Ciência X Religião: Mais uma vez

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Res Cogitans
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Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Res Cogitans »

Entre Deus e o compasso, artigo de Sergio Augusto

A guerra entre ciência e religião ganha novos contornos. E saem feridos os que acreditam na tal inteligência superior

Sérgio Augusto é articulista de “O Estado de SP”, onde publicou este texto:

A mais antiga de todas as guerras – e a única, aparentemente, sem vencedor à vista – voltou com peso ao noticiário nas últimas semanas. De um lado, a ciência; do outro, a religião.

Suas novas escaramuças produziram mais feridos, se assim podemos chamá-los, entre os que acreditam que o universo foi criado por uma inteligência superior (Deus, em suma).

Noves fora Garotinho, a direita cristã levou uma surra nas recentes eleições americanas; o movimento criacionista recolheu-se à sua insignificância; vem crescendo a quantidade de filmes, canais a cabo, programas e até videogames de cunho científico;

a grande imprensa passou a dar destaque aos mais ímpios cientistas da atualidade (Richard Dawkins, Daniel Dennett e Sam Harris); firme, na lista dos best sellers, The God Delusion, de Dawkins, prossegue sua implacável blitzkrieg contra os crentes de todos os altares e quadrantes.

Nessa guerra, que remonta aos tempos de São Tomás de Aquino e, só na década de 1920, promoveu duas batalhas históricas (o Processo Macaco, contra um professor do Tennessee que ensinava a teoria evolucionista de Darwin, e a reação ao ensaio “Por que Não Sou um Cristão”, publicado por Bertrand Russell em 1927), os confrontos mais estimulantes e menos “sangrentos” são exatamente aqueles cujos combatentes têm intimidade com genes, moléculas, equações e quasars.

Tivemos um, dos bons, no início do mês: o fórum “Além da Fé: Ciência, Religião, Razão e Sobrevivência”.

Poderia ter sido, mas não foi, em Oxford, tida como a “Jerusalém da razão”, onde Dawkins ensina e mora, Robert Boyle formulou sua lei sobre os gases, Robert Hooke usou pela primeira vez um microscópio para examinar uma célula viva, e de onde, há 200 anos, Percy Bysshe Shelley foi expulso por ser ateu (hoje, a universidade exibe, orgulhosa, uma estátua do poeta, nu em pelo).

O Instituto Salk para Estudos Biológicos, em La Jolla (Califórnia), hospedeiro do fórum, não pode ser considerado campo neutro, até porque isso talvez não exista mais.

Patrocinado pela Science Network, organização educacional bancada por um agnóstico ricaço de San Diego, Robert Zeps, o simpósio reuniu a nata da comunidade científica de fala inglesa e já está na internet (beyondbelief2006.org).

No cartaz do evento, nada de Darwin ou Einstein. Deus levou a melhor, mas teve de empunhar um compasso.

O prometido “diálogo polido” entre fé e razão, afinal descambou para algo próximo a uma convenção partidária ou a um concílio laico, com blasfêmias de variada gradação.

“O mundo precisa despertar do longo pesadelo da crença religiosa”, exortou Steven Weinberg, Nobel de Física de 1979, estabelecendo o tom dos debates.

Neil de Grasse Tyson, diretor do Planetário Hayden, em Nova York, e conselheiro do Governo Bush para assuntos espaciais, exibiu uma foto de recém-nascidos com defeitos físicos como prova, a seu ver irrefutável, de que é a “natureza cega” e não “um supervisor inteligente” quem controla o universo.

O químico Peter Atkins até admitiu que um cientista tenha crenças religiosas.

“Mas não creio que ele possa ser um cientista no verdadeiro sentido da palavra se, de algum modo, levar em consideração categorias tão alheias ao conhecimento científico como as utilizadas pelas religiões”, arrematou, deixando bem claro que a ciência e a religião são dois navios que se cruzam no meio da noite, em direções opostas.

Se o outro chocar-se num iceberg, Dawkins, suponho, dormirá feliz. Para ele, ser ateu é uma brava e grandiosa aspiração.

“Não posso assegurar que Deus não existe, mas levo minha vida, feliz e frutífera, sem cogitar de sua existência”, gaba-se o biólogo evolucionista, que terá seu atual best seller traduzido pela Companhia das Letras (lançamento previsto para daqui a 10 meses).

Deus, acredita, não é apenas uma desilusão, mas uma desilusão perniciosa, que, ao longo dos séculos, por obra de seus fanáticos seguidores, produziu mais malefícios que benefícios.

Segundo Dawkins, idéias religiosas são “memes viróticos”, genes ideológicos, digamos assim, que se multiplicam e infectam as pessoas desde a mais tenra idade.

Outros biólogos evolucionistas ao menos as respeitam; Dawkins, não: “Enquanto aceitarmos o princípio de que a fé religiosa deve ser respeitada por ser fé religiosa, não teremos como repudiar a fé de Osama bin Laden e os homens-bomba”.

Na abertura do fórum, Sir Harold Kroto, Nobel de Química de 1996, sugeriu que a Fundação Templeton entregasse a Dawkins o seu próximo prêmio de US$ 1,5 milhão.

