Ciência e Tecnologia para o Brasil avançar

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Claudio Loredo
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Ciência e Tecnologia para o Brasil avançar

Mensagem por Claudio Loredo »

Ciência e Tecnologia para o Brasil avançar

Fonte: http://www.mundori.com/home/view.asp?paNumero=559

No Brasil, com raras exceções, o debate acerca da pesquisa científica e tecnológica tem, ainda hoje, ficado bastante restrito. As conseqüências óbvias de não se discutir e, por conseguinte, o ínfimo investimento em ciência e tecnologia, são a baixa competitividade tecnológica e a pequena capacidade do país de transformar ciência e tecnologia em riqueza.

A história da ciência e da tecnologia no Brasil remonta ao início do século XX, com as pesquisas de dois grandes cientistas: o médico sanitarista Oswaldo Cruz, pioneiro na medicina experimental no País e responsável pelas primeiras iniciativas na área de saúde e saneamento, e Carlos Chagas, que atribuiu à pesquisa básica a grande descoberta da doença que leva o seu nome. Na área agrícola, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) - fundado por D. Pedro II, em 1887 - voltou suas atividades, no início deste século, para a resolução de problemas do setor, e, na década de 20, a pesquisa básica lá realizada já contribuía para o melhoramento genético das culturas de café e de algodão. Hoje, o Brasil tem cerca de 60 mil cientistas e tecnólogos e está entre os 20 países que mais publicam artigos científicos em revistas internacionais. Todavia, este número, embora representativo, deve ser entendido apenas como uma variável numérica, na medida em que, no Brasil, ciência não se transforma em PIB. Em outras palavras, pode-se dizer que as empresas não aproveitam o potencial dos cientistas para alavancar seus negócios e, consequentemente, aumentar o PIB.

Investindo cerca de 1% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em ciência e tecnologia, o Governo Federal consolidou, em meados dos anos 80, a pesquisa acadêmica no País. Como exposto anteriormente, são cerca de 60 mil os cientistas e tecnólogos em atuação no Brasil. Embora ainda seja um número pequeno em relação à população brasileira, representa um significativo avanço quando comparado a décadas anteriores e às nações do terceiro mundo.

Nas universidades públicas estão os principais centros de pesquisa do país. Concentra-se nelas a maioria dos cursos de pós-graduação, que formam pesquisadores e os coordenadores das pesquisas desenvolvidas. A maioria dos cerca de 15 mil doutores que o Brasil dispõe trabalha em universidades. As universidades públicas concentram também a maior parcela dos cursos de graduação, atualmente em torno de mil cursos. Na América Latina, este quadro de institucionalização da pós-graduação e de execução de pesquisas distingue o Brasil dos demais países. Em termos comparativos, o Brasil está entre os 20 países que mais publicam artigos científicos em revistas internacionais, à frente de países como Áustria, Polônia, Coréia ou Taiwan. No entanto, segundo Gustavo Ioschpe, Economista e Especialista em Educação, “é preciso investir mais também nos ensinos fundamental e médio”. De nada adianta se esmerar no ensino superior, formar profissionais, mestres e doutores, sem antes pensar nos níveis primários de educação.

Conseqüentemente, são as próprias universidades que geram a produção científica brasileira e, dentro deste universo, as entidades públicas são por larga margem mais proficientes que as instituições de ensino e pesquisa privadas. Dentro do quadro de universidades públicas, as estaduais paulistas têm papel destacado, contribuindo com quase 2/3 da produção científica do País e da formação de pesquisadores com titulação de doutorado.

Toda esta organização institucional resultou no aumento da produtividade científica e na formação de recursos humanos. Nos anos 90, o Brasil passou a formar mais de 2000 doutores por ano, em todas as áreas da ciência. Há um amplo suporte do governo federal aos programas de formação de mestres e doutores, no Brasil e no exterior (50 mil bolsas para pós-graduados, sendo 5 mil doutorados no exterior).

