A mola do mundo

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user f.k.a. Cabeção
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A mola do mundo

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A mola do mundo
por João Luiz Mauad em 13 de abril de 2006

Resumo: Não adianta querer transformar o homem num personagem ideal, que pensa primeiro nos outros e só depois em si próprio. Seria totalmente contraproducente.

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"The natural effort of every individual to better his own condition...is so powerful, that it is...capable of carrying on the society to wealth and prosperity..."

"A person who can acquire no property, can have no other interest but to eat as much, and to labour as little as possible."

Adam Smith - The wealth of Nations

Dia desses, conversávamos, eu e meu filho Eduardo, acerca de uma matéria publicada pela revista Veja, sobre a criação de uma bexiga humana em laboratório, produzida a partir de células retiradas de um eventual futuro receptor daquele órgão, técnica esta que evitaria os problemas de rejeição orgânica, freqüentes em qualquer tipo de transplante.

Eduardo falava da sua grande admiração pelos cientistas em geral e pelos geneticistas em particular, especialmente por causa dos benefícios que as suas pesquisas costumam trazer para a toda a humanidade. Concordei com ele, mas destaquei que há um personagem oculto (apud Bastiat) nessa história, cuja principal função é fornecer as condições necessárias para que os cientistas possam desenvolver o seu trabalho. São os capitalistas, empreendedores ou empresários. Pouco importa o nome que se lhes queira dar, mas a sua importância fundamental para o desenvolvimento científico e tecnológico.

Muita gente desvaloriza o trabalho desses caras, sob o argumento de que eles estão meramente em busca do benefício pessoal - o famigerado lucro. Que os seus objetivos não seriam altruístas, mas egoístas. Esquecem que todos nós trabalhamos quase que exclusivamente em proveito próprio. A única diferença é que o resultado do trabalho, seja ele de um humilde servente ou de um renomado cientista, é representado pelo salário, enquanto o retorno esperado pelos empresários é o lucro. Aliás, minto. Há outra importante diferença: o risco. Enquanto aqueles receberão pelo trabalho executado independentemente do resultado alcançado, estes só serão recompensados caso os seus investimentos se tornem lucrativos.

Convido o leitor a pensar em todas as maravilhas tecnológicas já criadas pelo homem. Pense nas máquinas, equipamentos, automóveis, tratores, locomotivas, navios, aviões. Pense nos inúmeros eletro-eletrônicos que facilitam e entretêm bilhões de pessoas mundo afora: geladeiras, televisores, máquinas de lavar, processadores, fornos elétricos, microondas, condicionadores de ar, computadores, telefones celulares, etc. Pense nos equipamentos médico-hospitalares, que ajudam a tornar a medicina muito mais eficiente e prática, como tomógrafos computadorizados, centrífugas de altíssima velocidade, aparelhos de ultra-sonografia, de ressonância magnética, microscópios eletrônicos, micro-chips, marca-passos, etc. Pense na indústria farmacêutica, nos seus avanços e nas descobertas freqüentes que ela faz. Pense, por exemplo, que, há apenas vinte e poucos anos, a maior parte dos doentes com úlcera gástrica terminava numa mesa de operações e hoje aquela é uma doença facilmente tratável com medicamentos. Pense na agricultura e nos avanços tecnológicos nessa área: lembre-se de que há 200 anos, quando a população do mundo era apenas 1/6 do que é hoje, o Reverendo inglês Thomas Malthus previu, com algum rigor científico, que dali a poucos anos a humanidade inteira estaria passando fome, já que o número de pessoas tenderia a crescer de forma geométrica e não seria acompanhado pela produção de alimentos, que, segundo ele, cresceria em progressão aritmética.


Pois bem, muitos desses avanços e toda a fantástica geração de riquezas conseguida pelo homem através dos tempos (não devemos esquecer que a pobreza é a condição natural do ser humano), foram obtidos graças à divisão e especialização do trabalho e, por que não?, ao interesse pessoal dos indivíduos. Sem eles, talvez ainda estivéssemos vivendo nas cavernas, com 99% da população precisando trabalhar de sol a sol, morando sem qualquer conforto, sujeitos a condições extremas de insalubridade e impedidos de qualquer outra atividade na vida, que não trabalhar, comer e dormir.

É inquestionável que a atitude mais freqüente do ser humano, tanto ética quanto social, é individualista e suas escolhas econômicas muito raramente não estão voltadas para a defesa dos próprios interesses. Quase sempre, preocupa-se primeiro com si mesmo, com os entes mais próximos, com os amigos e só então, por último, com o resto da humanidade. Pense bem: quantas pessoas abnegadas, semelhantes a uma Madre Teresa de Calcutá ou uma Irmã Dulce, conhecemos? Pouquíssimas, certamente.

(Atenção: isso não é uma crítica, um elogio ou um lamento. Não estou aqui defendendo que as virtudes da solidariedade e da caridade não sejam muitíssimo desejáveis e necessárias em qualquer sociedade que se pretenda civilizada, mas apenas e tão somente afirmando que essas não são atitudes ordinárias do ser humano em geral. Lembro ainda que não é função de economistas julgar as ações dos indivíduos, nem os seus valores morais, mas, a partir do entendimento dos mecanismos da ação humana, tentar interpretar os fenômenos econômicos e determinar, de forma lógica e racional, os princípios de caráter geral que os regem.)

Não adianta querer transformar o homem num personagem ideal, que pensa primeiro nos outros e só depois em si próprio. Seria totalmente contraproducente. Aliás, não é outra a razão por que todos os experimentos de "reengenharia social" até hoje perpetrados, que se fundavam na máxima socialista "de cada um conforme a sua capacidade, para cada um conforme a sua necessidade", resultaram em retumbantes e funestos fracassos.

Sem a recompensa pessoal, seja ela fruto da remuneração do trabalho ou do capital (lucro) não há incentivo para que os indivíduos produzam, invistam, pesquisem, desenvolvam novas tecnologias, criem novos produtos. Analisem a relação dos ganhadores do Prêmio Nobel (exceto o da Paz). Onde está (ou esteve) domiciliada a imensa maioria deles? Sem dúvida, em países onde há liberdade econômica e, conseqüentemente, a busca pela recompensa pessoal. Será que isso acontece por mero acaso? Será pura sorte o fato de os Estados Unidos, a maior economia liberal do planeta, liderar com folga o ranking dos ganhadores daquele prêmio? Pense nisso.



fonte: http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=4773
"Let 'em all go to hell, except cave 76" ~ Cave 76's national anthem

Trancado