Achada no cérebro a origem do altruísmo

Fórum de discussão de assuntos relevantes para o ateísmo, agnosticismo, humanismo e ceticismo. Defesa da razão e do Método Científico. Combate ao fanatismo e ao fundamentalismo religioso.
Avatar do usuário
Fernando Silva
Administrador
Mensagens: 20080
Registrado em: 25 Out 2005, 11:21
Gênero: Masculino
Localização: Rio de Janeiro, RJ
Contato:

Achada no cérebro a origem do altruísmo

Mensagem por Fernando Silva »

"O Globo" 13/10/06

Achada no cérebro a origem do comportamento altruísta

Cientistas brasileiros e americanos mostram que a generosidade surgiu como estratégia evolutiva do homem
Roberta Jansen

Um grupo de cientistas brasileiros e americanos acaba de identificar no cérebro a origem do comportamento altruísta.

O estudo, publicado na prestigiada “Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS)”, indica que fazer o bem foi uma importante estratégia evolutiva para garantir o sucesso do homem.

Estudos recentes já demonstraram as vantagens evolutivas da cooperação e das trocas interpessoais. Para além disso, o grupo decidiu pesquisar o comportamento altruísta caracterizado, sobretudo, por doações anônimas a instituições de caridade, aquelas que não trazem nenhum ganho social ou financeiro.

Mapeando, por ressonância magnética, o cérebro de 19 indivíduos, os pesquisadores constataram que, ao fazerem as doações anônimas, as pessoas ativavam o chamado sistema de recompensa do cérebro.

Esse sistema é responsável por associar sensações de prazer a determinados comportamentos, sobretudo os considerados importantes para a perpetuação da espécie, como o sexo, por exemplo. A estratégia garante que se voltará a buscar algo positivo do ponto de vista da evolução.

— Constatamos que quando faziam doações para uma causa que consideravam justa, as pessoas tinham o seu sistema de recompensa ativado — conta o coordenador da Unidade de Neurociência Cognitiva e Comportamental da Rede D’Or e pesquisador associado do Instituto Nacional de Saúde de Betheseda, nos Estados Unidos, Jorge Moll, um dos autores do estudo. — Como as doações eram anônimas, isso só pode ser explicado porque existe uma sensação recompensadora de fazer o bem, ligada a sistemas inatos do cérebro.

Ou seja, encontramos uma base neurológica para esse mecanismo.

Curiosamente, o mesmo sistema de recompensa também é ativado quando, por exemplo, se recebe dinheiro. Porém, os cientistas constataram que o altruísmo ativa ainda uma região mais primitiva, chamada córtex subgenual, ligada à formação de laços sociais e ao amor.

— A caridade está ligada ao apego a causas abstratas, ideológicas e políticas. Mas envolve mecanismos muito primitivos do cérebro relacionados a formas mais simples de apego, como o amor de mãe e filho e o amor romântico — explica Moll.

Isso não acontece por acaso, segundo o cientista.

— A capacidade de se apegar a manifestações simbólicas e abstratas, como religião e arte, provavelmente teve um grande papel na evolução humana.

Certamente esse mecanismo foi selecionado por ser benéfico para o sucesso da espécie. Dar valor a práticas culturais é uma forma muito poderosa de estimular a cooperação, especialmente entre os não geneticamente relacionados.

Avatar do usuário
elizandro_max
Mensagens: 34
Registrado em: 12 Out 2006, 17:32

Re.: Achada no cérebro a origem do altruísmo

Mensagem por elizandro_max »

Acho que no fundo não existe altruísmo absoluto. Mesmo quando uma pessoa executa um ato aparentemente altruísta, ela tem um ganho, daí a "ativação do mecanismo de recompensa". Quando alguém doa sangue ou faz uma doação a uma instituição de caridade, ganha reconhecimento social.

Pode ser também que a motivação para "ajudar" seja ajudar o grupo ou sociedade em que o indivíduo vive; pois se o grupo ganha, os indivíduos ganham, o que é uma vantagem evolutiva.

