Natal

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Washington
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Natal

Mensagem por Washington »

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O que o Natal significa para mim
por C. S. Lewis em 22 de dezembro de 2006

Resumo: Uma crítica de C.S. Lewis (autor de As Crônicas de Nárnia e A Abolição do Homem) ao excessivo viés comercial surgido em torno do Natal.

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Há três coisas que levam o nome de "Natal". A primeira é a festa religiosa. Ela é importante e obrigatória para os cristãos mas, já que não é do interesse de todos, não vou dizer mais nada sobre ela. A segunda (ela tem conexões histórias com a primeira, mas não precisamos falar disso aqui) é o feriado popular, uma ocasião para confraternização e hospitalidade. Se fosse da minha conta ter uma "opinião" sobre isso, eu diria que aprovo essa confraternização. Mas o que eu aprovo ainda mais é cada um cuidar da sua própria vida. Não vejo razão para ficar dando opiniões sobre como as pessoas devam gastar seu dinheiro e seu tempo com os amigos. É bem provável que elas queiram minha opinião tanto quanto eu quero a delas. Mas a terceira coisa a que se chama "Natal" é, infelizmente, da conta de todo mundo.

Refiro-me à chantagem comercial. A troca de presentes era apenas um pequeno ingrediente da antiga festividade inglesa. O Sr. Pickwick levou um bacalhau a Dingley Dell [1]; o arrependido Scrooge [2] encomendou um peru para seu secretário; os amantes mandavam presentes de amor; as crianças ganhavam brinquedos e frutas. Mas a idéia de que não apenas todos os amigos mas também todos os conhecidos devam dar presentes uns aos outros, ou pelo menos enviar cartões, é já bem recente e tem sido forçada sobre nós pelos lojistas. Nenhuma destas circunstâncias é, em si, uma razão para condená-la. Eu a condeno nos seguintes termos.

1. No cômputo geral, a coisa é bem mais dolorosa do que prazerosa. Basta passar a noite de Natal com uma família que tenta seguir a 'tradição' (no sentido comercial do termo) para constatar que a coisa toda é um pesadelo. Bem antes do 25 de dezembro as pessoas já estão acabadas – fisicamente acabadas pelas semanas de luta diária em lojas lotadas, mentalmente acabadas pelo esforço de lembrar todas as pessoas a serem presenteadas e se os presentes se encaixam nos gostos de cada um. Elas não estão dispostas para a confraternização; muito menos (se quisessem) para participar de um ato religioso. Pela cara delas, parece que uma longa doença tomou conta da casa.

2. Quase tudo o que acontece é involuntário. A regra moderna diz que qualquer pessoa pode forçar você a dar-lhe um presente se ela antes jogar um presente no seu colo. É quase uma chantagem. Quem nunca ouviu o lamento desesperado e injurioso do sujeito que, achando que enfim a chateação toda terminou, de repente recebe um presente inesperado da Sra. Fulana (que mal sabemos quem é) e se vê obrigado a voltar para as tenebrosas lojas para comprar-lhe um presente de volta?

3. Há coisas que são dadas de presente que nenhum mortal pensaria em comprar para si – tralhas inúteis e barulhentas que são tidas como 'novidades' porque ninguém foi tolo o bastante em adquiri-las. Será que realmente não temos utilidade melhor para os talentos humanos do que gastá-los com essas futilidades?

4. A chateação. Afinal, em meio à algazarra, ainda temos nossas compras normais e necessárias, e nessa época o trabalho em fazê-las triplica.

Dizem que essa loucura toda é necessária porque faz bem para a economia. Pois esse é mais um sintoma da condição lunática em que vive nosso país – na verdade, o mundo todo –, no qual as pessoas se persuadem mutuamente a comprar coisas. Eu realmente não sei como acabar com isso. Mas será que é meu dever comprar e receber montanhas de porcarias todo Natal só para ajudar os lojistas? Se continuar desse jeito, daqui a pouco eu vou dar dinheiro a eles por nada e contabilizar como caridade. Por nada? Bem, melhor por nada do que por insanidade.




Publicado originalmente em God in the dock -- Essays on Theology and Ethics (Deus no banco dos réus – Ensaios sobre Teologia e Ética), 1957.

[1] Samuel Pickwick é o personagem principal de Pickwick Papers, romance de Charles Dickens no qual suas aventuras são narradas. Dingley Dell é o nome de uma fazenda, um dos cenários do romance. (N. do T.)

[2] Referência ao avarento milionário Ebenezer Scrooge, personagem da obra Um Conto de Natal, de Charles Dickens. (N. do T.)

Tradução: MSM
"Quando LULLA fala, o mundo se abre, se ilumina e se esclarece."
Marilena Chauí, filósofa da USP.

O triste é saber que tal figura recebe do contribuinte para dizer tais asneiras.


Chamo de pervertido um animal, uma espécie, um indivíduo, quando esse ou essa perde seus instintos, quando escolhe, prefere o que lhe é prejudicial.
F. Nietzche

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Johnny
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Re.: Natal

Mensagem por Johnny »

Eu gosto do Natal. É uma forma forçada da gente nos presentear indiretamente. E uma forma também de revermos amigos, descontrair, "trocar comida" entre outras coisas. Gosto de reuniões entre amigos, churrascos, etc mas não é todo mundo que pode ou tenha tempo para fazer e o Natal assim como o Ano Novo é uma folga forçada e que se encaixa perfeitamente nisso.

Quem não gosta que Zidane.
"Tentar provar a existencia de deus com a biblia, é a mesma coisa q tentar provar a existencia de orcs usando o livro senhor dos aneis."

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Rennan
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Re: Re.: Natal

Mensagem por Rennan »

Johnny escreveu:Eu gosto do Natal. É uma forma forçada da gente nos presentear indiretamente. E uma forma também de revermos amigos, descontrair, "trocar comida" entre outras coisas. Gosto de reuniões entre amigos, churrascos, etc mas não é todo mundo que pode ou tenha tempo para fazer e o Natal assim como o Ano Novo é uma folga forçada e que se encaixa perfeitamente nisso.

Quem não gosta que Zidane.


Também gosto muito desse clima festivo de fim de ano, troca de presentes, festa na casa dos amigos com muita comida e bebida. Nessas horas eu nem ligo se estamos comemorando o nascimento de Jesus ou de Mitras, se o papai-noel simboliza o impulso consumista de um capitalismo selvagem, ou, como disse Lewis, é algum tipo de "condição lunática" advinda do apelo comercial à essa data.

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Hugo
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Re.: Natal

Mensagem por Hugo »

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Apocaliptica

Re: Re.: Natal

Mensagem por Apocaliptica »

Johnny escreveu:Eu gosto do Natal. É uma forma forçada da gente nos presentear indiretamente. E uma forma também de revermos amigos, descontrair, "trocar comida" entre outras coisas. Gosto de reuniões entre amigos, churrascos, etc mas não é todo mundo que pode ou tenha tempo para fazer e o Natal assim como o Ano Novo é uma folga forçada e que se encaixa perfeitamente nisso.

Quem não gosta que Zidane.


Eu também gosto. É só dissociar as coisas.
Se eu puder aproveito todo feriado religioso para isso.
Está todo mundo parado mesmo.

Rebelar-se demais é imaturidade.
Nada como o bem senso e a ponderação.
Não ajoelho aos pés da árvore e nem compareço à novenas.... :emoticon12:
Mas presenteio e recebo presentes de bom grado.
Demonstrações de amor e afeto são sempre bem vindas.
Os cantos natalinos em alemão, por exemplo, podem ser encarados de forma prosaica.

Trancado