Impossível passar os dias sem pensar naquele momento, até porque o ser humano tem uma fixação irresistível pelo futuro, já que queremos agarrar-nos a alguma coisa entre o que já não volta e o que está por vir.
Mas a hora "M" é a grande fantasia, da qual fugimos e que nos persegue, até nos nossos sonhos mais inocentes.
De certa forma, desejamos a morte, temos um Tanathos que nos envolve e está sempre aparecendo por detrás de Eros e também de Libido ( para os que curtem um freud). Se nos fosse permitido, negociaríamos com ela ( e muitos acham que têm poderes para tal ), tomaríamos umas e outras com a dita num boteco junto com os amigos, passaríamos a mão em suas curvas e depois a mandaríamos passear em outra freguesia.
Quantos de nós já se imaginaram em maus lençóis e fugiram do pensamento como o diabo foge da cruz?
E os que gostam de atiçar a morte, provar até que ponto ela tem coragem de se mostrar e depois ainda se sentem superiores ao resto da raça, pois escaparam ilesos...por hora?
Mas lá no fundo, em algum lugar recôndito de nossa insignificância, pensamos:
- E se o avião cair agora?
- E se for aqui, no meio do povo, numa esquina qualquer da cidade, sendo amparado ou desamparado por estranhos e assustados como eu?
- E se for durante o dia mais quente do ano e eu estiver nadando na maldita piscina que mandei construir para curtir a vida?
- E se eu tiver uma pataleta e ninguém estiver por perto?
- E se eu morrer dormindo?
- E se eu tiver sido um pecador maldito e ateu e isto definir a hora "M" irremediavelmente?
- E se eu for e não conseguir voltar?

O que os colegas de vida e morte já imaginaram sobre o seu "desencarnamento"?
Pessoalmente, há uma fantasia que me persegue desde criança e sempre que chove me lembro dela ( como se estivesse escrita ): vou morrer num dia de chuva.