E quando um crente faz um ato altruísta, também espera um ganho: salvação, redenção...
"Afirmar que a terra gira em torno do sol é tão errôneo quanto afirmar que Jesus não nasceu de uma virgem."
Cardeal Bellarmino, durante o julgamento de Galileu (1615)

"Nós, cristãos, estamos sob ataque do segmento inteligente e instruído da sociedade"
Ray Mummert, pastor americano

Avatar do usuário
Hrrr
Mensagens: 3532
Registrado em: 22 Jan 2006, 00:02
Localização: recife

Re.: Achada no cérebro a origem do altruísmo

Mensagem por Hrrr »

eh, nao existe altruismo absoluto

o altruismo humano existe em razao de recompensas (que num altruismo verdadeiro nao sao exigidas mas vêm): a gratidao e os agradecimentos da pessoa ajudada, o bem-estar que o altruista sente, a melhora nos pontos de estima das pessoas pra consigo
JINGOL BEL, JINGOL BEL DENNY NO COTEL... :emoticon266:

i am gonna score... h-hah-hah-hah-hah-hah...

plante uma arvore por dia com um clic

Avatar do usuário
videomaker
Mensagens: 8668
Registrado em: 25 Out 2005, 23:34

Re: Achada no cérebro a origem do altruísmo

Mensagem por videomaker »

Fernando Silva escreveu:"O Globo" 13/10/06

Mapeando, por ressonância magnética, o cérebro de 19 indivíduos, os pesquisadores constataram que, ao fazerem as doações anônimas, as pessoas ativavam o chamado sistema de recompensa do cérebro.


Só resta saber de onde vem a vontade de fazer as doações ! pois o prazer vem depois , já que o sistema de recompensa só é ativado depois.
Explicar tambem o porque de não ser uma regra geral , já que todos temos os mesmos cerebros ! :emoticon5:
Há dois meios de ser enganado. Um é acreditar no que não é verdadeiro; o outro é recusar a acreditar no que é verdadeiro. Søren Kierkegaard (1813-1855)

Avatar do usuário
King In Crimson
Mensagens: 3856
Registrado em: 25 Out 2005, 01:23

Re: Achada no cérebro a origem do altruísmo

Mensagem por King In Crimson »

videomaker escreveu:
Fernando Silva escreveu:"O Globo" 13/10/06

Mapeando, por ressonância magnética, o cérebro de 19 indivíduos, os pesquisadores constataram que, ao fazerem as doações anônimas, as pessoas ativavam o chamado sistema de recompensa do cérebro.


Só resta saber de onde vem a vontade de fazer as doações
O evolução não cria seres perfeitos. Pode ser que o mesmo mecanismo que incentiva altruímos passíveis de recompensa, acabe, colateralmente, incentivando atos generosos inúteis do ponto de vista biológico. (falando de doaçãos anônimas)

Avatar do usuário
Huxley
Mensagens: 2035
Registrado em: 30 Out 2005, 23:51

Re: Achada no cérebro a origem do altruísmo

Mensagem por Huxley »

Acho que a pergunta do Videomaker é válida.Não há como haver uma estratégia altruísta anônima ser beneficiada pela seleção natural sobre os genes.Qualquer ação verdadeiramente altruísta aumenta o sucesso reprodutivo de quem recebe enquanto diminui para o agente.Isso é válido, exceto no caso onde animais ajudam parentes, porque estes têm o potencial de adicionar tantos de seus genes ao conjunto genético quanto ele próprio.

Eu penso que a sensação neurológica de recompensa evoluiu DEPOIS que ela se fixou de forma não genética.Isto é, nós somos gentis com os outros porque disseminamos as idéias das pessoas que mais gostamos.Uma idéia, uma forma de agir age como uma entidade que se propaga através de um replicador não-biológico, que, no nosso caso é a linguagem.Pensem um pouco.Se tendemos a repetir e propagar as idéias das pessoas que gostamos, que tipo de meme seria o ideal beneficiado pela seleção natural de memes?Pois, bem.Depois que o altruísmo evoluiu e foi inevitável que esta atitude ficou comum entre humanos, a seleção natural favoreceu aqueles cérebros em que esse valor abstrato é recompensado, aquele que dá a sensação de prazer.A felicidade também é uma estratégia feita para aumentar nosso sucesso reprodutivo.Diz-se que quem aprecia leis e salsichas não deveria ver como elas são feitas.O mesmo parece se dá com a evolução do amor e do altruísmo.