A estratégia do Ministério da Ciência e Tecnologia para os próximos anos – discurso iniciado na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva - prevê um aumento substancial dos gastos com o setor, principalmente em pesquisa tecnológica, que deverão ser ampliados de 1% para cerca de 1,5% ou 2% do PIB, incluindo os recursos do setor privado.

Diante do exposto, pode parecer que o Brasil é um expoente no que tange aos investimentos em ciência e tecnologia. Inúmeros cientistas atuando e produzindo pesquisas; vasto número de institutos de fomento à ciência; e várias universidades diretamente ligadas ao campo da tecnologia. Todavia, todos os fatores supracitados não passam de variáveis superficiais, isto é, não são, de fato, revertidos para a realidade – leia-se empresas e PIB.

Segundo Carlos Henrique de Brito Cruz, Membro da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), as conseqüências patentes do reduzido número de ciência e tecnologia atuando no setor industrial são a baixa competitividade tecnolológica da empresa nacional e a pequena capacidade do país transformar ciência em tecnologia e em riqueza – PIB. Pode-se argumentar que comparar o Brasil com países de industrialização consolidada é inadequado. Entretanto, mesmo na comparação com países de industrialização recente, a situação brasileira é extremamente desfavorável. Enquanto os sul-coreanos, por exemplo, têm quase setenta e cinco mil cientistas e engenheiros gerando inovação nas empresas, no Brasil há menos de nove mil.

Ainda segundo Carlos Henrique de Brito Cruz, na produção de inovação tecnológica o Brasil ainda está muito distante da situação ideal. Um modo internacionalmente reconhecido para medir a intensidade da inovação é a contagem do número de patentes registradas em mercados competitivos. No início da década de 80, Brasil e Coréia do Sul, por ano, registravam perto de uma dezena de patentes nos Estados Unidos. No ano 2000, enquanto o Brasil registrou 550 patentes em paralelo a um dispêndio empresarial em pesquisa e desenvolvimento de não mais que US$ 150 milhões, a Coréia do Sul registrou aproximadamente 3500 patentes, que corresponderam a um investimento de US$ 10 bilhões em P & D.

Ora, embora o Brasil apareça no mapa da ciência mundial com uma participação de 1,4% no total de artigos publicados, no mapa da tecnologia sua presença é ínfima – quase imperceptível. Tal cenário é resultado direto do pequeno número de profissionais de pesquisa e desenvolvimento atuando na iniciativa privada; em contrapartida, na Coréia do Sul ocorre o processo inverso, no qual a capacidade inovativa está intimamente ligada ao investimento empresarial em P & D e ao número de pesquisadores ativos nas empresas. Segundo Marcos Troyjo, Vice-Presidente da Editora JB, em sua exposição na conferência “Brasil: por dentro do seu futuro”, realizada no dia 29 de março, na Casa Brasil, “a evolução das nações passa, necessariamente, pelo processo de destruição criativa”, o que corrobora a importância da alocação de mais recursos na seara da tecnologia. Para ele, o novo cenário internacional é marcado pelas novas tecnologias e pela presença dos recursos humanos capacitados como insumo principal dos países.

Pois bem, é patente, então, que a ciência brasileira tem inúmeros desafios. Por exemplo: transferir conhecimentos do setor da pesquisa para a indústria; embasar ações do governo em áreas estratégicas; e iniciar projetos inovadores em áreas de relevância para o país.

Conclui-se que o grande desafio em pesquisa e desenvolvimento no Brasil, atualmente, é criar um ambiente que leve a empresa a investir no conhecimento e na tecnologia para aumentar sua competitividade. O Estado já realiza investimentos na formação de pessoal qualificado e em projetos de pesquisa fundamental e aplicada, no entanto, é preciso entender que deve haver a transferência destes recursos humanos, e, consequentemente, da ciência e tecnologia produzidas por eles, para a iniciativa privada. Cabe às empresas, num ambiente favorável a ser criado por ações estatais, aproveitar estas condições e convertê-las em riqueza e desenvolvimento.*

*Publicado originalmente no Jornal do Brasil, em 09/04/06.

thiagoemygdio@mundori.com
-18/4/2006

Trancado