Reaças criticando ateus

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Steve
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Reaças criticando ateus

Mensagem por Steve »

http://a-respublica.blogspot.com/2004_0 ... chive.html

TER OU NÃO TER FÉ, EIS A QUESTÃO... Via ”Cravo e Canela”, fiquei a conhecer o excelente blog ”What do you represent” (que aproveito para inserir nos “links”), onde encontrei um post intitulado “Domingo de Páscoa”… bem sei que é feio transcrever os textos dos outros, mas desta vez não resisti, até porque estou completamente de acordo com o autor:

“Um dos fenómenos que mais confusão me causa, é a ostentação bem disposta de ignorância religiosa por parte de alguns ateus e/ou agnósticos anticlericais, como se o desconhecimento que declaradamente exibem fosse um atestado de maioridade intelectual. Eu cá não sei nada disso – parece quererem dizer sempre que falam de algum aspecto da fé, sem que no entanto se coíbam em, de seguida, proferir juízos definitivos, sentenças irrecorríveis e comentários finais a esse propósito.

É um absurdo que aqueles que não acreditam tentem negar ou troçar (militantemente) de realidades que apenas são concebíveis para quem acredita. É tão absurdo que apenas se explica com uma compulsiva necessidade de atacar aquilo de que não gostam, nem que para isso vistam a fatiota de palhaços.

Diferentes, mas igualmente incompreensíveis, são aqueles que não fazendo parte da Igreja (não no sentido institucional mas no de comunidade), porque nela não acreditam, tentam a todo o momento definir as suas regras. Embora não reconheçam o papel eucarístico dos padres, querem que estes se possam casar; Embora não assistam à missa, exigem que as mulheres sejam ordenadas; embora não acreditem no mistério da fé (por não a terem), querem que os divorciados e os não baptizados possam comungar; embora não relevem a vinda de Cristo à terra, insurgem-se por um filme que retrata parte da mesma não mostrar (na sua óptica) amor mas só violência.

Qual amor? Qual é o amor que estas criaturas queriam ver no filme? Uma visão romântica da crucifixão? Uma versão asséptica da via-sacra? Mas porquê? Se para eles a vinda de Cristo, a Via-sacra e a crucifixão não representam nada além de alegados factos históricos. Atacar o filme de Mel Gibson por esta razão, para alguém que milita contra a religião cristã ou pura e simplesmente não acredita em Jesus Cristo, é mais ou menos o mesmo que alguém que não acredite na vida extraterrestre atacar um filme de ficção científica por o marciano ser verde.

Compreendo que se insurjam quando a doutrina da Igreja possa ter consequências fora da sua esfera religiosa – Se a Igreja quiser impor o que quer que seja a quem dela não faz parte, ou mesmo a quem dela faz parte, no caso de tais imposições serem indignas para quem as deve acatar. Percebo que reajam quando alguns dos membros da Igreja com responsabilidade perante um elevado número de pessoas, mesmo sem quererem impor, aconselham comportamentos potencialmente perigosos (estou a lembrar-me do desaconselhamento do uso do preservativo). Defendo que ataquem se e quando a Igreja tentar determinar aquilo que podem ver, ler, ouvir ou falar. O que não aceito é que aqueles que não acreditam, queiram impingir à Igreja da qual não fazem parte, as regras e costumes ‘lá de casa’, só porque, na sua concepção agnóstica do mundo, não simpatizam com os que nela vigoram.(…)”

Concordo plenamente.


O ATEÍSMO “CONFESSIONAL” Por motivos óbvios, está fora de questão discutir aqui a existência ou não de um Deus Criador (ou uma Deusa Criadora, uma vez que Deus é também Mãe, e não apenas Pai).

É uma questão de fé e nada mais. Há quem a tenha, e quem a não tenha. E não acredito que alguém seja mais inteligente por a ter, ou vice-versa; daí que considere como intolerantes aqueles que se intitulam senhores da verdade, considerando-se superiores aos que não pensam como eles. E isto aplica-se a crentes e não crentes. Acho que devemos ter a humildade de reconhecer que é tudo um grande mistério, que nada nem ninguém consegue explicar totalmente. Quer a Fé, quer a Ciência, não conseguem descobrir a verdade absoluta. E embora cada um tenha a sua crença – que aceitamos como a mais plausível e próxima da verdade – todos temos as nossas dúvidas interiores, que mais não são que a consciência e a certeza da nossa frágil humanidade. Se tudo soubéssemos, seríamos Deuses.