Na verdade, os genes do nosso corpo não é como a planta de uma arquitetura e sim uma receita de bolo.Não podemos dizer que cada ingrediente influi de forma precisa e delineada de como o bolo será feito.Ou seja, muitos ingredientes tem efeito de como o bolo se formará, mas cada um necessita da interconexão de vários deles.A mesma coisa é para o comportamento humano.É claro que genes influem no nosso comportamento.Se genes não influeíssem no comportamento, então como poderíamos explicar porque uma ovelha age diferente de um leão.O problema é que as pessoas tem medo do determinismo biológico.Muita gente se choca quando houve falar que determinado bandido teve a probabilidade de ter uma ação aumentada por causa de um gene que aumenta a agressividade.Mas será que isso quer dizer que estamos liberando explicações absurdas para o crime como: "Não fui eu, foi minha amídala?"Claro que não.Não há determinismo biológico.A última coisa que desejamos é fazer tudo que a nossa alma bem entender.No momento em que temos a sensação que a consequência de uma atitude danosa será a repressão da justiça, da sociedade ou a vergonha, então o nosso cérebro pode vir com uma mensagem a bordo:"Se você cometer atitude X te fizer passar por mal educado, não faça X".A questão é que o comportamento do bandido é probabilístico, e não determinístico.É claro que explicar um comportamento não é a mesma coisa que desculpá-lo.Mas se o comportamento não é algo totalmente aleatório, há de haver alguma explicação.Se o comportamento fosse aleatório, então não poderíamos condenar ninguém porque uma pessoa não se deteria na primeira mínima vontade que tivesse de fazer algo.

Para quem quiser mais informações sobre a evolução do altruísmo, leiam "Tábula Rasa" (Editora Companhia das Letras) de Steven Pinker num capítulo chamado "sofrimento", ou esse trecho do artigo de Susan Blackmore:

http://www.str.com.br/Scientia/meme.htm

3-Por que nós somos tão gentis com os outros?

Claro que nós não somos sempre gentis com os outros, mas a cooperação humana e o altruísmo são coisas misteriosas - a despeito dos tremendos avanços feitos na compreensão das seleção de grupo e conveniência inclusiva, altruísmo recíproco e estratégias evolucionárias estáveis (veja e.g. Wright, 1994; Ridley, 1996). As sociedades humanas exibem muito mais cooperação do que é típico das sociedades de vertebrados, e nós cooperamos com os não-relativos em uma larga escala (Richerson e Boyd, 1992). Como Cronin o pôs, a moralidade humana "apresenta um desafio óbvio para a teoria Darwiniana" (Cronin, 1991, p 325).

Todos podem pensar provavelmente nos seus exemplos favoritos. Richard Dawkins (1989 p 230) chama a doação de sangue de "um genuíno caso de altruísmo puro e desinteressado". Eu fico mais impressionada pela caridade de dar às pessoas em países distantes que provavelmente compartilham tão poucos dos nossos genes quanto qualquer outra pessoa na terra e que nós provavelmente nunca iremos conhecer. E por que nós devolvemos carteiras achadas na rua, resgatamos animais selvagens machucados, suportamos companhias eco-amigas ou reciclamos nossas garrafas? Por que tantas pessoas querem ser pobres enfermeiras e conselheiras com péssimos salários, assistentes sociais e psicoterapeutas, quando elas poderiam viver em casas maiores, atrair companheiros mais ricos, e ter mais crianças se elas fossem banqueiras, corretoras ou advogadas?

Muitas pessoas acreditam que tudo isso deve finalmente ser explicado em termos de vantagem biológica. Talvez será, mas eu ofereço uma alternativa a ser considerada; a teoria memética do altruísmo. Nós podemos usar nossa tática, agora, familiar.

Imagine um mundo cheio de cérebros, e muito mais memes do que existem lares. Que memes são mais prováveis de acharem um lar seguro e serem passados adiante?

Imagine o tipo de meme que encoraja o seu hospedeiro a ser amigável e gentil. Ele poderia ser um para dar boas festas, para ser generoso com a geleia de laranja deita em casa, ou apenas estar preparado para gastar tempo escutando às mágoas de um amigo. Agora compare isso com os memes para ser antipático e pão-duro - nunca cozinhando jantares para as pessoas ou pagando drinks, e recusando a gastar seu tempo ouvindo os outros. Qual irá se disseminar mais rapidanente?

O primeiro tipo, claro. As pessoas gostam de ser gentis com as pessoas. Então aqueles que abrigam muitos memes amigáveis irão gastar mais memes com os outros e Ter mais chances de disseminar seus memes. Em conseqüência muitos de nós iremos acabar abrigando muitos memes para sermos gentis com os outros.

Uma maneira mais simples de dizer isso:- as pessoas que são altruísticas irão, em média, disseminar mais memes. Então qualquer meme que prospere em pessoas altruísticas é mais provável de disseminar - incluindo os memes para ser altruísta.

