user f.k.a. Cabeção escreveu:
A maior parte da atividade sindical não me parece diferente da subversão e do crime organizado. Contudo, não sou contra o direito dos trabalhadores de se organizarem em comitês para ganharem massa para negociar com os empregadores.
Essa é fundamentalmente uma boa idéia e plenamente capitalista.
A diferença é que eu sou a favor da versão onde isso é feito com justiça, ou seja, da mesma forma que um cidadão pode entrar em greve, o empregador pode "entrar em greve" também, e suspender o seu salário e colocar alguém no seu lugar, sem pagar-lhe um tostão por isso.
E concordo, não se criam empregos facilitando o desemprego. Mas facilitando a realização dos contratos de trabalho sim. Quanto menos um trabalhador custar em encargos legais e trabalhistas para o seu empregador, mais interessante paracerá para esse último criar mais empregos. E quem deve temer ser demitido são apenas os incompetentes e preguiçosos que seriam ameaçados por tal lei e perderiam as facilidades de seus empregos garantidos.
O que se vê na França é a típica síndrome da criança estragada, que deve ser evitada a todo custo, por ser praticamente de caráter irreversível, quando incide sobre uma nação, e causa estragos diversos.
Samael, a falha no argumento de Marx está na própria refutação pretendida ao que Smith dizia.
Marx, de forma bastante simplória, se esquece da divisão do trabalho como fator de extrema importância no aumento da capacidade produtiva. Ainda que um artesão guarde todo lucro para si e um tanto para os impostos do rei, ele pode produzir proporcionalmente muito menos, e por isso ganhar muito menos, do que um operário assalariado ou jornalista que numa manufatura ocupe determinado setor na divisão de trabalho que compõe a confecção de um prego.
Assim, um operário de fábrica tem a sua carga de trabalho sobre a confecção do prego extremamente reduzida, e essa redução só ocorre em virtude do emprego do capital na composição daquela divisão de trabalho, onde cada um se encarrega de vender sua parcela da produção pelo valor de mercado do seu trabalho, mesmo que isso signifique uma produção em virtude do uso de máquinas e da especialização das tarefas acarrete num volume imensamente maior do que aquela da qual é responsável o artesão solitário.
Pense um pouco, se a vida de operário fosse injusto, todos seriam artesãos. As melhoras na produção que só o investimento de capital pode realizar são de caráter muito mais relevante do que a mera absorção da mais valia, conforme dizia Marx.
O fato é que o trabalhador não seria produtivo sem o capital, e o capital não existiria sem o trabalhador, e nessa troca mútua, ambos, operário e capitalista, estão bem melhores do que o pobre artesão e os seus meros 500 pregos diários de péssima qualidade.
As transformações que o capital insere na estrutura do trabalho são muito mais relevantes na composição do lucro capitalista do que a exploração do trabalhador, Samael.
1- Quanto ao sindicalismo: se for feito isto que você alcunha "justiça", todo o movimento operário fica à mercê dos capitalistas. Pois se eu realizar uma greve em reclamação de algo, sou despedido e passo fome. Essas suas "medidas" apenas anulam qualquer função na luta política direta.
2- Quanto utopismo! As demissões em massa de uma empresa que vise cortar custos visam apenas os "preguiçosos"? As demissões mais se baseiam em lógica de "cortar despesas" do que em "punição pela preguiça". O que ocorre na França é um Estado em crise (não analisei de perto para ver se é uma crise de cunho capitalista liberal ou de inchamento do Estado) e um governo que tenta combater o desemprego criando formas de de se demitir sem maiores custos à empresa. Dá no que dá. Lá existe luta política, ninguém fica em casa.
3- Quanto à Marx: O que você descreveu como falha no argumento do barbudo está plenamente descrito na "Crítica à economia política" e no próprio "Capital". O sistema capitalista potencializa as formas de produção, mesmo que para isso desaproprie o trabalhador de seus meios de produção e o aliene do produto final (em boa parte das vezes). Não está em questão na obra de Marx se os trabalhadores vivem melhor tendo para si os meios de produção num sistema artesanal ou se expropriados num sistema capitalista: o que está em foco é que, apesar de nitidamente superior aos modos de produção anteriores, o capitalismo AINDA apresente limitações fulcrais. A minha discosrdância de Marx é simples: eu não creio que essas falhas possam ser superadas, ele, pelo visto, acreditava.
6- O problema central que TODOS (sem exceção) historiadores da economia que eu li até hoje abordam e que os liberais, não sei porque motivo, omitem: as crises capitalistas segume gráficos quase que constantes. Normalmente, com o desenvolvimento capitalista de uma série de empresas, as classes médias e altas se suprem da mercadoria gerada e o mercado sofre uma crise de superprodução, alterando minimamente os produtos e gerando facilidades quase que mensalmente tentando forçar a troca dos produtos (o caso dos celulares no Brasil atualmente). Além do quê, existe a questão das poupanças, que travam capital que poderia ser reinvestido no mercado gerando riqueza. Com a aproximação da crise, pode-se queimar tais "estoques" de capital e gerar um reaquecimento econômico também, mas esse é outro caso.
Muitos estados, entretanto, combatem esse problema com a exportação, pura e simples: produzimos demais? Vamos vender lá fora. E essa produção capitalista fora do mercado nacional ajuda a girar novamente o motor de crescimento da nação exportadora, agora às custas da nação importadora. Existem, obviamente, vantagens aos importadores (e desvantagens também), mas isso viria a calhar em outra discussão.
Abraços, Cabeça.