O André Esteves, do Diário de uns Ateus, escreveu o seguinte no meu sistema de comentários:

“(...) No entanto, todas as religiões se baseiam na construção de uma identidade, e o acto de extracção dessa identidade de um substrato social inicial é sempre doloroso e baseia-se mais no ódio e no sentido de diferença do que no amor.”

Concordo, evidentemente. A identidade constrói-se sempre em função da diferença, e muitas vezes no ódio. E isto aplica-se a religiões, ideologias, raças, culturas, nacionalidades, etc. Daí a necessidade de respeito e tolerância pela diferença para que, em paz, e na maior harmonia possível, possamos conviver uns com os outros.

Mas isto remete-nos para outra questão: então e aqueles ateus que se organizam em associações, que fazem propaganda ateísta com o intuito de converter a Humanidade à sua (des)crença? Não agem eles como uma religião instituída? Não pretendem eles intervir na sociedade, com a mesma avidez que censuram aos líderes religiosos?

Claro que, se toda a gente se convertesse ao ateísmo, esbater-se-iam as diferenças entre as pessoas, no que à religião diz respeito. Acabaria essa “identidade baseada no ódio e no sentido da diferença”. Mas o mesmo aconteceria se toda a gente se convertesse ao catolicismo ou ao islamismo... não é verdade?

De tudo isto tiro duas ilações: primeira, que o ateísmo “confessional” acaba por se comportar exactamente da mesma forma que as religiões que combate, organizando-se e construindo uma identidade própria, também ela baseada no “sentido da diferença” (e, por vezes, no ódio); segunda, que o ateísmo “confessional” pretende impôr-se na sociedade, fazendo prosélitos e convertendo todo o mundo à sua doutrina... tal como as grandes religiões monoteístas.

[color=#ff80ff]TOLERÂNCIA Diz o João Vasco (do “Diário de uns Ateus”) - e com razão – que a tolerância passa por saber ouvir as opiniões dos outros, por mais polémicas que estas sejam, sem as pretender silenciar. Concordo, obviamente. Todavia, creio que a tolerância só faz sentido se acompanhada de respeito pelos outros. E o respeito passa por aceitar a diferença, por mais absurda ou repugnante que esta nos pareça, sem recorrermos ao insulto, à mentira ou mesmo a uma atitude jocosa (ou condescendente) em relação aos nossos interlocutores, em função das suas crenças ou ideias. Mas a tolerância tem limites, evidentemente: não podemos tolerar aquilo que põe em causa os nossos valores civilizacionais e o conjunto de direitos humanos por eles consagrados, cujo reconhecimento foi tão arduamente conquistado nos últimos séculos. Tal como a democracia – que não pode deixar que se sirvam dela para a destruir – a tolerância também tem os seus limites.

Voltando ao “respeito”: considero que sem o necessário respeito pela diferença, a tolerância é apenas mais uma forma de “viver e deixar viver”, mas de costas voltadas, sem que haja uma verdadeira aceitação (e compreensão) da diferença do Outro. E, principalmente, o respeito é uma questão de boa educação. Por exemplo, e recorrendo à figura do Pai Natal – analogia tão do gosto do João Vasco – eu posso não acreditar na existência do velhinho vestido de vermelho que entra pelas chaminés na Véspera de Natal, mas por uma questão de respeito e boa educação não desato a insultar ou a rir-me daqueles que nisso acreditam, como se fosse eu o senhor da verdade absoluta. Posso dizer-lhes que, em minha opinião, o Pai Natal não existe, mas não tenho o direito de os julgar em função da sua crença. Nenhum de nós é dono da verdade.

A tolerância e o respeito têm o mérito de permitir a construção de pontes entre as diferentes formas de ver o mundo. Permite-nos dialogar e agir em comum naquilo que temos em comum, sem que por isso tenhamos que abdicar das nossas especificidades. Pelo contrário, podemos aprender uns com os outros. Afinal, não procuramos todos o mesmo? Não pretendemos todos compreender o Absoluto? O ódio religioso e ideológico, o fanatismo e a intolerância florescem precisamente nas épocas em que as pessoas vivem de costas voltadas umas às outras, certas das suas mesquinhas certezas, convictas da sua superioridade em relação aos outros, superioridade essa que lhes dará acesso – mas só a elas, às eleitas – ao Paraíso, seja este celestial ou terrestre.