Você pode desejar desafiar qualquer um dos passos acima. É portanto animador aprender com os muitos experimentos de psicologia social, que as pessoas são mais suscetíveis a adotar idéias de pessoas que elas gostam (Eagly e Chaiken, 1984). Se isso é uma causa ou é uma conseqüência do argumento acima é algo debatível. Seria mais interessante se fatos psicológicos como estes, ou outros tais como a dissonância cognitiva, ou a necessidade de auto-estima, pudessem ser derivados simplesmente de princípios meméticos - mas esse é um tópico para outra hora!

Por enquanto nós devemos considerar se a idéia é ou não testável. Ela prediz que as pessoas deveriam agir de maneiras que beneficiem a disseminação de seus memes mesmo à um certo custo a si mesmas. Nós estamos acostumados em comprar informação útil, e com anunciantes comprando seus meios até a mente das pessoas com o propósito de vender produtos, mas essa teoria prediz que pessoas irão pagar (ou trabalhar) simplesmente para disseminar os memes que elas carregam - porque os memes as forçam. Missionários e Testemunhas de Jeová parece que o fazem.

Muitos aspectos da persuasão e da conversão em causas podem acabar envolvendo altruísmo dirigido por memes. Altruísmo é mais outro tipo de truque memético que as religiões (aqueles complexos de memes mais poderosos) tem explorado. Quase todas elas prosperam ao fazer seus membros trabalharem para elas e acreditar que eles estão fazendo o bem.

Claro, ser generoso é caro. Sempre existirá pressão contra isso, e se os memes puderem achar estratégias alternativas para disseminar, eles irão. Por exemplo, pessoas poderosas podem ser capazes de disseminar memes sem ser altruístas! Entretanto, isso não muda o argumento básico - que o altruísmo dissemina memes.

Você pode ter percebido que o tema principal em todos esses argumentos é que os memes podem agir em oposição ao interesse dos genes. Pensar o tempo todo pode não usar muita energia mas deve custar algo. Pensar é certamente dispendioso, como qualquer um que tenha estado totalmente exausto ou seriamente doente iria atestar. E, claro, qualquer ato altruísta é, por definição, custoso para o autor.

Eu diria que isso é exatamente o que nós deveríamos esperar se os memes são verdadeiros replicadores. Eles não se preocupam com os genes ou as criaturas que os genes criaram. O único interesse deles é a auto-propagação. Então se eles puderem se propagar ao roubar recursos dos genes, eles o farão.

No próximo exemplo nós veremos os memes forçando a mão dos genes de uma forma muito mais dramática.
“A boa sociedade é aquela em que o número de oportunidades de qualquer pessoa aleatoriamente escolhida tenha probabilidade de ser a maior possível”

Friedrich Hayek. “Direito, legislação e liberdade” (volume II, p.156, 1985, Editora Visão)

"Os homens práticos, que se julgam tão independentes em seu pensar, são todos na verdade escravos das idéias de algum economista morto."

John Maynard Keynes

Avatar do usuário
francioalmeida
Mensagens: 3045
Registrado em: 12 Dez 2005, 22:08
Gênero: Masculino
Localização: Manaus-AM
Contato:

Re.: Achada no cérebro a origem do altruísmo

Mensagem por francioalmeida »

Esse sistema é responsável por associar sensações de prazer a determinados comportamentos, sobretudo os considerados importantes para a perpetuação da espécie, como o sexo, por exemplo.


Doe seu dinheiro e tenha multiplos orgasmo, mas doe pra mim! :emoticon7:

Avatar do usuário
o anátema
Mensagens: 4651
Registrado em: 18 Out 2005, 19:06

Re.: Achada no cérebro a origem do altruísmo

Mensagem por o anátema »

não li todo o post do Huxley, mas acho que a vontade de fazer, apesar da recompensa vir depois, se dá pela capacidade que temos de imaginar os atos e ter uma noção de como nos sentiríamos mesmo na "simulação". Fora isso tem o lado cultural também, de ser algo bastante propagado que o altruísmo faz as pessoas se sentirem bem consigo mesmas, não é como se toda atividade altruísta fosse "independente", uma descoberta total da pessoa de que o altruísmo a faz se sentir bem.
Sem tempo nem paciência para isso.

Site com explicações para 99,9999% de todas as mentiras, desinformações e deturpações criacionistas:

www.talkorigins.org
Todos os tipos de criacionismos, Terra jovem, velha, de fundamentalistas cristãos, islâmicos e outros.

Série de textos sugerida: 29+ evicences for macroevolution

Índice com praticamente todas as asneiras que os criacionistas sempre repetem e breves correções

Trancado