Geri Smith
Valor Econômico
26/6/2007
Com os preços do petróleo altos como estão, você poderia pensar que a Petróleos Mexicanos (Pemex), a estatal mexicana do petróleo, está nadando em dinheiro. Mas ela perdeu dinheiro em cinco dos últimos seis anos e teve um lucro líquido de apenas US$ 3,9 bilhões em 2006, sobre vendas recordes de US$ 97 bilhões. Por quê? Porque teve que transferir quase US$ 54 bilhões em impostos e royalties para o Tesouro Nacional no período, respondendo por quase 40% das receitas do governo.
A Pemex é a galinha dos ovos de ouro do México. Os políticos estão tão acostumados com o fluxo firme de dinheiro que sai da companhia que nunca se esforçaram para cortar os gastos do governo ou realizar uma grande reforma tributária. Agora, depois de anos de poucos investimentos em exploração, a Pemex assiste impassível a produção de seu maior campo petrolífero, de Cantarell, cair 20% ao ano. Às taxas de produção atuais, as reservas de petróleo do México vão durar menos de 10 anos, o que significa que o sexto maior país produtor de petróleo do mundo corre o risco de se tornar importador.
Os problemas da Pemex contrastam com a situação no Brasil. Na ocasião da crise do petróleo da década de 1970, o Brasil importava todo o seu petróleo bruto e a economia chegou à beira de um colapso. Desde então, a Petrobras vem sendo administrada com um zelo missionário, o que levou o país a ser auto-suficiente em petróleo no ano passado. Os depósitos mais ricos estão fora do continente, em profundidades que nem as grandes multinacionais do petróleo ousaram chegar. Mas os engenheiros da Petrobras desenvolveram técnicas inovadoras e equipamentos que permitiram bombear petróleo bruto de profundidades que chegam a 2.000 metros - um recorde na época e ainda hoje entre as operações subaquáticas mais profundas realizadas no mundo. Para ajudar a bancar esse esforço, os líderes políticos brasileiros lançaram ações da Petrobras na bolsa de Nova York em 2000, captando US$ 4,1 bilhões e mantendo 56% do capital votante sob o controle do governo. Os investidores foram recompensados: desde então, o preço da ação quadruplicou.
Duas companhias estatais, duas histórias diferentes. A Pemex e a Petrobras são um exemplo clássico do que os economistas chamam de "maldição do petróleo", que aflige certos países. Eles são tão agraciados com esse valioso recurso mineral que se tornam complacentes - e dependentes dele. O México, que nacionalizou sua indústria petrolífera em 1938, passou décadas "administrando a abundância", conforme já disse um ex-presidente, com pouco planejamento para o futuro. O resultado: segundo estimativas, a produção poderá cair para 2 milhões de barris/dia até 2012, de um pico de 3,8 milhões de barris/dia em 2004. A Petrobras começou do zero em 1954, bombeando apenas 2,7 mil barris de petróleo por dia. Hoje ela produz 1,9 milhão. "A Pemex é como um cachorro bem alimentado que nunca precisou sair em busca da próxima refeição", diz John Albuquerque Forman, consultor brasileiro especializado no setor de energia. "A Petrobras é aquele cachorro magro que precisa revirar latas de lixo para sobreviver."
Agora a Pemex está recorrendo ao cachorro faminto em busca de ajuda. Com 60% de suas reservas em águas profundas, o México precisa do conhecimento da Petrobras. As companhias assinaram amplo acordo de cooperação no ano passado, que poderá dar uma "mãozinha" à Pemex. "A situação no México é desesperadora - eles estão perdendo suas reservas rapidamente", afirma Guilherme Estrella, diretor de exploração e produção da Petrobras.
Melhorar o destino da Pemex é importante não só para o México, mas também para os Estados Unidos, que compram 14% do petróleo que importam do seu vizinho. Com o presidente da Venezuela Hugo Chávez ameaçando reduzir os embarques de petróleo para os EUA, a última coisa que Washington precisa é que a fonte mexicana seque. "Enfrentamos um desafio urgente de aproveitar nossas reservas, especialmente as de águas profundas, porque o futuro do petróleo do país depende disso", disse o presidente mexicano Felipe Calderón a funcionários da Pemex em março, em uma visita a uma plataforma de petróleo offshore.
Membros do governo mexicano vêm tentando reorganizar a Pemex há anos, mas os progressos estão sendo lentos. Alguns políticos já sugeriram lançar ações da empresa no mercado para financiar as reformas na antiquada instituição que emprega quase 150 mil pessoas, mas as dívidas de US$ 53,4 bilhões da companhia seriam um obstáculo. "A tragédia da Pemex é que ela não é uma companhia - é uma burocracia distorcida", diz David Shields, escritor da Cidade do México que já escreveu dois livros sobre a Pemex.