Os ateus fundamentalistas, com toda a sua raiva à religião, acabam por imitar os inquisidores e os mullahs talibãs: arvorando-se em detentores da verdade absoluta, escarnecem, insultam ou perseguem os que não pensam como eles. Ou, quando detêm o poder político, procuram impôr o ateísmo de estado como religião oficial. Lembram-se de Estaline? Não causou ele, em nome da deusa Revolução – que também tinha os seus mártires, a sua liturgia e os seus dogmas - mais vítimas que toda e qualquer perseguição religiosa do passado?

Claro está, refiro-me aos ateus fundamentalistas. E fundamentalismos há em todas as religiões, doutrinas e ideologias, sem excepção. Na Igreja Católica também os há, infelizmente.

Creio que alguns autores do “Diário de uns Ateus” – com a agradável excepção do João Vasco, como bem referiu o meu amigo Jose – não conseguem defender os seus pontos de vista sem recorrer a insinuações, ironias e gozações veladas, além dos indisfarçáveis ares de superioridade moral e intelectual em relação aos crentes. Por exemplo, a forma como o André Esteves discutiu comigo e com o José no meu sistema de comentários: apelidou-me de um pouco de tudo, desde “pobre homem”, “elitista católico”, ou outras considerações menos simpáticas. Uma questão de estilo, poderá alegar o dito autor em sua defesa; ou então, que será essa a sua opinião a meu respeito, embora não me conheça de lado nenhum. Mas tudo bem, pois está no direito de a dar (embora, sinceramente, não a tenha em grande conta).

Dizerem que os crentes vivem “alienados”, ou que são “supersticiosos” não constitui, em minha opinião, um insulto, embora não concorde com tais afirmações; mas dizerem que as religiões e respectivos fiéis são criminosos, que a Igreja é anti-semita e violenta, e outras coisas do género, não fica nada bem aos autores do “Diário de uns Ateus”. Ou porque tais ditos não correspondem à verdade histórica e actual, ou porque se baseiam em generalizações injustas que muito ofendem os por ela visados, ou seja, todos os católicos.

Claro que os autores podem invocar o direito a escrever o que quiserem, até porque o seu conceito de “insulto” será muito diferente do meu. Mas se assim é, também eu posso dar a minha opinião sobre o blog “Diário de uns Ateus”.

E se é de opiniões que falamos, reitero a minha: com algumas excepções, os textos publicados no “Diário de uns Ateus” são marcados pela intolerância e por erros de análise histórica ideologicamente motivados. Não pretendo insultar ninguém: apenas dou a minha opinião sincera.

Em resposta ao desafio lançado pelos autores do “Diário de uns Ateus”, pretendo escrever ainda sobre os seguintes temas, na medida da minha disponibilidade: as “contradições” dos textos bíblicos, referidas pelo André Esteves; o “ateísmo confessional”; a Igreja e o Anti-Semitismo, no passado e no presente; a Religião e o Estado. Se me estiver a esquecer de alguma das questões em discussão, é favor dizerem.

O ATEÍSMO É UMA CRENÇA? (II) os mesmos autores consideram injusta a acusação de intolerância.

Pois bem, meus senhores. O vosso blog limita-se a recorrer a frases feitas, inverdades históricas e chavões demagógicos. Li um pouco de tudo no vosso blog: que a Igreja é anti-semita, criminosa, violenta, que é "o maior mal do mundo", entre outras coisas próprias de pessoas tolerantes. Aqui ficam algumas citações:

"A violência não é um privilégio católico, acontece com o induísmo, o islão, o judaísmo e várias formas de protestantismo. Acontece sempre, e aumenta quando se agrava o proselitismo, mas a ICAR [Igreja Católica Apostólica Romana] tem um passado assustar ao esforçar-se por exercer a soberania religiosa sobre a humanidade."

"O anti-semitismo cristão não pode justificar-se com o sionismo agressivo de Sharon, vem do primeiro século e está longe de ser erradicado."

