É culpa do “neoliberalismo”?
por Cristiano Carvalho*
Com a crise financeira surgida nos EUA, a esquerda, por décadas humilhada e desacreditada, de repente saiu da toca, esfuziante com a tão sonhada revanche. As entidades que mais odeia, o neoliberalismo e o mercado, personificados no grande satã Estados Unidos, finalmente estariam se encaminhando para a merecida destruição. Todavia, colocando de lado o histerismo dos esquerdistas tupiniquins e analisando a questão de forma calma e racional, chegamos facilmente à conclusão de que a crise não é culpa, em hipótese alguma, do liberalismo (neoliberalismo, para começar, sequer existe como escola de pensamento político-filosófico, é bom lembrar. O termo, de índole pejorativa, foi cunhado pelos intelectuais de esquerda). O fato é que nenhum dos axiomas da própria teoria econômica tradicional ou neoclássica (esse neo, sim, existe) foi derrubado. A crise nada mais comprova que a própria auto-regulação do mercado, pela oferta e demanda, e prova disso é a própria oscilação de preços das ações, das moedas e dos próprios imóveis, no caso dos EUA. É que o mercado, como sistema dinâmico que é, sofre instabilidades, mais ou menos graves, de tempos em tempos. Por pior que seja tal instabilidade, invariavelmente o equilíbrio retorna, e tanto assim é, que, seguindo a linha da destruição criativa de Schumpeter, pela qual crises e quebras acabam gerando novos e mais complexos mercados, a riqueza mundial cresceu dezenas de vezes desde 1929, não pela mão do governo, mas, sim, pela ação indistinta e não centralizada dos indivíduos. Em rigor, tanto agora quanto em 1929, o que desencadeou a crise não foi a mão invisível, ou seja, a suposta desregulação, mas o próprio intervencionismo do Estado. O Fed, ao determinar juros baixíssimos, sinalizou uma situação que não era a de equilíbrio, incentivando os consumidores a gastar e os bancos a conceder financiamentos baratos. Como tais financiamentos eram garantidos pelos imóveis dos consumidores e, numa situação tipicamente de mercado, tais imóveis se desvalorizaram, não houve mais lastro para cobrir as dívidas. Em síntese, pura oferta e demanda porém, não aquela regulada pela mão invisível, mas a distorcida pela mão do Estado no sistema de preços, gerando ruídos cujos resultados foram a bolha e a conseqüente turbulência. Entretanto, para os que torcem fanaticamente pelo fim dos Estados Unidos e pela destruição do capitalismo, sempre com os surrados argumentos dos males do neoliberalismo e da ganância, resta sempre a pergunta: o que é pior, um mercado livre que sofre crises de décadas em décadas, mas que antes e depois das turbulências cria riquezas nunca antes vistas, ou um sistema regulado até a exaustão pelo Estado, cujo resultado é a mais pura estagnação? Para tanto, basta comparar a economia da antiga União Soviética, que durante 70 anos nada gerou além da distribuição igualitária de pobreza e escassez, assim como as atuais situações de miséria de Cuba e Coréia do Norte. Eu fico com os EUA.
*Pós-doutor em Direito e Economia
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Onde houver fé, levarei a dúvida.
"Ora, a fé é o firme fundamento das coisas infundadas, e a certeza da existência das coisas que não existem.”
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Re: É culpa do “neoliberalismo”?
O capitalismo passa por crises à medida em que corrige seus próprios erros e evolui.
O comunismo nunca deu certo.
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Re: É culpa do “neoliberalismo”?
Momento "canja de galinha para o economicamente inepto, seção perguntas e respostas".
Há exemplos política de regulação autônoma de juros, em vez de ser ditada por um banco central? Teoricamente, e/ou na prática, caso haja algum exemplo, isso previne esse tipo de problema?
No bloggingheads um cara, acho que do CATO institute ou coisa parecida, entrevistou um economista de algum tipo, sobre a questão atual, e o economista disse que o problema não foi a regulação do mercado, mas a regulação errada, e que a regulação certa seria um modo de ter prevenido isso. O libertarista do CATO institute ficou quietinho...
