Lula diz que Chávez foi democrático ao não renovar ...

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spink
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Mensagem por spink »

É melhor reproduzir a entrevista completa, para não ficar um "manchetismo".

FOLHA - O sr. disse a Chávez que o Senado brasileiro o defendeu quando houve o golpe contra ele?
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA - Não conversei com o Chávez depois. Certamente devemos nos encontrar no Paraguai, no dia 27 ou 28. Nesses quatro anos de mandato, já vi muitas brigas entre países latino-americanos. E eu tenho comentado com eles que precisamos tomar cuidado com o discurso porque às vezes a radicalização verbal atrapalha muita coisa. Você dá uma declaração num lugar e, dependendo do interesse local, a imprensa dá uma manchete e cria-se uma animosidade nacional numa coisa que não precisaria. A nota que o Senado brasileiro fez em relação à televisão do Chávez é uma nota branda. É um apelo, não tem nenhuma agressão. Agora como é que chegou a ele, eu não sei.

FOLHA - Pouco antes da primeira posse, o sr. enviou Marco Aurélio Garcia à Venezuela, para ajudar a diluir uma crise que poderia até desembocar em outro golpe, com apoio claro da mídia local. Portanto, para ajudar, a soberania [alegada para não criticar a cassação da RCTV] não é tão "imexível". Mas, na hora de criticar, o sr. parece ter medo de criticar Chávez, talvez por temer um destempero dele.
LULA - Isso está resolvido na nota. Eu já viajei do Brasil para a Colômbia para evitar um conflito entre o Chávez e o [Álvaro] Uribe [presidente da Colômbia] por conta dessas coisas verbais. Já vi o Chávez e o Lagos ficarem atritados por causa de coisa verbal. Não acho que o Brasil tenha que se portar assim. Eu quero sentar direitinho, conversar, encontrar as palavras certas para falar as coisas.

FOLHA - Inclusive a questão da TV o sr. falaria para ele?
LULA - Eu falo o que faria no Brasil. Eu acho que não dá para ideologizar essa questão da televisão. O mesmo Estado que dá uma concessão é o Estado que pode não dar a concessão. O Chávez teria praticado uma violência se tivesse, após o fracasso do golpe, feito a intervenção na televisão. Não fez. Esperou vencer a concessão. No Brasil vencem concessões sempre e que passam pelo Senado para que haja renovação. Nos Estados Unidos, há concessões. Algumas são renovadas. Vai da visão que cada presidente tem da situação.

FOLHA - Quando o sr. diz que no Brasil a relação é democrática e consolidada, a inferência possível é que, na Venezuela, apesar de tecnicamente estar tudo nos conformes, não é democrático...
LULA - O fato de ele não renovar a concessão é tão democrático quanto dar [a concessão]. Não sei porque a diferença entre dois atos democráticos. A diferença com o Brasil é que conseguimos colocar na Constituição que isso passa pelo Congresso. Não é uma decisão unilateral do presidente. Lá é. Faz parte da democracia deles. Agora o que acho engraçado é que você pega um cara como o [Gustavo] Cisneros [dono de um dos mais importantes grupos de mídia da Venezuela e da América Latina], que era tido como o maior inimigo do Chávez, está de acordo.

FOLHA - Mas aí é que está o problema: venceram ambas as concessões, mas a do Cisneros foi renovada, o que torna claro que foi uma resposta política, embora os argumentos formais possam ser corretos.
LULA - Não sei qual foi o critério que ele adotou para dar as concessões. O dado concreto é que ele utilizou a legislação que vigora no país e tomou essa decisão. Por que eu, presidente do Brasil, vou ficar dizendo se ele fez certo ou errado. Quem tem que julgar isso é o povo da Venezuela, não sou eu.