"A igreja católica é ferozmente anti-semita: Na Polónia católica, na Hungria e Eslováquia, predominantemente católicas, o anti-semitismo, proibido pelos regimes comunistas, reapareceu recentemente no domínio público e a ICAR (igreja católica apostólica, romana) é o instrumento desse desvario, suportado no Novo Testamento, esquecida da sua cumplicidade na eliminação dos judeus pelos regimes nazi-fascistas. "

"Segundo a jurisprudência de Nuremberga «a pertença voluntária a uma organização criminosa é, em si mesma, um crime», culpa jurídica que ninguém se atreve a formular contra uma religião."


Mas vocês acham mesmo que o anti-semitismo e a violência no mundo se devem à religião católica? Que análise simplista, além de falaciosa! Seria o mesmo que dizer que o terrorismo da Al Quaeda se deve à própria existência do Islamismo (como se a religião não fosse apenas um pretexto). E isto para não falar dos erros de análise histórica que se encontram em vários dos vossos posts.

Não compreendem que existem patifes e facínoras em todas as religiões, governos ou correntes filosóficas? Que isso faz parte da condição humana? Porventura esquecem-se dos crimes cometidos pelos regimes ateus, ao longo do último século?

Acham que um crente se sente bem ao ser apelidado de "pertencente a uma organização criminosa"?? E isto escrito por pessoas que certamente ficariam chocadas, se entretanto surgisse um blog dito "católico" a ameaçar os ateus com as chamas do inferno. Claro, porque elas são tolerantes.

Meus caros: o maior mal do mundo não é a crença em Deus ou as religiões instituídas. O maior mal da Humanidade é a intolerância que gera ódio e violência. E isso não surgiu com a religião. [/color]

O ATEÍSMO É UMA CRENÇA? Levantou-se uma questão interessante, devido aos meus anteriores posts sobre o ateísmo. Algumas pessoas consideram que, ao contrário do que escrevi, o ateísmo não é uma crença.

Antes de mais, importa esclarecer que eu não disse que o ateísmo é uma crença religiosa. Disse apenas que é uma crença. Os ateus acreditam que Deus não existe. Claro que não se trata de uma crença religiosa, mas de uma crença absoluta na não existência de uma Divindade. É que os distingue dos agnósticos, que acreditam que o Homem não tem capacidade para conhecer o Absoluto.

E seguindo o conselho dos autores do referido blog, consultei um dicionário para saber com exactidão o significado dos diferentes termos em questão (a negrito estão os significados que considero relevantes neste contexto):

"Ateísmo: do Gr. a, não + Theós, Deus; s. m., doutrina que consiste na negação da existência de Deus; descrença."

Realmente, ateísmo é sinónimo de "descrença", no contexto religioso. Todavia, é também uma "doutrina".


E o que é uma "doutrina"?

"Doutrina: do Lat. doctrina; s. f., conjunto de princípios básicos, fundamentais, de um sistema religioso, político ou filosófico; catequese cristã; opinião de autores; norma, regra, preceito."

Portanto, sendo uma doutrina filosófica, o ateísmo possui um conjunto de princípios básicos na qual os ateus acreditam. Logo, existe uma determinada crença filosófica (acreditar=crer).


E o que é uma "crença"?

"Crença: do Lat. credentia; s. f., fé, lei religiosa; convicção; pendor para certa pessoa, desejo amoroso; credencial, crédito diplomático; pop., desconfiança, birra."

Sendo o Ateísmo uma doutrina que consiste na negação da existência de Deus, com um conjunto de princípios filosóficos fundamentais, nos quais os ateus acreditam com convicção, julgo poder dizer que se trata de uma crença.


ATEÍSMO FUNDAMENTALISTA (II) no mesmo blog li também o seguinte texto, com o título "Alá é grande":

"(...) Aliás, o islamismo é um plágio do cristianismo a que falta o tempero da cultura helénica. Nem sequer foi contaminado pelo direito romano, bastando-lhe a boçalidade dos mullahs a interpretar o Corão."

É falso. O Islão não é um plágio do cristianismo; é verdade que recebeu influências cristãs (por exemplo, ao venerar a memória de Jesus), mas também as recebeu do judaísmo. Aliás, na época do Profeta, a região de Meca e Medina (o Hedjaz) estava repleta de colónias hebraicas, e o judaísmo era uma religião em expansão (talvez o nosso amigo Nuno Guerreiro possa dizer mais e melhor a este respeito). Maomé teve que enfrentar as poderosas tribos judaicas na sua luta pela unificação da Arábia. E descobrem-se muitas influências hebraicas na doutrina islâmica. De qualquer modo, o Islão não é um plágio nem do Cristianismo nem do Judaísmo.

