Liberdade, igualdade, fraternidade! Diz a democracia moderna. Sim, liberdade para os sábios, igualdade entre os homens elevados ao mesmo grau da hierarquia humana e fraternidade para a gente de bem. Porém servidão necessária para os insensatos, hierarquia para a humanidade inteira e guerra entre os egoístas e os malvados. Eis aí as leis da natureza.
A humanidade está colocada sobre uma escada imensa cujo pé submerge-se nas trevas e cujo cume oculta-se na luz. Entre estas duas extremidades, existem inúmeros degraus.
Aos homens da luz, as palavras claras, aos homens das trevas as palavras escuras e aos intermediários, a discussão eterna das palavras duvidosas.
Os homens que estão acima são os videntes; os homens que estão abaixo são os crentes; os homens do meio são os sistemáticos e os que duvidam.
Os videntes são os sábios, os crentes cegos são os loucos e os que duvidam não são nada, porém oscilam entre a sabedoria e a loucura, subindo às vezes, descendo outras e não se achando bem em nenhuma parte.
É necessário a verdade para os sábios, é necessária a dúvida para os arrazoadores, é necessária a fábula para os loucos e as crianças. Conta uma fábula a um sábio e verá nela uma verdade. Dizei uma verdade a um raciocinador e a revogará como dúvida; dizei uma verdade a um louco e a tornará como uma fábula.
Não se tem, pois, que falar a todos os homens da mesma forma.
Eis aqui porque os dogmas religiosos devem ser obscuros e até absurdos em aparência. A religião dos sábios é a alta filosofia e a religião propriamente dita substitui, para os loucos, a filosofia da qual são incapazes. Enquanto os que duvidam, não têm nem filosofia nem religião. Uma religião cujas fórmulas foram razoáveis, seria inútil para os sábios e desprezada pelos loucos. A melhor religião, ou seja, a mais apropriada às necessidades da estupidez humana, deve ser, pois, a mais obscura e a mais absurda de todas e é isto que faz a superioridade incontestável do Catolicismo Romano.
Para os sábios, esta religião sublime é uma irmã de Caridade. Para os loucos, é a infalibilidade pessoal do Papa. Para os arrazoadores, é uma estupidez... mais forte, porém, e mais vitoriosa que a sua pretendida razão.
Não se dá a religião aos loucos com razões e virtudes; eles precisam de fórmulas ininteligíveis e práticas minuciosas que os ocupem sem que tenham necessidade de pensar. E não se pode nem sequer fazer-lhes aceitar a razão senão sob a máscara do mistério e da loucura. Se Moisés tivesse demonstrado sabiamente aos judeus que a higiene é necessária para a saúde, os judeus teriam ficado cheios de parasitas e de lepra. Em lugar de fazê-lo, ele prescreveu-lhes abluções legais em certas horas e com certas cerimônias. Deixou-lhes crer que Deus ocupava-se de suas vestimentas e de suas vasilhas. É necessário purificar os vasos, quebrar os recipientes que se tem impregnado de ar viciado ou que tem servido durante muito tempo, não ter relações com uma mulher durante seus períodos, etc., etc. Tudo isto unicamente porque Deus o ordena e tais devem ser as práticas de seu povo privilegiado. Os rabinos têm sobrepujado a Moisés e têm dado às observações legais um caráter de tirania e de absurdidade que é a própria força do Judaísmo e que o tem feito se conservar através das idades, apesar das perseguições do fanatismo e os progressos da filosofia. Eis aqui o que deveriam compreender os livres pensadores.
Quando o Papa Pio IX, por haver ensaiado conciliar a fé e o progresso, a religião e a liberdade, viu-se expulso da sua cidade e da sua cadeira pelos companheiros de Garibaldi e os agitadores de Mazzini, viu que tinha percorrido um caminho falso. Compreendeu do absolutismo, que se a fé relaxava-se, é porque tinha necessidade que se a autoridade eclesiástica debilitava-se é porque carecia de mais profundos mistérios e de mais inexplicáveis absurdidades. Então canonizou a São Labre, proclamou a Imaculada Conceição e publicou a Syllabus. O gênio sacerdotal reconheceu então nele seu verdadeiro mestre e os bispos reunidos em Roma estiveram dispostos a proclamá-lo infalível.
O que a Igreja precisa não são homens de gênio: são diretores hábeis e sobretudo Santos; ou seja, magnetizadores entusiastas e observadores. Os homens de gênio jamais foram católicos, pois Bossuet era anglicano, Fenélon quistista, Pascal jansenista, Chateaubriand romântico, Lamennais socialista; e, ainda agora os que perturbam a Igreja São os homens de talento: Monsenhor Dupanloup, o bispo Strossmayer, o padre Cratry, o padre Jacinto; todos esses homens notáveis que possuem o gênio do século e não têm o do sacerdócio.