De brincadeira, é claro. A fundação criada por Sir John Marks Templeton, bilionário presbiteriano de 93 anos, sintetiza, em nível institucional, o que Dawkins mais despreza no campo dos embates científicos.

Templeton dedicou a vida a aplainar as diferenças entre a ciência e a religião, a superar, conforme suas palavras, “o prosaísmo de uma visão da realidade puramente naturalista e secularizada”.

Todo ano, sua fundação premia regiamente quem mais tenha contribuído para “o progresso de descobertas espirituais”. Em “The God Delusion”, Dawkins acusa os colegas que aceitaram esse “Nobel da acochambração” de intelectualmente desonestos e venais.

Carolyn Porco, pesquisadora do Instituto de Ciência Espacial de Boulder (Colorado), propôs, meio na galhofa, que se criasse uma igreja alternativa, com o dr. Neil Tyson como seu papa ou pastor.

Ao detalhar sua proposta (“Deveríamos nos guiar pelo sucesso da fórmula religiosa, ensinando desde cedo às crianças a origem do universo e a beleza dessa história, muito mais gloriosa e deslumbrante que a de qualquer escritura ou concepção divina”), arrancou aplausos e apupos do auditório.

Aplausos de quem considera absurdo uma criança aprender antes o “folclore bíblico” e, depois, as “verdades científicas” sobre a criação do mundo e a evolução da espécie.

Apupos de quem recusa qualquer proximidade da ciência com dogmas religiosos.

Dawkins, porém, reservou sua indignação para a bióloga Joan Roughgarden, autora de recente ensaio sobre o evolucionismo e a fé cristã.

Pegou-a no contrapé de uma metáfora bíblica (a parábola da semente de mostarda), com que pretendia facilitar a aceitação da teoria de Darwin por seus colegas cristãos.

“Má poesia”, resmungou o feliz ateu de Oxford. Para em seguida retomar a palavra e explicar por que define a religião como “lavagem cerebral” e abuso de inocentes (“child abuse”). Sem jamais perder o bom humor.

A certa altura, observou que não haveria banda larga suficientemente larga para Deus monitorar o pensamento dos seis bilhões de habitantes da Terra e receber todas as preces que Lhe são dirigidas.

Se Dawkins estiver errado, o inferno ficará bem mais divertido com a sua presença.
(O Estado de SP, 26/11)
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.

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zencem
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Mensagem por zencem »

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Bela reportagem, RES! :emoticon45:



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videomaker
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Re: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por videomaker »

Ciência e Religião
Albert Einstein

Parte I
Durante o século passado e em parte do que o precedeu, a existência de um conflito insolúvel entre conhecimento e crença foi amplamente sustentada. Prevalecia entre mentes avançadas a opinião de que chegara a hora de substituir, cada vez mais, a crença pelo conhecimento; toda crença que não se fundasse ela própria em conhecimento era superstição e, como tal, devia ser combatida. Segundo essa concepção, a função exclusiva da educação seria abrir caminho para o pensamento e o conhecimento, devendo a escola, como o órgão por excelência para a educação do povo, servir exclusivamente a esse fim.

É provável que raramente, ou mesmo nunca, possamos encontrar o ponto de vista racionalista expresso com tanta crueza; pois todo homem sensível veria de imediato o quanto essa formulação é tendenciosa. Mas é conveniente formular uma tese de maneira nua e crua quando se quer aclarar a própria mente com relação a sua natureza.

É verdade que a experiência e o pensamento claro são a melhor maneira de fundamentar as convicções. Quanto a isto, podemos concordar irrestritamente com o racionalista extremado. O ponto fraco dessa concepção, contudo, e que as convicções necessárias e determinantes para nossa conduta e nossos juízos não podem ser encontradas unicamente nessa sólida via cientifica.

Pois o método cientifico não nos pode ensinar outra coisa além do modo como os fatos se relacionam e são condicionados uns pelos outros. A aspiração a esse conhecimento objetivo está entre as mais elevadas de que o homem e capaz, e certamente ninguém pode suspeitar que eu deseje subestimar as realizações e os heróicos esforços do homem nessa esfera.

É igualmente claro, no entanto, que o conhecimento do que é, não abre diretamente a porta para o que deve ser. Podemos ter o mais claro e completo conhecimento do que é, sem contudo sermos capazes de deduzir disso qual deveria ser a meta de nossas aspirações humanas. O conhecimento objetivo nos fornece poderosos instrumentos para atingir certos fins, mas a meta final em si é a mesma, e o desejo de atingi-la devem emanar de outra fonte. E é praticamente desnecessário defender a idéia de que nossa existência e nossa atividade só adquirem 'sentido' mediante o estabelecimento de uma meta como essa e dos valores correspondentes. O conhecimento da verdade como tal é maravilhoso, mas é tão pouco capaz de servir de guia que não consegue provar sequer a justificação e o valor da aspiração a esse mesmo conhecimento da verdade.

Aqui defrontamos, portanto, com os limites da concepção puramente racional de nossa existência.

Mas não se deve presumir que o pensamento inteligente não possa desempenhar nenhum papel na formação da meta e de juízos éticos. Quando alguém se dá conta de que certo meio seria útil para a consecução de um fim, isto faz com que o próprio meio se torne um fim. A inteligência elucida para nós a inter-relação entre meios e fins. O mero pensamento não pode, contudo, nos dar uma consciência dos fins últimos e fundamentais. Elucidar esses fins e valores fundamentais é engastá-los firmemente na vida emocional do indivíduo; parece-me, precisamente, a mais importante função que a religião tem a desempenhar na vida social do homem. E se alguém pergunta de onde provém a autoridade desses fins fundamentais, já que eles não podem ser formulados e justificados puramente pela razão, só há uma resposta: eles existem numa sociedade saudável na forma de tradições vigorosas, que agem sobre a conduta, as aspirações e os juízos dos indivíduos; eles existem, isto é, vivem dentro dela, sem que seja preciso encontrar justificação para sua existência. Nascem, não através da demonstração, mas da revelação, por meio de personalidades excepcionais. Não se deve tentar justificá-los, mas antes, sentir, simples e claramente, sua natureza. Os mais elevados princípios para nossas aspirações e juízos nos são dados pela tradição religiosa judáico-cristã. Trata-se de uma meta muito elevada, que, com nossos parcos poderes, só podemos atingir de maneira muito insatisfatória, mas que da um sólido fundamento a nossas aspirações e avaliações. Se quiséssemos tirar essa meta de sua forma religiosa e considerar apenas seu aspecto puramente humano, talvez pudéssemos formulá-la assim: desenvolvimento livre e responsável do indivíduo, de modo que ele possa por suas capacidades, com liberdade e alegria a serviço de toda a humanidade.

Não há lugar nisso para a divinização de uma nação, de uma classe, nem muito menos de um indivíduo. Não somos todos filhos de um só pai, como se diz na linguagem religiosa? Na verdade, mesmo a divinização da humanidade, como totalidade abstrata, não estaria no espírito desse ideal. E somente ao indivíduo que é dada uma alma. E o 'sublime' destino do indivíduo é antes servir que comandar, ou impor-se de qualquer outra maneira.

Se considerarmos mais a substância que a forma, poderemos ver também nestas palavras a expressão da postura democrática fundamental. Ao verdadeiro democrata e tão inviável idolatrar sua nação quanto ao homem religioso, no sentido que damos ao termo.

Qual será então, em tudo isto, a função da educação e da escola? Elas devem ajudar o jovem a crescer num espírito tal que esses princípios fundamentais sejam para ele como o ar que respira. O mero ensino não pode fazer isso.

Se mantemos esses princípios elevados claramente diante de nossos olhos, e os comparamos com a vida e o espírito de nosso tempo, revela-se flagrantemente que a própria humanidade civilizada encontra-se, neste momento, em grave perigo. Nos Estados totalitários, são os próprios governantes que se empenham hoje em destruir esse espírito de humanidade. Em lugares menos ameaçados, são o nacionalismo e a intolerância, bem com a opressão dos indivíduos por meios econômicos, que ameaçam sufocar essas tão preciosas tradições.

A clareza da enormidade do perigo está se difundindo, no entanto, entre as pessoas que pensam, e há uma grande procura de meios que permitam enfrentar o perigo - meios no campo da política nacional e internacional, da legislação, da organização em geral. Esses esforços são, sem dúvida, extremamente necessários. Contudo, os antigos sabiam algo que parecemos ter esquecido. "Todos os meios mostram-se um instrumento grosseiro quando não tem atrás de si um espírito vivo". Se o desejo de alcançar a meta estiver vigorosamente vivo dentro de nós, porém, não nos faltarão forças para encontrar os meios de alcançar a meta e traduzi-la em atos.

Parte II
Não seria difícil chegar a um acordo quanto ao que entendemos por ciência. Ciência é o esforço secular de reunir, através do pensamento sistemático, os fenômenos perceptíveis deste mundo, numa associação tão completa quanto possível. Falando claramente, é a tentativa de reconstrução posterior da existência pelo processo da conceituação. Mas, quando pergunto a mim mesmo o que é a religião, a resposta não me ocorre tão facilmente. E, mesmo depois de encontrar uma resposta que possa me satisfazer num momento particular, continuo convencido de que nunca consigo, em nenhuma circunstância, criar um acordo, mesmo que muito limitado, entre todos os que refletem seriamente sobre essa questão.

De início, portanto, em vez de perguntar o que é religião, eu preferiria indagar o que caracteriza as aspirações de uma pessoa que me dá a impressão de ser religiosa: uma pessoa religiosamente esclarecida parece-me ser aquela que, tanto quanto lhe foi possível, libertou-se dos grilhões, de seus desejos egoístas e está preocupada com pensamentos, sentimentos e aspirações a que se apega em razão de seu valor suprapessoal. Parece-me que o que importa é a força desse conteúdo suprapessoal, e a profundidade da convicção na superioridade de seu significado, quer se faça ou não alguma tentativa de unir esse conteúdo com um Ser divino, pois, de outro modo, não poderíamos considerar Buda e Spinoza como personalidades religiosas. Assim, uma pessoa religiosa é devota no sentido de não ter nenhuma dúvida quanto ao valor e eminência dos objetivos e metas suprapessoais que não exigem nem admitem fundamentação racional. Eles existem, tão necessária e corriqueiramente quanto ela própria. Nesse sentido, a religião é o antiqüíssimo esforço da humanidade para atingir uma clara e completa consciência desses valores e metas e reforçar e ampliar incessantemente seu efeito. Quando concebemos a religião e a ciência segundo estas definições, um conflito entre elas parece impossível. Pois a ciência pode apenas determinar o que é, não o que deve ser, está fora de seu domínio, todos os tipos de juízos de valor continuam sendo necessários. A religião, por outro lado, lida somente com avaliações do pensamento e da ação humanos: não lhe é lícito falar de fatos e das relações entre os fatos. Segundo esta interpretação, os famosos conflitos ocorridos entre religião e ciência no passado devem ser todos atribuídos a uma apreensão equivocada da situação descrita.

Um conflito surge, por exemplo, quando uma comunidade religiosa insiste na absoluta veracidade de todos os relatos registrados na Bíblia. Isso significa uma intervenção da religião na esfera da ciência; é aí que se insere a luta da Igreja contra as doutrinas de Galileu e Darwin. Por outro lado, representantes da ciência tem constantemente tentado chegar a juízos fundamentais com respeito a valores e fins com base no método científico, pondo-se assim em oposição a religião. Todos esses conflitos nasceram de erros fatais.

Ora, ainda que os âmbitos da religião e da ciência sejam em si claramente separados um do outro, existem entre os dois fortes relações recíprocas e dependências. Embora possa ser ela o que determina a meta, a religião aprendeu com a ciência, no sentido mais amplo, que meios poderão contribuir para que se alcancem as metas que ela estabeleceu. A ciência, porém, só pode ser criada por quem esteja plenamente imbuído da aspiração e verdade, e ao entendimento. A fonte desse sentimento, no entanto, brota na esfera da religião. A esta se liga também a fé na possibilidade de que as regulações válidas para o mundo da existência sejam racionais, isto é, compreensíveis à razão.

Não posso conceber um autêntico cientista sem essa fé profunda. A situação pode ser expressa por uma imagem: a ciência sem religião e aleijada, a religião sem ciência e cega.

Embora eu tenha afirmado acima que um conflito legítimo entre religião e ciência não pode existir verdadeiramente, devo fazer uma ressalva a esta afirmação, mais uma vez, num ponto essencial, com referencia ao conteúdo efetivo das religiões históricas. Esta ressalva tem a ver com o conceito de Deus. Durante o período juvenil da evolução espiritual da humanidade, a fantasia humana criou a sua própria imagem 'deuses' que, por seus atos de vontade, supostamente determinariam ou, pelo menos, influenciariam o mundo fenomênico. O homem procurava alterar a disposição desses deuses a seu próprio favor, por meio da magia e da prece. A idéia de Deus, nas religiões ensinadas atualmente, é uma sublimação dessa antiga concepção dos deuses. Seu caráter antropomórfico se revela, por exemplo, no fato de os homens recorrerem ao Ser Divino em preces, a suplicarem a realização de seus desejos.

Certamente, ninguém negará que a idéia da existência de um Deus pessoal, onipotente, justo e todo-misericordioso é capaz de dar ao homem consolo, ajuda e orientação; e também, em virtude de sua simplicidade, acessível as mentes menos desenvolvidas. Por outro lado, porem, esta idéia traz em si aspectos vulneráveis e decisivos, que se fizeram sentir penosamente desde o início da história. Ou seja, se esse ser é onipotente, então tudo o que acontece, aí incluídos cada ação, cada pensamento, cada sentimento e aspiração do homem, é também obra Sua; nesse caso, como é possível pensar em responsabilizar o homem por seus atos e pensamentos perante esse Ser 'todo-poderoso'? Ao distribuir punições e recompensas, Ele estaria, até certo ponto, julgando a Si mesmo. Como conciliar isso com a bondade e a justiça a Ele atribuídas?

A principal fonte dos conflitos atuais entre as esferas da religião e da ciência reside nesse conceito de um Deus pessoal. A ciência tem por objetivo estabelecer regras gerais que determinem a conexão recíproca de objetos e eventos no tempo e no espaço. A validade absolutamente geral dessas regras, ou leis da natureza, e algo que se pretende - mas não se prova. Trata-se sobretudo de um projeto, e a confiança na possibilidade de sua realização, por princípio, funda-se apenas em sucessos parciais. Seria difícil, porém, encontrar alguém que negasse esses sucessos parciais e os atribuísse a ilusão humana. O fato de sermos capazes, com base nessas leis, de predizer o comportamento temporal dos fenômenos de certos domínios, com grande precisão e certeza, está profundamente enraizado na consciência do homem moderno, ainda que possamos ter apreendido muito pouco do conteúdo dessas leis. Basta considerarmos que as trajetórias planetárias do sistema solar podem ser antecipadamente calculadas, com grande exatidão, com base num número limitado de leis simples. De maneira similar, embora não com a mesma precisão, é possível calcular antecipadamente o modo de funcionamento de um motor elétrico, de um sistema de transmissão ou de um aparelho de rádio, mesmo quando estamos lidando com uma invenção inédita.