CRISE DE 2002
Lula talvez minimize a força que pode ter sobre Chávez. A crise do fim de 2002, meses após o golpe de curta duração de abril, foi diluída graças à criação do chamado "Grupo de Amigos da Venezuela", uma invenção do brasileiro.
Durante a posse de Lúcio Gutiérrez no Equador, Lula chamou Chávez e disse que o grupo deveria forçosamente incluir países como Estados Unidos e Espanha, que haviam apoiado o golpe contra Chávez.
O presidente venezuelano teve que viajar para Nova York antes de definido o grupo. Foi então a vez de Fidel Castro descer à suite de Lula para reclamar que, com essa composição, o grupo levaria à destruição da Venezuela, porque os inimigos de Chávez tomariam conta.
Lula argumentou que o grupo não era de amigos de Chávez, mas da democracia venezuelana, o que só poderia funcionar se houvesse nele países que a oposição tinha como referência. Fidel não gostou, mas Lula insistiu com Chávez, convocado a Brasília. O presidente da Venezuela disse que não estava de acordo mas aceitava assim mesmo a proposta. A crise morreu, em parte pela ação do grupo. Resta saber, no entanto, se Chávez aceitaria gestões do gênero agora que está forte.
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

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spink
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Re.: Lula diz que Chávez foi democrático ao não renovar ...

Mensagem por spink »

"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

Apocaliptica

Re.: Lula diz que Chávez foi democrático ao não renovar ...

Mensagem por Apocaliptica »

Obrigada, Carlos. :emoticon1:


Não é uma decisão unilateral do presidente. Lá é. Faz parte da democracia deles.


Mas claro, cada um inventa a sua democracia, assim como se mudam as leis, se muda a interpretação delas e se muda o sentido da democracia, ora legitimado pela opressão da lei, ora pela opressão ideológica do povo.

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spink
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Re.: Lula diz que Chávez foi democrático ao não renovar ...

Mensagem por spink »

De nada; você merece. :emoticon16:
"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma." (Joseph Pulitzer).

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Fernando Silva
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Re.: Lula diz que Chávez foi democrático ao não renovar ...

Mensagem por Fernando Silva »

"O Globo" 11/06/07

A via ocidental
DENIS LERRER ROSENFIELD

Há “excesso de democracia” na Venezuela, diz o presidente Lula, no que é seguido por seus assessores. Talvez haja excesso em suas palavras.
Não há perigo, assevera ele. O perigo é relativo, sobretudo considerando a concentração de poderes em mãos de Chávez, que segue em seu projeto de instalar o socialismo, o autoritarismo, naquele país.

O PT não poderia ficar atrás neste “momento histórico”, ao proclamar que tudo se faz segundo os “trâmites da legislação”, justificando, mediante o fechamento da rede RCTV, o sufocamento da liberdade de imprensa. Tudo é feito “democraticamente”, “legalmente”, mas com quais democracia e legalidade estamos lidando? Os equívocos na caracterização da experiência venezuelana residem na identificação, indevida, entre Revolução socialista e uso da violência enquanto forma de conquista do poder.

O socialismo foi tomado como sinônimo de um golpe militar ao estilo da tomada do Palácio de Inverno pelos bolcheviques na Rússia, da guerra civil na China ou dos assaltos a quartéis por Fidel Castro e Guevara, em Cuba. É como se não houvesse um outro meio de conquista do Estado, voltando-o, aí, contra a sociedade.

Há, porém, uma outra via, a “democrática”, de acesso socialista ao poder. Chamemos a primeira, a via “oriental” e, a segunda, a via “ocidental” .

A via oriental se caracteriza pelo uso da violência, com um partido de vanguarda, centralizado, que segue as ordens de uma cúpula. A democracia é considerada como uma superestrutura que deve ser eliminada, por ser um mero instrumento de dominação da burguesia. A hierarquia partidária, cujo exemplo mais acabado é o partido bolchevique, organiza os seus militantes segundo uma férrea disciplina, não deixando espaço para a crítica ou a reflexão pessoal.

Com tal propósito, era necessário que uma ideologia suscitasse a adesão completa dos seus membros. O marxismo e o marxismo-leninismo, ao prometerem uma sociedade socialista, a redenção da Humanidade, preenchiam essa função. Até hoje, observamos que o socialismo é dotado de uma aura, enquanto os seus críticos são considerados como “hereges”, “imorais”, quase inumanos.