As opiniões humanas buscam em vão aniquilar o que a natureza conserva.
Fala-se de religião natural; porém, a mais natural das religiões a mais absurda, já que é muito natural que os homens caiam no absurdo quando querem formular o desconhecido.
Falai de sabedoria às crianças e farão caretas e pensarão em Croquemitaine; porém, contai-lhes "Pele de Asno" e vereis como o escutarão.
Vós dizeis que as crianças cresceram. Sem dúvida; porém, haverá sempre outras crianças.
Não arrazoeis sobre cores com os cegos, senão conduzi-os; e, não fecheis os olhos para deixar conduzir-vos por eles. Os oráculos que se recebem de olhos fechados são aqueles dos sonhos ou da mentira. Entre os hebreus, quando se queria fazer falar a Deus tirava-se a sorte; procedimento simples, porém ingênuo. Entre os cristãos têm-se colocado primeiro, as respostas de Deus maioria de votos nos concílios, sem refletir muito no pequeno número de eleitos e no grande número de loucos. Depois, têm-se chegado a fazer depender o oráculo de Deus do desejo do Papa. O concílio de Nicéia decidiu que o filho de Deus é consubstancial com seu pai; o qual é, segundo a expressão do Evangelho, supersubstancial, ou seja por cima de toda substância. O concílio de Éfeso declarou que Deus tem uma mulher por mãe. O Papa Pio IX quis que esta mulher tivesse sido concebida sem pecado, o que faz depender o pecado original do capricho de Deus; já que pode executar àquele que melhor lhe parecer. Colocar em votação uma fórmula obscura ou contraditória, não é o mesmo que tirar sorte para obter um oráculo? Tanto vale a decisão do Papa como a de um concílio, quando trata-se da substância de Deus ou da imaculada Virgem. E, se trata de saber UTRUM CHIMDERA IN VACUM BOMBINANS POSSIT COMEDER SECUNDAS INTENTIONES, se o Papa diz, "sim", eu não terei força de dizer "não", e se ele diz "não", nada me provará que seja "sim" o que devia-se dizer. Porém, que por semelhantes questões os príncipes e os povos possam armar-se uns contra os outros é o que não se poderá suportar mais, uma vez que os homens chegaram a ter um pouco de razão.
Sendo o infinito um absurdo que se afirma invencível frente à ciência, precisam-se fórmulas absurdas para manter no homem que não arrazoa, o grande sonho do infinito.
Dada uma quantidade de homens sérios aos quais interessa absolutamente saber se há que chamar branco ou preto, redonda ou quadrada uma entidade abstrata, impalpável e invisível; que é melhor, tirar a sorte, pôr a coisa em votação ou aceitar o que resolve o presidente da assembléia, supondo que o que ele diga seja incontestável? Os três procedimentos são insensatos; porém o último é ainda o menos irracional; porque podem-se preparar os dados, podem-se comprar os votos, no entanto se está seguro que o Papa operará sempre em seu interesse, que é o do Catolicismo Romano.
Buscando a Deus no absurdo encontra-se ao diabo; porém, procurando ao diabo não se encontra a razão. Analisai a Deus e ao diabo do vulgo; encontrareis no Deus o ideal poetizado do diabo e no diabo a caricatura de Deus.
Eliphas Levi - O Livro dos Sábios
A superioridade incontestável do Catolicismo Romano.
A superioridade incontestável do Catolicismo Romano.
Uma vez que o ceticismo adequadamente se refere à dúvida ao invés da negação - descrédito ao invés de crença - críticos que assumem uma posição negativa ao invés de uma posição agnóstica ou neutra, mas ainda assim se auto-intitulam "céticos" são, na verdade, "pseudo-céticos".
- Ilovefoxes
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Re.: A superioridade incontestável do Catolicismo Romano.
Parei aqui, COMUNISTA.Liberdade, igualdade, fraternidade! Diz a democracia moderna. Sim, liberdade para os sábios, igualdade entre os homens elevados ao mesmo grau da hierarquia humana e fraternidade para a gente de bem. Porém servidão necessária para os insensatos, hierarquia para a humanidade inteira e guerra entre os egoístas e os malvados. Eis aí as leis da natureza.
- Fernando Silva
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Re.: A superioridade incontestável do Catolicismo Romano.
A liberdade tem que ser uma consequência da justiça, não o objetivo principal.
A igualdade não existe, a não ser perante a justiça. Alguns SÃO melhores que outros. Alguns conquistam mais direitos que outros. E outros os perdem.
Fraternidade? Não, respeito pelos direitos dos outros.
A igualdade não existe, a não ser perante a justiça. Alguns SÃO melhores que outros. Alguns conquistam mais direitos que outros. E outros os perdem.
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