É bem verdade que, quando o número de fatores em jogo num complexo fenomenólogico é grande demais, o método científico nos decepciona na maioria dos casos. Basta pensarmos nas condições do tempo, cuja previsão, mesmo para alguns dias à frente, é impossível. Ninguém duvida, contudo, de que estamos diante de uma conexão causal cujos componentes causais nos são essencialmente conhecidos. As ocorrências nessa esfera estão fora do alcance da predição exata por causa da multiplicidade de fatores em ação, e não por alguma falta de ordem na natureza.

Penetramos muito menos profundamente nas regularidades que prevalecem no âmbito das coisas vivas, mas o suficiente, de todo modo, para pelo menos perceber a existência de uma regra necessária. Basta pensarmos na ordem sistemática presente na hereditariedade e no efeito que provocam os venenos - como o álcool, por exemplo - no comportamento dos seres orgânicos. O que ainda falta aqui é uma compreensão de caráter profundamente geral das conexões, não um conhecimento da ordem enquanto tal.

Quanto mais o homem esta imbuído da regularidade ordenada de todos os eventos, mais firme se torna sua convicção de que não sobra lugar, ao lado dessa regularidade ordenada, para causas de natureza diferente. Para ele, nem o domínio da vontade humana, nem o da vontade divina existirão como causa independente dos eventos naturais. Não há dúvida de que a doutrina de um Deus pessoal que interfere nos eventos naturais jamais poderia ser refratada, no sentido verdadeiro, pela ciência, pois essa doutrina pode sempre procurar refúgio nos campos em que o conhecimento científico ainda não foi capaz de se firmar. Estou convencido, porém, de que tal comportamento por parte dos representantes da religião seria não só indigno como desastroso. Pois uma doutrina que não é capaz de se sustentar à "plena luz", mas apenas na escuridão, está fadada a perder sua influência sobre a humanidade, com incalculável prejuízo para o progresso humano. Em sua luta pelo bem ético, os professores de religião precisam ter a envergadura para abrir mão da doutrina de um Deus pessoal, isto é, renunciar a fonte de medo e esperança que, no passado, concentrou um poder tão amplo nas mãos dos sacerdotes. Em seu ofício, terão de se valer daqueles forças que são capazes de cultivar o Bom, o Verdadeiro e o Belo na própria humanidade. Trata-se, sem dúvida, de uma tarefa mais difícil, mas incomparavelmente mais valiosa. Quando tiverem realizado esse processo de depuração, os professores da religião certamente hão de reconhecer com alegria que a verdadeira religião ficou enobrecida e mais profunda graças ao conhecimento científico.

Se um dos objetivos da religião é libertar a humanidade, tanto quanto possível, da servidão dos anseios, desejos e temores egocêntricos, o raciocínio científico pode ajudar a religião em mais um sentido. Embora seja verdade que a meta da ciência é descobrir regras que permitam associar e prever os fatos, essa não é sua única finalidade. Ela procura também reduzir as conexões descobertas ao menor número possível de elementos conceituais mutuamente independentes.

E nessa busca da unificação racional do múltiplo que a ciência logra seus maiores êxitos, embora seja precisamente essa tentativa que a faz correr os maiores riscos de se tornar uma presa das ilusões. Mas todo aquele que experimentou intensamente os avanços bem-sucedidos feitos nesse domínio é movido por uma profunda reverência pela racionalidade que se manifesta na existência. Através da compreensão, ele conquista uma emancipação de amplas conseqüências dos grilhões das esperanças e desejos pessoais, atingindo assim uma atitude mental de humildade perante a grandeza da razão que se encarna na existência e que, em seus recônditos mais profundos, é inacessível ao homem. Essa atitude, contudo, parece-me ser religiosa, no mais elevado sentido da palavra. A meu ver, portanto, a ciência não só purifica o impulso religioso do entulho de seu antropomorfismo, como contribui para uma 'espiritualização' religiosa de nossa compreensão da vida.

Quanto mais avança a evolução espiritual da humanidade, mais certo me parece que o caminho para a religiosidade genuína não passa pelo medo da vida, nem pelo medo da morte, ou pela fé cega, mas pelo esforço em busca do conhecimento racional.

Neste sentido, acredito que o sacerdote, se quiser fazer jus a sua 'sublime' missão educacional, deve tornar-se um professor.


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"Ciência e Religião" (1939-1941) - Págs. 25 a 34. Einstein, Albert, 1870-1955 Título original: "Out of my later years."
Há dois meios de ser enganado. Um é acreditar no que não é verdadeiro; o outro é recusar a acreditar no que é verdadeiro. Søren Kierkegaard (1813-1855)

Sr. Incógnito
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Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Sr. Incógnito »

Éed
Editado pela última vez por Sr. Incógnito em 08 Abr 2007, 23:02, em um total de 1 vez.