A via ocidental de conquista do poder prescinde da violência explícita, utilizando os meios democráticos para a captura do Estado e o controle da sociedade.

Não podemos, no entanto, nos equivocar com a questão central: os meios democráticos são usados para destruir a própria democracia. Experiências desse tipo foram utilizadas na antiga Tchecoslováquia, onde a conquista do poder foi feita através de eleições. Hitler, numa outra vertente, chegou democraticamente ao poder, para destruir a democracia. Gramsci, por sua vez, teorizou sobre a conquista da opinião pública, mediante o aparelhamento de escolas, universidades e redações de jornais enquanto meio de conquista do poder.

Trata-se de um erro crasso identificar a democracia à realização de eleições. Eleições são uma condição da democracia, porém não a esgotam.

Há outras condições tão ou mais importantes. Para que uma democracia se efetive é necessário: a) criar e manter condições para que a oposição, em minoria, possa chegar, por sua vez, ao poder; b) o respeito às leis, que não podem ser mudadas segundo o bel-prazer dos governantes; c) ampla liberdade de opinião, de organização e de manifestação; d) independência dos poderes, de tal maneira que haja um equilíbrio institucional; e) autonomia dos meios de comunicação, que não devem ser controlados e monitorados pelo Estado.

O que faz o ditadorpresidente da Venezuela? Ele: a) restringe, cada vez mais, o espaço das oposições, passando, progressivamente, a criminalizá-las por exercer a sua função; b) destrói o estado de direito.

O ditador-presidente passa a governar por lei-delegada, tornandose ele mesmo o Poder Legislativo; c) sufoca a liberdade de opinião, surgindo o crime de delito de opinião, como o de falar mal do ditador-presidente ou de seus familiares; d) elimina a autonomia dos poderes Legislativo e Judiciário, que passam a seguir as ordens do ditadorpresidente; e) controla os meios de comunicação; alguns são estatizados, de modo que as vozes discordantes se calem.

Não deve, portanto, estranhar a sedução que esse projeto exerce sobre o PT, o PSOL, o MST, a CUT, a CPT e outras organizações. Não há perigo ?

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Fedidovisk
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Mensagem por Fedidovisk »

DarkWings escreveu:o nome já diz CONCESSÃO. O estado concede ou não o canal a alguém. Chavez pode ser um falastrão mas fez tudo dentro da lei dessa vez. Não tem nada de anti-democrático em não renovar uma concessão. Aliás, aqui no Brasil seria interessante rever algumas concessões, como a da Record por exemplo, que usa um canal concedido pelo estado para fazer propaganda ilegal religiosa.


Democrático uma população exigir pacificamente que o seu representante atenda a vontade da maioria do povo e esse autoritariamente reprime usando por vezes a violência....

Aquele velho ditado... Posso não concordar uma palavra com o que diz, mas defenderei até a morte o direito de dize-la.

Assiste quem quer, o maximo que o governo pode fazer e implementar canais mais educativos e não retirar os que ele julga prejudiciais (isso pq prejudicial aqui no Brasil é quem critíca o governo).

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Aranha
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Re.: Lula diz que Chávez foi democrático ao não renovar ...

Mensagem por Aranha »

- Chavez fechou dois institutos que divulgaram pesquisas que concluíam que a popularidade baixou por causa do fechamento da RCTV.

- Isso demonstra claramente que Chavez é um ditador autoritário da pior espécie e dias negros virão para a Venezuela.

Abraços,
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Ben Parker

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RicardoVitor
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Mensagem por RicardoVitor »

Que isso, o presidente Hugo Chávez não pode ser um ditador, pois ele foi eleito democraticamente, escolhido pelo povo. Tudo isso é excesso de barulho da elite branca de extrema-direita néoliberal entreguista, inimiga do povo e da justiça social. A Venezuela é uma das únicas democracias remanescentes no mundo, junto com os outros países socialistas, como Coréia do Norte.
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