Além disso, não podemos confundir o islão fundamentalista praticado em certas regiões do globo com a crença genuina; nem tão pouco esquecer o período áureo do Islão, em que a tolerância religiosa era ponto de honra da política dos Califas - aliás, pondo em prática os preceitos do Corão.

E continua:

"A história ensina-nos que, sempre que um Estado se liga a uma religião, esta tende a apoderar-se daquele. É preciso proteger o Estado da religião e, sobretudo, esta de si própria, para preservar a democracia."

Eu diria mais: não obstante o interesse de certos sectores da Igreja em se colarem ao Estado, é preciso proteger a religião do Estado; porque sempre que o poder temporal se pronuncia em questões de religião, imiscui-se em assuntos que não lhe dizem respeito e tenta manipular em seu proveito as consciências dos crentes. Além de, obviamente, desrespeitar os direitos daqueles que não o são. Por isso disse em tempos um cardeal renascentista: «A Igreja teme mais os Constantinos que os Neros!».

E o autor prossegue:

"As religiões têm o monopólio da rede de transportes que conduzem ao Paraíso. É urgente que ninguém seja obrigado a percorrer tais caminhos. Os lacraus segregam veneno, as religiões produzem a fé. O ateísmo é a vacina que pode libertar a humanidade."

E não é o ateísmo também uma crença? Ao quererem impôr uma "vacina" à Humanidade - ou seja, a sua própria forma de ver o mundo - os ateus fundamentalistas são tão intolerantes como os tribunais da Santa Inquisição ou os Mullahs talibans.

ATEÍSMO FUNDAMENTALISTA Conheci, via o excelente blog Guia dos Perplexos, os Diários de uns Ateus. Penso que o ateísmo fundamentalista - absolutamente convicto das suas certezas, virulento e agressivo para com os crentes - faz tanta falta a este mundo como o catolicismo fanático: nenhuma. Ao contrário do agnosticismo, o ateísmo é também uma forma de crença. E as crenças devem-se respeitar umas às outras; gostava de ver a reacção de certas pessoas se agora surgisse um blog dito "católico" a insultar aqueles que não o são.

Não é a ideologia que me deixa de pé atrás, mas sim o tom deste Diário. Além disso, e não obstante os seus autores demonstrarem possuir alguns conhecimentos históricos, parece-me que não compreendem a verdadeira essência do cristianismo. Este pequeno excerto é disso exemplo:

"(...) Os Evangelhos foram escritos algumas décadas depois da morte de Jesus e reflectem o racismo e preconceitos que alimentavam a rivalidade com o judaísmo, no fim do séc. I, quando a separação estava consumada. Querem os cristãos renunciar ao livro que julgam revelado por Deus ou manter-se fiéis, continuando a perseguir os judeus? Esse é o dilema de milhões de crentes para quem o anti-semitismo bíblico não é acessório, mas fundamental, e não pode ser expurgado, sob pena de deixarem Deus mal colocado."

É verdade que, no passado, a Igreja teve posições e atitudes anti-semitas. Durante séculos, por exemplo, o baixo clero acicatou o ódio e o ressentimento popular contra os judeus, acusando-os de serem os assassinos de Cristo e de viverem da usura e da extorsão. Expressões populares como a nossa "fazer judiarias" são ainda provas disso. Mas, ao mesmo tempo, certos sectores da Igreja sempre protegeram as comunidades hebraicas, em especial o Papado (com algumas excepções, evidentemente).

Além disso, o anti-semitismo não era privilégio exclusivo da Igreja ou do Cristianismo. Até há algumas décadas atrás, por exemplo, muitos intelectuais europeus eram anti-semitas. Muitos regimes políticos também o foram, e nem sempre por motivos ou pretextos ligados à religião.

Já lá vai há muito o tempo em que nas Igrejas se rezava pelos "pérfidos judeus". O anti-semitismo não só não é política da Igreja, como é por ela condenado. E estou convencido que a esmagadora maioria dos católicos e dos cristãos em geral não quer "perseguir os judeus".

Quanto ao anti-semitismo de certos livros do Novo Testamento, há que entender o contexto em que foram escritos.

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Pug
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