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Res Cogitans
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Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Res Cogitans »

video,

Certamente, ninguém negará que a idéia da existência de um Deus pessoal, onipotente, justo e todo-misericordioso é capaz de dar ao homem consolo, ajuda e orientação; e também, em virtude de sua simplicidade, acessível as mentes menos desenvolvidas. Por outro lado, porem, esta idéia traz em si aspectos vulneráveis e decisivos, que se fizeram sentir penosamente desde o início da história. Ou seja, se esse ser é onipotente, então tudo o que acontece, aí incluídos cada ação, cada pensamento, cada sentimento e aspiração do homem, é também obra Sua; nesse caso, como é possível pensar em responsabilizar o homem por seus atos e pensamentos perante esse Ser 'todo-poderoso'? Ao distribuir punições e recompensas, Ele estaria, até certo ponto, julgando a Si mesmo. Como conciliar isso com a bondade e a justiça a Ele atribuídas?


vc concorda com esta passagem???
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Re: Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por videomaker »

Res Cogitans escreveu:video,

Certamente, ninguém negará que a idéia da existência de um Deus pessoal, onipotente, justo e todo-misericordioso é capaz de dar ao homem consolo, ajuda e orientação; e também, em virtude de sua simplicidade, acessível as mentes menos desenvolvidas. Por outro lado, porem, esta idéia traz em si aspectos vulneráveis e decisivos, que se fizeram sentir penosamente desde o início da história. Ou seja, se esse ser é onipotente, então tudo o que acontece, aí incluídos cada ação, cada pensamento, cada sentimento e aspiração do homem, é também obra Sua; nesse caso, como é possível pensar em responsabilizar o homem por seus atos e pensamentos perante esse Ser 'todo-poderoso'? Ao distribuir punições e recompensas, Ele estaria, até certo ponto, julgando a Si mesmo. Como conciliar isso com a bondade e a justiça a Ele atribuídas?


vc concorda com esta passagem???



Essa é uma ideia de Deus das religiões ortodoxas! assim tambem pensava o grande fisico, se era sobre esse Deus que ele falava tenho que concordar!
Há dois meios de ser enganado. Um é acreditar no que não é verdadeiro; o outro é recusar a acreditar no que é verdadeiro. Søren Kierkegaard (1813-1855)

Apocaliptica

Mensagem por Apocaliptica »

Res Cogitans


Excelente texto.

Sr. Incógnito
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Re: Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Sr. Incógnito »

ed, etc...
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Res Cogitans
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Re: Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Res Cogitans »

Sr. Incógnito escreveu:É o seguinte: Vocês precisam entender que não há nem pode haver (por definição) conflito entre ciência e religião! Muito menos entre fé e razão! É um absurdo querer sustentar que há. Res cogitans: Quando diz que "o conflito" remonta aos tempos de Sto Tómás, espero que não estejas querendo dizer que Sto Tomás era, de alguma forma, contra a ciência ou contra a razão, não é? Eu só escutei um absurdo desses uma vez na vida, mas acho que você não seria uma pessoa a dizer isso.
Para quem está interessado sobre o assunto, Recomendo qualquer livro do historiador da filosofia chamadoo Gilson. Ou, para quem quer ir direto na fonte, comece por Sto Anselmo, Sto Agostinho, Santo Tomas, até os dias de hoje, com a encíclica do Papa João Paulo II chamada Fides et Ratio, na qual é comentada essa relação.


Não, Aquino não era contra razão. Kierkegaard que considerava razão e fé inconciliáveis.
Juizos defendidos pela ciência muitas vezes se confrontam com os defendidos pela religião. Alguns destes detalhados em livros como este: http://www.ircabral.org/cehcns/node40.html

Mas não precisamos ir longe para ver o confronto de juízos uma vez que isso sempre vem a tona.
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Sr. Incógnito
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Re: Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Sr. Incógnito »

[ed.
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Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Res Cogitans »

hahaha faz me rir...
em que mundo vc vive? Aconselho Filosofia da Religão do filósofo cristão John Hick, subcapitulo O Desafio da Ciencia Moderna.
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.

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Apocaliptica

Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Apocaliptica »

Por mais que eu admire a mente brilhante e a obra deixada por Einstein, não posso concordar com a convivência possível ou até necessária entre Religião e Ciência.
Se fosse com a Fé eu até poderia considerar. Poderia....não quero dizer considero.

Sr. Incógnito
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Re: Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Sr. Incógnito »

[quote="Res Cogitans"]hahaha faz me rir...
ed
Editado pela última vez por Sr. Incógnito em 08 Abr 2007, 22:59, em um total de 1 vez.

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Mensagem por Res Cogitans »

Eu conheço os "grandes autores", de Popper, Feyeraband, Lakatos, Hempel...
E não é filosofia da ciência que estou discutindo aqui. A religião NÃO se atem a afirmar sobre o "sobrenatural" ela também faz juízos sobre o natural, por isso entra em conflito com a ciência. O que nos leva a casos como o Monkey Trial.
Editado pela última vez por Res Cogitans em 18 Dez 2006, 20:52, em um total de 1 vez.
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.

*Deus deixou seu único filho morrer pendurado numa cruz, imagine o que ele fará com você.