Há exemplos política de regulação autônoma de juros, em vez de ser ditada por um banco central? Teoricamente, e/ou na prática, caso haja algum exemplo, isso previne esse tipo de problema?
No bloggingheads um cara, acho que do CATO institute ou coisa parecida, entrevistou um economista de algum tipo, sobre a questão atual, e o economista disse que o problema não foi a regulação do mercado, mas a regulação errada, e que a regulação certa seria um modo de ter prevenido isso. O libertarista do CATO institute ficou quietinho...

- user f.k.a. Cabeção
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Re: É culpa do “neoliberalismo”?
Zumbi Filosofico,
Esse tipo de debate comeca normalmente sem que as pessoas sequer saibam do que estao realmente falando. Poucas coisas sao tao simples e mal compreendidas como os juros.
Antes de mais nada, o juro nao e um fenomeno monetario. O juro pertence a uma categoria de fenomenos que e mais fundamental do que qualquer tipo de troca indireta.
O juro consiste basicamente na manifestacao comercial daquilo que e chamado de preferencia temporal. As pessoas preferem um poder de consumo presente do que um poder de consumo futuro. Sentido pelo agente humano, o juro significa o quanto a mais ele estaria disposto a aceitar ao sacrificar seu poder de consumo presente por uma compensacao futura. Pode ser chamado de valoracao subjetiva marginal do tempo, pois e o unico fator levado em consideracao.
O juro nao precisa ser medido em termos monetarios. Juros no sentido amplo sao aplicaveis a qualquer coisa que possa ser de alguma forma poupada para consumo posterior, como bananas, automoveis, viagens etc.
Como todas as valoracoes subjetivas, o juro adquire um preco de mercado, definido como uma cotacao sobre uma moeda.
Os burocratas de bancos centrais nao definem taxas de juros, eles nao tem esse poder. O juro e sempre definido pela situacao atual das valoracoes individuais do tempo, ou seja, o quanto as pessoas estao dispostas a esperar para terem um determinado nivel de consumo (ou, de forma equivalente, qual o consumo que elas esperam atingir para aceitarem esperar um determinado periodo).
Os burocratas de bancos centrais tem tanto poder para definir taxas de juros quanto outros burocratas tem para definir "salarios minimos". Na verdade, o que eles fazem e apenas distorcer informacao (e sendo espertos, fazem isso a seu favor), mas eles nao estao comprometidos em cria-la ou conserta-la. Eles alteram as quantidades reais ou potenciais de moeda arbitrariamente e ganham enquanto o mercado nao estiver ajustado aos novos estoques, assim como ganham as proporcoes roubadas de todas as pessoas que tinham moeda antes.
O impacto disso nos juros realizados sobre a moeda sao visiveis na medida que esse procedimento e realizado sobretudo com o emprego do sistema bancario de depositos e emprestimos. Os bancos depositam uma pequena fracao do que emprestam, e dinheiro e criado do nada com taxas artificialmente baixas de juros, sendo o esquema pago por um imposto inflacionario a todos os nao beneficiarios da falcatrua.
Mas essas taxas sao tao artificiais quanto os salarios minimos oficiais, que escondem a unica realidade de que qualquer que seja o valor definido para o salario minimo, o seu valor real sera sempre zero para quem quer que esteja no desemprego, e que o mercado se encarregara de ocupar apenas as pessoas que pagam com trabalho o seu custo salarial. Se houver salario minimo, todo o resto da galera cujo valor do trabalho for baixo vai ter que viver de esmola.
No caso dos juros, as distorcoes sao projetos economicos equivocados, alimentados por dinheiro facil que induz calculos errados e realiza apenas prejuizos futuros.
O fato dos burocratas estarem metidos nessas decisoes em todos os paises democraticos nao reflete nada exceto o obvio fato de que os burocratas adorariam estar metidos nesses esquemas se tivessem o poder para tanto, assim como o fato de que eles o tem.
"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem