Fernando escreveu: Rés,
Eu confesso que ainda não sei como dar conta do problema. Mas eu sei que existe uma discussão datada sobre o assunto. Ela se encontra na correspondência de Leibniz e Espinosa. O problema se desloca pra Deus. Se Deus é onisciente, ele possui livre-arbítrio?
O primeiro defende que Deus, sendo onisciente, tem livre-arbítrio pois a sua onisciência faz com que todos os mundos possíveis se apresentem diante de si e que através disso possa escolher o melhor dos mundos possíveis. Já para o Espinosa, Deus não escolhe, mas faz o melhor. Isso ocorre pois para ele o juízo não é o resultado de um arbítrio mas de uma necessidade da razão. Visto que a razão nos mostra pq uma coisa é assim e não pode ser de outro jeito.
Espinosa diria que se Deus faz SEMPRE o melhor, então ele não pode escolher o pior, pois esta é uma necessidade da razão. Leibniz responderia que o melhor é melhor por comparação, e que portanto se Deus não pudesse conhecer as opções de forma que pudesse escolher por cada uma delas, não poderia saber qual é a melhor. Enfim. É um duelo de titãs, e, infelizmente, os textos estão em latim, e o meu latim ainda é muito arcaico pra encarar.
Por isso eu simplesmente digo que não sei. E não estou querendo provar nada, mas apenas discutir o tema em questão.
Mas se eu vejo algum erro possível na forma que vc está investigando o problema, é que está sendo muito unilateral, de forma a só conceber o livre-arbítrio como ilusão. Isso, talvez, impeça vc de compreender a hipótese contrária, que também pode ser verdadeira. Ou mesmo de superar as duas numa nova hipótese.
Gostaria de especular um pouco a respeito do livre arbítrio de Deus.
Acredito que se o livre arbítrio for conceituado e entendido como auto determinaçâo da própria conduta por agentes racionais o problema perde muito da sua força.Em suma,se Deus é onisciente e faz sempre o melhor porque esta é uma necessidade da Razâo e no entanto ao mesmo tempo Ele se determina livremente a agir,logo Ele é livre.
Mas como Ele poderia conciliar estes atributos?Eu penso que por ocasiâo de uma convergência entre vontade e natureza o atrito desaparece,ou seja,Deus nâo pode ser diferente do que é e nem deseja ser diferente do que é.
Logo Ele nâo tem liberdade em atuar de modo diferente e entretanto esta é a manifestaçâo da sua própria Vontade.
Deste modo a privaçâo de liberdade ontológica em Deus se consitui paradoxalmente no cumprimento do próprio Livre Arbítrio.