Na ética petista, bandido é herói ...

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Fernando Silva
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Na ética petista, bandido é herói ...

Mensagem por Fernando Silva »

Rio, 15 de julho de 2006 "O Globo"

São Paulo para São Paulo

REINALDO AZEVEDO

Por mais que você se dedique a um estudo profundo da moral e da ética, duvido que chegue a uma formulação mais precisa e enxuta do que a de São Paulo na I Epístola aos Coríntios: “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém” (ICor 6,12). É dessas frases-emblema cuja compreensão distingue a civilização da barbárie. A essência da formulação kantiana está aí embutida: só posso praticar atos que, se generalizados, concorreriam para o bem. “Ah, mas o que é o bem?”, pergunta o demônio do relativismo. Para os nossos propósitos, chamemo-lo um pacto que garanta os direitos individuais e que estabeleça normas gerais de conduta que concorram para a liberdade.

Há dias, li neste GLOBO, uma afirmação de Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula, que me deixou estarrecido. Indagado se o chefe teria algum constrangimento em dividir palanque com mensaleiros, o nosso pensador deu um pé no traseiro de São Paulo e metralhou: “Constrangimento nenhum. Constrangimento seria não ter voto.” Entendo. Marco Aurélio, em suas reflexões, fazia uma escolha. E, ao fazê-lo, indicava o mundo em que prefere viver e em que pretende que todos vivamos. Tudo lhe convém, menos não ter votos.

Este jornal também noticiou uma diretriz política do presidente Lula: ao entregar ao PMDB os Correios, de porteira fechada, o Babalorixá de Banânia disse que cada partido é responsável por sua pasta. Não poderia ele próprio responder por seus subordinados. Ousava pôr um fim na República. Dez séculos de evolução do Estado se diluíam em sua glossolalia.

Lula regredia ao Estado medieval. E não emprego a palavra no sentido tonto, habitual, de coisa “terrível” - alguns dos meus pensadores prediletos são da Idade Média. Refiro-me a um Estado dividido em ducados, em que os senhores têm os seus próprios exércitos e devem ao rei uma vassalagem formal. A centralização se faz no mercado paralelo, com os Marcos Valérios. E há um problema adicional: os nossos pensadores monásticos são Frei Betto e Dom Tomás Balduíno. A Idade das Trevas foi uma invenção do totalitarismo iluminista francês. A de Lula é real.

São Paulo está de novo em pânico por conta da ação de terroristas que se organizam como um partido, com pauta de reivindicação e fachada legal, na forma de advogados e de uma ONG que reúne supostos familiares de presos. Em breve, teremos uma guilda formada por “presodescendentes” - talvez ganhem cotas nas universidades. Outras ditas organizações não-governamentais e seus porta-vozes - alguns no jornalismo, montados na grana de entidades estrangeiras que protegem chimpanzés e hominídeos ideológicos - lamentavam as origens sociais da violência.

O discurso de uma nota só se resumia a condenar as ações da polícia e fazia dos algozes do homem de bem as vítimas de uma tal “sociedade”. Um deles nos convidava a aprender as lições que nos estavam sendo ministradas pelos bandidos. Segundo dizia, as ações de assalto ao estado de direito nos diziam que temos sido perversos com os excluídos. Na sua fórmula, quanto mais presos, mais violência, o que faz supor que o contrário também é verdadeiro: extingue-se o que ele deve considerar a Bastilha social, e a paz volta a reinar.

Reparem como há sempre um culpado imponderável e inimputável para crimes tangíveis. Assaltou? Culpe-se a pobreza. Matou pai, mãe e cachorro e foi ao cinema comer pipoca? Ressuscite-se a teoria do trauma. No depoimento que deu à CPI do Tráfico de Armas, Marcola, apontado como líder do grupo que aterroriza São Paulo, assim justificou a existência de sua organização: “Essas organizações vêm no sentido de refrear essa natureza violenta, porque o que ela faz? Ela proíbe ele [o preso] de tomar certas atitudes que pra ele seria natural (sic), só que ele estaria invadindo o espaço de outro, o senhor entendeu? De outro preso. E elas vêm no sentido de coibir isso mesmo.”

Marcola parece ter lido Hobbes e São Paulo. Os nossos caridosos intelectuais de esquerda, pelo visto, não. Ele quase pede para ser reprimido, mas os proxenetas das misérias humanas não deixam.

REINALDO AZEVEDO é jornalista (blogdoreinaldoazevedo.blogspot.com).

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zencem
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Re: Na ética petista, bandido é herói ...

Mensagem por zencem »

Fernando Silva escreveu:Rio, 15 de julho de 2006 "O Globo"

São Paulo para São Paulo

REINALDO AZEVEDO

Por mais que você se dedique a um estudo profundo da moral e da ética, duvido que chegue a uma formulação mais precisa e enxuta do que a de São Paulo na I Epístola aos Coríntios:

“Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém” (ICor 6,12).

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REINALDO AZEVEDO é jornalista (blogdoreinaldoazevedo.blogspot.com).




Ao sentir o trem disparar ladeira abaixo, me volto ao passado e lembro a Regina Duarte sendo massacrada, porque teve a coragem de dizer:


:emoticon6: :emoticon6: :emoticon65: :emoticon121: :emoticon121: :emoticon65: "Tenho medo".:emoticon65: :emoticon121: :emoticon121: :emoticon65: :emoticon6: :emoticon6:


Apesar de todo o lado negativo, naqueles tempos bicudos, começo a sentir saudade de quando, ainda, a gente tinha medo de ser feliz. :emoticon11: :emoticon11: :emoticon11:




Trancado