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Res Cogitans
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Re: Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Res Cogitans »

videomaker escreveu:
Res Cogitans escreveu:video,

Certamente, ninguém negará que a idéia da existência de um Deus pessoal, onipotente, justo e todo-misericordioso é capaz de dar ao homem consolo, ajuda e orientação; e também, em virtude de sua simplicidade, acessível as mentes menos desenvolvidas. Por outro lado, porem, esta idéia traz em si aspectos vulneráveis e decisivos, que se fizeram sentir penosamente desde o início da história. Ou seja, se esse ser é onipotente, então tudo o que acontece, aí incluídos cada ação, cada pensamento, cada sentimento e aspiração do homem, é também obra Sua; nesse caso, como é possível pensar em responsabilizar o homem por seus atos e pensamentos perante esse Ser 'todo-poderoso'? Ao distribuir punições e recompensas, Ele estaria, até certo ponto, julgando a Si mesmo. Como conciliar isso com a bondade e a justiça a Ele atribuídas?


vc concorda com esta passagem???



Essa é uma ideia de Deus das religiões ortodoxas! assim tambem pensava o grande fisico, se era sobre esse Deus que ele falava tenho que concordar!


Video, quais características a seguir vc considera que Deus possua:
justo
bom
onipotente
preocupado com o bem-estar de suas criaturas
*Estou REALMENTE muito ocupado. Você pode ficar sem resposta em algum tópico. Se tiver sorte... talvez eu lhe dê uma resposta sarcástica.

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Samael
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Re: Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Samael »

Sr. Incógnito escreveu:
Res Cogitans escreveu:hahaha faz me rir...
em que mundo vc vive? Aconselho Filosofia da Religão do filósofo cristão John Hick, subcapitulo O Desafio da Ciencia Moderna.


E eu aconselho você ler os grandes filósofos da ciência. A não ser que você tenha conseguido ultrapassar o problema da indução e conseguido uma "lógica da descoberta" (usando os termos de Popper), então esses dois caminhos não se cruzam (nem podem). Você (ou alguém) conseguiu isto?


Segundo o seu argumento então, a assertiva é apenas válida se o indivíduo utilizar o método de falseabilidade de Popper para fazer ciência?

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Dick
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Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Dick »

Por favor dêem uma relembrada:

“É totalmente ilícito exigir, defender ou conceder incondicionalmente a liberdade de pensamento, expressão ou culto, como se esta fosse um direito natural do homem.”
Papa Leão XIII - 1810-1878

“Aquele que recebe a graça celestial da fé livra-se da inquietação da curiosidade.” - Concílio de Trento

"Existe um outro tipo de tentação, mais perigosa ainda. Essa é a doença da curiosidade (...) É ela que nos leva a tentar descobrir os segredos da natureza, aqueles segredos que estão além da nossa compreensão, que não nos podem trazer nada e que os homens não devem desejar aprender (...) Nessa imensa selva, cheia de armadilhas e perigos, em tenho me afastado, e me mantido longe desses espinhos. No meio de todas essas coisas que flutuam incessantemente à minha volta no dia a dia, nada jamais me surpreende, e eu nunca sou tomado por um desejo genuíno de estudá-las (...) Eu não sonho mais com as estrelas."
Aurélio Agostinho (Santo Agostinho), Bispo de Hipona, cuja morte, em 430 d.C. marca o início da idade das trevas na Europa. (cit. em Sagan, C. "The Dragons of Eden", p247.)

"A única maneira com a qual podemos determinar a verdadeira idade da terra é com Deus nos dizendo qual é. E já que Ele nos disse, muito claramente, nas Escrituras Sagradas que ela tem alguns milhares de anos de idade, e não mais, isso deve colocar um ponto final em todas as perguntas básicas sobre a cronologia terrestre."
Henry Morris, Presidente do Instituto de Pesquisa da Criação, 1974

"Encontramos muitos livros... e já que eles continham apenas superstições e falsidades do Diabo nós queimamos todos eles".
Bispo Católico Diego de Landa, após queimar livros inestimáveis da história e da ciência Maia, Julho de 1952.


A religião condena, desde seus primórdios, a evolução intelectual do homem, ao dizer que isto só é possível seguindo-se suas trilhas doutrinárias. Para os testemunhas de jeová, por exemplo, é pecado pensar sequer que alguma passagem bíblica possa ser questionada de alguma forma, e julgam ser condenável a atitude de quem quer aprender algo que não seja advindo das suas publicações, ou da própria bíblia. Religião prescinde de questionamentos sinceramente interessados em conhecer algo por nossas vias intelectuais, ou seja, é a-científica quase que por definição. Como já postei em outro tópico (Marcelo Gleiser), por certo encontraremos, no passado, no presente e no futuro, cientístas que são religiosos. Isto não muda o fato de eles serem incoerentes, por isso. QUALQUER TENTATIVA DE JUSTIFICAR UM USANDO O OUTRO, INCORRERÁ, NO MÍNIMO, EM UMA CLARA VIOLAÇÃO DE SEUS PRINCÍPIOS SUBJACENTES. Ciência e religião não são incompatíveis. SÃO INCOMENSURÁVEIS, a menos que estejamos dispostos a refutar um em detrimento do outro.
docdeoz escreveu:
"Você vai apertando a "coisa" e encontra um livro- "Variedades da Experiência Científica" que que CARL SAGAN afirma que há evidências de uma entidade chamada DEUS...
PASMEM!"

CADÊ O TRECHO? EM QUÊ PÁGINA? DE QUAL EDIÇÃO? EM QUAL CONTEXTO? SUA HONESTIDADE INTELECTUAL É IGUAL A UMA TEMPERATURA DE - 274 GRAUS CENTÍGRADOS, NÃO É MESMO?

