06/03/2009
Arcebispo em PE defende excomunhão e diz que aborto é crime mais grave que estuproMARINA NOVAES, da Folha Online O arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, afirmou nesta sexta-feira que
o suspeito de ter estuprado uma menina de 9 anos em Alagoinha (a 230 km de Recife) não deve ser excomungado pela Igreja Católica. Grávida de gêmeos, a vítima foi submetida a uma cirurgia para interromper a gravidez na última quarta-feira (4). Após o aborto, médicos que participaram do procedimento e a mãe da menina foram excomungados.
O padrasto, que foi preso sob suspeita de ter estuprado a menina,
confessou à polícia que abusava sexualmente dela e da irmã mais velha, de 14 anos, que possui problemas mentais, há cerca de três anos, afirma a polícia. De acordo com o religioso, no entanto, para a Igreja Católica, o aborto é um "crime mais grave que o estupro".
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Não, absolutamente não [o padrasto não deve ser excomungado da Igreja Católica]. Não fui eu que excomunguei as pessoas envolvidas com o aborto. O aborto é um crime que está previsto nas leis da Igreja, no código aprovado pelo papa. Essa é a penalidade da Igreja", afirmou Sobrinho, em entrevista à Folha Online.
"Quem cometer estupro está cometendo um pecado gravíssimo, aqueles que cometem assaltos também, estão cometendo pecados gravíssimos, e a Igreja também os condena. Mas, para estes pecados, a Igreja não prevê a excomunhão", disse. "Quem cometeu o aborto é um crime mais grave ainda, porque é tirar a vida de alguém inocente, indefeso."
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Segundo os médicos que atenderam a vítima, a menina poderia morrer caso a gravidez não fosse interrompida. Para o arcebispo, os médicos deveriam ter se "esforçado" para garantir que ela não perdesse a vida --sem que a gestação fosse interrompida.
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O quinto mandamento da Igreja é não matar. Então, neste caso em que a mãe, a menina, estava correndo risco gravíssimo de perder a vida, a Igreja diz: deve se fazer todo o esforço possível para salvar a vida desta menina grávida. Mas não se pode, para atender a essa finalidade, eliminar a vida de outros, duas vidas inocentes. Os fins não justificam os meios", disse.
Em entrevista publicada hoje na Folha, o médico Rivaldo Mendes de Albuquerque disse que o religioso não foi "misericordioso" com a menina.
"Tenho pena do nosso arcebispo, que não conseguiu ser misericordioso com o sofrimento de uma criança inocente, desnutrida, franzina, em risco de vida, que sofre violência desde os seus seis anos", afirmou o médico responsável pela cirurgia.
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De acordo com o arcebispo, caso os médicos e a mãe da menina mostrem "arrependimento" em relação ao aborto e peçam perdão, eles podem ser aceitos novamente na Igreja. "A excomunhão é uma censura medicinal, do ponto de vista espiritual. E nós desejamos muito que eles [os médicos e a mãe] voltem o quanto antes", disse.
Apesar da polêmica, Sobrinho diz que os fiéis "aplaudiram a decisão", também apoiada, segundo o religioso, pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). A assessoria da CNBB afirmou que o órgão não se pronunciará sobre o assunto por enquanto.
Em reportagem publicada hoje pelo jornal italiano "Corriere della Sera",
o chefe do departamento do Conselho Pontifício para a Família, do Vaticano, Gianfranco Grieco, afirmou que a decisão da Arquidiocese de Olinda e Recife foi correta.
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É muito, muito delicado, mas a Igreja nunca pode trair o seu anúncio, que é defender a vida desde a concepção até a morte natural, mesmo em face de um drama humano tão forte como o da violência de uma criança", disse Grieco.
Da
Folha Online.