Uma maneira possível de estimular as mudanças - maior competição - não vai acontecer porque a constituição mexicana impede a iniciativa privada de investir em petróleo. E o sentimento nacionalista torna praticamente impossível remover essa proibição, já que os linha-duras temem que possa ser um esforço disfarçado para privatizar a Pemex. Há um consenso crescente sobre a necessidade da reforma tributária para reduzir o endividamento da companhia, embora um acordo possa demorar anos. "Estaremos alertas para quaisquer iniciativas de abrir a Pemex aos investidores privados", diz Manuel Bartlett, um influente ex-senador.
A Pemex não está aguardando o poder legislativo agir. Ela espera enviar engenheiros para observar as operações do Brasil em suas plataformas de exploração em águas profundas. "Nós finalmente acordamos e percebemos que precisamos lutar com isso", diz o diretor de exploração da Pemex, Carlos A. Morales Gil. Mas o que a Pemex realmente precisa é de uma joint venture de compartilhamento de tecnologia com a Petrobras. Como é uma companhia aberta, a Petrobras poderá se dispor a fazer isso apenas se puder dividir as descobertas de petróleo - algo que a constituição mexicana impede. Por enquanto, a companhia brasileira diz que poderá fornecer alguma tecnologia ao México para ter um pé na porta do mercado daquele país. "Se eles decidirem mudar a constituição, queremos estar presentes", diz Luis Carlos Moreira da Silva, diretor executivo de desenvolvimento de negócios internacionais da Petrobras.
A experiência da Petrobras está à mostra na gigantesca plataforma flutuante atracada a 128 quilômetros da costa brasileira, num lugar em que a profundidade é de 1.200 metros. Todos os dias a companhia produz gás e petróleo bruto equivalente a 218 mil barris de petróleo nessa plataforma, um navio petroleiro que foi adaptado. A Petrobras foi uma das primeiras companhias de petróleo do mundo a usar plataformas flutuantes para alcançar o petróleo em locais impossíveis para as plataformas fixas. Os engenheiros da companhia projetaram âncoras nos moldes de um torpedo, que são disparadas no leito do oceano para fixar a plataforma. A Petrobras está aguardando a permissão do governo dos Estados Unidos para ser a primeira companhia a usar uma plataforma desse tipo no Golfo do México, onde ela pretende investir US$ 15 bilhões nos próximos dez anos.
Embora apenas 10% das receitas de Petrobras sejam geradas por suas operações internacionais, a companhia está de olho em oportunidades de crescimento no mundo. A empresa tem um ambicioso plano de investimentos de cinco anos e espera aumentar a produção para 2,4 milhões de barris/dia até 2011. Com três quartos das reservas mundiais de petróleo mantidas por companhias estatais, a condição híbrida da Petrobras de companhia administrada pelo governo como se fosse uma empresa privada, poderá ajudá-la a conseguir contratos em países como o Irã e a Venezuela, que vêem com suspeitas as grandes companhias de petróleo. "Às vezes visitamos um país e dizemos que somos uma estatal; outras vezes dizemos que somos uma companhia privada independente", afirma Moreira da Silva.
Essa abordagem também poderá funcionar no México. Mas ainda não se sabe quanto de seu conhecimento e experiência na exploração de petróleo em águas profundas a Petrobras está disposta a repassar para o México. E a Pemex precisa de algo mais que tecnologia. Ela faria bem se copiasse a ênfase da Petrobras no treinamento dos funcionários e na inovação. Além disso, seus administradores deveriam querer se ver livres dos pesados impostos que a companhia tem de pagar, dos políticos intrometidos e de um sindicato trabalhista poderoso que impede mudanças. "Precisamos realizar reformas profundas", diz Morales, diretor de exploração da Pemex. "A Pemex precisa de mais autonomia. Precisamos prestar mais atenção à pesquisa, ao desenvolvimento tecnológico e ao treinamento. Estamos dando passos agora para recuperar o tempo perdido." O desafio será ficar mais parecida com a Petrobras antes que o fluxo de petróleo do México se reduza a gotas.
Abraços,
PEMEX x PETROBRÁS, quanto menos estado melhor
- Aranha
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"Grandes Poderes Trazem Grandes Responsabilidades"
Ben Parker
Ben Parker
Re.: PEMEX x PETROBRÁS, quanto menos estado melhor
Deviam ter aberto o capital antes. Mas o mercado de futuros pode apontar para cima, dependendo das novas decisões da empresa.