Sr. Incógnito
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Mensagem por Sr. Incógnito »

ed).
Editado pela última vez por Sr. Incógnito em 08 Abr 2007, 22:59, em um total de 1 vez.

Sr. Incógnito
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Re: Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Sr. Incógnito »

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Editado pela última vez por Sr. Incógnito em 08 Abr 2007, 23:14, em um total de 1 vez.

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Azathoth
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Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Azathoth »

Incógnito, você está confundindo magistério não-interferente gouldiano com paradigma kuhniano, paradigmas kuhnianos que se dispõe a explicar uma mesma classe de fenômenos inevitavelmente entram em confronto.
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Sr. Incógnito
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Re: Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Sr. Incógnito »

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Editado pela última vez por Sr. Incógnito em 08 Abr 2007, 23:14, em um total de 1 vez.

Sr. Incógnito
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Re: Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Sr. Incógnito »

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Editado pela última vez por Sr. Incógnito em 08 Abr 2007, 23:14, em um total de 1 vez.

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Azathoth
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Re: Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Azathoth »

Sr. Incógnito escreveu:Não! Cometeu o erro comum que mencionei. Paradigmas são diferentes justamente por não entrarem em contato. O que acontece é diferentes teorias dentro do mesmo paradigma. Aí sim, entram em confronto (por isso perguntei se a "nova ciência" estaria dentro do "paradigma atual").


Você é quem continua equivocado. Tome o paradigma tradicional da lingüística na década de 50 e início da década de 60. Um dos problemas que o paradigma estava disposto a explicar é como a linguagem é adquirida por crianças. Pela influência do behaviorismo que ainda perdurava nas ciências sociais da época, o consenso era de que a linguagem era um comportamento condicionado como qualquer outro. Existiam escolas de pensamento diferentes que se propuseram a iluminar como tal processo ocorria, como os skinerianos que já haviam sido bem sucedidos experimentalmente em algumas coisas da etologia.

O fato de que crianças, universalmente, em uma janela de seu desenvolvimento crítica em seus primeiros três anos de vida masterizavam as regras gramaticais de seu idioma de origem e assimilavam vocabulário com extrema rapidez como um talento inato era uma anomalia não bem explicada pelo paradigma tradicional da lingüística até então, que orientava-se em suas bases pelo behaviorismo. Noam Chomsky propôs uma base biológica bem mais forte para a aquisição da linguagem, sumarizando um sistema formal conhecido como Gramática de Chosmky. Tomado por crise, as premissas essenciais do paradigma linguístico anterior, a de que uma língua aprende-se somente por processos de condicionamento foram revogadas e o paradigma chomskyano emergiu e tomou conta. E desde então, a linguagem passou a ser observada sobre uma nova lente.

Mais uma vez, não confunda o conceito de magistério não-interferente (que possui alguns problemas) com paradigma kuhniano. Um paradigma não é meramente uma teoria científica ou um conjunto de teorias científicas, é a forma de ver o mundo uma vez que estas sejam assumidas. Relatividade Geral e Gravitação Clássica são paradigmas diferentes por possuir premissas muito diferentes sobre a natureza da força gravitacional mas ambos possuem a intenção de explicar uma mesma classe de fenômenos.

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Samael
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Re: Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Samael »

Azathoth escreveu:Incógnito, você está confundindo magistério não-interferente gouldiano com paradigma kuhniano, paradigmas kuhnianos que se dispõe a explicar uma mesma classe de fenômenos inevitavelmente entram em confronto.


Exato.

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Samael
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Re: Re.: Ciência X Religião: Mais uma vez

Mensagem por Samael »

Sr. Incógnito escreveu:
Samael escreveu:
Sr. Incógnito escreveu:
Res Cogitans escreveu:hahaha faz me rir...
em que mundo vc vive? Aconselho Filosofia da Religão do filósofo cristão John Hick, subcapitulo O Desafio da Ciencia Moderna.


E eu aconselho você ler os grandes filósofos da ciência. A não ser que você tenha conseguido ultrapassar o problema da indução e conseguido uma "lógica da descoberta" (usando os termos de Popper), então esses dois caminhos não se cruzam (nem podem). Você (ou alguém) conseguiu isto?


Segundo o seu argumento então, a assertiva é apenas válida se o indivíduo utilizar o método de falseabilidade de Popper para fazer ciência?

Também. Mas o ponto proncipal é: Como concluímos uma teoria científica? Isto é, como chegamos em uma lei científica? Grossamente falando, simplesmente inventando. Não há uma lógca da descoberta. Além disso, se apelarmos para a noção de observação, veremos que uma lei obtida assimé tão válida, em prinípio, quanto uma lei obtida sonhando. Motivo: Aqui entra o problema da indução.


Eu prefiro a idéia de "dialética científica", embasada na quebra de paradigmas da ciência comum de Kuhn e a idéia de aproximação por tipos ideais de Weber do que qualquer tentativa popperiana de positivar a ciência.

E, bem ou mal, a ciência tem de se preocupar com aquilo que funciona e não em ditar verdades ou mentiras.

Trancado