RCAdeBH escreveu:1: Porque existo?
2: Para que existo?
3: porque existem mendigos e doentes enquanto eu tenho todo conforto?
4: Se voce respondeu "sorte" na questão acima, porque eu tenho mais sorte que os outros?
5: porque existe tanta diversidade de personalidades entre os seres humanos enquanto nos animais nao é bem assim?
6: se eu matar, roubar, e etc vou ter a mesma recompensa que os outros quando morrer? Isso seria justo?
7: se eu sou ateu, porque deixaria viver um suposto filho paralítico ou débil mental que pudesse ter? Nao seria mais facil mata-lo?
Saudações!
1 - Porque uma série de eventos físicos aconteceu de modo a gerar a sua existência. Se você perguntar como tal série ocorreu, a resposta é que ela decorre da ação das leis da natureza. Se você perguntar como surgiram as leis da natureza, a resposta que eu te darei será na forma de uma outra pergunta: "Como você sabe que as leis da natureza surgiram e não são eternas?!". Os Físicos atualmente não sabem o que aconteceu ao certo no passado remoto do universo, embora tenham algumas idéias, suspeitas e até mesmo alguns poucos fatos solidamente embasados. Mas existem muitos problemas em aberto. Por exemplo, a nossa teoria
mainstream de Gravitação, a Relatividade Geral (que é uma teoria clássica de campos e, portanto, não muito adequada, em sua forma atual, à investigação de cenários realistas num universo primordial que se encontrava ainda sobre um domínio da realidade onde os efeitos quânticos não podiam ser negligenciados), acoplada a alguns pressupostos que fazem emergir a Cosmologia moderna, nos leva a um cenário, no mínimo, desolador: se nossas teorias estiverem corretas (ainda que incompletas, o que é fato, já que não temos uma teoria quântica para a Gravitação bem estabelecida), com a previsão de que apenas 5% da matéria do universo é formada por matéria bariônica e o resto, por energia e matéria escuras, o que temos é um estado de quase completa ignorância acerca da estrutura do universo, já que não sabemos nada acerca de matéria e energia escuras (ou seja, conhecemos bem apenas as propriedades de 5% da matéria do universo). Por outro lado, se essa previsão é apenas um equívoco colocado para tentar compatibilizar as previsões teóricas da Cosmologia com os dados observacionais, o que vemos é que as bases da Cosmologia moderna são extremamente capengas. De uma forma ou de outra, é óbvio o fato de que sabemos muito pouco sobre o universo e que ainda há muito a ser estudado. Uma pergunta da magnitude de: "As leis da Física são eternas ou não?!", se constitui num extraordinário desafio intelectual que não será resolvido a curto ou médio prazo. Talvez não possa mesmo ser resolvido. O universo é eterno (e cíclico, obviamente, já que o estado estacionário não é compatível com os dados observacionais)?! Não sabemos. As leis da Física são eternas?! Sabemos menos ainda. No caso de terem tido um início, como tais leis emergiram?! Não temos a menor idéia.
2 - A princípio, para nada. Contudo, é possível que cada ente em particular elabore para si próprio metas a serem alcançadas.
3 - Basicamente pela mesma razão exposta no item 1.
4 - A minha resposta foi outra.
5 - Eu tenho 8 gatos e posso te dizer que alguns deles apresentam personalidades bastante discrepantes. Mas julgo que esta questão seria melhor abordada por um biólogo ou por um neurocientista do que por mim.
6 - Que recompensa?! Quando você morre, não há recompensa alguma, pois sua consciência finda com a morte do cérebro, de modo que não há mais um ente consciente para receber recompensas, punições, etc. A não ser que você acredite em sobrevivência
post-mortem, o que é um tópico de longa discussão. Quanto a ser justo ou não, devo dizer que justiça é um conceito humano e não algo inerente à estrutura do universo. Não existe nenhuma lei Física que diga que o universo deva se comportar de modo justo ou não (seja lá qual conceito de justiça esteja sendo utilizado). Assim, o juízo de valor acerca desta ou daquela questão fica por conta de cada um, sendo que as leis da Física não levam em conta tais julgamentos.
7 - Isso depende de cada um e de cada caso. Em primeiro lugar, vivemos num ESTADO DE DIREITO, de modo que um motivo para não se matar um filho deficiente é a punição prevista em lei para assassinatos. Isso é basicamente um agente intimidador e desmotivador de ações danosas a terceiros (além de um agente corretor e punidor também). Análogo ao papel que Deus desempenha para alguns religiosos, só que o Estado não é um ente metafísico. Outro motivo é que, em geral, a deficiência física ou mental da prole não é razão suficiente para que os progenitores deixem de ter apreço pela mesma. Se existe uma relação afetiva entre a prole e os progenitores, não há razão, em princípio, para que os progenitores assassinem a prole. Outro ponto relevante a ser colocado é que, ao contrário do que muitos pensam, os princípios morais de ateus e muitos dos diferentes religiosos não são tão diferentes quanto alguns poderiam supor a princípio. Muito embora grande parte dos religiosos julguem que tais princípios tenham sido colocados por uma entidade superior (Deus ou Deuses) - embora não todos, como é o caso dos budistas, que possuem um código moral elegante e são ateístas - e, no caso dos ateus, tais princípios seriam atingidos através meramente da razão (e não por revelação), os princípios em si não são muito divergentes.