável por avanços importantes nas negociações entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte, rendeu-se à conversão, mas que se tomada no governo, poderia trazer problemas que poderiam afetar o processo de paz. Quem deve ter ficado muito contente com esta conversão deve ter sido o IRA, de Belfast.

Ann Widdicombe, ex-ministra de Blair, diz que esta conversão levanta algumas suspeitas : "Se olharmos para as votações de Tony Blair, algumas contra a posição da igreja católica, como por exemplo sobre o aborto, será que isto significa que ele mudou de ideias? "

O U.K nunca teve um primeiro-ministro católico. Mas sempre se esperou que esta conversão de Blair à igreja católica só acontecesse após a sua saída, para evitar conflitos com algumas das atribuições do primeiro-ministro na área da religião, como a nomeação dos bispos da Igreja anglicana. Ou seja, uma "sincera" conversão ao catolicismo, desde que, primeiro, as pretensões políticas e sociorreligiosas fossem integralmente satisfeitas ...







Acauan escreveu:
Um maluco completo, com pretensões de reformar o mundo a imagem e semelhança de suas maluquices e com vontade e poder para tanto certamente não ligava a mínima para se alguma vez teve que se fazer de cristão quando isto fazia parte de seus interesses. Esta seria apenas uma dentre a inúmeras manipulações que faria para realizar seus objetivos que, o que é assustador, por muito pouco não logrou realizar.


Essa argumentação vai de encontro ao que tenho afirmado desde o início, quando disse que possivelmente Hitler usava o Cristianismo para manipular a grande massa de cristãos alemães, fossem eles católicos ou protestantes. Interessante, o Imperador Constantino, há dezenas de séculos atrás, agiu de forma muito semelhante para atingir seus objetivos, quando converteu-se ao Cristianismo para fortalecer seu Império que crescia à medida que a "Religião do Carpinteiro" aumentava descontroladamente no seio da plebe. Dai surgiu oficialmente, a Igreja Católica Apostólica Romana, por volta do ano 300, no Concílio de Nicéia.







Acauan escreveu: Estes formalismos não queriam dizer muita coisa. Havia na Alemanha, como em toda Europa ocidental da época, uma forte influência das doutrinas positivistas e revolucionárias que questionavam todas as tradições e pregavam a necessidade de abandoná-las em prol de um progresso profetizado e redentor, que, obviamente, disputava corações e mentes com a religião. O próprio nazismo bebeu muito desta fonte.

A “secularização” pode ser empregada em sentidos diversos, mas duas abordagens específicas podem nos interessar, no assunto sob análise. Uma, de caráter histórico e cultural, exige a ruptura definitiva com a instituição eclesiástica. Acho que foi isso que Você abordou.

A outra está relacionada ao movimento dos Deutsches Christensen. A fim de secularizar a igreja e popularizar o cristianismo na Alemanha, a Igreja Evangélica Alemã aliou-se ao nazismo, vindo a apoiar Hitler quando este assumiu o poder, em 1933. As suásticas então compartilhavam do altar, e os cristãos seculares viram Hitler como um verdadeiro "profeta" para restaurar o cristianismo e a religiosidade dos alemães. O povo clamava por Cristianismo e Hitler sabia disso e tratou logo de usar esse handcap a seu favor e com reconhecida maestria.

Nesta conjuntura, entendo que a “secularização” como um movimento cristão, procurava cristianizar a sociedade, em sentido oposto às doutrinas positivistas e revolucionárias, valendo-se para isto, dos princípios éticos e morais da mesma. Enquanto o movimento do século XIX procurava afastar a igreja do Estado, a Igreja Alemã tencionava incorporar ao Estado à religião, mas seguindo os fundamentos da sociedade e seus costumes, ao invés dos fundamentos bíblicos.







Acauan escreveu: Note que isto não é uma defesa do cristianismo. Cristãos podem cometer as maiores barbaridades e mesmo assim ser cristãos sinceros. Basta que sejam capazes de reconhecer seus pecados e se arrepender perante uma autoridade moral superior para, espiritualmente purificados, continuar cometendo as mesmas barbaridades.

Mas alguém aqui consegue sequer imaginar um Adolf Hitler se arrependendo perante uma autoridade moral superior?

Mas é essa face obscura do Cristianismo que favorecia Hitler em seus objetivos. Raposa que era, não foi difícil aliar a histórica barbárie Cristã, que imperou por séculos, à sua sede de domínio e à custa de milhões de vidas. Essa fase negra do chamado "Cristianismo católico" caiu como uma luva às suas pretensões de domínio. Realmente, imaginar Hitler com cara de cristão arrependido, é ser pretensioso demais no bojo das alegações de que ele era um "fiel temente a Deus" ...

" Duvidar de tudo ou acreditar em tudo são duas soluções igualmente cômodas : Ambas nos dispensam do trabalho de pensar. "

Jules Henri Poincare - Físico e Matemático Francês.

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"Sempre que possivel, converse com um saco de cimento. Nessa vida só devemos acreditar no que é concreto."

Autor Desconhecido.


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